CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E QUIMIOMÉTRICO DO CHÁ DE GENGIBRE (ZINGIBER OFFICINALE) DE TRÊS LOCALIDADES DE BELÉM DO PARÁ
ISBN 978-85-85905-23-1
Área
Produtos Naturais
Autores
Duarte Silva, N.G. (UFPA) ; da Silva Seabra, P.S. (UFPA) ; Gonçalves Barros, S.P. (UFPA) ; Ramos de Souza, V. (UFPA) ; da Costa Barbosa, I.C. (UFRA) ; Carvalho de Souza, E. (UFRA) ; dos Santos Silva, A. (UFPA)
Resumo
O gengibre é uma planta herbácea da família Zingiber officinale, originária do sudeste asiático, sendo uma especiaria cujo rizoma é amplamente comercializado em função de seu emprego alimentar, industrial e remédios. O chá de gengibre é utilizado na terapêutica como um antioxidante, anti-inflamatório e antimicrobiano. O objetivo deste trabalho foi caracterizar as propriedades físico-químicas do chá de gengibre, foram avaliadas 12 amostras, de 3 feiras de municípios do Pará, em termos de: umidade, teor de extrativo, pH, condutividade elétrica, acidez, viscosidade e densidade. Aos dados obtidos foi aplicada a técnica multivariada de componentes principais (PCA) que gerou a distinção das amostras conforme sua origem.
Palavras chaves
Plantas Medicinais; Análise Multivariada; Controle de Qualidade
Introdução
Desde a antiguidade, as plantas medicinais são utilizadas para a cura de varias doenças. Os Registros históricos de cinco mil anos mostram que já se usavam ervas para fins medicinais (BIAZZI, 2003). Atualmente a medicina progride em vários sentidos, mas o aumento do interesse pela fitoterapia e pela homeopatia como opções terapêuticas vem aumentando dia-a-dia. Nesse contexto temos o gengibre (Zingiber officinale), originário do sudeste asiático, que é uma planta vivaz, herbácea e aromática, que alcança até 1,50 m de altura, possui caule subterrâneo conhecido como rizoma (WOHLMUTH et al., 2005). As propriedades medicinais do gengibre foram comprovadas através de experimentos científicos, citando-se as atividades anti-inflamatórias, antiemética e anti-náusea, antimutagênica, anti-úlcera, hipoglicêmica, antibacteriana, anti-oxidativa entre outras. Incluindo as propriedades terapêuticas, o gengibre é de uso continuo na culinária, como condimento (CAMARGO, 2006; BEAL, 2006). O objetivo deste estudo foi determinar algumas seis parâmetros físico-químicos do chá de gengibre (Zingiber officinale): pH, condutividade elétrica (CE), acidez, densidade, teor de extrativos (TE) e umidade; de quatro amostras provenientes de três localidades de Belém (Ver-o-Peso, Outeiro e Mosqueiro), com a finalidade de examinar sua qualidade, e aplicar analise multivariada (PCA) para diferenciar as amostras conforme a sua origem.
Material e métodos
Os gengibres foram coletados em três localidades diferentes do município de Belém, na feira do Ver-o-Peso, em uma feira em Mosqueiro e uma horta familiar no bairro de Outeiro. De cada local adquiriram-se quatro amostras identificadas como: A (Mosqueiro), B (Ver-o-Peso) e C (Outeiro). Todas as análises aconteceram no laboratório de Físico-Química da Faculdade de Farmácia (UFPA). Os chás dos rizomas foram feitos pelo método de decocção (BRASIL, 2010). De modo que se utilizou aproximadamente 5 g da raiz cortada em pedaços pequenos e 100 mL de água destilada fervendo por 15 minutos. Após resfriamento do chá, as seguintes análises foram realizadas, conforme a Farmacopeia Brasileira (2005): pH, determinado usando um pHmetro (PHTEK) calibrado com solução tampão pH 4 e 7; Densidade, determinada através da medida de massa de chá de gengibre em picnômetro de 25 mL; teor de extrativos (TE), com a retirada de uma alíquota de 20 mL levada para secar em chapa aquecedora, em seguida secagem completa em estufa a 105ºC por 3 h e verificando ao final o massa final; condutividade elétrica (CE), feita com o uso do condutivímetro portátil (INSTRUTHERM, CD 880) calibrado com solução padrão de condutividade 146,9 μS/cm; acidez, através da titulação com solução de NaOH 0,1 mol L-1, e umidade, determinada se pesando 5 g de gengibre em cadinho de porcelana previamente aferido, e sendo o conjunto cadinho mais amostra levado a à estufa a 105º C, até secura completa (BRASIL, 2005). Todos os resultados foram processados em termos de média e desvio padrão. Os dados obtidos foram submetidos a uma análise de componentes principais (PCA), via programa MINITAB, para se verificar a discriminação das amostras conforme sua origem.
Resultado e discussão
A Tabela 1 traz os resultados obtidos. As densidades foram iguais a 1,06
g/mL na Amostra A; 1,06 g/mL na Amostra B; e 1,08 g/mL, na Amostra C, e ao
comparar com chás da casca de copaíba (JUNIOR et al., 2014), cuja densidade
é de 0,97 g/mL, apresentou valor superior a deste chá. A umidade do rizoma
foi de 87,17% (A), 86,51% (B); e 94,92 (C). Os valores de pH tiveram médias
iguais a 6,4 (A), 6,4 (B), e 6,86 (C), que são valores bem diferentes quando
comparados aos valores de 5,14 para o chá de casca de copaíba (JUNIOR et
al., 2014) e 4,95 e 5,15 para o chá da casca da aroeira (PINHO et al.,
2014). Sobre a acidez, os chás de gengibre se mostraram com valores de 0,25%
(A); 0,19% (B); e 0,31% (C) mais parecidos com o chá da casca de copaíba
(0,06%), do que do chá da casca de aroeira (2,55%). A análise de teor
extrativo apresentou médias iguais a 2,12% (A); 2,91% (B); e 1,45% (C).
Valores muito abaixo quando comparado ao chá de aroeira, que é de 7,28% a
15,40% (PINHO et al.; 2014), e ao chá de copaíba, que é de 9,99% (JUNIOR et
al., 2014). A condutividade elétrica teve médias de 0,48 µS/cm (A); 0,63
µS/cm (B); e 0,23 µS/cm (C). Comparando com as amostras do chá de copaíba,
que é de 0,06µS/cm (JUNIOR et al., 2014), e do chá de aroeira, que é de
0,00µS/cm (PINHO et al., 2014), os valores do chá de gengibre se mostram bem
diferentes. Já a viscosidade do chá de gengibre apresentou a média de
valores de 31,05 cSt (A); 32,01 cSt (B); e 30,68 cSt (C). A análise de
componentes principais (PCA) aos dados resultou na Figura 1, onde se pode
observar os a formação de três grupos o que indica que se pode discriminar
as amostras conforme sua origem. O modelo criado explica 81,1% da
variabilidade entre as amostras.
Conclusões
Os parâmetros físico-químicos analisados, em sua grande maioria, concordam com valores descritos nas literaturas para chás, possibilitando separar as amostras conforme sua origem. Isso sugere que as amostras sofrem influência de seu local de origem. É possível concluir que esse produto, em termos físico- químicos, seja de boa qualidade.
Agradecimentos
UFPA, UFRA.
Referências
BEAL, Bianca. A atividade antioxidante e identificação dos ácidos fenólicos do gengibre (Zingiber Officinale Roscoe). 2006. 86f, Dissertação (Pós Graduação em Ciência dos alimentos) Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis 2006.
BIAZZI, E. O Maravilhoso poder das plantas. Casa Publicadora Brasileira Tatuí-SP. 14 edição, 2003.
BRASIL. Métodos Físico-químicos para análise de alimentos. Brasília: Ministério da Saúde, 2005 (Série A. Normas e Manuais Técnicos). IV edição.
BRASIL. Esclarecimentos sobre a regulação de chás: Informe Técnico número 45, de 28 de dezembro de 2010. <http://www.anvisa.gov.br/anvisalegis/portarias/519_98.htm>Acesso em: 08/07/2018.
CAMARGO, L. C. S. Efeito antiinflamatório do extrato de Zingiber officinale aplicado por fonoforese sobre o edema de pata de ratos. 2006. 89 p. Dissertação (Mestrado em Ciências Biológicas) – Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento, Universidade do Vale do Paraíba, São José dos Campos, 2006.
FARMACOPEIA BRASILEIRA. 5. ed. São Paulo: Atheneu, 2005.
JUNIOR, E. F. M. et al. Avaliação de parâmetros físico-químicos de chás de cascas de copaíba (copaífera spp). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE QUÍMICA, 54. 2014, Natal. Anais eletrônicos... Natal, 2014. Disponível em: < http://www.abq.org.br/cbq/2014/trabalhos/7/4743-17355.html >. Acesso em 26 jul. 2016.
PINHO, A.C. et al. Análise físico-química de amostras de chá da casca de aroeira (schinusterebinthifolia r.) obtidas em feiras populares de Belém – PA. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE QUÍMICA, 54. 2014, Natal. Anais eletrônicos... Natal, 2014. Disponível em: <http://www.abq.org.br/cbq/2014/trabalhos/7/5737-19102.html>.Acesso em 26 jul. 2016.
WOHLMUTH, H.; LEACH D. N.; SMITH, M. K.; MYERS, S. P. Gingerol content of diploid and tetraploid clones of ginger (Zingiber officinale Roscoe). Journal of Agricultural and Food Chemistry, v. 53, n. 14, p. 5772-5778, 2005.