Avaliação da atividade antitumoral in vitro do extrato hidroetanólico da Fridericia platyphylla (SIN. Arrabidaea brachypoda)
ISBN 978-85-85905-23-1
Área
Produtos Naturais
Autores
Dias, P. (UNESP) ; Nascimento, J. (UFMA) ; Feitosa, A. (UFMA) ; Tangerina, M. (UNESP) ; Vilegas, W. (UNESP) ; Franco, Y. (USF) ; Longato, G. (USF) ; Rocha, C. (UFMA)
Resumo
O câncer é responsável por um elevado índice de mortalidade em todo mundo, surge do crescimento desordenado de células que invadem os tecidos. As plantas são uma fonte importante de produtos naturais biologicamente ativos, muitos dos quais derivam diversos fármacos comercializados no mundo inteiro. Nessa perspectiva surge a Fridericia platyphylla apresentando vários efeitos farmacológicos, o extrato hidroalcoólico do caule da F. platyphylla demonstrou atividade antiproliferativa contra quatro das seis linhagens testadas sendo HT-29 e U251 as mais sensíveis, apresentando valores de GI50 menores que 50 µg/mL. O MCF-7 e o NCI-H460 apresentaram valores superiores a 50 µg/mL e as linhagens celulares NCI-ADR/RES e HaCAT apresentaram valores de GI50 superiores a 100 µg/mL.
Palavras chaves
Fridericia platyphylla; Extrato; Anticâncer
Introdução
O câncer é uma doença que apresenta elevado índice de mortalidade e constitui um problema de saúde pública para o mundo desenvolvido e também para nações em desenvolvimento. É caracterizado pelo crescimento desordenado (maligno) de células que invadem os tecidos e órgãos (INCA,2012). Nos últimos anos, é crescente o interesse no aproveitamento de fontes naturais, principalmente no que se refere às plantas para o uso farmacêutico (BRESOLIN & CECHINEL FILHO, 2010). Dentre as várias plantas brasileiras com potencial farmacológico, encontra-se a Fridericia platyphylla (Sin. Arrabidaea brachypoda), pertencente a família Bignoniaceae que inclui 120 gêneros e 800 espécies distribuídas principalmente em regiões tropicais e subtropicais (ROCHA et al., 2014). A Fridericia platyphylla é comumente conhecida como “cervejinha do campo”, seu uso tradicional inclui o tratamento de pedras nos rins e dores nas articulações (artrite)(ROCHA et al., 2014, 2016). Além disso possui propriedades adstringentes, anti- inflamatórias, antimicrobianas, antitumorais, leishmanicida, anti- Trypanosoma cruzi e gastroprotetora (LOHMANN, 2006; MARTIN et al., 2008; ROCHA et al., 2012, 2014, 2016). O objetivo deste estudo foi avaliar a atividade antitumoral do extrato hidroalcoólico do caule da Fridericia platyphylla, uma vez que o uso das hastes possibilita um maior aproveitamento da biomassa da planta, podendo até substituir o uso das raízes, acarretando em menor degradação dessa espécie nativa do cerrado brasileiro.
Material e métodos
O extrato etanólico bruto foi obtido após extração exaustiva por percolação das hastes da Fridericia platyphylla à temperatura ambiente, com etanol 70%, filtrado, evaporado sob vácuo a aproximadamente 40 °C, e liofilizado. Para avaliação da atividade anticancerígena in vitro do extrato do caule da Fridericia platyphylla (CAB), foram utilizadas 6 linhas celulares tumorais Humanas, U251 (glioma), MCF-7 (mama), NCI-ADR/RES (ovário resistente a múltiplas drogas), NCI-H460 (pulmão, células não pequenas), HT-29 (cólon) e HaCaT (queratinócito não tumoral) obtidos do Instituto Nacional de Câncer (NCI, Frederico, MD, EUA) cultivadas com meio RPMI 1640 (Sigma-Aldrich, St. Louis, MO, EUA) suplementado com 5% de FBS (Nutricell), e 100U/mL dos antibióticos (penicilina/estreptomicina) a 37 °C com 5% de CO2. A atividade antiproliferativa foi avaliada pelo ensaio colorimétrico MTT (brometo de 3- (4, 5-dimetiltiazol-2-il)-2,5-difenil-2Htetrazólio - Sigma-Aldrich, St. Louis, MO, EUA; 98% de pureza). Inicialmente as células foram semeadas em placas de 96 poços (3x104 células/compartimento) e tratadas em concentrações de 1,3; 3,2; 6,5; 12,5; 25; 50 e 100 μg/ml (100 μl/compartimento) em triplicata e em seguida incubada durante 48 horas a 37 ° C com 5% de CO2. O MTT foi dissolvido em meio RPMI (0,25mg/mL), adicionado em placa (100 µL/compartimento) e incubado a 37 ° C com 5% de CO2. Após 4 horas, as placas foram solubilizadas com DMSO e agitadas durante 15 minutos. A determinação da proliferação celular foi realizada utilizando um leitor de microplacas (Epoch Biotek ) a 570 nm. Os valores de GI50 (50% de inibição do crescimento) foram calculados por regressão não linear utilizando o software ORIGIN 8.0 (OriginLab Corporation).
Resultado e discussão
O extrato do caule da Fridericia platyphylla demonstrou atividade
antiproliferativa contra quatro das seis linhagens testadas (glioma, mama,
pulmão e cólon) (figura 1), sendo HT-29 (cólon) e U251 (glioma) as
mais sensíveis apresentando valores inferiores a 50 µg/mL. O MCF-7 e o NCI-
H460 apresentaram valores superiores a 50 µg/mL e as linhagens celulares
NCI-ADR/RES e HaCAT apresentaram valores de GI50 maiores que 100 µg/mL. Um
resultado relevante deste estudo foi observado para a HaCAT, que é uma
linhagem de queratinócito não tumoral, o valor de GI50 foi superior a 100
µg/mL, demonstrando que o extrato do CAB não apresenta citotoxicidade para
células não tumorais.
Os resultados da atividade antiproliferativa indicam que o extrato do
caule mostrar-se promissor frente às linhagens tumorais, possivelmente
devido à presença das chalconas e flavonoides no caule e em outras partes da
planta. A literatura relata inúmeros estudos e investigações usando
diferentes modelos celulares e animal que sugerem que as chalconas podem
inibir a iniciação de alguns tumores, assim como sua progressão
(Go, 2005; Mahapatra, 2015; Romagnolo, 2012; Dimmock, 1999). Nesse sentido é
evidente a importância da realização do isolamento dos metabólitos em
extratos, uma vez que compostos puros podem potencializar a atividade.
Conclusões
O presente estudo possibilitou uma analise da ação antitumoral do extrato do caule da F. platyphylla. Dando ênfase, ao uso das hastes para substituir as raízes, de modo mais racional e com menos degradação ambiental. Significativa atividade antiproliferativas do extrato foram verificadas contra quatro linhagens, sendo que as mais sensíveis, cólon e glioma apresentaram valores de GI50 inferiores a 50 µg/mL. Os resultados sugerem que o caule da F. platyphylla apresenta potencial farmacológico, entretanto ainda é necessária uma investigação fitoquímica, assim como o isolamento dos compostos.
Agradecimentos
Os autores agradecem à FAPEMA (Proc.:00863/16) e a FAPESP (bolsa 2009/52237-9 para W.V., outorga 2015/14002-0 P.H) pelo financiamento.
Referências
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