Síntese de Novos Glicosídeos Poliacetilênicos: Promissores Agentes Antiglicêmicos

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Química Orgânica

Autores

Santos, J.A.M. (UFRPE/IFPE) ; Santos, C.L.A.A. (UFPE) ; Silva, W.P. (UFPE) ; Lima, J.C. (UFPE) ; Menezes, P.H. (UFPE) ; Freitas, J.C.R. (UFCG)

Resumo

Os glicosídeos poliacetilênicos são uma promissora classe de produtos naturais que podem ser encontrados em plantas, fungos e algas marinhas e apresentam a capacidade de regular os níveis de glicose no sangue. Nessa perspectiva, o foco principal deste trabalho foi sintetizar novos glicosídeos poliacetilênicos com potencial aplicação no tratamento da diabetes. Dessa forma, a partir de uma abordagem sintética convergente, três novos glicosídeos poliacetilênicos foram obtidos em rendimentos moderados.

Palavras chaves

Diabetes; Acoplamento cruzado; Glicosilação

Introdução

O diabetes mellitus, ou simplesmente diabetes, é um distúrbio metabólico crônico caracterizado por níveis elevados de glicose no sangue (hiperglicemia) que ocorre quando o organismo não produz adequadamente insulina ou quando não consegue usar a insulina produzida de forma eficiente, ou ainda pela ocorrência concomitante destas duas condições (ZHENG et al, 2019). Essa doença aflige 3% da polução mundial e segundo a Organização Mundial da Saúde cerca de 1,6 milhões de mortes em 2016 foram causados diretamente pela diabetes. Etiologicamente, a diabetes é classificada em dois tipos, a diabetes tipo I e diabetes tipo II. Apesar dos avanços, os fármacos disponíveis para o tratamento do diabetes ainda carecem de uma maior eficácia e exibem efeitos colaterais significativos (YANG, 2014). Com isso, antiglicêmicos alternativos aos tradicionais têm sido avaliados, como é caso dos glicosídeos poliacetilênicos. A capacidade dos glicosídeos poliacetilênicos em reduzir os níveis de glicose no sangue, e, portanto, sua aplicação no tratamento do diabetes, tem sido alvo de um grande número de investigações nos últimos anos (CHANG et al, 2013; POLLO et al, 2018). Nesses estudos, os pesquisadores têm demostrado que tais compostos podem atuar no tratamento da diabetes tipo I e tipo II por meio da regulação positiva da biossíntese/secreção da insulina e proteção das células beta envolvendo os mensageiros Ca2+ e diaglicerol (CHANG et al., 2013); inibição das enzimas alfa- amilase e alfa-glicosidase (SALTOS et al, 2015), responsáveis pela quebra do amido, e através da modulação dos linfócitos T auxiliares (CHIANG et al, 2007), que no processo de desenvolvimento da diabetes promovem a destruição das células beta. Nessa perspectiva, nesse trabalho é relatado a preparação de novos glicosídeos poliacetilênicos com potencial aplicação no tratamento da diabetes.

Material e métodos

Os reagentes e solventes foram utilizados na sua forma comercial, P. A., dos fornecedores Merck, Aldrich, Vetec e Cinética. O acompanhamento das reações foi realizado através de cromatografia em camada delgada (CCD), onde foi utlizado placas prontas de sílica-gel contendo indicador fluorescente F254. Os espectros de ressonância magnética nuclea foram registrados em um espectrômetro Varian Unity Plus de 300 MHz. Preparação dos compostos 3a-c: Em um balão de fundo redondo, o composto 2 (0,207 g, 0,5 mmol) foi dissolvido em diclorometano (4,0 mL) e em seguida foi adicionado Et3N (1,0 mL) e o bromo-alquino apropriado (1,0 mmol). Na sequência foi adicionado o Pd(Ph3)2Cl2 (17,55 mg, 0,025 mmol) e CuI (9,25 mg, 0,05 mmol). A mistura reacional foi mantida sob argônio em agitação e temperatura ambiente durante 1,5 h, onde foi observado a formação do produto por CCD. Após esse tempo, a mistura reacional foi lavada com uma solução saturada de NH4Cl e o produto foi extraído com acetato de estila. A fase orgânica foi seca com NaSO4 e o produto foi concentrado sob pressão reduzida. Os compostos foram purificados por cromatografia em coluna.

Resultado e discussão

Na preparação do composto 2, inicialmente a D-glicose 1 foi acetilada em meio básico seguida de uma reação de glicosilação do tipo Fischer. O produto desejado 2 foi obtido com um rendimento global de 85 % após duas etapas (Figura 1). A reação glicosilação levou a formação dos anômeros beta e alfa na proporção de 95:5, respectivamente, sendo a que estereosseletividade observada deve-se principalmente a interações 1,3-diaxiais e assistência anquimérica (NIGUDKAR, DEMCHENKO, 2015). A reação de acoplamento cruzado tipo Cadiot-Chodkiewicz entre o alquino terminal 2 e diferentes bromo-alquinos, preparados de acordo com a literatura (HOFMEISTER et al., 1984), levou a formação dos novos glicosídeos poliacetilênicos 3a-c após 1,5 h em rendimentos que variaram de 30 a 42% (Figura 2). Os baixos rendimentos alcançados nestas reações podem ser explicados pela formação de subprodutos de homoacoplamento. Todos os compostos foram caracterizados pelas técnicas espectroscópicas usuais e os dados estão de acordo com a literatura.

Figura 1.

Síntese do composto 2.

Figura 2.

Síntese dos glicosídeos poliacetilênicos.

Conclusões

Os glicosídeos poliacetilênicos constituem uma família estruturalmente interessante de metabólitos secundários que tem atraído atenção dos pesquisadores devido seu potencial biológico, principalmente como antidiabético. Portanto, neste trabalho, foi descrita pela primeira vez a síntese de três glicosídeos poliacetilênicos, os quais foram obtidos em quatro etapas reacionais com rendimentos globais moderados. Os compostos foram caracterizados por RMN 1H e 13C.

Agradecimentos

CAPES; UFRPE; UFPE; IFPE.

Referências

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