Variabilidade na composição química e atividade antioxidante dos óleos essenciais de Myrcia splendens (Myrtaceae)

ISBN 978-85-85905-23-1

Área

Produtos Naturais

Autores

Silva, R.C. (UFPA) ; Almeida, B.B. (FUNBOSQUE) ; da Costa, J.S. (UFPA) ; Franco, C.J.P. (UFPA) ; Fernandes, H.A. (UFPA) ; Mourão, R.H.V. (UFOPA) ; da Silva, J.K.R. (UFPA) ; Maia, J.G.S. (UFPA) ; Figueiredo, P.L.B. (UFPA E UEPA)

Resumo

Este trabalho avaliou a variabilidade química e atividade antioxidante dos óleos essenciais de quatro espécimes de Myrcia splendens (Msp-01-04). A análise de agrupamento hierárquico dos óleos mostrou 3 grupos: o grupo I (espécimes Msp-01 e -02) caracterizados por β-cariofileno (24%-46%); grupo II (Msp-03) mostrou baixo teor de óxido de cariofileno (3,21%) e trans-β-Guaieno (3,45%); o espécime Msp-04 compôs o grupo III caracterizado por óxido de cariofileno (51,79%). Quanto a atividade antioxidante (método do DPPH) a amostra mais ativa foi Msp-03 (43,41%) com inibição 4,5 vezes menor que a do padrão Trolox (219,49 mgET/mL).

Palavras chaves

DPPH; sesquiterpenos; voláteis

Introdução

A família Mytaceae está distribuída na região pantropical e abrange cerca de 132 gêneros e 990 espécies (Lorenzi e Souza, 2008; Siani et al, 2009). O gênero Myrcia é considerado um dos gêneros mais representativos dessa família, com aproximadamente 370 espécies distribuídas desde América central até o norte da Argentina. No Brasil ocorrem cerca de 210 espécies encontradas principalmente nos estados de Goiás e Minas Gerais (Rosa e Romero, 2012; Ferreira et al., 2013). Diversas espécies de Myrcia são utilizadas na medicina popular com destaque para M. multiflora e M. splendens (Limberger et al, 2004). Além disso, algumas espécies de Myrcia são fontes de óleos essenciais com potencial farmacológico e um grupo de espécies conhecidas como pedra-ume-caá ou planta-insulina destaca-se por serem usadas no tratamento de diabetes (Cascaes et al., 2015). Myrcia splendens é popularmente conhecido como guamirim ou folha-miúda (Moresco et al., 2014). Está distribuída em regiões neotropicais, desde o leste do México às florestas costeiras da região sul do Brasil (Scalvenzi et al., 2017, Morais e Lombardi, 2006). Essa espécie possui atividade antioxidante, fungicida e antibacteriana (Jiménez et al., 2015; Pontes et al., 2018). Tendo em vista o potencial das espécies do gênero Myrcia, este trabalho avaliou a composição química e o potencial antioxidante dos óleos essenciais Myrcia splendens coletadas na Amazônia paraense.

Material e métodos

Os quatro espécimes (Msp-01 a -04) foram coletadas nos municípios de Curuçá e Belém, Pará (Tabela 1). O material vegetal foi separado para a preparação de exsicatas e extração do óleo essencial. O registro e depósito das exsicatas foi feito no Herbário do Museu Paraense Emilio Goeldi. As folhas foram separadas, secas por ventilação constante em estufa (35ºC) por 48 horas, e posteriormente moídas em moinho de facas. Os óleos essenciais foram extraídos por hidrodestilação em aparelho de Clevenger modificado (3h) de acordo com a metodologia descrita por Maia e Andrade (2009). A composição química foi analisada por Cromatografia gasosa acoplada a Espectrometria de Massas (CG-EM) em sistema Shimadzu QP 2010. A composição química dos óleos essenciais foi submetida a Análise Hierárquica de Agrupamento (HCA) levando em consideração todos os constituintes que tiveram concentrações maiores que 2% usando distância Euclidiana e ligação completa com o software Minitab 2016. Para avaliação do potencial antioxidante foi utilizado o método de sequestro dos radicais livres DPPH. A mistura reacional foi composta de 5 μL de óleo, 45 μL de etanol, 50 μL tween 20 (0 de,5%), 900 μL de Tris-HCl 100 mM e 1000 μL de DPPH 0,5 mM em etanol. O controle foi feito substituindo o óleo por etanol. O meio reacional foi deixado em repouso ao abrigo de luz e a reação foi monitorada pela medida da absorbância a 517 nm em intervalos contínuos de 30 min por 2h (CHOI et al., 2000). Os dados da atividade antioxidante de cada espécie foram analisados por análise de variância (ANOVA) de um fator, seguida de teste de Tukey, com 95% de significância com o software GraphPad Prism 5.0.

Resultado e discussão

Os rendimentos em óleo essencial de M. splendens foram de 0,14% (Msp-01), 0,16% (Msp-02), 0,57% (Msp-03) e 0,15% (Msp-04). Foram identificados 139 compostos, os quais estão listados na tabela 2 (>1,5%). A classe dos sesquiterpenos hidrocarbonetos (1,79-76,52%) e oxigenados (5,51-59,66%) foram predominantes em todos os óleos. A Análise Hierárquica de Agrupamento (Figura 1) mostrou a formação 3 grupos: o grupo I (espécimes Msp-01 e -02) foi caracterizado por β-cariofileno (24%-46%). O grupo II (espécime Msp-03) possui baixo teor de óxido de cariofileno (3,21%) e trans-β-Guaieno (3,45%). O grupo III (espécime Msp-04) caracterizado por óxido de cariofileno (51,79%). O quimiotipo β-cariofileno foi descrito por Scalvenzi et al. (2017) com teor de 36,23%. Já Cole, Haber e Setzer (2008) identificaram germacreno D (35,9%), valerianol (16,3%) e trans-2-hexenal (9,5%) como majoritários no óleo de M. splendens coletada na Costa Rica, diferindo dos quimiotipos deste trabalho. Houve variações significativas de inibição no ensaio da atividade antioxidante pelo sequestro de radicais DPPH (Tabela 3). A amostra Msp-03 foi a mais ativa inibindo 43,41% dos radicais DPPH (219,49 mgET/mL), cerca de 4,5 vezes menor que a do padrão Trolox. Nos estudos de Scalvenzi et al. (2017), o óleo essencial de M. splendens apresentou baixa atividade antioxidante com IC50 de 43,5 µg/mL, este resultado não condiz com o resultado obtido neste trabalho para o espécime Msp-03. O teste Tuckey (Figura 2) mostrou que a inibição causada pela amostra Msp-03 é estatisticamente distinta (p <0,05) das inibições das demais amostras, enquanto que as inibições das amostras Msp-01 (144,08 mgET/mL, inibição: 28,44%) e Msp-04 (105,36 mgET/mL, inibição: 20,80%) não mostraram diferença estatística.

Tabelas



Figuras



Conclusões

A variação na composição química e atividade antioxidante entre os espécimes de Myrcia splendens estudados, evidencia a existência de três quimiotipos. O conhecimento dessa variação pode auxiliar na quimiotaxonomia e no aproveitamento econômico dessa espécie.

Agradecimentos

PIBIC-UFPA, CAPES, CNPQ

Referências

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