PERFIL FITOQUÍMICO E AVALIAÇÃO DAS ATIVIDADES ANTIOXIDANTE E ANTIACETILCOLINESTERASE DAS SEMENTES DE Calotropis procera AIT. (APOCYNACEAE).

ISBN 978-85-85905-23-1

Área

Produtos Naturais

Autores

Cavalcante, G.S. (PPGCV/UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Rodrigues, A.L.M. (RENORBIO/UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Alves, D.R. (PPGCV/UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Silva e Silva, A.C. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Montes, R.A. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Maciel, G.L. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Morais, S.M. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ)

Resumo

O presente trabalho objetivou investigar o perfil fitoquímico das sementes de C. procera e seu potencial antioxidante e antiacetilcolinesterase. Foram obtidos o óleo fixo (OF) e a fração metanólica das sementes (FMS) de C. procera. O OF foi submetido a análise química por Cromatografia Gasosa acoplada a Espectrômetro de Massas, e a FMS foi submetida a marcha fitoquímica. Foram averiguadas as atividades antioxidante, pelo método do radical livre DPPH e antiacetilcolinesterase. Os principais constituintes do OF foram os ácidos: oleico (22,3 %), palmítico (20.5%), linoleico (16.1%), esteárico (12,3%), 11-octadecenoato de metila (11,1%) e palmitoleico (5,1%). O OF e a FMS não apresentaram potencial antioxidante frente ao DPPH, mas apresentaram efeito promissor em inibir a acetilcolinesterase.

Palavras chaves

Óleo fixo; Alcaloides; DPPH

Introdução

A doença de Alzheimer (DA) é a forma mais comum de demência, cuja progressão leva a perda gradual de memória, deterioração da função intelectual, perda de fala, desorientação e dificuldade para andar, devido a destruição das células cerebrais que pode estar associada a fatores como deficiência de acetilcolina e excesso de radicais livres (PENIDO et al., 2017). A acetilcolina é um neurotransmissor envolvido na propagação do impulso nervoso sendo regulado pela ação da enzima acetilcolinesterase (AChE), a qual é responsável por sua inativação. Em casos de déficits cognitivos e funcionais relacionados a diminuição dos níveis plasmáticos de acetilcolina, como na DA, os pacientes podem apresentar melhora quando tratados com inibidores de AChE. (MOTA et al., 2012) Os fármacos utilizados atualmente no tratamento da DA, como tacrina, rivastigmina e a galantamina, não promovem a cura da doença e sim a redução dos sinais clínicos; baseiam-se na inibição da AChE, em geral são onerosos e apresentam diversos efeitos colaterais como hepatotoxicidade e problemas gastrintestinais, assim a investigação de plantas medicinais com potencial inibidor de AChE torna-se uma alternativa importante ao tratamento da DA (TREVISAN et al., 2003; MOTA et al., 2012). De forma semelhante, muitos processos degenerativos, como a DA, têm sido associados com a superprodução das espécies reativas de oxigênio (ERO’s), que atuam como radicais livres nos sistemas biológicos. Apesar de serem formadas durante o metabolismo normal das células aeróbias, um desequilíbrio entre o balanço pró-oxidante/antioxidante, pode favorecer uma superprodução de ERO’s promovendo dano potencial. Assim, a utilização de antioxidantes obtidos de plantas medicinais apresenta-se como uma alternativa importante para a manutenção da saúde. (CARVALHO et al., 2009; ALVES et al., 2010). Entre as diversas plantas medicinais, Calotropis procera (Apocynaceae), tem recebido destaque por apresentar um amplo perfil Farmacológico. C. procera é uma espécie arbustiva, conhecida popularmente como flor-de-seda, hortênsia ou ciúme, originária da África Tropical e Índia, e bem adaptada no nordeste brasileiro (RANGEL; NASCIMENTO, 2011). Dentre as atividades biológicas que têm sido atribuídas a C. procera, estão a anti-inflamatória, analgésica, antitumoral, antidiarréica, hepatoprotetora, antibacteriana e anti-helmíntica (IBRAHIM et al., 2012). Entretanto, até o momento, poucos estudos avaliaram o potencial biológico das sementes de C. procera, bem como sua constituição química. Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi investigar o perfil fitoquímico das sementes de C. procera e seu potencial antioxidante e antiacetilcolinesterase.

Material e métodos

As sementes de C. procera foram coletadas na Universidade Estadual do Ceará. Um espécime da planta foi identificado no Herbário Prisco Bezerra da Universidade Federal do Ceará (nº 58425). Após secagem em estufa à 50 ºC por 72 h, 120 g de sementes foram trituradas e submetidas a extração em aparelho Sohxlet por 6 h, utilizando os solventes orgânicos: hexano, para extração do óleo fixo (OF), seguido de Metanol, para a obtenção da Fração Metanólica das Sementes de C. procera (FMS). Os solventes foram removidos por evaporação rotativa sob pressão reduzida. O OF foi submetido a reação de transmetilação para posterior análise química por Cromatografia Gasosa acoplada a Espectrômetro de Massas (CG-EM), a qual foi realizada em um instrumento Shimadzu QP-2010 Ultra, utilizando as seguintes condições: coluna Rtx-5MS (Crossbond 5%, difenil/95% dimetil polisiloxane) com 30m x 0.25 mm x 0.25 µm; gás transportador He (24,2 mL/min, em modo de velocidade linear constante); temperatura de interface a 250 ºC, em modo split (1:100), e temperatura do detector a 250 ºC; temperatura da coluna programada de 35–180 ºC a 4 ºC/min, seguida de 180–280 ºC à 17 ºC/min, e 280 ºC for 10 min; espectros de massa com o impacto de elétrons de 70 eV. O volume do OF injetado foi de 1 μL. Os compostos foram identificados por seus tempos de retenção relativos em GC a compostos conhecidos e pela comparação de seus espectros de massa com aqueles presentes no banco de dados de computador (NIST) e literatura publicada (Adams, 2001; Adams, 2007). Visando identificar as classes de metabólitos secundários constituintes, a FMS foi submetida a prospecção fitoquímica de acordo com Matos (2009), o qual propõe ensaios com formação de compostos coloridos e formação de precipitado. A atividade antioxidante de OF e FMS foi avaliada frente ao radical livre DPPH (2,2-difenil-1-picrilhidrazil), sendo aferida em placas de 96 poços, utilizando leitor ELISA BIOTEK, modelo ELX 800, software “Gen5 V2.04.11”, conforme a metodologia descrita por Wang et al. (2017), com modificações. Uma diluição em série de OF, FMS e Quercetina (controle positivo) foram preparadas em metanol, para obter concentrações variando entre 0,78, a 200 µg/mL. DPPH (0,004%) foi adicionado. Metanol foi utilizado como controle negativo. A absorbância foi mensurada à 490 nm, após um período de 60 minutos de incubação. O ensaio foi realizado em triplicata. A percentagem de inibição foi calculada de acordo com a equação: PI% = [(absorbância do DPPH - absorbância do extrato) / absorbância do DPPH] × 100. Os valores de CI50 (concentração inibitória para 50% de DPPH) foram determinados pela regressão linear dos dados plotados, utilizando o software GraphPad Prism v5.01. A atividade inibitória da enzima acetilcolinesterase (AChE) também foi aferida em placas de 96 poços utilizando leitor ELISA BIOTEK, modelo ELX 800, software “Gen5 V2.04.11” baseando-se na metodologia descrita por Ellman et al. (1961) e adaptada por Trevisan et al. (2003).

Resultado e discussão

O óleo fixo (OF) das sementes de C. procera apresentou rendimento de 0,9% (1,06 g). Sua constituição química está demonstrada na tabela 01. Os compostos de apresentaram maior teor foram o Ácido oleico (22,3 %), Ácido palmítico (20.5%), Ácido linoleico (16.1%), Ácido esteárico (12,3%), 11- octadecenoato de metila (ácido vacênico) (11,1%) e ácido palmitoleico (5,1%). Um estudo apontando C. procera como uma alternativa para a obtenção de biodiesel, apresentou rendimento de óleo fixo de cerca de 20%, estando dentro dos padrões de outras oleaginosas como a soja (17%) e óleo de dendê (26%) (SOUSA, 2015). A correlação entre o rendimento e o tempo de extração em soxhlet foi avaliada por Sousa (2015) com intervalos de uma hora até um período total de 8h, sendo constatada a obtenção do rendimento máximo em 4 horas de extração. O teor de óleo nas sementes de C. procera pode variar conforme a temperatura média mensal, como observado por Barbosa et al., (2015) que observaram teor de óleo variando entre 22,1 a 24 % em áreas com temperatura média mensal entre 26 a 28 ºC, e teor um pouco inferior (19,7 %) em áreas com média mensal de 23,2 º C. Quanto a constituição química do óleo fixo de sementes obtidas no Rio Grande do Norte, Sousa (2015) também apresentou como compostos majoritários: o ácido linoleico (31,2%), ácido oleico (30,9%), ácido palmítico (20,1%), ácido esteárico (8,6%) e ácido palmitoleico (3,5%), diferindo em relação ao teor observado neste trabalho. No comparativo entre o óleo fixo das sementes de C. procera provenientes de 4 áreas diferentes do estado de Pernambuco, os principais constituintes também foram o ácido palmítico (14,2–15,8%), ácido palmitoleico (1-2,4%), ácido esteárico (7,9-9,4%), ácido oleico (31,9–34,1%) (C18:1) e linoleico (35,2–38,7%) (C18:2), sendo que apenas os níveis dos ácidos palmítico e palmitoleico diferiram estatisticamente entre as áreas de coleta (BARBOSA et al., 2014). Os estudos supracitados caracterizaram o óleo fixo das sementes de C. procera, por um alto ácidos graxos insaturados (AGI), conteúdo de aproximadamente 70%. Além disso, esses estudos em território brasileiro, diferiram de um estudo em populações de C. procera nativas da Índia, em que o ácido oleico é o principal constituinte com 62,7% e o ácido linoleico apresenta teor bem mais baixo (3,1%) (OSMAN; AHMAD, 1981 apud BARBOSA et al., 2014). Essas diferenças na composição dos óleos de sementes ocorrem por alterações em fatores genéticos e ambientais, os quais podem influenciar na biossíntese desse material (BARBOSA et al., 2014). A fração metanólica das sementes (FMS) de C. procera apresentou rendimento de 3.6 % (4,4 g), e sua prospecção fitoquímica revelou a presença de Esteroides, Saponinas e Alcaloides, bem como, a ausência de Fenóis e Flavonoides. Quanto a atividade antioxidante tanto o OF como a FMS apresentaram baixo potencial, com elevados valores de CI50 (tabela 2). As plantas medicinais são fontes de diversos compostos com atividade antioxidante, sendo os fenóis, e especialmente os flavonoides, as substâncias mais representativas desta atividade; apesar de outros compostos como os triterpenos, por exemplo, também atuarem como antioxidantes (CARVALHO et al., 2009). A ausência desses compostos na FMS, justifica em parte o efeito observado. A escolha de produtos naturais inibidores de acetilcolinesterase, e que também possuam atividade antioxidante, é uma boa estratégia para o tratamento da D.A, uma vez que além de favorecer o aumento de nível plasmático de acetilcolina, seria possível impedir a peroxidação lipídica, evitando assim, dois fatores que causam a progressão da doença (PENIDO et al., 2017). Entretanto, estudos correlacionando essas duas atividades (antioxidante e antiacetilcolinesterase), não observaram uma correlação linear entre elas (MORAIS et al., 2013), de forma que um composto em teste poderá apresentar efeito para as ambas ou para uma delas. Em relação a atividade inibidora da acetilcolinesterase, o OF e a FMS apresentaram resultados promissores, sendo o OF levemente superior (tabela 02). É possível supor que os alcaloides detectados na FMS estejam envolvidos no efeito observado, já que essa classe tem sido considerada majoritária em relação a atividade anticolinesterásica (MORAIS et al., 2013). A rivastigmina, utilizada no tratamento da DA, por exemplo é obtida a partir do alcaloide fisiostigmina, também inibidor da AChE; assim como a galantamina, fármaco considerado mais efetivo atualmente, é um alcaloide isolado de gêneros da família Amaryllidaceae (MOTA et al., 2012). Outros alcaloides isolados têm se mostrado promissores inibidores de AChE, como a sanguinina (9-O-desmetilgalantamina, isolado de Eucharis grandiflora); homomoenjodaramina e moenjodaramina (alcaloides triterpênicos isolados de Buxus hyrcana); cicloprotobuxina, ciclovirobuxeina e ciclomicrofilina (alcaloides esteroidais isolados de Buxus papillosa) (MORAIS et al., 2013).

Tabela 01

Constituintes do óleo fixo das sementes de Calotropis procera.

Tabela 02

Atividades Antioxidante e antiacetilcolinesterase do óleo fixo e da fração metanólica das sementes de Calotropis procera.

Conclusões

Conclui-se, a partir deste trabalho, que os principais compostos do óleo fixo das sementes de Calotropis procera são os ácidos oleico, linoleico, palmítico e esteárico; e que essas sementes apresentam esteroides, saponinas e alcaloides em sua constituição. O Óleo fixo e a fração metanólica das sementes de C. procera não apresentaram potencial antioxidante frente ao radical livre DPPH, mas apresentaram efeito promissor em inibir a enzima acetilcolinesterase. Em relação a fração metanólica das sementes, esse efeito pode ser atribuído aos alcaloides presentes. Estudos bioguiados podem ser realizados para a identificação dos compostos da fração metanólica das sementes responsáveis pela inibição da acetilcolinesterase.

Agradecimentos

Os autores agradecem à Universidade Estadual do Ceará (UECE) e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pelo suporte financeiro.

Referências

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