AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIMICROBIANA EM DIFERENTES EXTRATOS DO TOMILHO (Thymus vulgaris L.)
ISBN 978-85-85905-25-5
Área
Alimentos
Autores
Tomé, A.C. (UFG) ; Caxias, L.M. (IFGOIANO) ; Silva, F.A. (UFG) ; Quintana, R.C. (IFGOIANO)
Resumo
O tomilho (Thymus vulgaris L.) se destaca como maior gênero de plantas com flores das Lamiaceae, é comumente usado como erva culinária com uma longa história de uso em variados fins alimentares e medicinais. O objetivo desse estudo foi avaliar o potencial antimicrobiano em diferentes extratos de tomilho por meio do método de difusão em ágar. Em todas as bactérias testadas observou-se que o extrato aquoso não apresentou potencial antimicrobiano e o extrato hidroetanólico foi o que apresentou melhores resultados, o extrato etanólico apresentou atividade apenas frente às cepas de E. coli e B. cereus. A partir dos dados obtidos conclui-se que os extratos hidroeanólico e etanólico apresentaram potencial antimicrobiano, porém são necessários mais estudos para a verificação dessa ação.
Palavras chaves
Tomilho; Antimicrobiano; Halo de inibição
Introdução
As ervas da família Lamiaceae são frequentemente utilizadas como especiarias e o seu sabor é altamente favorável aos consumidores em todo o mundo, e elas também são valorizados por suas propriedades antimicrobianas (OREOPOULOU, et al., 2018). As ervas possuem níveis distintos de atividade biológica, sendo porém, efetivas contra microrganismos em distintas concentrações (MORAES-LOVISON, et al., 2017). Diversas espécies vegetais têm sido usadas pelas características antimicrobianas, através de compostos sintetizados pelo metabolismo secundário da planta, como é o caso dos compostos fenólicos. Estes apresentam ação inespecífica sobre microrganismos, rompendo a parede celular bacteriana, inibindo os sistemas enzimáticos para a formação da mesma (NASCIMENTO et al., 2000). Várias razões tem atraído um interesse crescente e particular na descoberta e emprego de novos agentes antimicrobianos, principalmente devido ao potencial de toxicidade e carcinogenicidade de agentes antimicrobianos de origem sintética, (ANWAR-MOHAMED; EL-KADI, 2007; TSAY et al., 2007) tal problemática tem gerado esforços para descobrir alternativas naturais que em substituição aos sintéticos (STAGOS et al., 2012; MORAES-LOVISON, et al., 2017; SANTOS et al., 2018). Devido às propriedades antimicrobianas de Lamiaceae é que tem motivado a ampla utilização dessa espécie, mesmo porque, microrganismos são fatores causadores da patogênese de várias doenças, bem como da deterioração de produtos alimentícios, farmacêuticos e cosméticos (KHALED-KHODJA; BOULEKBACHE -MAKHLOUFB; MADANIBA, 2014). Dentre essas espécies, o tomilho (Thymus vulgaris L.) se destaca como o maior gênero de plantas com flores das Lamiaceae, compreendendo aproximadamente 250 espécies, sendo distribuído e cultivado em todo o mundo (RAUDONE, et. al., 2017) e comumente usado como uma erva culinária com uma longa história de uso para diferentes fins alimentares e medicinais (SALEHI et al., 2018). A literatura revela que T. vulgaris possui várias propriedades como propriedades antiespasmódica , expectorante, anti-tussívora, anti- bronquolítica, analgésica, anti-inflamatória, anti-helmíntica, carminativa, diurética e sedativa (NICKAVAR et al., 2005; SALEHI et al., 2019). A maioria dos estudos disponíveis na literatura relata a atividade antimicrobiana em óleos essenciais de tomilho, enquanto estudos com extratos da planta são mais escassos (MARTINS et al., 2015). Partindo desse principio, o presente trabalho teve como objetivo avaliar a atividade antimicrobiana dos extratos de tomilho, utilizando solvente aquoso, hidroetanólico e etanólico diante de algumas cepas de bactérias Escherichia coli ATCC 25922, Salmonella entérica ATCC 10708, Staphylococcus aureus 8739 e Bacillus cereus 24579, empregando a técnica de discos por difusão em ágar.
Material e métodos
As amostras de tomilho foram cultivadas no setor de horticultura do Instituto Federal Goiano-Campus Morrinhos, as sementes cultivadas foram doadas pela Empresa ISLA sementes LTDA. Após a colheita das ervas, as partes aéreas foram secas em estufa a 40 ºC para redução do teor de umidade (< 10%), posteriormente foram trituradas em moinho de faca para obtenção de um pó homogêneo, rotuladas e devidamente acondicionadas em recipientes laminados e armazenadas a temperatura ambiente. Para obtenção dos extratos foi utilizada a técnica convencional a uma razão inicial de 1:20, planta por volume de solvente (m:v), contendo água ultra pura (aquoso), hidroetanolico (50% água ultra pura + 50% de etanol absoluto) e etanólico (etanol absoluto), sob agitação à temperatura ambiente durante 1 hora em agitador magnético, em seguida a solução foi filtrada com papel de filtro, evaporada em evaporador rotativo e posteriormente acondicionada em frasco de vidro âmbar, selado e armazenado em freezer (-18ºC) para posterior análises. Os testes de avaliação da atividade antimicrobiana foram realizados no Laboratório de Microbiologia do Instituto Federal Goiano – Campus Morrinhos. Neste experimento foram utilizadas as cepas de: Escherichia coli ATCC 25922, Salmonella entérica ATCC 10708, Staphylococcus aureus 8739 e Bacillus cereus 24579, previamente mantidas em glicerol a -20 oC. As amostras bacterianas foram recuperadas em caldo BHI, incubadas a 37oC por 24h. A avaliação da atividade antibacteriana dos extratos foi realizada em triplicata, empregando a técnica de discos por difusão em ágar, utilizando- se como meio o ágar Müeller Hinton (MH), segundo metodologia padrão de NCCLS (2002). Em placas de Petri (20 x 100 mm) após a distribuição e solidificação do ágar, foram adicionados discos de papel com 6,0 mm de diâmetro, previamente esterilizados, em pontos equidistantes no meio de cultivo contido na placa de Petri, e foram inoculados, em cada um dos discos, 10 μL das amostras de extrato bruto (na concentração de 200 mg/mL) em triplicata. Concomitantemente foram realizados controles positivos para bactérias com adição de iodo a 10% e o controle negativo foi realizado utilizando água ultra pura. Após o período de incubação, de 48 horas, procederam-se às leituras dos halos de inibição, incluindo o diâmetro do disco, com o auxílio de paquímetro. Foram considerados com potencial antimicrobiano contra os isolados bacterianos aqueles extratos que geraram halos ≥ 7 mm (sete milímetros), o cálculo foi realizado a partir da média das três leituras da amostra sob teste.
Resultado e discussão
Os diâmetros dos halos de inibição em extratos aquoso, hidroetanólico e
etanólico de tomilho estão apresentados na tabela 1, e ao considerar ativo
apenas os halos maiores que 7 mm, não foi possível observar atividade em
extrato aquoso das partes aéreas de Thymus vulgaris L na concentração de
200 mg/ml frente as cepas das bactérias Escherichia coli, Salmonella
entérica, Staphylococcus aureus e Bacillus cereus.
O extrato hidroetanólico foi o que obteve uma maior ação antibacteriana
quando comparadas as cepas das bactérias analisadas, apresentando halo de
inibição de 12,50mm, frente a cepa de Staphylococcus aureus. Já Martins et
al., (2015) encontraram resultados dissemelhantes aos desse estudo em que
não foi observado nenhum efeito do extrato hidroetanólico de tomilho contra
S. aureus, mas em relação a E. coli, foram observados melhores efeitos
quando comprados a esse estudo com formação de halos em torno de 11,00 mm.
Com relação ao extrato etanólico, a melhor atividade antimicrobiana
apresentada foi frente às cepas das bactérias S. aureus e B. cereus.
respectivamente. Silva; Rangel, (2010) também avaliaram a atividade
antimicrobiana em extrato etanólico de tomilho e relataram em seu trabalho
que o maior halo formado para as placas incubadas com S. aureus, foi de
10,00mm.
Essa melhor ação antimicrobiana para os extratos hidroetanólico e etanólico
pode estar relacionada à presença de moléculas constituintes do tomilho como
timol,
carvacrol, borneol e linalol, além de uma importante característica: sua
hidrofobicidade, que acarreta em uma característica na qual o óleo essencial
atravessa a membrana celular do patógeno para afetar suas vias metabólicas
e/ou organelas citoplasmáticas (BEHNIA et al., 2008; SOKOVIC et al., 2009).
*( - ) Não houve formação de halos. ** Valores constituem media ± desvio-padrão. Letras diferentes diferem significativamente.
Conclusões
O extrato aquoso do tomilho não apresentou potencial antimicrobiano frente às bactérias testadas, o extrato hidroetanólico demonstrou atividade antimicrobiana para todas as bactérias, apresentando elevado potencial antimicrobiano, com formação de maiores halos de inibição contra a bactéria Staphylococcus aureus, que é uma bactéria gram-positiva, sendo um possível potente antibacteriano para cepas gram-positivas multirresistentes, podendo surgir como uma nova possibilidade de agente antimicrobiano. Os extrato etanólico poderá vir a ser utilizados com agentes antimicrobiano apenas frente às cepas das bactérias E. coli e B. cereus. Os resultados obtidos sugerem-se estudos mais aprofundados e específicos com os extratos hidroetanólicos e etanólicos de Thymus vulgaris L. para a verificação dessa ação e da possibilidade do surgimento de um eficaz antimicrobiano.
Agradecimentos
Os autores agradecem a FAPEG- Fundação de Amparo à pesquisa do Estado de Goiás pelo apoio financeiro, ao Instituto Federal Goiano- Morrinhos e Empresa ISLA sementes.
Referências
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