Pesquisa etnofarmacológica das plantas medicinais usadas na baixada fluminense do Rio de Janeiro
ISBN 978-85-85905-23-1
Área
Produtos Naturais
Autores
Conceição, A.P.S. (IFRJ - CAMPUS NILÓPOLIS) ; Bonfim, I.J.N. (IFRJ - CAMPUS NILÓPOLIS) ; Damasceno, N.M. (IFRJ - CAMPUS NILÓPOLIS)
Resumo
Este trabalho teve como objetivo realizar um levantamento etnofarmacológico dos fitoterápicos utilizados pela comunidade moradora da baixada fluminense do Rio de Janeiro através de uma investigação sobre o saber do uso de fitoterápicos para os mais diversos fins, além de discutir este tipo de medicina alternativa quanto aos constituintes químicos, utilizações e formas de preparo. A coleta dos dados se deu através da aplicação de formulários. 43 espécies foram mencionadas e dentre estas se destacaram, com maior número de respostas, o Boldo (Plectranthus barbatus), Camomila (Chamomilla recutita), Erva Cidreira (Melissa officinalis). O principal método de preparação foi infusão das folhas. Os chás foram empregados em maior parte para tratar problemas relacionados ao sistema gastrointestinal.
Palavras chaves
etnofarmacologia; baixada fluminense; plantas medicinais
Introdução
As plantas medicinais são de grande importância como recurso alternativo para a manutenção das condições de saúde das pessoas. Os estudos sobre este tema, com a comprovação das suas propriedades terapêuticas, e pelo fato de que a fitoterapia é parte da cultura da população, servem como fatores que reforçam esta importância. Desde 2300 a.C, os egípcios, assírios e hebreus cultivavam e faziam uso de diversas espécies vegetais, além do uso clássico como fitoterápico, eram usados como vermífugos e pesticidas, cosméticos, etc (BRANDELLI, 2015; BADKE, 2008). No Brasil, o uso de fitoterápicos tem influências indígena, africana e europeia. Os conhecimentos acerca do assunto foram passados de geração em geração e mesmo com a influência da indústria farmacêutica, o uso das plantas tem sido recorrente pela população (FREITAS E SILVA, 2014). É importante lembrar também como o uso de plantas e ervas está atrelado a uma visão mística. Acreditava-se, na antiguidade, que o saber de curandeiros, bruxos, magos sobre drogas e venenos estaria atrelado a poderes sobrenaturais, o que acabou por caracterizar um momento pré-científico da produção de conhecimento (MIGUEL, 2004). Esta pesquisa teve como objetivo averiguar o uso das plantas medicinais na baixada fluminense do Rio de janeiro, e por fim, através da leitura bibliográfica encontrada, caracterizar as três plantas que se destacarem em relação ao número de usuários.
Material e métodos
A realização deste projeto se deu por base na aplicação de um questionário na comunidade da baixada fluminense localizada no Rio de Janeiro, utilizando perguntas relacionadas à idade, cidade onde residem, enfermidades mais tratadas, ervas medicinais mais utilizadas, forma de preparo, além da parte da planta que é usada, e também a eficácia em relação ao uso dos fitoterápicos, a fim de obter o padrão do usuário de plantas medicinais. Cada voluntário assinou, previamente, um termo que permitiu o uso dos dados para produzir essa pesquisa. A partir das informações registradas, as espécies vegetais foram catalogadas em uma tabela para um melhor entendimento, assim como a utilização da bibliografia para a avaliação comparativa de acordo com seu nome científico, sinonímias, princípios ativos presente, utilizações e preparações.
Resultado e discussão
Foram entrevistados 141 moradores, aproximadamente 90% utilizam plantas
medicinais, eles se encontram na faixa etária de 14 a 75 anos, e 65,24% se
encontram no ensino superior. Foram catalogadas 43 espécies, o Boldo
(Plectranthus barbatus), a Camomila (Chamomilla recutita) e a Erva Cidreira
(Melissa officinalis) são os mais usados tendo percentual médio de 70% de
utilização dos entrevistados. Cerca de 98% citaram que utilizam as plantas
sob infusão das folhas. As enfermidades relatadas pelos entrevistados vão de
problemas estomacais a tratamento capilar, incluindo alivio dos sintomas de
ansiedade e insônia. O boldo é empregado no tratamento de problemas
gastrointestinais, devido a sua ação hipossecretora gástrica (FISCHMAN et
al, 1991), diminuindo o volume gástrico devido à presença de coleonol
(VALDÉS et al, 1987). A camomila possui camazuleno que atua como
antiinflamatório, além do alfa bisabolol que possui propriedades
antibacterianas (COLOMBO, 2008). A erva-cidreira possui propriedades
utilizadas para tratar, sintomas de ansiedade, insônia e outros. Entre os
entrevistados, 62 deles obtêm seus fitoterápicos através de familiares e 55
no quintal de casa, ambos de maneira gratuita, obtendo também a troca de
conhecimento sobre as plantas e seu potencial terapêutico. O que torna as
plantas medicinais populares é o fato de serem acessíveis, já que muitos
remédios tornam-se inviáveis para maior parte da população, devido ao seu
valor de aquisição. Com relação à eficácia observada pelos usuários (figura
1), 87,23% obtiveram resultados satisfatórios, enquanto 12,77% tiveram uma
baixa eficiência. Apenas 15 entrevistados não fazem uso de plantas
medicinais devido a não saberem a forma de preparo ou não conhecerem (figura
2).
Conclusões
Com os resultados obtidos, verificou-se que o conhecimento a respeito do uso de fitoterápicos ainda é presente em boa parte da população da baixada fluminense do Rio de Janeiro. As plantas mais utilizadas são Boldo (Plectranthus barbatus), Camomila (Chamomilla recutita), Erva Cidreira (Melissa officinalis), sendo predominantemente usadas as folhas destas espécies sob a forma de infusão. Os fitoterápicos são obtidos pelos entrevistados através dos familiares e amigos, entretanto, outra forma de obtenção é através do cultivo destas plantas medicinais no próprio quintal de casa.
Agradecimentos
Ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro pelo suporte à realização desta pesquisa.
Referências
BADKE, M.R. CONHECIMENTO POPULAR SOBRE O USO DE PLANTAS MEDICINAIS E O CUIDADO DE ENFERMAGEM. 2008. 96 p. Dissertação (Mestrado em Enfermagem)- Universidade Federal de Santa Maria , Santa Maria, RS, 2008. Disponível em: <http://coral.ufsm.br/ppgenf/images/Mestrado/Dissertacoes/2008_2009/MARCIO_ROSSATO_BAD>. Acesso em: 12 de agosto de 2018.
BRANDELLI, C.L.C.. Plantas medicinais: Histórico e conceitos. In: MONTEIRO, S.C., BRANDELLI, C.L.C. (Org.). Farmacobotânica aspectos teóricos e aplicação. Porto Algre: Artmed, 2016. p. 1-13.
COLOMBO Herbarium Lab. Bot. Ltda. Introdução à fitoterapia: utilizando adequadamente as plantas medicinais. Colombo: Herbarium Lab. Bot. Ltda, 2008.
FISCHMAN, L., A., et al. The water exctrat of Coleus barbatus Benth. Decreases gastric secretion in rats. Memoria Instituto Oswaldo Cruz, n. 86, supl. 11, p. 141-143, 1991.
FREITAS E SILVA, C.L. Uso terapêutico e religioso das ervas. Caminhos, Goiânia, v. 12, n. 1, p. 79- 92, jan./jun. 2014.
MIGUEL, M.D.; MIGUEL, O.G. Desenvolvimento de fitoterápicos. 1. ed. São Paulo: Tecmed, 2004.
VALDÉS, L., J. MISLANKAR, S., G. PAUL, A., G. Coleous barbatus (C. forskohlii) (Lamiaceae) and the Potencial New Drugs Forskolin (Coleonol). Economic Botany, v. 41, n. 4, p. 474-483, 1987.