CARTA ORGÂNICA: JOGO DIDÁTICO PARA O ENSINO DE QUÍMICA ORGÂNICA
ISBN 978-85-85905-25-5
Área
Química Orgânica
Autores
Monteiro Silva, A. (IFMA) ; Oliveira Silva, D. (IFMA) ; Otamar Almeida de Jesus, J. (IFMA) ; Sirley Brandão Cavalcante, K. (IFMA) ; Lucia Muniz Ribeiro, R. (IFMA)
Resumo
Os jogos como recurso pedagógico de motivação e influência no processo de ensino e aprendizagem, vêm ganhando espaço no âmbito escolar tornando as aulas mais dinâmicas e interativas. Este trabalho desenvolveu o jogo “Carta Orgânica”, um jogo didático de perguntas e respostas aplicado na forma de competição entre os alunos, distribuídos em equipes, com o objetivo de revisar e facilitar a compreensão de conteúdos básicos da química orgânica. A proposta favoreceu raciocínio, argumentação e principalmente a interação entre os estudantes do 3º ano do ensino técnico integrado ao médio e o professor da disciplina de química orgânica.
Palavras chaves
Química; Metodologia Ativa; Carta Orgânica
Introdução
A Química, como disciplina escolar, é um instrumento de formação humana, um meio para interpretar o mundo e interagir com a realidade. A compreensão dos conteúdos da Química está relacionada com uma nova visão da ciência e de conhecimento científico que não se configura num corpo de teorias e procedimentos de caráter positivista, e, sim, como modelos teóricos social e historicamente produzidos. Esses modelos, que constituem uma dentre outras formas de se explicar a realidade complexa e diversa, se expressam em códigos e símbolos da Química que, apesar de ter um potencial explicativo, também têm suas limitações (ZANON; GUERREIRO; OLIVEIRA, 2008). Quando nos referimos ao ensino de Química Orgânica no Ensino Médio notamos que a prática comumente efetivada em sala de aula consiste na transmissão- recepção de conhecimentos que, muitas vezes, deixa lacunas no processo (SCHNETZLER; ARAGÃO, 1995). Ao reconhecermos as dificuldades que permeiam o trabalho do professor nesse nível de ensino optamos por estudar uma forma de contribuir para os processos de ensino e aprendizagem de nomenclatura dos compostos orgânicos. Neste contesto, surgem as metodologias ativas que tem uma concepção de educação crítico-reflexiva com base em estímulo no processo ensino- aprendizagem, resultando em envolvimento por parte do educando na busca pelo conhecimento (MACEDO, et al., 2018). A utilização dessas metodologias pode favorecer a autonomia do educando, despertando a curiosidade, estimulando tomadas de decisões individuais e coletivas, advindos das atividades essenciais da prática social e em contextos do estudante (BORGES; ALENCAR et al., 2014). Segundo Vygotsky (1989), os jogos didáticos são excelentes alternativas para o processo de aprendizado e no processo de avaliação, auxiliando no desenvolvimento das habilidades e raciocínio do estudante. Eles têm como objetivo desenvolver habilidades cognitivas importantes para o processo de aprendizagem, resolução de problemas, percepção, criatividade, raciocínio rápido, dentre outras habilidade. Um jogo pode ser considerado educativo quando mantém um equilíbrio entre duas funções: a lúdica e a educativa (KISHIMOTO, 1996). A lúdica está relacionada ao caráter de diversão e prazer que um jogo propicia, enquanto a educativa se refere à apreensão de conhecimentos, habilidade e saberes. Os jogos proporcionam ao aluno uma forma prazerosa e divertida de estudar, além de oferecer ao professor uma maneira diferente de avaliar a assimilação conteúdos estudados, revisar conteúdo ou como um meio mais dinâmico de fixar o conhecimento, permitindo a identificação de erros de aprendizagem. Além disso, o professor pode auxiliar o aluno na tarefa de formulação e reformulação de conceitos, ativando seus conhecimentos prévios e articulando-os a uma nova informação que está sendo apresentada. A principal vantagem do uso de jogos didáticos envolve a motivação, gerada pelo desafio, acarretando o desenvolvimento de estratégias de resolução de problemas, a avaliação das decisões tomadas e a familiarização com termos e conceitos apresentados. Os jogos pedagógicos aliam o aprendizado de determinados conteúdos à atividade lúdica, despertando interesse dos alunos no assunto abordado e propiciando uma aprendizagem eficaz, divertida e empolgante. Por esse motivo, o jogo se torna uma peça de importância quando se quer atrair a atenção do aluno (SOUZA; SILVA, 2012). Desta forma, foi desenvolvido o jogo didático Carta Orgânica, um jogo de perguntas e respostas classificadas em três níveis (fácil, intermediário e difícil). Para auxiliar na compreensão de conteúdos básicos da química orgânica, como classificação de cadeias carbônicas, radicais, estudo do carbono e hidrocarbonetos.
Material e métodos
Este trabalho com abordagem qualitativa foi realizado por dois acadêmicos do Curso de Licenciatura em Química e bolsistas do PIBID, durante suas atividades docentes em uma turma de 30 alunos do técnico integrado ao ensino médio do IFMA, Campus São Luís – Monte Castelo, com a supervisão do professor de química. A primeira etapa deste trabalho consistiu em aulas teóricas sobre conteúdos básicos da química orgânica, como: ligação química, hibridização, estudo do carbono, cadeias carbônicas e hidrocarbonetos. Como proposta pedagógica de revisão destes conteúdos, a segunda consistiu no desenvolvimento do jogo didático Carta Orgânica que relacionava os conteúdos abordados durante as aulas teóricas. O jogo utilizava dois dados de seis faces, construídos de papelão e preenchidos para evitar qualquer deformação. Os cubos foram cobertos com cartolinas recortadas nas cores amarela, rosa e azul. As cartas também foram elaboradas nas mesmas cores. Foram formuladas questões de nível fácil, intermediária e difícil. Cada cor representa um nível de dificuldade distribuídas da seguinte forma: face 1 e 2 (amarelo, fácil), face 3 e 4 (rosa, intermediaria), face 5 e 6 (azul, difícil). A terceira etapa resultou na aplicação do jogo . Os alunos foram distribuídos em equipes, no qual um aluno de cada equipe arremessava o dado e de acordo com a face sorteada selecionava a carta. Os alunos registravam as respostas em cartões-resposta. Para cada acerto, a equipe acumulava a quantidade de pontos sorteada no dado. Toda a abordagem foi observada, registrada em caderno de bordo e refletida juntamente com o professora da disciplina e supervisora do PIBID.
Resultado e discussão
Durante a primeira etapa, que constituiu no estudo teórico dos conteúdos
sobre ligação química, hibridização, estudo do carbono, cadeias carbônicas e
hidrocarbonetos, os estudantes demonstraram falta de motivação para
compreender os conteúdos expostos. O uso do modelo passivo/expositivo de
aprendizagem acarretou na dificuldade de compreensão dos conteúdos.
Diante deste cenário, os acadêmicos de licenciatura em química refletiram
suas ações e os comportamentos dos alunos, e propuseram um jogo didático com
o objetivo de envolver, engajar e motivar a ação dos estudantes na sala de
aula. No dia da aplicação do jogo poucos alunos compareceram, comportamento
este já esperado, pois os alunos não frequentam de forma assídua as aulas de
químicas. Contudo, nas aulas seguintes, alguns alunos-faltosos pediram para
reaplicação do jogo, uma vez que os alunos-participantes demonstraram grande
interesse pelo mesmo.
Segundo Silva, Sales e Castro (2019, p. e20180309-2), a falta de motivação
para aprender os conteúdos, não é um problema apenas do ensino de Ciências,
mas da Educação Básica em geral. A desmotivação dos estudantes no Brasil
instigou vários pesquisadores brasileiros na busca por metodologias ativas,
como a gamificação “devido a sua capacidade de envolver, engajar e motivar a
ação do estudante em ambientes de aprendizagem”.
Logo no início do jogo, percebeu-se certo desânimo dos alunos em relação à
atividade. Mas com o andamento do jogo visualizamos os mesmos mais motivados
e ativos na resolução das questões dentro do tempo determinado. Assim,
considerou-se que o jogo Carta Orgânica contribuiu para o resgate dos
conceitos teóricos, avaliação e fixação dos conteúdos de química orgânica
estudados. Uma proposta didática que proporcionou motivação e participação
ativa, durante o desenvolvimento das estratégias de resolução dos problemas.
Uma atividade lúdica que estimulou a criatividade, as relações cognitivas,
afetivas, o trabalho em equipe oportunizando a socialização e favorecendo a
superação dos desafios e contribuindo para o processo ensino e aprendizagem.
Como pontos positivos, destacam-se as respostas corretas nos cartões-
resposta aos questionamentos das cartas, exceto de algumas cartas de nível-
difícil, que exigiam conhecimentos mais específicos, os quais foram
esclarecidos logo em seguida, configurando o jogo também como recurso eficaz
de aprendizagem. Relatos dos alunos-participantes destacam que os mesmos
sentiram-se mais motivados nos estudos e obtenção de melhores notas na
avaliação tradicional.
Como pontos negativos, observou-se que algumas equipes desenvolveram uma
competitividade excessiva, um comportamento indesejado no processo
educativo, o que requer um ajuste no jogo, como reorganizá-lo de forma que
não haja papel de vencedor e perdedor.
Conclusões
Durante a aplicação do jogo Carta Orgânica verificou-se o favorecimento da aquisição do conhecimento de química orgânica proposto. A atividade didática foi uma importante estratégia para o ensino e a aprendizagem, pois favoreceu a motivação interna, o raciocínio, a argumentação e principalmente a interação entre os alunos e o professor. É notório que os jogos pedagógicos não substituem outros métodos de ensino, mas se apresentam como uma ferramenta auxiliar no processo de ensino, dando suporte ao professor e motivação ao aluno para a sua aprendizagem.
Agradecimentos
Referências
BORGES, Tiago Silva; ALENCAR, Gidélia. Metodologias ativas na promoção da formação crítica do estudante: o uso das metodologias ativas como recurso didático na formação crítica do estudante do ensino superior. Cairu em Revista, v. 3, n. 4, p. 119-143, 2014.
DA CUNHA, Marcia Borin. Jogos no ensino de química: considerações teóricas para sua utilização em sala de aula. Química Nova na Escola, São Paulo, [s. L.], v. 34, n. 2, p. 92-98, 2012.
KISHIMOTO, T. M. Jogo, brinquedo, brincadeira e educação. São Paulo: Cortez, 1996.
MACEDO, K. D. S. et al. Metodologias ativas de aprendizagem: caminhos possíveis para inovação no ensino em saúde. Esc. Anna Nery, v. 22, n.3, 2018.
SCHNETZLER, R.P. e ARAGÃO, R.M. Importância, sentido e contribuições de pesquisas para o ensino de Química. Química Nova na Escola, n. 1, p. 27-31, 1995.
SILVA, J. B. da; SALES, G. L.; CASTRO, J. B. de. Gamificação como estratégia de aprendizagem ativa no ensino de Física. Rev. Bras. Ensino Fís., São Paulo , v. 41, n. 4, e20180309, 2019.
SOUZA, Hiale Yane Silva de; SILVA, CK O. Dados orgânicos: um jogo didático no ensino de química. HOLOS, v. 3, p. 107-121, 2012.
VYGOTSKY, Lew; A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes; 1989.
ZANON, Dulcimeire Aparecida Volante; DA SILVA GUERREIRO, Manoel Augusto; DE OLIVEIRA, Robson Caldas. Jogo didático Ludo Químico para o ensino de nomenclatura dos compostos orgânicos: projeto, produção, aplicação e avaliação. Ciências & Cognição, v. 13, n. 1, 2008.