ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS E QUIMIOMÉTRIC DE CHÁS DE FOLHA DE CANELA (Cinnamomum zeylanicum Blume)
ISBN 978-85-85905-23-1
Área
Produtos Naturais
Autores
Silva Gonçalves de Araújo, J. (UFPA) ; Nunes Borges, J.C. (UFPA) ; da Costa Barbosa, I.C. (UFRA) ; Carvalho de Souza, E. (UFRA) ; dos Santos Silva, A. (UFPA)
Resumo
A canela é uma planta originária da Índia e do Ceilão e é largamente empregada tanto na alimentação humana como em forma de chá medicinal. Através de análises físico-químicas se buscou caracterizar chás de folhas de canela (Cinnamomum zeylanicum Blume), tendo sido adquiridos cinco amostras de folhas frescas e cinco amostras de folhas secas comercializadas em uma ervanaria de Belém do Pará. As análises realizadas foram: pH, condutividade elétrica, acidez, densidade, viscosidade, teor de extrativos e umidade. Observou-se diferenças em todos os parâmetros estudados, exceto na densidade, todavia, tais parâmetros se encontram condizentes com os encontrados na literatura. A aplicação de PCA revelou-se útil na discriminação das amostras de chá conforme o tipo de folha.
Palavras chaves
Planta medicinal; Análise multivariada; Controle de Qualidade
Introdução
Segundo De Andrade (2005, p. 364) a Cinnamomum zeylanicum Blume (Cinnamomum verum J. S. Presl.), conhecida como “canela-da-índia” e “canela-do-ceilão” é originária de algumas regiões da Índia e do Ceilão. A parte interna da casca do tronco e dos ramos, constitui a canela do comércio, com vasto uso mundial na perfumaria e na culinária, devido suas propriedades aromáticas e condimentares além de ser, popularmente, utilizada como estimulante, tônica, carminativa e antiespasmódica (PIO CORRÊA, 1984; COSTA, 1975; ALMEIDA, 1993). A canela e o seu óleo essencial são empregados como corretivos do odor e do sabor na preparação de alguns medicamentos (COSTA, 1975). Uma das utilizações mais frequentes da canela é o chá ou infusão que é a preparação de verter água fervente sobre a droga vegetal e, em seguida, tampar ou abafar o recipiente por tempo determinado. Método indicado para materiais de consistência menos rígida tais como folhas ou flores. (BRASIL, 2011). A C. zeylanicum possui uma diversidade de compostos químicos, dentre os principais: acetato de eugenol, ácido cenâmico, aldeído benzênico, aldeído cinâmico, aldeído cumínico, goma, linalol, mucilagem, oxalato de cálcio, resina, sacarose, tanino e vanilina (BARRO, FRITCH, GARLET, 2014). Assim, o objetivo desse trabalho foi realizar análises físico-químicas de chás de folhas de canela frescas e secas, com o intuito de comparar tais parâmetros conforme o estado do material vegetal (seco ou fresco), através de análise multivariada.
Material e métodos
As folhas de canela utilizadas foram: 5 amostras de folhas frescas (in natura) (A1 a A5), que foram coletadas diretamente de uma árvore de canela existente em um quintal de Belém do Pará; e 5 amostras de folhas secas (B1 a B5), adquiridas em uma ervanaria da cidade de Belém do Pará, as proximidades do mercado do Ver-O-Peso. O desenvolvimento deste trabalho foi realizado no laboratório de Físico-Química da Faculdade de Farmácia da UFPA e, após a coleta do material, foram feitas as seguintes análises físico-químicas: pH, realizado através da inserção do eletrodo diretamente no chá preparado, tendo sido o aparelho previamente calibrado; condutividade elétrica (CE); densidade; viscosidade; teor extrativo (TE); acidez e umidade das folhas. Para o preparo dos chás foram utilizadas 10 g de folha e 100 mL de água destilada, fazendo uma infusão para testes de pH, condutividade elétrica, teor extrativo, teor de extrativos. Todos os testes foram feitos em triplicata e seguiram as normas da Farmacopeia Brasileira (2005). Aos dados obtidos se aplicou a técnica de ANOVA, para se verificar as possíveis diferenças entre os parâmetros estudados, e a técnica multivariada de análise de componentes principais (PCA) para se verificar a discriminação dos chás conforme a origem das folhas de canela. Os dados foram processados se empregando o programa MINITAB 17.
Resultado e discussão
Os resultados obtidos estão na Tabela 1. O pH médio encontrado no chá das
folhas analisadas variou de 5,20 a 6,20. Tal resultado tem valor aproximado
com o apresentado sobre estudo de chá de orégano por Da Silva et al. (2016).
Sobre a condutividade elétrica (CE) houve uma variação entre 0,20 a 0,24
mS/cm, valores que também estão dentro da faixa apresentada no estudo sobre
chás de carqueja por Pinheiro et al. (2015). Sobre teor extrativo, os
valores gerais apresentados oscilaram de 0,49% a 0,24% que apresentam
parâmetros semelhantes aos estudos apresentados sobre chá de boldo por Da
Silva et al. (2015). Em termos de densidade, foi obtido o valor igual a 1,01
g/mL para todas as amostras. Esse dado é bastante aproximado com o estudo
físico-químico e quimiométrico de chás de carqueja em sachê realizado por
Pinheiro et al. (2015). Em viscosidade observou-se uma leve variação de
29,54 cSt a 29,27 cSt que, dentro da literatura, tal valor é aproximado com
o apresentado com o estudo sobre folha de babosa feito por Bezerra et al.
(2016). Os resultados gerais analisados produziram a Figura 1, na qual
observa-se que as características estudadas possibilitaram uma distinção das
amostras de acordo com sua origem. As duas componentes principais explicam
juntas 91,5% da discriminação dos chás conforme a origem da folha.
Letras iguais significa não haver diferença significativa entre as marcas A e B, conforme teste t de Student (95% de significância).
A e B representam as 2 categorias de canela. Percebe-se a formação de dois grupos distintos de chás conforme os parâmetros físico-químicos estudados.
Conclusões
As características físico-químicas analisadas estão de acordo com outros valores encontrados na literatura sobre estudos semelhantes. Em teor extrativo, acidez e umidade foram onde se apresentaram diferenças significativas. Os demais parâmetros, obtidos nos testes, não dependeram do tipo da folha, pois não houve distinção significativa de valores. Desse modo, além de auxiliar nos estudos pré-existentes sobre chá de canela, estes resultados foram suficientes para demonstrar que o chá, dependendo do origem de sua folha extraída, pode influenciar na qualidade do produto final.
Agradecimentos
UFRA e UFPA
Referências
BARRO, L. T.; FRITCH, M. dos S.; GARLET, T. M. B. Caracterização anatomorfológica de Cinnamomum zeylanicum: planta de interesse econômico e medicinal. In: VI semana acadêmica da biologia e IV seminário PIBID, 1., 2014, Santa Maria. Rio Grande do Sul: Universidade Federal de Santa Maria, Faculdade de Biologia, 2014.
BRANDÃO, Maria das Graças Lins et al. Qualidade de amostras comerciais de plantas medicinais e produtos fitoterápicos: drogas inscritas na Farmacopéia Brasileira. Infarma-Ciências Farmacêuticas, v. 13, n. 11/12, p. 60-61, 2001.
BRASIL. Agência Nacional de vigilância sanitária (ANVISA). Farmacopeia Brasileira: Formulário de Fitoterápicos. 1. ed. Brasília, 2011.
CARVALHO, Ana Cecília; SILVEIRA, Dâmaris. Drogas vegetais: uma antiga nova forma de utilização de plantas medicinais. Brasília méd, v. 47, n. 2, 2010.
PIKART, T.G., G.K. SOUZA, F.C. PIKART, R.C. RIBEIRO & J.C. ZANUNCIO, 2010. Registro de Acromyrmex disciger Mayr, 1887 (Hymenoptera:Formicidae) em Cinnamomum zeylanicum (Lauraceae) no Município de Braço do Trombudo, Santa Catarina, Brasil. RJ. EntomoBrasilis, 3(3): 89-91.