EFEITO BIOTOXICOLÓGICO DA CELULOSE MICROCRISTALINA MAGNÉTICA FRENTE À LINHAGEM NB4 DE LEUCEMIA PROMIELOCITICA AGUDA

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Bioquímica e Biotecnologia

Autores

Moreira, A.C.O. (UNIVERSIDADE FRANCISCANA - UFN) ; Viana, A.R. (UNIVERSIDADE FRANCISCANA - UFN) ; Bruckmann, F.S. (UNIVERSIDADE FRANCISCANA - UFN) ; Mortari, S.R. (UNIVERSIDADE FRANCISCANA - UFN) ; Krause, L.M.F. (UNIVERSIDADE FRANCISCANA - UFN) ; Rhoden, C.R.B. (UNIVERSIDADE FRANCISCANA - UFN)

Resumo

A celulose é o biopolímero renovável mais abundante no mundo, encontrada em organismos marinhos e na parede celular das plantas, com aplicações em áreas como a indústria alimentícia, química e farmacêutica devido suas características como potencial para reciclagem e biodegradabilidade. A celulose decorada com partículas de ferro apresenta potencial inovador e tecnológico, trazendo a necessidade de avaliações relacionadas ao seu efeito biotoxicológico para sua regulamentação. A leucemia promielocítica é um subtipo de leucemia mieloide com característica da translocação dos cromossomos 15 e 17 formando um gene anormal. O presente estudo teve como objetivo a análise do efeito citotóxico da celulose microcristalina e da celulose microcristalina magnética frente as células de linhagem NB4.

Palavras chaves

citotoxicidade; MTT; polímero

Introdução

A celulose é um polímero linear encontrado, principalmente, na estrutura das plantas sendo componente fundamental da sua parede celular. Considerada a principal fonte de biomassa do planeta, seus principais produtos vêm sendo comercializados e apresentam aplicações em diversas áreas, como na indústria alimentícia, química e farmacêutica (JIA et al., 2014). É o biopolímero renovável de maior abundância no mundo, apresentando potencial biodegradável e reciclável além do baixo custo. Não obstante, atrai cada vez mais a atenção de pesquisadores para desenvolvimento de novas tecnologias sustentáveis como o desenvolvimento de fibras e filmes (GABR et al., 2014). Além da possibilidade de ser extraída de recursos terrestres, também pode ter origem em organismos marinhos (BENITO-GONZÁLEZ; LÓPEZ-RUBIO; MARTÍNEZ-SANZ, 2019). Presente em várias fontes de biomassa, a celulose vem sendo tema de estudos como matéria-prima para produção de biocombustíveis e produtos químicos industriais, visando a redução do consumo de óleo bem como a diminuição da emissão de gases com efeito estufa (CALIARI et al., 2017). No Brasil, é considerada a principal fonte para a produção de papel. Em 2014 foi produzido em torno de 2.530x103 toneladas de celulose tornando importante estudos e o desenvolvimento de novas tecnologias como a produção e manipulação da nanocelulose (LAVORATTI; SCIENZA; ZATTERA, 2015). Difere dos polímeros sintéticos por apresentar cadeia rígida e linear (figura 1), contendo inúmeros grupos hidroxila, a celulose é sensível a hidrólise e oxidação dos acetais formadores de suas cadeias, os quais definem suas características químicas (KLEMM et al., 2005). Ainda, pode ser definida como um polissacarídeo sintetizado pelas plantas, bactérias e variedade de algas, e dependendo da sua fonte de obtenção, pode-se encontrar entre 8000 a 15000 unidades monoméricas (GUTIÉRREZ-ROJAS; MORENO-SARMIENTO; MONTOYA, 2015). Ainda assim, pode ser definida como um homopolímero linear que apresenta alto peso molecular, contendo unidades de D-anidroglucopianos ligados por β-(1-4) glicosídeos. É o principal componente estrutural de árvores e outras plantas, sendo assim um recurso renovável e abundante (PENG et al., 2013). Possui caráter hidrofílico e excelentes propriedades mecânicas de barreira, motivo pelo qual é muito utilizada em biocompostos (BENITO-GONZÁLEZ; LÓPEZ-RUBIO; MARTÍNEZ-SANZ, 2019). Sua estrutura apresenta regiões amorfas e cristalinas, sendo que essa pode ser quimicamente isolada para produzir variedades de celulose como celulose microcristalina, celulose nanocristalina, celulose nanofibrilada e celulose bacteriana (JIA et al., 2014). Suas regiões amorfas possuem composição heterogênea e sua assimetria é o principal fator influente para sua biodegradação, assim como sua hidrofilicidade e biodegradação (GUTIÉRREZ- ROJAS; MORENO-SARMIENTO; MONTOYA, 2015). Atualmente, trabalhos vêm sendo desenvolvidos com o objetivo de desenvolver novos adsorventes, principalmente para o tratamento de águas, que apresentem um melhor custo-benefício econômico e ambiental, e com facilidade para separação do adsorvente das soluções. Uma das soluções encontradas é o emprego de materiais biológicos e naturais, incorporando partículas de Fe3O4 em celulose, por exemplo, pois esta é abundante em grupos funcionais e possui elevada área superficial e juntamente com as partículas de ferro acaba adotando caráter magnético. Com isso, torna-se menos trabalhoso o processo de separação de soluções com adsorventes simplesmente com o auxílio de um campo magnético para reter as amostras e recuperando o que for de interesse (ZHANG et al. 2019). A leucemia promielocítica aguda (LPA), subtipo de leucemia mieloide, é caracterizada pela translocação dos cromossomos 15 e 17, determinada por translocação t(15;17), formando um gene anormal chamado de receptor específico de LPA receptor ácido α (PML-RARα ou RARA). Em um primeiro momento foi descrita como uma doença fatal com expectativa de vida inferior a uma semana, porém os prognósticos atuais elevam essa taxa para 10 anos e, com isso, diversos grupos de pesquisa vêm investigando tratamentos com combinações de medicações para a cura da doença. (ROSA et al., 2019). Por ser um material inovador e recente com potencial amplo para diversas áreas, a celulose decorada com partículas de ferro traz a necessidade de estudos para avaliação da sua toxicidade juntamente com possíveis impactos para a saúde humana para que seja aprovada no ponto de vista toxicológico. Para isso, estudos devem comprovar que ela não irá afetar funções celulares e muito menos ser causar sua morte (MOREIRA et al., 2018). Diante do exposto, o presente trabalho teve como objetivo avaliar o efeito citotóxico da celulose microcristalina e da celulose microcristalina magnética frente as células de linhagem NB4 de leucemia promielocítica.

Material e métodos

A linhagem NB4 de leucemia promielocítica aguda (LPA) foi adquirida do Banco de Células do Rio de Janeiro (BCRJ). Elas foram cultivadas em garrafas de poliestireno 25cm² (Corning) contendo meio RPMI 1640 (Gibco), suplementado com 10% de soro fetal bovino (SBF)(Gibco), 1% de antibióticos penicilina/estreptomicina (Sigma-Aldrich). Os ensaios de citotoxicidade foram o 3-4,5 dimethylthiazol-2, 5 diphenyl tetrazolium bromide (MTT) (Sigma-Aldrich) de acordo com Mosmann (1983). O princípio deste teste é a absorção do sal por células vivas, e sua transformação em um cristal de cor violácea que é proporcional ao número de células presentes, sendo assim uma técnica muito utilizada e bastante rápida.

Resultado e discussão

Os resultados demonstram uma dose dependência em 24 horas de incubação em relação ao controle (meio de cultura + células). Apenas as menores concentrações da celulose microcristalina magnética e a celulose microcristalina não apresentaram diminuição na viabilidade das células. Entretanto, após 72 horas de contato dos tratamentos com a linhagem NB4, todas as concentrações se mostraram mais eficazes, com um grau maior de células mortas em relação ao menor tempo (24 horas) de contato com as células leucêmicas.

Figura 1

Estrutura da celulose

Gráfico 1

Resultados a partir do ensaio colorimétrico MTT em diferentes períodos de incubação dos tratamentos.

Conclusões

Diante dos resultados apresentados, pode-se concluir que a celulose microcristalina magnética mostrou uma maior efetividade na morte das células LPA em 72 horas sugerindo que o tempo de incubação é um fator preponderante para aumentar a eficácia de morte celular em relação a linhagem escolhida. Estes resultados estimulam o desenvolvimento de ensaios complementares para melhor compreender o comportamento das LPAs em presença da celulose microcristalina magnética.

Agradecimentos

Referências

BENITO-GONZÁLEZ, I.; LÓPEZ-RUBIO, A.; MARTÍNEZ-SANZ, M. High-performance starch biocomposites with cellulose fros waste biomass: film properties and retrogradation behavior. Carbohydrate Polymers, v. 216, p. 180-188, 2019.

CALIARI, I. et al. Estimation of celulose crystallinity of sugarcane biomass using near infrared spectroscopy and multivariate analysis mathods. Carbohydrate Polymers, v. 158, p. 20-28, 2017.

GABR, M. H. et al. Thermal and mechanical properties of electrospun nano-celullose reinforced epoxy nanocomposites. Polymer Testing, v. 37, p. 51-58, 2014.

GUTIÉRREZ-ROJAS, I.; MORENO-SARMIENTO, N.; MONTOYA, D. Mechanisms and regulation of enzymatic hydrolysis of cellulose in filamentous fungi: classical cases and new models. Revista Iberoamericana de Micologia, v. 32, n. 1, p. 1-12, 2015.

JIA, X. et al. Rheological properties of an amorphous cellulose suspension. Food Hydrocolloids, v. 39, p. 27-33, 2014.

KLEMM, D. et al. Cellulose: fascinating biopolymer ans sustainable raw material. Angewandte Chemie – International Edition, v. 44, n. 22, p. 3358-3393, 2005.

LAVORATTI, A.; SCIENZA, L.; ZATTERA, A. Dynamic-mechanical and thermomechanical properties of cellulose nanofiber/polyester resin composites. Carbohydrate Polymers, v. 136, p. 955-963, 2015.

MOSMANN, T. Rapid colorimetric assay for cellular growth and survival: application to proliferation and cytotoxicity assays. Jourmaç pf Immunological Methods, v. 65, n. 1-2, p. 55-63, 1983.

MOREIRA, A. C. O. et al. Obtenção e toxicidade dos nanotubos de carbono: uma avaliação para possíveis aplicações. XXII Simpósio de Ensino, Pesquisa e Extensão – SEPE, 2018, Santa Maria. Universidade Franciscana, 2018.

PENG, Y. et al. Influence of drying method on the material properties of nanocelluloseI: thermostability and crystallinity. Cellulose, v. 20, n. 5, p. 2379-2392, 2013.

ROSA et al. In vitro stability of arsenic trioxide-liposome encapsulates for acute promyelocytic leukemia treatment. Leukemia Research, v. 76, p. 11-14, 2019.

ZHANG et al. A novel adsorbent of core-shell construction of chitosan-cellulose magnetic carbon foam: synthesis, characterization and application to remove copper in wastewater. Chemical Physics Letters, v. 731, n.6, p. 136573, 2019.

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