RELAÇÃO ENTRE PERDA DE MASSA E FIRMEZA DE MAMÕES SOB ARMAZENAGEM REFRIGERADA
ISBN 978-85-85905-25-5
Área
Alimentos
Autores
Menezes, J.L.R. (UECE/FECLESC) ; Costa, J.M.C. (UFC) ; Afonso, M.R.A. (UFC) ; Santos, G.L. (UECE/FECLESC) ; Menezes, F.A.M. (UECE)
Resumo
O mamão é um fruto bastante apreciado por seu sabor suave e sua baixa acidez. É climatérico e precisa ser colhido ainda verde, para que chegue em condições favoráveis de consumo à mercados consumidores distantes. O amadurecimento desencadeia uma séria de mudança nos aspectos, físicos, químicos e sensoriais no fruto. Sendo assim, este trabalho teve como objetivo analisar a relação entre a perda de massa e alterações no aspecto de firmeza de mamões Formosa ‘Tainung 01’ colhido em estágio 2 de maturação durante armazenamento refrigerado (10 ± 1ºC e 90 ± 5% U.R.) em diferentes embalagens, por 20 dias. Verificou-se uma relação de proporcionalidade entre os dois atributos estudados que estão intimamente ligados ao processo de amadurecimento do fruto.
Palavras chaves
Perda de massa; Firmeza; Mamões
Introdução
O mamão além de ser uma fruta barata e que se cultiva durante o ano inteiro, agrada ao paladar, de adultos e crianças, devido ao sabor suave, adocicado e sua baixa acidez, quando compa¬rado com outros frutos tropicais (NUNES et al., 2017). No entanto, apresenta vida útil pós-colheita bastante limitada, por ser sensível a danos mecânicos, pragas e ação de microorganismos. Devido ser um fruto climatérico, as transformações resultantes do amadurecimento ocorrem rapidamente, desencadeadas pela produção de etileno e o aumento da atividade respiratória, fazendo com que a vida útil pós-colheita do fruto seja bastante limitada (SOUZA et al., 2014). O aumento nos níveis de produção de etileno desencadeia uma gama de transformações físicas, químicas e sensoriais nos frutos (LI et al., 2013). Assim, faz-se necessário o manuseio adequado, desde o cultivo até a comercialização, visando à extensão da vida útil pós-colheita e consequente redução de perdas. A refrigeração é o método mais utilizado para o armazenamento prolongado de frutos. Outros métodos, como o uso de atmosfera modificada ou controle da atmosfera e uso de recobrimentos na superfície do produto também têm sido utilizados, porém sua eficiência encontra-se condicionada ao uso de baixas temperaturas (CHITARRA; CHITARRA, 2005). Desta forma este trabalho teve como objetivo analisar a relação entre perda de massa e alterações no aspecto de firmeza de mamões Formosa ‘Tainung 01’ colhido em estágio 2 de maturação durante armazenamento refrigerado (10 ± 1ºC e 90 ± 5% U.R.) em diferentes embalagens, por 20 dias.
Material e métodos
Mamões da variedade Formosa ‘Tainung 01’ foram colhidos em pomar comercial localizado no Perímetro Irrigado Jaguaribe-Apodi, em Limoeiro do Norte, no Estado do Ceará. Os frutos foram colhidos em estádio de maturação ‘M2’, que corresponde a 25% da casca mostrando cor amarela, conforme o Programa de Exportação do Papaya Brasileiro – APHIS/USDA – IS – SDA/ Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Após a colheita, os frutos foram lavados, recobertos com cera à base de carnaúba, secos sob ventilação forçada, envoltos em rede de polietileno, acondicionados em caixas de papelão e transportados para o Centro de Ciência Agrárias da Universidade Federal do Ceará, Fortaleza. Após a recepção no laboratório, os frutos foram rapidamente resfriados à temperatura na qual seriam armazenados (10 ± 1ºC e 90 ± 5% U.R.). Após resfriamento, os frutos foram divididos em quatro lotes, referentes às seguintes condições de acondicionamento: frutos sem embalagem, embalagem à vácuo parcial (sacos de nylon/polieteno em dimensões de 30 cm x 40 cm e espessura de 0,12μm), embalagem em atmosfera modificada (sacos de poliamida) e embalagem em atmosfera modificada (sacos de poliamida) associada ao absorvedor de etileno (sachê de KMnO4). Os frutos foram armazenados sob refrigeração (10 ± 1ºC e 90 ± 5% U.R.) por um período de 20 dias. Durante este período amostras foram retiradas de maneira aleatória a cada intervalo de cinco dias e transferidas para a temperatura ambiente (24 ± 2 ºC e 48 ± 5% UR), onde permaneceram por 24 horas priori às análises de perda de massa e firmeza. A perda de massa foi determinada segundo Sanino (2004); a firmeza foi determinada utilizando-se penetrômetro de bancada digital da marca SOILCONTROL, através da inserção de uma ponteira cilíndrica de 8 mm de diâmetro no fruto com casca. Utilizou-se o delineamento inteiramente casualizado, com três repetições, em esquema de parcelas sub-divididas, sendo a parcela principal referente aos tratamentos e as sub-parcelas aos tempos de armazenamento. Os dados foram submetidos à análise de variância e regressão, utilizando o teste de Tukey ao nível de 5% de significância para comparação das médias. O programa SISVAR versão 5.3 foi utilizado para análise estatística dos dados.
Resultado e discussão
A perda de massa dos frutos, em todos os tratamentos, foi crescente com o
tempo de armazenamento. As maiores perdas ocorreram nos frutos controle,
provavelmente ocasionada pela maior perda de água, ocorrida através da
transpiração, em relação aos demais frutos protegidos por filmes (Tabela 1).
Os mamões acondicionados a vácuo apresentaram a menor perda de massa
durante o armazenamento, havendo diferenças significativas ao nível de 5%,
entre este e o restante dos tratamentos utilizando filmes. Estes resultados
corroboram com os obtidos por Galvão et al. (2008) e podem ser explicados
através da baixa temperatura de armazenagem dos frutos e a utilização de
cera em associação com filmes plásticos que reduzem o percentual de perda de
massa fresca devido ao ambiente saturado de umidade no interior da
embalagem, reduzindo o gradiente de pressão de vapor entre o fruto e o ar no
ambiente, diminuindo e controlando a transpiração do fruto, bem como seu
metabolismo. A redução da perda de massa está diretamente relacionada à taxa
de transmissão de vapor d’água da embalagem, ou seja, quanto menor a taxa de
transmissão, menor o déficit de pressão de vapor d’água e maior a umidade
relativa no interior da embalagem, reduzindo a taxa de transpiração das
frutas (SANCHES et al., 2011).
A firmeza é um atributo de qualidade importante, tanto para o manejo dos
frutos, quanto para a aceitação pelo consumidor (CUQUEL et al., 2012). A
firmeza dos frutos, independente do tratamento, decresceu nos primeiros
cinco dias de armazenamento (Tabela 1). Isto possivelmente ocorreu devido à
evolução na maturação dos frutos nos primeiros dias após a colheita, como
também, a perda de água através da transpiração.
Santos et al. (2008) observaram a existência de uma relação entre perda de
massa e firmeza dos frutos, isto é, quando há aumento no percentual de perda
de massa, verifica-se a redução nos valores de firmeza. Nunes et al. (2017),
também observaram que a firmeza do fruto e da polpa dos mamões decresceram,
com o decorrer do tempo de armazenamento e à medida em que estes
amadureciam, ocorrendo mudança na consistência do fruto, que está
relacionada com o metabolismo dos hidratos de carbono e com as alterações da
parede celular. A perda de firmeza no mamão está diretamente relacionada à
ação de pectinases, responsáveis pela hidrólise de componentes da parede
celular, pois enzimas com esta ação, como a pectinametilesterase, a
poligalacturonase, as celulases e outras, como a endoxilanase, as
glucanahidrolases e as transglucosidades aumentam a atividade durante a fase
de amadurecimento do mamão, com forte participação do etileno na modulação
da atividade dessas enzimas (KRONGYUT et al., 2011; INIESTRA-GONZÁLEZ et
al., 2013).
Observou-se acréscimo nos valores de firmeza do décimo ao vigésimo dia de
armazenamento, em todos os tratamentos. Para os frutos sob refrigeração sem
filme, detectou-se leve enrugamento da casca, o que conferiu um aspecto
“elástico” à casca aliado à dificuldade no rompimento da mesma durante a
realização dos testes de perfuração. Nesta ocasião os frutos apresentavam
firmeza de 144,92 N e coloração levemente amarelada.
Nos frutos armazenados com embalagem, os que estiveram sob atmosfera
modificada, apresentaram maior redução nos valores de firmeza. Estes
resultados podem estar associados à maior concentração de CO2 presente no
interior da embalagem, pois segundo Oliveira et al. (2014), a maior perda de
firmeza observada em sua pesquisa com camu-camu, ocorreu com frutos
submetidos a tratamento com filme de menor permeabilidade ao O2 e CO2.
Os frutos acondicionados a vácuo se mantiveram ainda muito firmes por
ocasião do final do período de armazenamento, com firmeza de 157,58N (Tabela
1). Este acréscimo nos valores médios de firmeza pode ter sido desencadeado
pelo retardo no processo de amadurecimento ocasionado pela baixa temperatura
de armazenamento. Fato semelhante foi reportado por Rocha et al. (2007) em
pesquisa com mamões ‘Formosa’, onde frutos armazenados em temperaturas
baixas (8 e 10ºC) apresentavam incremento de firmeza e falha no
amadurecimento, tendo sido estes sintomas considerados injúrias ocasionadas
pelo frio. Entretanto estes autores reportam, que tais sintomas foram mais
severos em mamões armazenados em temperaturas mais baixas (8ºC).
Evolução na perda de massa (%) e valores médios de firmeza (N) em mamões ‘Tainung 01’ acondicionados sem embalagem e em diferentes tipos de embalagem
Conclusões
Verificou-se uma relação de proporcionalidade direta entre perda de massa e firmeza dos frutos, visto que os mamões que apresentaram os maiores valores de um atributo, o apresentaram também no outro, nas mesmas condições de armazenamento. Os mamões embalados à vácuo, seguidos dos embalados em atmosfera modificada mais absorvedor de etileno, obtiveram menores perdas de massa e firmeza dos frutos em 20 dias de armazenagem à (10 ± 1ºC e 90 ± 5% UR) mantendo, portanto, características mais próximas aos frutos analisados no momento da colheita.
Agradecimentos
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo apoio à pesquisa
Referências
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