ESTUDO ETNOBOTÂNICO EM ÁREA URBANA NO MUNICÍPIO DE JUÍNA-MT
ISBN 978-85-85905-23-1
Área
Produtos Naturais
Autores
Silva, J.S. (IFMT-CAMPUS JUINA) ; Paulli, P. (IFMT-CAMPUS JUINA) ; Bieski, I.G.C. (AJES)
Resumo
A Etnobotânica busca regatar os conceitos regionais desenvolvidos sobre o uso de plantas por uma comunidade. Com este trabalho objetivou-se realizar um estudo etnobotânico com a população urbana da cidade de Juína-MT. Com questionários, 44% dos entrevistados afirmaram usar plantas com finalidade terapêutica e citaram 114 espécies. Prevaleram a Infusão (46%) como forma de preparo, parte usada folhas (65%), tratamento contra infecções (33%), indigestão (14%) e problemas respiratórios (10%). As plantas mais citadas foram o boldo (16%), hortelã (14%), erva-cidreira (12%), camomila e poejo (7%). A forma de transmissão do saber para 67% é entre familiares. Com estes resultados esperamos subsidiar projetos educacionais, visando a conservação desse saber, a segurança e eficácia no uso das plantas.
Palavras chaves
Terapias alternativas.; Fitoterápicos.; Projetos educacionais
Introdução
As plantas utilizadas para fins terapêuticos são tradicionalmente denominadas medicinais. O termo fitoterápico refere-se ao medicamento cujos constituintes ativos são plantas ou derivados vegetais, sendo relatado em sistemas de medicinas milenares em todo o mundo (RODRIGUES; AMARAL, p. 22, 2012). Embora a maioria dos estudos Etnobotânicos seja focada em populações tradicionais, ribeirinhas e quilombolas, as populações de áreas urbanas também vêm sendo muito investigadas, visados por estudos etnofarmacológicos. A etnobotânica é uma ciência multidisciplinar de prática multiprofissional que envolve botânicos, antropólogos, farmacólogos, médicos, engenheiros, entre outros. Sendo assim interdisciplinar, é capaz de proporcionar explicações sobre a interação de comunidades humanas com o mundo vegetal, em suas dimensões antropológica, ecológica e botânica (AMOROZZO, p. 123-131, 2006). Nas escolas, o estudo do tema plantas medicinais oferece a oportunidade de interligar os conhecimentos de várias disciplinas: química (composição, produção de extratos, preparados e misturas), biologia (fisiologia e anatomia vegetal, corpo humano, saúde, origem das espécies, biomas terrestres, habitats das plantas), artes (retratar, desenhar e pintar plantas), história (origem das espécies, origem da agricultura) e geografia (centros de origem e diversidade das plantas). Outra possibilidade é a de desenvolver uma ação integrada entre professores de várias disciplinas (MARCATTO, 2003). Portanto, com essa pesquisa objetivou-se realizar um estudo etnobotânico com a população de bairros da cidade de Juína-MT, buscando subsidiar projetos educacionais nas escolas da região, visando a conservação desse saber cultural, bem como a segurança e eficácia durante o uso da terapêutica com plantas medicinais.
Material e métodos
Foi utilizada uma abordagem de pesquisa qualitativa, de carater exploratório: estimular os entrevistados a pensar e falar livremente sobre algum tema, objeto ou conceito. A tabulação dos dados foi realizada através do programa Microsoft Excel®. Para correções de nomes científicos e famílias utilizou-se o site oficial do Missouri Botanical Garden (TRÓPICOS, 2010). Foi feita através de visitas às residências dos bairros Módulo V e Módulo VI, nos períodos matutino e vespertino, e em cada residência, somente uma pessoa foi entrevistada. Os 135 entrevistados responderam um questionário semiestruturado, com os seguintes questionamentos: 1. Sexo [ ] M [ ]F 2. Quais os benefícios em utilizar plantas medicinais? 3. Com que frequência você utiliza? 4. Utiliza associação de plantas para compor o mesmo medicamento? 5. Com quem você aprendeu a usar plantas medicinais? 6. Plantas medicinais podem ser prejudiciais a saúde? 7. Conhece planta(s) que tem restrições ou contra-indicação? 8. Você já teve algum efeito colateral sobre a planta que você utiliza? 9. Em caso afirmativo, quais efeitos e de qual planta? 10. Quais são os problemas de saúde mais tratados com o uso de plantas Medicinais? 11. Após a utilização quanto tempo você percebe que começou a surtir efeito? 12. Se Não Funcionar, o que é feito? 13. Onde você adquire as plantas medicinais 14. Você informa ao médico que faz uso de plantas medicinais? 15. Se não, por quê? 16. Plantas que conhece: indicação, forma de uso, o que usa da planta e a dosagem? A coleta dos dados ocorreu entres os meses de julho e agosto de 2016, por uma estudante do curso de Ciências Biológicas do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso, IFMT- Campus Juína.
Resultado e discussão
Dentre as respostas obtidas com a aplicação do questionário que podem auxiliar
na implantação de projetos educacionais futuros, destacamos que 44% das
pessoas entrevistadas relataram que, após sentirem algum tipo de desconforto,
utilizam primeiramente as plantas, através de chá, xarope e sucos. Os idosos
são os que mais fazem uso, demonstrando melhor entendimento do assunto. Lira e
colaboradores (2011) ressaltam que o uso de plantas medicinais é mais
acentuado entre os mais velhos e, os mais jovens precisam ser mais atentos
quanto ao conhecimento tradicional a fim de serem preservados estes
conhecimentos para gerações futuras.
A utilização das plantas medicinais é facilitada pela obtenção das plantas,
sendo que 42% das pessoas adquirem as plantas na Pastoral da Saúde, 35%
cultivam em seus quintais, 17% adquirem com vizinhos e 7% compram em feiras.
O uso das plantas citados buscam curar infecções (33%), problemas de
indigestão (14%), gripe e resfriado (13%), problemas respiratórios (10%),
Inflamações (8%), dores de cabeça e tratamento para malária (6%). Resultados
semelhantes foram encontrados por Rodrigues e Carvalho (2001).
Em relação à parte utilizada, as folhas, raízes, casca, flores e sementes
foram citadas com frequências de (65%), (13%), (12%), (6%) e (2%),
respectivamente. A forma de preparo mais citadas foram a Infusão com 46%, suco
e macerado com 18% e xarope com 17%.
34% dos entrevistados já ouviram ou sabem de alguém que sofreu com algum
efeito colateral, tais como irritabilidade, tonturas e sonolência, faltam de
ar, vermelhidão na pele, diarreia, coceiras (amoreira), dores estômago
(amoreira), intoxicação (losna). Apesar de não ter nenhum relato de efeito
colateral, os entrevistados afirmam conhecer plantas que possuem alguma
contra-indicação.
Conclusões
Concluímos que os resultados desta pesquisa podem contribuir para estudos etnofarmacológicos, onde será possível obter dados científicos voltados a eficácia dos tratamentos e a segurança no uso das plantas medicinais. Tais resultados podem ser inseridos em projetos de educação para que a população saiba a maneira correta de utilização das plantas medicinais, contribuindo para que esse conhecimento não se perca. Reforça-se que a etnobotânica só servirá ao papel da conservação, se estudos com essa intenção forem multiplicados, contribuindo para que esse conhecimento não se perca.
Agradecimentos
À Pró-Reitoria de Ensino e à coordenação de pesquisa do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso-Campus Juína.
Referências
AMOROZO, M. C. M. Uso e diversidade de plantas medicinais em Santo Antônio do Levergeir, MT, Brasil. Revista Brasileira Botânica, v. 4, n. 22, p. 123-131, 2002.
LIRA, A. P. Levantamento etnobotânico de plantas medicinais na cidade de Cascavel, PR – UNIPAR, Campus Universitário de Cascavel – PR: Premier, 2011.
MARCATTO, C. Utilização de plantas medicinais em educação ambiental. São Paulo, 2003. Disponível em < http://www.redeambiente.org.br>. Acesso em: 07 Jan. 2015.
RODRIGUES, A. G.; AMARAL, G. T. Biodiversidade como fonte de medicamentos. Revista Ciência da Cultura. Viçosa: UFV, v. 1, n. 12, p. 22, 2012.
RODRIGUES, V. E. G.; CARVALHO, D. A. Levantamento etnobotânico de plantas medicinais no domínio do Cerrado na região do Alto Rio Grande – Minas Gerais. Revista Ciência e Agrotecnologia, v. 4, n. 20, p. 22-39, 2001.
TROPICOS. Nomenclatural Data Base. Missouri Botanical Garden. Disponível em: <http://mobot.mobot.org/w3t/Search/vast.html/>. Acesso em: 11 abr. 2016.