PRODUÇÃO AGROECOLÓGICA E GARANTIA DE SEGURANÇA ALIMENTAR NO ASSENTAMENTO ILHA VERDE - MUNICÍPIO DE BABAÇULÂNDIA – TO
ISBN 978-85-85905-25-5
Área
Alimentos
Autores
Lourenço Magalhães, V. (UFT-QUIMICA) ; Ferreira Mendes, M. (UFT-PPGDIRE) ; dos Reis Gomes, J. (UFT- BIOLOGIA) ; Correa Ribeiro, P. (UFT - PPPGDIRE)
Resumo
O projeto PAIS (Produção Agroecológica Integrada Sustentável) se configura como uma estratégia para a utilização de recurso renovável, preservação do meio ambiente, e reestruturação da fertilidade do solo na comunidade Ilha verde, município de Babaçulândia. Este artigo buscou analisar como o projeto contribui para o desenvolvimento sustentável, para a segurança alimentar e para o aumento da renda das famílias atingidas por barragens na Comunidade Ilha Verde. A partir de entrevistas com os produtores foi possível concluir que as famílias da comunidade dominam as tecnologias sociais de cunho sustentáveis, tendo como princípio a produção agroecológica de alimentos, caracterizada pela diversificação e pelo uso de compostos naturais para o controle de pragas.
Palavras chaves
Sustentabilidade; Tencnologia Social; Desenvolvimento
Introdução
Desenvolver práticas sustentáveis de produção podem ajudar a inibir a degradação ambiental e promover o desenvolvimento sustentável (FEIL E SCHREIBER, 2017). Visando isso, a produção orgânica de alimentos entra como uma aliada essencial, uma vez que é um sistema de produção que exclui o uso de agrotóxicos, fertilizantes solúveis, hormônios e qualquer tipo de aditivo químico, substâncias essas que são danosas à saúde humana e para o meio ambiente. Além de utilizar recursos naturais para seu desenvolvimento é um sistema economicamente produtivo e eficiente. Ainda, de acordo com o Instituto Agronômico do Paraná “a agricultura orgânica reúne todos os modelos não convencionais de agricultura biodinâmica, natural, biológica, permacultura ou agroecológica, para se contrapor ao modelo convencional” (IAPAR, disponível em: http://www.iapar.br/arquivos/File/agricultura_organica.pdf). No Brasil, a agricultura industrial não é orgânica, grandes empresas trabalham com agrotóxicos para a diminuição de pragas e também com transgênicos, para o “aperfeiçoamento” do alimento. Nesse contexto, podemos dizer que a agricultura familiar é a única em que ainda residem viés de sustentabilidade, além da não manipulação genética, traz segurança alimentar aos envolvidos pois, acesso a uma alimentação saudável, em quantidade suficiente, de qualidade e de maneira contínua, são fatores que definem a segurança alimentar e nutricional, que visa práticas alimentares promotoras da saúde e da acessibilidade a outras necessidades essenciais. De acordo com a lei n°. 11.346, de 15 de setembro de 2006, no artigo 2° : “A alimentação adequada é direito fundamental do ser humano, inerente à dignidade da pessoa humana e indispensável à realização dos direitos consagrados na Constituição Federal, devendo o poder público adotar as políticas e ações que se façam necessárias para promover e garantir a segurança alimentar e nutricional da população”(BRASIL,2006). Desde 1970 a ideia de buscar uma solução adequada que gerasse desenvolvimento para a comunidade local já era existente, de forma simplificada e conhecida como "tecnologia apropriada", somente durante a década de 80 o termo "tecnologia social" passou a ser usado no Brasil, com inovações a respeito da sustentabilidade e a participação ativa da comunidade local, dito isso, a tecnologia social trata de criar intervenções/soluções tendo como incentivo problemas sociais. O ITS Brasil (Instituto de tecnologia social) ainda nos diz que, essa tecnologia nāo exige um modelo/método específico, fazendo com que aquele que dela necessita, também faça parte do processo de transição, tornando-o contribuinte (ITS BRASIL, 2004). O projeto Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (PAIS), é um exemplo de tecnologia social, que já foi implantada/aplicada em várias regiões do Brasil, tendo vários objetivos, um deles sendo a valorização da agricultura familiar e a produção orgânica (PAIS – Produção Agroecológica Integrada e Sustentável, Fundação Brasil Cidadão). Na região do Tocantins o PAIS foi inaugurado no dia 05/04/2019 e é dirigido pelo MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), este tem como objetivo reestruturar o solo, ajudar no desenvolvimento da produção agrícola de hortas orgânicas às famílias de agricultores que perderam terras durante a implementação da Usina Hidrelétrica do Estreito, atingindo 12 municípios entre o estado do Tocantins e do Maranhão. Assim projetos de apoio ao desenvolvimento da agricultura sustentável como o PAIS implementado com a ajuda do MAB vêm auxiliando na reintegraçāo de posse nesta região e garantindo renda para as famílias (VALE, 2019). Por meio do projeto foram instaladas 19 hortas na região de Babaçulândia e Filadélfia, 11 delas na comunidade Ilha Verde, financiadas pelo Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDS) e Fundo da Amazônia. Diante disso, este artigo visa analisar de que forma o Projeto Agroecológico PAIS têm contribuído para o desenvolvimento sustentável, para a segurança alimentar e para o aumento da renda das famílias atingidas por barragens na Comunidade Ilha Verde, localizada no município de Babaçulândia-TO.
Material e métodos
Foi realizada uma pesquisa qualitativa, de cunho descritivo/narrativo, através de um questionário semiestruturado, com cinco agricultores atingidos por barragens, participantes do projeto agrotecnológico desenvolvido pela Associação de Desenvolvimento Agrícola Interestadual - ADAI, na comunidade Ilha Verde, localizada no município de Babaçulândia, no estado do Tocantins. A entrevista semiestruturada foi aplicada no dia 30(trinta) do mês de maio do ano 2019 durante I Feira Agroecológica ocorrida no Instituto Federal de Ciências e Tecnologias do Tocantins-TO (IFTO), cidade de Araguaína. As questões contidas no questionário visaram obter, através das discussões com os agricultores entrevistados, as respostas dos seguintes questionamentos: de que maneira o projeto agrotecnológico contribui para o desenvolvimento sustentável, para a segurança alimentar, e para a geração de renda dessas famílias da Comunidade Ilha Verde. As entrevistas previamente gravadas foram transcritas e analisadas pelo método qualitativo de Análise de Conteúdo desenvolvida por Laurence Bardin, que se configura como “um conjunto de técnicas de análise das comunicações que parte de procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens” (BARDIN, 2011, p. 44). A técnica de análise de Bardin (2011) se desenvolve pela organização sequencial segundo as etapas a seguir: · 1º - pré-análise: utilizada para sistematizar as ideias iniciais, a qual todo o material a ser analisado será organizado, objetivando torná-lo “operacional”. Dentro dessa fase tem-se: Leitura flutuante: consiste no primeiro contato com os documentos que posteriormente serão analisados, a escolha deles, levantamento de hipóteses e objetivos, a elaboração dos indicadores que irá direcionar a interpretação do material coletado. · 2º - Exploração do Material: os dados são codificados partindo das unidades de registro. · 3º - Tratamento dos resultados obtidos e interpretação: “Os resultados brutos são tratados de maneira a serem significativos ("falantes") e válidos. O analista, tendo à sua disposição resultados significativos e fiéis, pode então propor inferências e adiantar interpretações a propósito dos objetivos previstos” (BARDIN 2011, p.131). Os resultados e conclusões das entrevistas são apresentados no tópico abaixo.
Resultado e discussão
De acordo com a análise de conteúdo das entrevistas, foi possível evidenciar
que a agricultura desenvolvida pelo projeto na comunidade Ilha Verde é de
cunho sustentável, tendo como princípio a produção agroecológica de
alimentos. Nesse sentido os agricultores fazem uso de tecnologias sociais,
as quais incluem a substituição de defensivos agrícolas industriais por
naturais, feitos pelos mesmos, retirados de plantas como Mamona e Nim, isso
também reflete na correçāo do solo, feita por eles, pois estes fertilizam a
terra utilizando esterco de galinha, gado, além de árvores em decomposiçāo
(Paú). Sendo assim, eles cultivam uma grande variedade de hortaliças,
leguminosas e frutos como: Alface, cheiro verde, rúcula, cebolinha, coentro,
couve, melancia, milho, jiló, abóbora, quiabo; entre os tubérculos foram
citados como mais produzidos a mandioca, a batata e a batata doce; e
mencionam a pretensão de estender para a produção de batata inglesa,
beterraba e cenoura. Uma vez que, todos esses cultivares são destinados para
a própria subsistência e principal fonte de renda, fazendo com que todos os
integrantes dessas famílias, participem do processo de produção e
comercialização (figura 1).
A produção agroecológica proporciona aos agricultores da comunidade Ilha
Verde uma alimentação saudável, rica em nutrientes essenciais para a
subsistência humana. Estes agricultores por meio da utilização de recursos
renováveis, preservam o meio ambiente e reestruturam o solo tornando-o
fértil e útil. Além disso, a renda que eles adquirem na comercialização gera
recursos para comprarem outros alimentos substanciais que não fazem parte do
plantio; e, nesse sentido trazendo segurança alimentar para além das
famílias envolvidas também para a comunidade local, uma vez que, a
comercialização ocorre na própria comunidade e nas regiões circunvizinhas,
como Babaçulândia e Araguaína.
O processo de mudança da produção da Comunidade Ilha Verde em direção à
agroecologia se deu com assessoria do Movimento Atingido por Barragem (MAB),
quando famílias reunidas no assentamento, que já utilizam os recursos
naturais como aliados na produção, decidiram unir esforços e trabalhar em
conjunto.
Para tanto, foram diversas reuniões e decidiram iniciar as práticas
agroecológicas na produção de hortaliças. Os principais pontos para
fortalecimento da agroecologia no assentamento foram os seguintes:
Utilização de adubação verde para enriquecimento do solo;
utilização de sementes crioulas, em parcerias com outros agricultores
familiares da região;
Trabalho coletivo no processo de preparação da terra, produção.
Utilização de gotejamento para uso racional da água;
Intercâmbio com outras comunidades sobre práticas de produção e uso de
defensivos naturais
Trocas de saberes entre agricultores
Ainda podemos ressaltar que a partir da implementação do projeto PAIS houve
o fortalecimento do uso de técnicas alternativas no controle de pragas,
durante as entrevistas a técnica mais destacada foi a do uso do NIM
(Azadirachta indica), uma planta oriunda da Ásia, que vem sendo descrita
como uma alternativa ao uso de produtos sintéticos(MARTINEZ, 2008). A
espécie possui propriedades medicinais, industriais, como na produção de
cosméticos, além de ser benéfico na produção de alimentos, isso se deve aos
seus princípios ativos que atuam como defensores e fertilizantes, na
produção de alimentos (NEVES E CARPANEZZI,2008).
A partir desses elementos foi possível perceber uma mudança na produção de
hortaliças no assentamento, visto que as famílias começaram a diversificar a
produção não só para o autoconsumo, como também, para comercialização do
excedente nas feiras realizadas aos sábados no centro da cidade de
Babaçulândia.
Nesse sentido, a produção de hortaliças aliadas culturas como mandioca,
abóbora, milho e o pescado vem promovendo a segurança alimentar no
assentamento.
Nesse sentido, a segurança alimentar é entendido nesse texto, como o
processo utilização de recursos naturais, de forma sustentável aliado a
produção, com livre escolhas de sementes e do que plantar e consumir. Apesar
disso, foram destacados problemas como a dificuldade do manejo da terra pela
falta de equipamentos e de forma mais grave a falta da propriedade da terra,
uma vez que a comunidade foi reassentada após a desapropriação para a
implantação da usina hidrelétrica de Estreito-MA e ainda existem problemas
entre a empresa responsável CESTE ( Consórcio Estreito Energia) e as
famílias envolvidas que foram afetadas pelas barragens. Portanto, as
tecnologias sociais implantadas no assentamento, por meio do projeto PAIS
demonstrativo de agroecologia, vem trazendo aprendizados e conscientizados
novas famílias a aderirem um modelo de desenvolvimento sustentável.
Feira Agroecológica Promovida pelos Agricultores da Comunidade Ilha Verde, ocorrida em maio de 2019 no Instituto Federal do Tocantins.
Conclusões
A pesquisa mostrou que os agricultores familiares da comunidade Ilha Verde envolvidos no projeto PAIS dominam tecnologias sociais e fazem uso de composto naturais de combate a pragas, como o NIM e do PAÚ como adubo, em detrimento do uso de insumos químicos na produção de verduras e legumes. Como ponto negativo ressalta-se a dificuldades do manejo da terra, a propensão a pragas e a falta de equipamentos para a manutenção das hortas, o que obriga o uso restrito do trabalho manual; apesar disto, a constante troca de saberes, de produtos e a combinação de preços entre produtores revelam práticas cooperativas que têm garantido a produção diversificada e a segurança alimentar na comunidade.
Agradecimentos
Referências
BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.281p.
BRASIL, 2006. Lei n° 11.346, de 15 de setembro de 2006. Presidência da República, Casa Cívil, Brasília, DF.
FEIL; André Alexandre, e SCHREIBER; Dusan. Sustentabilidade e desenvolvimento sustentável: Desvendando as sobreposições e alcance de seus significados. Cad.EBAPE.BR, v.14, n° 3, artigo 7, Rio de Janeiro, jul./set. 2017.
IAPAR, Agricultura Orgânica. Disponível em: <http://www.iapar.br/arquivos/File/agricultura_organica.pdf>. Acesso em: 01/08/2019.
ITS BRASIL. Caderno de Debate – Tecnologia Social no Brasil. São Paulo: ITS. 2004: 26
MARTINEZ, S. S. 2008. O Nim - Azadirachta indica - um Inseticida Natural. Disponível em: <http://www.iapar.br/arquivos/File/zip_pdf/O%20NimDownloadFev2008PDF.pdf> . Acesso em: 01/08;/2019.
NEVES, E. J. M.; CARPANEZZI, A. A. A cultura do nim. Embrapa Informação Tecnológica, 2008. 97p.
VALE, K. 2019. Projeto Agrotecnológico em Babaçulândia é inaugurado com presença da DPE-TO. Disponível em: <http://surgiu.com.br/2019/04/09/projeto-agrotecnologico-em-babaculandia-e-inaugurado-com-presenca-da-dpe-to/>. Acesso em: 26/08/2019