PRODUÇÃO E ANÁLISE DE SABÕES PREPARADOS A PARTIR DE ÓLEO DE COCO E PRIPRIOCA: a influência de fatores físicos e químicos nas amostras finais.

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Química Orgânica

Autores

Leal Coutinho, S. (UFPA) ; Moraes Borges, K. (UFPA) ; Leite Amaral, J. (UFPA) ; Favacho Ribeiro, A. (UFPA)

Resumo

Muitos estudos a respeito do processo de saponificação vêm sendo realizados com o intuito de aperfeiçoar sua prática. O presente trabalho visa avaliar qualitativamente sabões produzidos a partir de óleo de cocos nucífera L e cyperus articulatus, avaliando o pH, coloração, aparência e formação de espuma nos produtos obtidos e discutindo possíveis anormalidades em algumas amostras, ratificando a influência de fatores físicos (temperatura e armazenamento) e químicos (composição da essência e proporção estequiométrica de reagentes) em sua produção. O pH obtido para todos os sabões está dentro da legislação permitida. O tempo de cura das amostras teve influência direta do óleo essencial utilizado.

Palavras chaves

Saponificação; Óleo; pH

Introdução

De acordo com uma antiga lenda romana a palavra saponificação tem sua origem no Monte Sapo, onde realizavam sacrifícios de animais. A chuva levava uma mistura de sebo animal (gordura) derretido, com cinzas e barro para as margens do Rio Tibre. Essa mistura resultava numa borra (sabão). As mulheres descobriram que usando esta borra, suas roupas ficavam muito mais limpas. Os glicerídeos sofrem hidrólise em bases fortes, geralmente NaOH, produzindo sabões, que são sais de sódio de ácidos carboxílicos de cadeia longa, e glicerol. Essa reação é conhecida como saponificação (ALBERICI e PONTES. 2003). Os sabões são capazes de diminuir a tensão superficial dos líquidos que entram em contato, diminuindo, dessa maneira, a quantidade de interações entre as moléculas que o constituem e, por consequência, aumentando o contato entre a superfície do líquido e os agentes de limpeza, por esse motivo são chamados de tensoativos (FERNANDES, 2009). É importante ressaltar o correto controle de pH do sabão em sua produção, que segundo as normas da ANVISA deve estar em uma faixa de 6,5 à 8 para contato com a pele e 8,5 à 11 para limpeza em geral. É indispensável haver um controle de temperatura para não haver rachaduras e escurecimento da amostra (DOMÉZIO, 2007), bem como da correta proporção estequiométrica dos reagentes, possibilitando uma saponificação completa (RIBEIRO et al., 2013). No presente trabalho a saponificação foi realizada com óleo fixo de Cocos nucífera L (coco) e óleo essencial de Cyperus articulatus (priprioca), que de acordo com estudos de Herrera-Calderon et al., (2017), verificou-se em seu extrato etanólico das folhas, metabólitos secundários como alcalóides de caráter alcalino, podendo influenciar no pH do composto.

Material e métodos

Foram preparadas quatro sabões para amostragem, sendo dois com proporções iguais em quantidade de óleo de coco, diferindo na proporção de NaOH, HCl e aromatizante, e dois com proporcões iguais de óleo de coco, NaOH e HCl, porém diferindo na adição de aromatizante, sendo um aromatizado e o outro preparado sem a essência, totalizando cinco sabões. O óleo de coco passou pelo processo de filtração a vácuo para retirada de qualquer material residual da extração. As amostras 1 e 4 (A1 e A4) foram realizados com proporções corretas de reagentes baseados em cálculos estequiométricos da densidade do óleo (0,921g/mL) com uma diferença de quantidade. Segundo Silva (2012) para neutralizar 1 mol de de óleo são necessários 3 mols de NaOH, logo, para 50 mL de óleo utilizado é necessário 8,5 g de NaOH. Na A1 as quantidades foram 50 mL de óleo de coco, 4 mL de HCl para neutralização e 2 mL de essência. Na A4 os valores foram dobrados, obtendo-se dois sabões. Na A2 a metodologia experimental foi a mesma, modificando apenas a quantidade de NaOH em 25 % a menos que na A1. Nesse procedimento o tempo de resfriamento do sabão não foi respeitado. A A3 foi realizada em conjunto com a A4, utilizando-se das mesmas medidas, entretanto uma parte da amostra (A3) foi separada sem o óleo essencial de priprioca. Todos os sabões foram despejados em formas de silicone ao término da reação de saponificação. Os testes de pH foram dividios em 3: 1ª teste (T1) no mesmo dia da reação de saponificação; 2ª teste (T2) 24 horas depois; 3ª teste (T3) 6 dias depois Os sabões foram desenformados e embrulhados em papel filme e armazenados em local ausente de luminosidade natural. Os resultados das análises qualitativas estão presentes na figura 01. O método de obtenção do pH foi o uso da fita universal de pH.

Resultado e discussão

Este trabalho buscou analisar aspectos qualitativos das amostras (Figura 2), verificando o pH dos produtos formados, coloração, espuma (AMARAL, COSTA e PINTO, 2018) e aparência. O pH da A3 diminuiu mais rapidamentes que os demais e se estabilizou em um tempo de cura de 1 dia. Inferiu-se que como a essência possui metabólitos secundários de caráter básico, a mesma pode dificultar o abaixamento do pH, logo sua ausência possibilitou um aceleramento do processo de cura. A coloração das amostras A1 e A4 foi observada com tom bege, devido ao emprego do óleo de priprioca. A A3 obteve coloração branca devido a ausência da essência, predominando a coloração do coco. A A2 apresentou coloração escura devido ao mau controle de temperatura, pois como a as reações de saponificação são muito exotérmicas (o calor liberado provoca quebra de ligações), a remoção ineficiente de calor pode acarretar o escurecimento e rachaduras (DOMÉZIO, 2007), como evidenciado na amostra, além de apresentar um aspecto gelatinoso em seu centro característico de uma saponificação incompleta devido à proporções estequiométricas incorretas dos reagentes (RIBEIRO et al., 2013). Todas as amostras apresentaram teor significativo de espuma, onde as moléculas, pelo fato de terem a cauda hidrofóbica, separam-se da água destilada e se direcionam para o ar (ESPAÇO, 2014) sendo, portanto associadas ao poder eficiente de limpeza (DIEZ e CARVALHO, 2000;). Todos os sabões foram armazenados em local ausente de luz natural, pois o sabão exposto à luz natural pode acarretar alterações em seu aspecto físico e até mesmo químico, devido ao contato com o oxigênio atmosférico também, incluindo descoloração, presença de manchas, aparecimento de odores desagradáveis e granulosidade superficial (CARAZZA et al., 1995).

Figura 01

Resultado das Análises Qualitativas das amostras

Figura 02

Amostras Finais

Conclusões

Concluiu-se que todas as amostras obtiveram valores de pH comparados aos trabalhos de Amaral; Costa; Pinto (2018) apontando em valor 8. Segundo as normas da ANVISA os sabões produzidos já podem entrar em contato com a pele e serem usados para o banho. Foi também possível avaliar a influência direta das proporções estequiométricas corretas na efetividade das reações de saponificação, bem como o controle de temperatura e armazenamento na qualidade das amostras. Também foi possível analisar aspectos físicos dos produtos a partir dos óleos utilizados, bem como suas influências diretas no pH.

Agradecimentos

À Deus pelo dom da vida e da sabedoria, aos familiares dos autores e à UFPA pelas instalações

Referências

ALBERICI, Rosana; PONTES, Flávia. Reciclagem de óleo comestível usado através da fabricação de sabão. Engenharia Ambiental, Espírito Santo do Pinhal, Dezembro 2003.
AMARAL, J. L, do; COSTA, I. M.da; PINTO, B. C. REAÇÃO DE SAPONIFICAÇÃO. Ananindeua: Universidade Federal do Pará, 2018. 18 p.
ANVISA Guia de controle de qualidade de produtos cosméticos - Uma abordagem sobre os ensaios físicos e químicos. Brasília, p. 18 - 121, 2008.
CARAZZA, S.; BARRETO, D.W.; GOUVÊA, M. C.; BARRETO, R.C.R. (1995) Algas marinhas em sabonetes. Revista Cosmetics & Toiletries, (7), p. 56-60.
DIEZ, M. A; CARVALHO, G.S.C. (2000) Aditivos para sabonetes em barra. Oxiteno S/A Indústria e Comércio. São Paulo – SP.
DOMÉZIO, Marco Aurélio et al. Sabões e detergentes - processamento de detergentes e sabões. Processos químicos II, [S. l.], p. 6, 6 jun. 2007
ESPAÇO, UFF. Bolhas de sabão e detergentes. 2014. Disponível em: HTTP://www.uff.br/espacouffciencias. Acesso em: 10 jun. 2019
FERNANDES, Paulo. Produção de sabão líquido a partir de óleo alimentar usado. 2009. TESE (Mestrado Integrado em Engenharia Química) - Departamento de Engenharia Química, Porto, 2009.
HERRERA-CALDERON, O.; SANTIVANEZ-ACOSTA, R.; PARI-OLARTE, B.; ENCISO-ROCA, E.; MONTES, V.M.C.; Jorge ACEVEDO, L.A. Anticonvulsant effect of ethanolic extract of Cyperus articulatus L. leaves on pentylenetetrazol induced seizure in mice. Journal of traditional and complementary medicine, v. 8, n. 1, p. 95-99, 2017
RIBEIRO, J.D.O. et al. Produção e Análise de pH de Sabão Ecológico Variando o Teor de NaOH. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE QUÍMICA, 2013, Rio de Janeiro. Química Ampliando Fronteiras [...]. [S. l.: s. n.], 2013. Disponível em: http://www.abq.org.br/cbq/2013/trabalhos/14/2895-17009.html. Acesso em: 18 jun. 2019.
SILVA, Lúcio Candido da. SAPONIFICANDO ÓLEO DE COCO UM EXPERIMENTO DE MOTIVAÇÃO NAS AULAS DE QUÍMICA. O Porfessor Pde e Os Desafios da Escola PÚblica Paranaense, Jacarezinho, v. 1, n. 0, p.0-0, jul. 2012. Disponível em: <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2010/2010_uenp_bio_pdp_jorge_garcia_da_silva.pdf>. Acesso em: 11 jun. 2019.

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