Variabilidade química e atividade antioxidante dos óleos essenciais de Myrcia sylvatica (Myrtaceae) com ocorrência na Amazônia paraense
ISBN 978-85-85905-23-1
Área
Produtos Naturais
Autores
Silva, R.C. (UFPA) ; da Costa, J.S. (UFPA) ; Franco, C.J.P. (UFPA) ; Barroso, A.S. (UFOPA) ; da Silva, A.R.C. (MPEG) ; da Silva, J.K.R. (UFPA) ; Maia, J.G.S. (UFPA) ; Figueiredo, P.L.B. (UFPA E UEPA)
Resumo
Estre trabalho avaliou a variação na composição química (CGEM) e atividade antioxidante (método do DPPH) de sete espécimes de Myrcia sylvatica coletados na Amazônia Paraense. (Msy-01-07). Houveram a formação de 5 grupos (HCA). O grupo I (Msy-01) foi caracterizado por germacreno B (24,49%), γ- elemeno (12,46%) e β-cariofileno (9,96%). O grupo II (Msy-03, -06 e -07) foi caracterizado por teores de espatulenol (11%-16%) e germacreno B (7%-24%). O grupo II (Msy-04) apresentou pequeno teor de espatulenol (9,84%) e α-cadinol (5,46%). O grupo IV (Msy-05) espatulenol (10,13%) e β-cariofileno (10,14%). O grupo V (Msy-02) espatulenol (13,42%) e óxido de cariofileno (15%). Quanto a atividade antioxidante (método do DPPH) a amostra mais ativa foi a Msy-06 (inibição: 39,23% 198,75 mgET/mL).
Palavras chaves
pedra-ume-caa; DPPH; sesquiterpenos
Introdução
A família Myrtaceae é constituída por 144 gêneros e 6019 espécies distribuídas no hemisfério Sul, destacando-se na Austrália e na América do Sul (KUBITZKI, 2011; GOVAERTZ et al., 2015). No Brasil, cerca de 23 gêneros e 990 espécies são relatadas, sendo encontrados 14 gêneros e 223 espécies na região amazônica (SOBRAL et al., 2015). O gênero Myrcia abrange 515 espécies distribuídas em uma área que se estende do México até a América Tropical (GOVAERTZ et al., 2015). Algumas espécies deste gênero são denominadas “planta insulina” devido a utilização das folhas ou de vários órgãos na medicina tradicional no tratamento de diabetes (CASCAES et al., 2015). Myrcia sylvatica (G. Mey) DC. é uma espécie conhecida como cumatê-folha- miúda, pedra-ume-caá, vassourinha ou murta (SILVA et al., 2015; SILVA et al., 2016). Está amplamente distribuída na América do Sul, sendo encontrada da Guiana até o Brasil (ZOGHBI et al., 2003). No estado do Para, pode ser encontrada em floresta secundária, floresta de várzea, floresta de terra firme, cerrado, savana e campina (SILVA et al., 2015). Na medicina popular suas folhas são utilizadas na forma de chá para tratamento de diabetes, diarreia, afta, inflamação intestinal e hemorragia, ou, em banhos, através da maceração das folhas, para tratamento de inflamações uterinas (SILVA et al., 2015). Além disso, produz óleos essenciais de interesse farmacológico devido ao seu potencial antioxidante, anestésico e antibacteriano contra Bacillus cereus e Staphylococcus aureus (SACCOL et al., 2017; SILVA et al., 2016). Tendo em vista o potencial apresentado por essa espécie, o objetivo deste trabalho é investigar a variabilidade química e atividade antioxidante dos óleos essenciais extraídos de folhas de Myrcia Sylvatica coletadas na região Amazônica.
Material e métodos
Os sete espécimes de Myrcia sylvatica (Msy-01-07) foram coletadas nos municípios de Belém, Pará (Tabela 1). O material vegetal foi separado para a preparação de exsicatas e extração do óleo essencial. O registro e depósito das exsicatas foi feito no Herbário do museu Paraense Emilio Goeldi. As folhas foram separadas, secas por ventilação constante em estufa (35ºC) por 48 horas, e posteriormente moídas em moinho de facas. Os óleos essenciais foram extraídos por hidrodestilação em aparelho de Clevenger modificado (3h) de acordo com a metodologia descrita por Maia e Andrade (2009). A composição química foi analisada por Cromatografia gasosa acoplada a Espectrometria de Massas (CG-EM) em sistema Shimadzu QP 2010. A composição química dos óleos essenciais foi submetida a Análise Hierárquica de Agrupamento (HCA) levando em consideração todos os constituintes que tiveram concentrações maiores que 2% usando distancia Euclidiana e ligação completa com o software Minitab 2016. Para avaliação do potencial antioxidante foi utilizado o método de sequestro dos radicais livres DPPH. A mistura reacional foi composta de 5 μL de óleo, 45 μL de etanol, 50 μL tween 20 (0 de,5%), 900 μL de Tris-HCl 100 mM e 1000 μL de DPPH 0,5 mM em etanol. O controle foi feito substituindo o óleo por etanol. O meio reacional foi deixado em repouso ao abrigo de luz e a reação foi monitorada pela medida da absorbância a 517 nm em intervalos contínuos de 30 min por 2h (CHOI et al., 2000). Os dados da atividade antioxidante de cada espécie foram analisados por análise de variância (ANOVA) de um fator, seguida de teste de Tukey, com 95% de significância com o software GraphPad Prism 5.0.
Resultado e discussão
Os rendimentos foram de 0,66%,0,85%, 0,56% e 0,28%, 0,33%, 0,33% e 0,50%
para os óleos dos espécimes Msy-01, Msy-02, Msy-03 e Msy-04, Msy-05, Msy-06
e Msy-07, respectivamente. Foram identificados 134 compostos, os quais estão
listados na Tabela 2 (> 2,0%). A classes dos sesquiterpenos hidrocarbonetos
(12,54-71,82) e oxigenados (17,44-71,46) foram as predominantes nos óleos
essenciais.
A partir da análise de agrupamento hierárquico dos óleos essenciais de M.
sylvatica (Figura 2) observou-se a formação de 5 grupos. O grupo (espécime
Msy-01) I foi caracterizado por germacreno B (24,49%), γ-elemeno (12,46%) e
β-cariofileno (9,96%). O grupo II (espécimes Msy-03, -06 e -07) foi
caracterizados pelos teores de espatulenol (11%-16%) e germacreno B
(7%-24%). O grupo 3 (Msy-04) apresentou pequeno teor de espatulenol (9,84%)
e α-cadinol (5,46%). O grupo IV, (Msy-05) foi caracterizado por espatulenol
(10,13%) e β-cariofileno (10,14%). O grupo V (Msy-02) com teores de
espatulenol (13,42%) e óxido de cariofileno (15%). A Figura 1 mostra as
estruturas dos compostos em maior concentração nos óleos de M. sylvatica,
Saccol et al. (2017) estudaram os efeitos anestésico e antioxidante do óleo
essencial de M. Sylvatica e identificaram β-selineno (9,96%), cadaleno
(9,36%), α-calacoreno (9,17%) e (Z)-calameneno (8,17%) como majoritários,
diferindo deste trabalho.
Quanto a atividade antioxidante (Tabela 3) a amostra mais ativa foi a Msy-06
que inibiu 39,23% dos radicais DPPH, cerca de 5 vezes menor que o padrão
Trollox (198,75 mgET/mL). Os espécimes Msy-01, -05 e -07 demonstraram
inibições 18,54%, 35,69% e 27,86%, respectivamente. Silva et al. (2018)
obtiveram inibição que variou de 8,6 a 52,0%, com IC50 de 1,94 mg/mL para
essa mesma espécie.
Conclusões
Houve variação na composição química e atividade antioxidante entre os espécimes de Myrcia sylvatica estudados, evidenciando a ocorrência de cinco quimiotipos. O conhecimento desta variação pode ajudar na quimiotaxonomia e no aproveitamento econômico destas espécies.
Agradecimentos
CAPES, CNPQ, UFPA.
Referências
CASCAES, M. M. et al. Constituents and Pharmacological Activities of Myrcia (Myrtaceae): A Review of an Aromatic and Medicinal Group of Plants. International Journal Of Molecular Sciences, v. 16, n. 10, 23881-23904, 2015.
GOVAERTS, et al., 2015. World Checklist of Myrtaceae. Facilitated by the Royal Botanic Gardens, Kew. Disponível em <http://www.kew.org/wcsp/> Acesso em: 15 de agosto de 2018.
KUBITZKI K. The families and genera of vascular plants. Eudicots: Sapindales, Cucurbitales, Myrtaceae. Springer, Berlin, Germany, 2011, 436.
MAIA, J. G. S. M.; ANDRADE, E. H. A. Database of the Amazon aromatic plants and their essential oils. Química Nova, v. 32, p. 595-622, 2009.
MONDELLO, L. NSC Library—Mass Spectra of flavors and fragrances of Natural and Synthetic Compounds. Shimadzu Corporation; 2011.
SACCOL, E. M. H. et al. Anaesthetic and antioxidant effects of Myrcia sylvatica (G. Mey.) DC. and Curcuma longa L. essential oils on tambaqui (Colossoma macropomum). Aquaculture research, v. 48, p. 2012-2031, 2017.
SILVA, F. K. S. da et al. Levantamento das espécies conhecidas como pedra-ume-caa (Myrtaceae), com ênfase nas comercializadas na cidade de Belém, Para, Brasil. Biota Amazônia. v.5, p.7–15, 2015.
SILVA, L. A. da et al. Composition and antimicrobial activity of leaf essential oils of Myrcia sylvatica (G. Mey.) DC. European journal of medicinal plants, v. 13, n. 3, p. 1-9, 2016.
SILVA, L. A. et al. Atividade antioxidante do óleo essencial de Myrcia sylvatica (G. Mey.) DC. por diferentes métodos de análises antioxidantes (ABTS, DPPH, FRAP, β-caroteno/ácido linoleico). Revista Fitos, v. 12, n. 2, p. 117-126, 2018.
SOBRAL, M.; PROENÇA, C.; SOUZA, M.; MAZINE, F.; LUCAS, E. Myrtaceae in Lista de Espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro, 2016. Disponível em: <http://floradobrasil.jbrj.gov.br >. Acesso em 21 Março de 2016.
ZOGHBI, M.G.B et al. Essential oils from three Myrcia species. Flavour and Fragrance Journal, v.18, p.421–424, 2003.