INFLUÊNCIA DE DIFERENTES RELAÇÕES CATIÔNICAS NAS CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS DE MELÃO GÁLIA

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Alimentos

Autores

de Paiva, C.A. (UFERSA) ; Aroucha, E.M.M. (UFERSA) ; de Medeiros, J.F. (UFERSA) ; Oliveira Filho, J.N. (UFC) ; Santana, F.C.G. (UFERSA) ; Aroucha Filho, J.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZÔNIA) ; Bastos, M.C.A. (UFERSA) ; de Menezes, F.L.G. (UFERSA)

Resumo

A qualidade e produtividade do melão são afetadas negativamente em alguns solos da região produtora da cultura no Brasil, devido ao seu desequilíbrio catiônico. O estudo teve como objetivo avaliar a influência de diferentes relações catiônicas nas características físico-química de melão Gália. Cinco proporções da relação K:Mg:Ca foram utilizadas, adicionando K e Mg, considerando que as quantidades corrigiria um volume de solo de 60 dm3/m de fileira, resultando nas proporções: condição inicial (1:0,9:34) e 1:1,1:15,2; 1:1,1:9,8; 1:0,25:9,8; 1:4:34. Verificou-se que apenas a firmeza de polpa e acidez titulável foram influenciadas pela relação catiônica do solo, onde a correção apenas do K sem adição de Mg proporcionou menores valores dessas características.

Palavras chaves

Cálcio; Mágnésio; Potássio

Introdução

A região Nordeste caracteriza-se como grande produtora e exportadora de melão. Dos 540.229 ton/ha produzidas no Brasil, 514.276 estão nesta região, mais precisamente nos estados do RN e CE (IBGE, 2017). Apesar de ser considerado o volume expressivo, ainda existem alguns fatores pré-colheita que influenciam negativamente na produção e qualidade dos frutos colhidos. Os solos Cambissolos das regiões produtora de melão nos estados do RN e CE são solos jovens pouco profundos, desenvolvidos a partir do calcário, posicionados em relevo plano, onde a vegetação representativa é a caatinga hiperxerófila. Em relação à química de sua classe de solo, pode-se dizer que possuem alta soma de bases trocáveis, podendo representar mais de 90% de saturação da capacidade de troca de cátions (CTC). Normalmente são solos alcalinos, com pH às vezes superior a 8,0 e apresentam fósforo assimilável muito baixo (menor que 5 mg/kg) (CRISÓSTOMO et al., 2002). Em relação a química desses solos isso pode ser considerado um “problema”, pois qualidade e produtividade dos frutos de melão são afetadas negativamente em muitos casos pelo desequilíbrio entre nutrientes no solo, principalmente entre cátions (K+, Ca2+ e Mg2+) e por uso de adubações excessivas e desuniformes, podendo causar acúmulo no solo dos nutrientes não assimilados pelas plantas e nem lixiviados (FRANÇA et al., 2000). Em cultivos de meloeiro em alguns solos de origem calcária do RN e CE, irrigados com água rica em Ca2+ e com teores elevados de K+, observa-se deficiência de K+ para a cultura, devido à inibição competitiva da absorção de K+ pelos altos teores de Ca2+ no solo (CRISÓSTOMO et al., 2002). Por outro lado, altas concentrações de Ca2+ e K+ podem inibir a absorção de Mg2+, diminuir sua translocação da raiz à parte aérea, e, assim, causar sua deficiência. Isto acontece porque K+, Ca2+ e Mg2+ competem pelos mesmos sítios de absorção na raiz, de maneira que o cátion em maior concentração na solução do solo tem absorção preferencial em detrimento dos outros. Além disto, teores elevados de cátions monovalentes na solução do solo podem induzir deficiência dos divalentes, que são retidos mais fortemente pelo complexo de troca do solo (MALAVOLTA et al., 1997). Em estudo realizado por SILVA (2000) sobre a adubação mais apropriada para a cultura do melão e também sobre as relações catiônicas nas condições do vale do Assú, o mesmo observou que as adubações provocaram diferenças significativas nos teores de sólidos solúveis dos frutos, sendo encontrados nos frutos, produzidos sob adubação com correção da relação catiônica, valores superiores a outras adubações utilizadas sem correção da relação. Diante do exposto, tendo em vista a busca de alternativas agronômicas que possam garantir a sustentabilidade da produção agrícola desta cultura na região, o presente estudo teve por objetivo identificar as relações catiônicas (K:Ca:Mg) no solo que melhor correlacionam com atributos indicadores de qualidade dos frutos de melão Gália.

Material e métodos

O experimento foi conduzido na fazenda Cumaru sob coordenas 5º33’35” S, 37º11’57”W no município de Upanema-RN, oeste potiguar, entre os meses de agosto e outubro de 2019, em um solo classificado como CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Eutrófico típico (Silva, 2018). Para caracterização do solo inicialmente foi coletada uma amostra e encaminhada ao laboratório de análise de solo, água e planta (LASAP) da UFERSA. A determinação dos parâmetros químicos seguiu as metodologias propostas pela EMBRAPA (2009), e o solo apresentou valores de K= 0,56; Na= 0,07; Ca= 19,20 e Mg= 0,50 cmolc/dm3. O experimento foi conduzido em blocos casualizados contendo 5 tratamentos e 5 repetições, baseados nos resultados obtidos por Silva (2000). O experimento constituindo-se de cinco proporções da relação K:Mg:Ca, formando os tratamentos: T1= 1:0,9:34(condição inicial do solo); T2 = 1:1,1:15,2; T3 =1:1,1:9,8; T4 = 1:0,25:9,8 e T5= 1:4,0:34. Utilizou-se o melão (Cucumis melo L.), do tipo Gália, híbrido Mc Laren, escolhida por ser, no momento, a que tem maior tendência de crescimento entre os produtores locais e para complementar estudo já desenvolvidos na região. Aos 63 dias após o plantio realizou-se a colheita. No campo mesmo, com auxílio de uma balança avaliou-se as características de produção, em seguida os frutos foram transportados para o Laboratório de Tecnologia de Alimentos da UFERSA, onde realizou-se avaliação das características de qualidade. As características avaliadas foram: Firmeza de polpa: os frutos foram divididos longitudinalmente em duas partes, e em cada uma delas realizaram-se três leituras, feitas equidistantes com um penetrômetro modelo FT 327 analógico (ponteira de 8 mm de diâmetro), sendo os resultados expressos em Newton (N); Sólidos solúveis: determinados no suco, proveniente da região central do fruto, com auxílio de um refratômetro digital modelo PR-100 Palette, com correção automática de temperatura e escala variando de 0 até 32%. As amostras resultaram da retirada de uma alíquota proveniente da mistura da polpa homogeneizada em liquidificador, sendo os resultados expressos em porcentagem (%); Acidez titulável: determinada por titulação de uma alíquota de 10 g de suco, à qual foram adicionados 40 ml de água destilada. Em seguida, realizou-se a titulação com solução de NaOH a 0,02 N, sendo o ponto final da titulação determinado com o auxílio do potenciômetro digital até atingir pH de 8,1. Os resultados foram expressos em porcentagem de ácido cítrico; e Ratio (SS /AT): determinado pela razão entre as variáveis SS e AT. Os dados foram submetidos à análise de variância com auxílio do software SISVAR (FERREIRA, 2010). Os tratamentos foram comparados pelo teste de Fisher a 5 % de probabilidade. Para construção dos gráficos utilizou-se o Sigma Plot.

Resultado e discussão

Os resultados das características físico-química dos frutos estão dispostos na figura 1. Pode-se observar que a maioria das características avaliadas não sofreu influência das relações catiônicas. Como a água utilizada para irrigação do experimento apresentava um teor considerado de cálcio e magnésio, além da origem calcária do solo, acredita-se que a não influência dos tratamentos pode está atribuída às características químicas da água e do solo. Para o peso dos frutos não foi observado diferenças significativas entre os tratamentos, com médias em torno de 1,0 kg (Figura 1-A). O peso do fruto são características determinantes para sua comercialização. O mercado externo prefere os melões de menor tamanho para que possam ser consumidos de uma só vez, enquanto os frutos de maior tamanho são comercializados internamente, em supermercados e feiras livres (GURGEL, 2000). Apesar do importante papel do potássio no rendimento do melão, o seu excesso pode causar desenvolvimento vegetativo de pouco vigor, frutos de menor peso médio e maturação prematura, diminuindo a assimilação de fósforo (PINTO et al., 1994). Segundo SILVA E MAROUELLI (2002), a utilização de doses mais elevadas de potássio tende a induzir alterações, principalmente, no peso e no tamanho dos frutos, aumentando, normalmente, a produtividade. No entanto, a aplicação de maiores doses não resulta necessariamente em incrementos de produtividades, além de ocorrerem maiores custos. A firmeza de polpa foi influenciada pelas relações catiônicas utilizadas (Figura 1-B), o tratamento T3(1:1,1:9,8) apresentou média superior ao tratamento T4(1:0,25:9,8), mas ambos não diferiram dos tratamentos T1(1:0,9:34), T2(1:1,1:15,2) e T5(1:4,0:34). A maior concentração de potássio e magnésio pode ter inibido a absorção de cálcio, uma vez que competem pelo mesmo sítio de absorção. Sua deficiência afeta drasticamente o crescimento das raízes, deixando-as predispostas à infecção por bactérias e fungos, interfere também na coloração da polpa (causando transparência) e na firmeza do fruto do meloeiro (Mendes et al., 2010). A firmeza dos frutos é uma característica de extrema importância para qualidade dos frutos, pois está diretamente relacionada à resistência ao transporte dos mesmos. O teor de sólidos solúveis não sofreram influência dos tratamentos (Figura1- C), porém os valores encontrados no presente estudo estão dentro dos valores aceito para comercialização, principalmente no que se refere ao mercado externo (> 10%). Para YATIV et al. (2010), o teor de sólidos solúveis em cucurbitáceas, como melões, é a principal característica diferenciadora da qualidade, pois constitui um indicador indireto da quantidade de açúcares presente nas frutas. Para vários frutos, ocorrem, durante o amadurecimento, aumento na doçura e diminuição na acidez (KAYS, 1991), sendo os SS uma medida indireta de açúcares dos frutos, determinados por compostos hidrossolúveis presentes, como açúcares, vitaminas, ácidos, aminoácidos e algumas pectinas, dependendo do estádio de maturação e, em geral, aumenta durante o amadurecimento, pela degradação de polissacarídeos (CHITARRA & CHITARRA, 2005). A acidez titulável foi influenciada pelos tratamentos (Figura 1-D), onde os tratamentos T1(1:0,9:34) e T3(1:1,1:9,8) propiciaram maior acidez quando comparado ao tratamento T4(1:0,25:9,8). Porém esses não diferiram dos tratamentos T2(1:1,1:15,2) e T5(1:4,0:34). A acidez ocasionada pela presença de ácidos orgânicos, cuja predominância no melão é do ácido cítrico – característica importante no que se refere à palatabilidade de muitos frutos. Geralmente diminui com a maturação, em decorrência do processo respiratório ou de sua conversão em açúcares (KADER, 2002; PRETTY, 1982). A relação sólidos solúveis/acidez titulável (ratio) também não foi influenciada pelos tratamentos (Figura 1-E). Esta característica é utilizada na avaliação da qualidade de frutos como uma das melhores formas de avaliação do sabor, sendo mais representativa do que a medição isolada de açúcares ou da acidez, proporcionando equilíbrio entre os componentes (CHITARRA & CHITARRA, 2005). Na literatura, essa é usada como índice de maturidade para alguns frutos.

Figura 1

Peso (A); Firmeza (B); Sólidos solúveis (C); Acidez titulável (D); e Ratio (E) de frutos de melão Gália cultivado sob diferentes relações catiônicas

Conclusões

Apenas firmeza de polpa e acidez titulável foram influenciadas pelas relações catiônicas do solo. Onde a correção apenas do K sem adição de Mg (1:0,25:9,8) proporcionou menores valores dessas características.

Agradecimentos

Capes e CNPq

Referências

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