CONSERVAÇÃO PÓS-COLHEITA DE HÍBRIDOS DE MELÃO CANTALOUPE ARMAZENADOS SOB-REFRIGERAÇÃO

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Alimentos

Autores

Oliveira, B. (UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO (UFERSA)) ; Aroucha, E. (UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO (UFERSA)) ; Fernandes, P. (UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO (UFERSA)) ; Bastos, M. (UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO (UFERSA)) ; Aroucha Filho, J. (UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA) ; Leite, R. (UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO (UFERSA))

Resumo

Objetivou-se avaliar a conservação pós-colheita de dois híbridos de melão cantaloupe (146 e 143). Ao atingir o estádio de maturação, os frutos foram colhidos e conduzidos à UFERSA, onde foram pesados, identificados e armazenados em câmara refrigerada a 5±1ºC e 85±2% UR e avaliados em: perda de massa, firmeza de polpa, aparência externa e interna, sólidos solúveis, acidez titulável e ratio a cada intervalo de dias (7, 14, 21). Inicialmente foram retirados 10 ao acaso de cada híbrido para caracterização no tempo zero. O DIC foi realizado em esquema fatorial 2x4 (híbridos x tempo de armazenamento) com dez repetições, totalizando oitenta frutos. A ANOVA e o teste de Tukey determinaram interação significativa entre híbrido e período de armazenamento para a perda de massa e aparência interna.

Palavras chaves

Cucumis melo L.; conservação; híbridos

Introdução

O melão (Cucumis melo L.) é uma das frutas frescas mais produzidas e comercializadas pelo Brasil. Em muitas regiões, como o semiárido nordestino, ele é a porta de entrada de produtores na fruticultura comercial, principalmente de exportação (SILVA et al., 2014). De acordo com Kiill et al. (2016), o Brasil ocupa a 11ª posição no ranking de maiores produtores mundiais de melão, contribuindo assim de forma considerável para o desenvolvimento socioeconômico do país, sendo na região nordeste a predominância dessa cultura, chegando a cerca de 93% da produção nacional, devido suas condições climáticas, como altas temperaturas e luminosidade, o que favorece boa produtividade (até três cultivos anuais) e acentua a doçura do fruto (EMBRAPA, 2016; FERREIRA, et al., 2018; BRACKMANN et al., 2011). O cultivo do melão iniciou-se no Sudoeste do Brasil, na década de 60, e a partir daí vem ganhando importância econômica, destacando-se pela grande diversidade de variedades botânicas. No Brasil, destacam-se Cucumis melo var. inodorus, Cucumis melo var. reticulatus e Cucumis melo var. cantalupensis (ALVARENGA; RESENDE, 2002). Entre variados tipos de melão, está o melão rendilhado (Cucumis melo var. reticulatus Naud.), do grupo Cantalupensis, considerado nobre, também conhecido na região Nordeste como melão japonês ou cantaloupe caracteriza-se por apresentar plantas de porte rasteiro, caule herbáceo muito ramificado e por produzir frutos com casca rendilhada, superfície rugosa, formato redondo a ovalado, pesar de 1kg a 3kg, ter aroma marcante, ser bastante doce (cerca de 10°Brix) e polpa normalmente verde, podendo também ser salmão (COELHO et al., 2003; EMBRAPA, 2016; RIZZO et al., 2004). Vários híbridos são lançados anualmente pelas empresas produtoras de sementes, sendo necessária uma prévia avaliação da produtividade, qualidade e comportamento pós-colheita desses materiais para sua introdução em plantios comerciais, pois a região Sudeste do país e o mercado externo, em especial o europeu, são bastante exigentes na qualidade das frutas consumidas (NUNES et al., 2004). As principais variáveis utilizadas para a determinação da qualidade pós-colheita de melão são o teor de sólidos solúveis, firmeza da polpa, perda de massa e as aparências externa e interna. O teor de sólidos solúveis indica a aceitação direta do produto pelo consumidor final; a firmeza da polpa fornece dados sobre o potencial de vida útil pós-colheita e as outras variáveis estão intimamente relacionadas com a aparência do fruto e, conseqüentemente, com a sua aceitação pelo consumidor (Menezes et al., 2001). A conservação pós-colheita de melão é de extrema importância para garantir que a qualidade do produto não se altere rapidamente. Para a comercialização dos frutos em mercados distantes, é necessária a adoção de tecnologias adequadas para a ampliação da sua vida de prateleira, sendo muito utilizada a refrigeração. Para o armazenamento do melão Cantaloupe recomenda-se utilizar uma faixa de temperatura entre 4 e 6ºC (Filgueiras et al., 2000). Nesse sentido, o presente trabalho teve como objetivo avaliar a qualidade pós-colheita de híbridos de melão cantaloupe (146 e 143) armazenados em diferentes tempos sob refrigeração à 5 ºC.

Material e métodos

Híbridos de melão cv. cantaloupe (146 e 143) provenientes de plantio experimental de sementes SAKATA, localizado no agropolo Mossoró/Assú, foram cultivados em junho/2010. O clima, segundo a classificação de Köeppen, é do tipo BSwh', ou seja, quente e seco, com precipitação pluviométrica média anual de 673,9 mm, temperatura média de 27ºC e umidade relativa do ar de 68,9% (CARMO FILHO; OLIVEIRA, 1995). Os frutos foram colhidos após atingirem a maturidade fisiológica e transportados à Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), e caracterizados previamente através da amostragem de 10 frutos de cada híbrido. Inicialmente foram limpos, pesados, identificados e armazenados durante 21 dias em uma câmara de refrigeração regulada a 5±1ºC e 85±2% UR, sendo avaliados aos 0, 7, 14 e 21 dias pós-colheita. Utilizou-se um fatorial em delineamento experimental 2 x 4 (dois híbridos e quatro períodos de armazenamento) inteiramente casualizado, com dez repetições, totalizando oitenta frutos. A cada intervalo de tempo, dez frutos de cada híbrido foram avaliados quanto à perda de massa (PM), determinada pela diferença entre a massa inicial e aquela obtida a cada sete dias, sendo os resultados expressos em porcentagem (%). A firmeza da polpa (FP), obtida em frutos divididos longitudinalmente, fazendo-se cinco leituras nas duas partes nas regiões equatoriais, com um penetrômetro Mc Cormick, modelo FT 327 analógico (com plunger de 8 mm de diâmetro). Os resultados foram obtidos em libras (Lbf) e convertidos para Newton (N) por meio do fator de correção 4,45. A avaliação da aparência externa e interna (AE e AI) foi feita utilizando-se uma escala subjetiva com notas de 1 a 5, onde: 1 - defeito extremamente severo (acima de 50% do fruto afetado); 2 - defeito severo (31- 50%); 3 - defeito moderado (11-30%); 4 - defeito leve (1-10%); e 5 - ausência de defeito, obtendo-se a média das notas (Wang et al., 1996). Os frutos foram considerados inadequados para a comercialização quando obtiveram nota inferior a 3. Sólidos solúveis foram determinados utilizando refratômetro digital ATAGO, modelo PR-100, com correção automática de temperatura e leitura na faixa de 0 a 32 ºBrix (AOAC, 1992), sendo os resultados expressos em percentagem. Acidez titulável (AT) foi determinada por titulação, de acordo com a metodologia do Instituto Adolfo Lutz (1985), utilizando-se uma alíquota de 10 mL de suco em duplicata, à qual foram adicionados 40 mL de água destilada e três gotas do indicador fenolftaleína alcoólica a 1%, procedendo-se a titulação com solução de NaOH a 0,1N, sendo os resultados expressos em porcentagem de ácido total. O ratio foi obtido pelo quociente entre SS e AT. Com os dados médios de cada característica, realizou-se a análise de variância, e o teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade quando houve diferença significativa, a fim de comparar as médias. Para isso foram utilizados os softwares SISVAR (InstallShield Corporation, Inc. Lavras, MG) e o Excel.

Resultado e discussão

Após realizadas as análises, observou-se que houve interação significativa entre os fatores estudados híbrido e tempo de armazenamento somente para perda de massa e aparência interna (Figuras 1A e 1B). Para as demais características, foram detectados efeitos isolados de híbridos e/ou tempo de armazenamento (FIGURAS 2 e 1C); assim, os efeitos principais serão apresentados e discutidos separadamente. Em estudo semelhante com melão Gália, realizado por Morais et al. (2004), foi constatada a interação significativa apenas para as aparências externa e interna. Como era previsto, houve aumento da perda de massa para os materiais avaliados. Os híbridos apresentaram aumento linear durante todo o período experimental, no entanto, o híbrido 146 foi o que apresentou a maior perda ao final do armazenamento (Figura 1A) com 2,26%. Almeida (2002) verificou uma redução na perda de massa de melão Cantaloupe ‘Hy-Mark’. Mesmo sendo relativamente baixa, a perda de massa pode influenciar diretamente nas características qualitativas e quantitativas, sendo em termos econômicos um fator importante, pois a venda dos frutos é feita em unidade de massa (GOMES JÚNIOR et al., 2001). Foi observada interação significativa para aparência interna em função do armazenamento (Figura 1B). O híbrido 146 apresentou as maiores notas durante os vinte e um dias sob refrigeração, enquanto o híbrido 143 foi considerado comercializável somente até os quatorzes dias de avaliação, por apresentarem nota igual ou superior a 3,0 (11% a 30% da área externa do fruto apresentavam algum tipo de defeito) (GOMES JUNIOR et al., 2001). Mendonça et al. (2005) verificaram que melões Orange flesh mantidos a 5 e 7 °C atingiram 28 dias com boa qualidade comercial. Como a maior parte dos melões produzidos é destinada ao mercado externo, em especial o europeu, é necessário um período de cerca de quinze dias até os frutos chegarem ao seu destino. Portanto, o híbrido 146 se destacou por apresentar excelentes notas de aparência interna durante praticamente todo o período de armazenamento, propiciando a comercialização para mercados distantes. As notas da aparência externa decresceram ao longo do armazenamento. A aparência externa e interna são características fundamentais na vida útil pós-colheita do melão, assim, frutos com nota inferior ou igual a 3,0 não são comercializados (GOMES JUNIOR et al., 2001). Dessa forma, a aparência dos híbridos se manteve em níveis aceitáveis para a comercialização até aproximadamente 16 dias (Figuras 1C). Morais et al. (2009) observaram que aos 21 dias de armazenamento, o melão cantaloupe “Torreon” não apresentou notas inferiores a 3,0 , o que indica que esses frutos ainda estavam comercializáveis. Houve efeito isolado dos híbridos e tempo de armazenamento para a firmeza da polpa, que decresceu linearmente ao longo do período de armazenamento (FIGURAS 2 e 1D) independente do híbrido. Por ocasião da colheita, a média de firmeza da polpa foi de 25,42 N e 21,88 N, reduzindo-se para 14,10 N e 8,96 N no final do período experimental (21 dias), para os híbridos 146 e 143, respectivamente. Filgueiras et al. (2000) observaram valor mínimo de 22N para essa característica. No presente trabalho, o híbrido 146 esteve acima do limite estabelecido por esse autor, apresentando maior firmeza durante todo o período experimental. Observa-se claramente a suscetibilidade ao amolecimento dos melões nobres, visto que mesmo armazenados a 5ºC a firmeza da polpa alcançou valores reduzidos. Portanto, considerando que uma elevada resistência de polpa é importante do ponto de vista do manuseio pós-colheita, frutos com maior firmeza de polpa tornam-se mais resistentes às injúrias mecânicas que ocorrem durante os processos de transporte e comercialização (GRANGEIRO et al., 1999). Ao longo do período de armazenamento, a firmeza da polpa diminuiu 48,75% (FIGURAS 2 e 1D). Dantas (2007) avaliando híbridos de melão cantaloupe armazenados a mesma temperatura, observou diminuição da firmeza da polpa em aproximadamente 61,04% durante os 28 dias de armazenamento. Para o teor de sólidos solúveis, o híbrido 143 (11,12 %) foi o que apresentou maior quantidade, apesar de não diferir estatisticamente do híbrido 146 (10,97 %). Com relação ao tempo de armazenamento, este não exerceu influência sobre este fator, isso se deve à inexistência de amido no melão para a conversão em açúcares solúveis. Apesar desses resultados, os híbridos testados apresentaram teores médios superiores ao mínimo exigido durante todo o período experimental (FIGURA 2). A quantidade de sólidos solúveis influencia diretamente no destino dos melões produzidos. Segundo Filgueiras et al. (2000) e Bleinroth (1994), para o mercado europeu o melão cantaloupe deve apresentar teor de sólidos solúveis igual ou superior a 10 %. Dessa forma, os híbridos avaliados possuem médias adequadas para comercialização nesse mercado. Esse resulta corrobora o estudo de Purquerio (2002), que encontrou valores de SS aproximados em melão cantaloupe (híbrido Bônus nº2) com média dessa característica em torno de 12,4 ºBrix. A quantidade de sólidos solúveis influencia diretamente no destino dos melões produzidos. Segundo Filgueiras et al. (2000), para o mercado europeu o melão cantaloupe deve apresentar teor de sólidos solúveis igual ou superior a 10 %. Sendo assim, os híbridos avaliados possuem médias adequadas à comercialização nesse mercado. Quanto à acidez total, o híbrido 143 apresentou o maior valor (2,35%) em relação ao híbrido 146 (1,95 %). Verificou-se que o tempo de armazenamento influenciou essa característica (Figura 1E), diminuindo a acidez à medida que aumentou o período de armazenamento, devido à utilização desses ácidos como substrato no processo respiratório. Para Menezes et al. (1998), a variação nos teores de acidez durante o armazenamento do melão tem pouco significado prático em função da baixa concentração de ácido cítrico encontrado, teores que não causam sensibilidade prática para quem os consome. Com relação ao Ratio, característica que representa o grau de maturação dos frutos, verificou-se superioridade do híbrido 146 (Figura 1F). Isso significa que esse híbrido apresenta sabor mais agradável aos consumidores e consequentemente maior potencial comercial.

Figura 1

A-Perda de massa; B-Aparência interna x período de armazenamento;C-Aparência externa; D-firmeza de polpa; E-acidez titulável; F-ratio

Figura 2

Médias das características: aparência externa (AE), firmeza de polpa (FP); sólidos solúveis (SS); acidez total (AT); ratio (SS/AT).

Conclusões

A cultura de melão é um mercado promissor no Brasil, especialmente para no semiárido nordestino, onde está concentrado pelo menos 70% de toda produção nacional de melão, contribuindo fortemente para o desenvolvimento socioeconômico da região. Após realizadas todas as análises propostas neste estudo, foram observadas algumas diferenças entre os híbridos estudados, cumprindo assim o objetivo proposto de verificar se havia ou não diferenças significativas entre ambos. Em níveis comerciais, o híbrido 146 demonstrou ser mais promissor por apresentar melhores características estéticas e de conservação, como maior firmeza da polpa, melhor aparência interna e maior relação SS/AT, quando armazenados sob refrigeração à 5ºC, sendo dessa forma, adequado às exigências do comércio exterior. Por fim, propõem-se novos estudos sobre o tema, que envolva a submissão de híbridos de melões cantaloupes em temperaturas de refrigeração em diferentes faixas e maior tempo de armazenamento, a fim de elucidar quaisquer limitações existentes no presente estudo.

Agradecimentos

À UFERSA por todo o apoio.

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