SÍNTESE E ESTUDO FÍSICO-QUÍMICO DE DIFERENTES POLÍMEROS AMINADOS PARA APLICAÇÕES BIOTENOLÓGICAS
ISBN 978-85-85905-25-5
Área
Bioquímica e Biotecnologia
Autores
Salomoni, L. (UNIFESP) ; Estevam Gregorio de Souza, S. (UNIFESP) ; Ryuichi Nakaie, C. (UNIFESP)
Resumo
Estudou-se a síntese de dois copolímeros aminados de estireno e divinilbenzeno para potencial emprego na síntese de peptídeos e em cromatografia em coluna. O primeiro contem grupamento metilbenzidrilamínico (MBAR) e o outro, um mais volumoso e hidrofóbico 9- fluorenilmetiloxicarbonila (MF-BAR). Obtiveram-se ambas as resinas com teores de grupos variando de 0,2 a cerca 2 mmol/g e estudos de solvatação de seus grãos indicaram que se em forma desprotonada (caso da reação de síntese de peptídeos), maior o inchamento em solventes apolares como o diclorometano. Se em forma protonada e em alto teor amínico, se solvata melhor em meio polar como o dimetilsulfóxido. Este dado indica potencial inchamento também em meio aquoso, abrindo perspectiva de seu uso alternativo também como resinas catiônicas.
Palavras chaves
Síntese de peptídeos; Resina; Resina catiônica
Introdução
A metodologia (ganhadora do prêmio Nobel de Química - 1984), denominada síntese de peptídeos em fase sólida (SPFS) (MERRIFIELD, 1963, BARANI e MERRIFIELD, 1980), envolve o alongamento da cadeia peptídica a partir de sítios reativos existentes em polímeros. Este trabalho procurou otimizar a obtenção de dois tipos de resinas aminadas, que ou contenha grupamentos metílicos (MBAR) ou mais hidrofóbico e volumoso denominado 9- fluorenilmetiloxicarbonila (MF-BAR), na estrutura benzidrilamiínica em copolímero de 1% estireno-poliestireno. A MBAR (MATSUEDA e STEWART, 1981) é o mais utilizado até o momento na literatura mas existe ainda dificuldades de se controlar o teor amínico final deste polímero. Deste modo, em prosseguimento a trabalhos anteriores de nosso grupo (SOUZA e cols., 2015), desenvolvemos experimentos tanto de otimização da síntese da MBAR mas também da MF-BAR. Três etapas sequenciais (MARCHETTO e cols., 1992) existem na síntese destes polímeros (acilação de Friedel-Crafts, redução de Leuckart e hidrolise ácida final). Como já havíamos observado que o grau de substituição amínica de uma resina (quantidade de amino-grupos) é dependente basicamente da primeira etapa (acilação de de Friedel-Crafts), variamos diversos fatores reacionais desta etapa. Além deste aspecto sintético, investigamos também a importante propriedade de solvatação destas duas resinas sintetizadas, determinando-se o grau de inchamento de seus grãos em microscopia (no estado seco e solvatado em diferentes solventes). Este enfoque poderá fornecer dados mais concretos sobre a potencialidade do uso destes polímeros para fins biotecnológicos, não somente na síntese peptídica, mas também em cromatografias em coluna, como resinas catiônicas.
Material e métodos
As resinas foram sintetizadas seguindo o mesmo método baseado nos estudos descritos por Pietta e Matsueda (PIETTA e cols., 1974) mas com alterações (MATSUEDA e STEWART, 1981, MARCHETTO e cols., 1992). Foram realizadas as sínteses de duas resinas mencionadas (MBAR e a MF-BAR), em que se diferenciaram apenas no cloreto de acila de partida (cloreto de para-toluila e cloreto de 9-metil-9H-fluoreno-9-carbonila, respectivamente. As 3 etapas são feitas em um balão de fundo redondo ligados a um agitador mecânico, um condensador e fechados com rolha de vidro, somente a 2ª etapa utiliza um adicional do aparato do tipo Dean-Stark. E todas as etapas são lavadas e filtradas utilizando um funil de placa porosa e secas à vácuo. A temperatura, concentração e tempo de reação da primeira etapa foram alteradas de diferentes modos. Na 2ª etapa, adiciona-se formiato de amônio, formamida e ácido fórmico 99% e nitrobenzeno. Esta etapa é feita à 165 °C por 25 h. A 3ª etapa é realiza com o uso de ácido clorídrico 12 mol/L e ácido propanoico (1:1) e agitado sob aquecimento a 90 °C por 5 horas. Para determinar o grau de substituição das resinas, aplicou-se o método do ácido pícrico (GISIN, 1972), posteriormente modificado por nós (CILLI e cols., 2000). O estudo de inchamento dos grãos das resinas foi feito utilizando-se do microscópio (Olympus SZ11) para a obtenção das imagens e utilizado o software ImageJ (v 1.52a) para análise dos dados. Diversos solventes foram estudados com diferentes polaridades, dentre os quais, o DCM, DMF, DCM:DMF (1:1) e dimetilsulfóxido (DMSO).
Resultado e discussão
Para a síntese dos dois polímeros mencionados, procuramos encontrar
condições que permitissem ao final, a obtenção de lotes com teores amínicos
pretendidos. Tempo de reação, temperatura e concentração dos reagentes
foram os principais parâmetros testados e objetivou-se também encontrar
lotes de diferentes teores amínicos. A Tabela 1 apresenta os resultados
obtidos, incluindo-se detalhes experimentais e a Tabela 2 mostra os dados de
inchamento dos grãos nos solventes DCM e DMSO (apolar e polar
respectivamente). Estas medidas de inchamento via microscopia seguiu o
protocolo por nós introduzido anteriormente (CILLI e cols., 1966 e MARCHETTO
e cols., 2005). No caso da MBAR, atingiu-se graus de substituição amínica
perto de 2 mmol/g mas para a MF-BAR, o máximo obtido foi de 0,80 mmol/g,
muito provavelmente devido a problemas de impedimento estérico dentro da
matriz polimérica durante a sua síntese.
Seguindo o exemplo das resinas M-4 e M-5 mostraram-se com o mesmo grau de
substituição mesmo sendo sintetizadas com temperaturas diferentes. Mostrando
que as condições de temperatura não afetam significantemente o grau de
substituição final, somente a concentração dos agentes acilantes, como visto
na resina M-6 que quase dobrou de grau de substituição quando dobrou sua
concentração de agentes acilantes.
De qualquer modo, nota-se que melhores inchamentos de polímeros com amino
grupos na forma desprotonada e em baixos graus de substituição solvatam
melhor em solvente apolar do tipo DCM. Caso tenham amino grupos na forma
protonada e em alto conteúdo (ex. MBAR M-6, Tabela 2), os seus grãos incham
melhor em polares como o DMSO.
Lotes da MBAR e MF-BAR sintetizadas. Com parâmetros de reação da 1ª etapa (acilação de Fiedel-Crafts).
Porcentagem de inchamento* das resinas MBAR (M) e MF-BAR (F) de baixo (M-1 e F-2) e de alto (M-6 e F-4) em solventes apolar (DCM) e polar (DMSO).
Conclusões
Os resultados indicam que é possível se estabelecer condições experimentais para a síntese destes tipos de resinas com os teores amínicos desejados. Quanto aos dados de solvatação, indicam que os solventes apolares são mais apropriados para o uso em síntese peptídica normal e os de alta substituição (principalmente a MBAR), se em forma protonada, pode servir como resina catiônica para cromatografias em coluna. No caso de uso de resina de alto teor amínico para a SPFS, haverá a necessidade de escolha de outros solventes como já evidenciamos anteriormente(NAKAIE e cols, 2011, LOPES e cols. 2018)
Agradecimentos
Agradeço ao Dr. Clóvis por ter me ensinado tudo, e de ter me dado a oportunidade de estar fazendo e escrevendo ciência.
Referências
BARANY, G.; MERRIFIELD, R. B. The Peptides. 1. ed. New York: Academic Press Inc., v. II, 1980.
CILLI, E. M. et al. Correlation between Solvation of Peptide-Resins and Solvent Properties. J. Org. Chem., v. 61, p. 8992-9000, 1996.
CILLI, E. M. et al. Importance of the Solvation Degree of Peptide-Resin Beads for Amine Groups Determination by the Picric Acid Method. Journal Brazilian Chemical Society, v. 11, n. 5, p. 474-478, 2000.
GISIN, B. F. The monitoring of reactions in solid-phase peptide synthesis with picric acid. Anal. Chim. Acta, Amsterdam, n. 58, p. 248-249, 1972.
LOPES, D. D., CUVERO, J. H., FERREIRA, M. M., SOUZA, S. G. E., SILVA, R. L., SILVA, C. C., MALAVOLTA, L., NAKAIE, C. R. Fragments of the second transmembrane helix of three G-protein-coupled receptors: comparative, synthetic, structural and conformational studies. Amino Acids 5, 273-282, 2018.
MARCHETTO, R.; NAKAIE, C. R.; ETCHEGARAY, A. Kinetics of Synthesis and Swelling Studies of Highly Substituted Benzhydrylamine-Resins: Implications for Peptide Synthesis and Perspectives for Use as Anion Exchanger Resin. Journal of the Brazilian Chemical Society, v. 3, n. 1 e 2, p. 30-37, Janeiro 1992.
MARCHETTO, R.; CILLI, E. M.; JUBILUT, G. N.; SCHREIER, S.; NAKAIE, C. R. Determination of site-site distance and site concentration within polymer beads: a combined swelling-electron paramagnetic resonance study. J. Org. Chem. 70, 4561-4568, 2005.
MATSUEDA, G. R.; STEWART, J. M. A p-Methylbenzhydrylamine Resin for Improved Solid-Phase Synthesis of Peptide Amides. Peptides, v. 2, p. 45-50, 1981.
MERRIFIELD, R. B. Solid Phase Peptide Synthesis The Synthesis of a Tetrapeptide. Journal of the American Chemical Society, v. 85, n. 14, p. 2149-2154, 1963.
NAKAIE, C. R. et al. Solid-phase peptide synthesis in highly loaded conditions. Bioorganic Chemistry, v. 39, p. 101-109, Abril 2011.
PIETTA, P. G. et al. Preparation and Use of Benzhydrylamine Polymers in Peptide Synthesis. II. Syntheses of Thyrotropin Releasing Hormone, Thyrocalcitonin 26-32, and. J. Org. Chem., v. 39, n. 1, p. 44-48, 1974.
SOUZA, S. E. G. et al. Novel copoly(styrene-divinylbenzene)-resins with different phenylmethylamine groups for use in Peptide synthesis method. Protein and Peptide Letters, v. 22, n. 5, p. 392-401, 2015.