Estudo químico e avaliação da atividade microbiológica do óleo essencial das folhas de Hyptis dilatata Benth.
ISBN 978-85-85905-23-1
Área
Produtos Naturais
Autores
Fernandes, Y.M.L. (UFMA) ; Vieira, F.A.P. (UFMA) ; Monteiro, O.S. (UFMA) ; Maia, J.G.S. (UFPA) ; Monteiro, I.N. (PITÁGORAS) ; Figueiredo, P.M.S. (UFMA) ; Santos, A.L.P.A. (UFMA)
Resumo
Este estudo apresenta a avaliação química e a atividade microbiana do óleo essencial das folhas de Hyptis dilatata Benth. Através de CG-EM, os constituintes majoritários do OE detectados foram o limoneno (72,00%),ß- pineno (11,31%) e p-cimeno (10,19%). A atividade antimicrobiana foi avaliada por microdiluição em caldo para a determinação das Concentrações Inibitória (CIM), Bactericida (CBM) e Fungicida Mínima (CFM). Frente a Escherichia coli, o OE apresentou CIM e CBM de 65,5µL/mL e frente ao Enterococcus faecalis, CIM e CBM de 125µL/mL. Contra Candida albicans e C. glabrata, CIM e CFM de 250µl/mL e para uma variação de C. albicans e C. parapsilosis apresentou CIM de 250µl/mL. O estudo propõe a utilização do OE como fitoterápico no tratamento de doenças causadas pelos microorganismos.
Palavras chaves
Hyptis dilatata Benth; óleo essencial; atividade antimicrobiana
Introdução
A busca por recursos da natureza para combater enfermidades é um comportamento humano já conhecido. Na sociedade moderna, a produção sintética adquiriu um vasto espaço na indústria farmacêutica. Porém, os recursos naturais ainda nos fornecem uma infinidade de compostos capazes de suprir nossas necessidades de forma tão eficiente ou mesmo melhor que os produtos sintéticos. Desde o ano 3000 a.C. há dados de que a China se destacava no cultivo e estudo de plantas medicinais (JORGE, 2003). Machado e Junior (2011) citam que as terapias naturais têm como origem as chamadas medicinas tradicionais. Os óleos essenciais ou essências e possuem funções diversas funções relacionadas ao metabolismo secundário das plantas (VIZZOTO et al., 2010), e sua importância se intensificará na idade moderna e contemporânea com o avanço de estudos sobre os óleos voláteis graças ao interesse farmacológico na aplicação de suas características químicas e biológicas, auxiliando o combate a doenças (BAKKALI et al., 2008; BURT, 2004). A espécie Hyptis dilatata Benth coletada em Roraima apresentou OE com majoritariamente d-3-careno (12,45%) (OLIVEIRA et al., 2014). Já o óleo extraído de amostras do Maranhão teve como componente majoritários a canfôra (16,0%) (MELO, 2013). Este estudo tem foco no óleo essencial da espécie vegetal Hyptis dilatata Benth encontrada no Parque Nacional Das Nascentes Do Rio Parnaíba, sua composição química e atividades antimicrobianas, proporcionando assim um referencial para futuros trabalhos como o uso deste produto natural em fitoterápicos.
Material e métodos
A coleta foi realizada no mês de maio de 2014 no Parque Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba, sendo levada para o Laboratório de Produtos Naturais (LPN) no Centro de Ciências Exatas e Tecnologia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). As exsicatas de cada uma delas foram preparadas e enviadas para o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) para a realização de suas identificações botânicas. O OE foi obtido pelo processo de hidrodestilação com extrator de Clevenger modificado e armazenado para suas futuras análises. Em seguida, foi analisado por cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas (CG-EM) no Laboratório de Farmacognosia na UFMA, por um equipamento SHIMADZU QP 2010 equipado com uma coluna capilar Rtx-5MS e fonte de ionização por impacto eletrônico. No Laboratório de Microbiologia Clinica (LabMic) no Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da UFMA foi realizada a avaliação da atividade antimicrobiana, testada in vitro através de dois bioensaios. Inicialmente por difusão em ágar e depois pela microdiluição. Ambos os protocolos descritos pelo Clinical and Laboratory Standards Institute (CLSI, 2013). Os microrganismos testados foram as bactérias Escherichia coli (ATCC 25922) e Enterococcus faecalis (ATCC 29212); e os fungos Candida albicans (isolado clínico), Candida glabrata (isolado clínico), Candida albicans (ATCC 90028) e Candida parapsilosis (isolado clínico). A determinação da CIM foi feita através da técnica de microdiluição segundo a metodologia da diluição em caldo proposta pelo National Committee for Clinical Laboratory Standard (2013). Para isto, as colônias foram ressuspendidas em solução fisiológica (0,9 %) até atingir uma turbidez equivalente 0,5 na escala de McFarland, as placas de 96 poços estéreis foram preparadas com 50µL de caldo BHI e 50µL do óleo essencial seguido de diluições seriadas. Os tubos foram homogeneizados e levados à estufa a 35°C por 24 horas. Após o período de incubação foi adicionado 20µl do revelador resazurina a 0,01%. A CIM será a menor concentração da solução onde não houve crescimento bacteriano ou fúngico visível. Foram utilizadas as placas incubadas para determinação da CIM em meio líquido para determinação da CBM e CFM. Uma alíquota (1 mL) de cada tubo foi inoculada em placas de Ágar Müeller Hinton e posteriormente incubadas em ambiente à 35°C por 24 horas. A CBM e CFM serão consideradas para a menor concentração da solução onde não houve crescimento celular sobre a superfície do ágar inoculado (99,9% de morte microbiana).
Resultado e discussão
A extração do óleo essencial das folhas de Hyptis dilatata B. apresentou
rendimento de 4,85% (v/m), que representa, matematicamente, a quantidade em
mililitros de óleo presente em 100 gramas de amostra vegetal descontada sua
umidade. O rendimento expresso em relação massa/massa resultou em 4,11%.
Este valor é significativamente maior que o expresso por outra espécie do
Estado de Roraima, onde apresentou 0,5% de rendimento (OLIVEIRA et al.,
2014)
Através da análise por CG-EM foi possível identificar 10 constituintes,
correspondendo a 98,45% da composição total do óleo. Entre os constituintes
temos o limoneno (72,00%) como composto majoritário seguido de β-pineno
(11,31%) e p-cimeno (10,19%).
O óleo essencial das folhas de Hyptis dilatata B. apresentou atividade
antimicrobiana frente a Escherichia coli (ATCC 25922) com CIM e CBM de 65,5
µL/mL e frente ao Enterococcus faecalis (ATCC 29212) com CIM e CBM de 125
µL/mL.
Quanto a atividade antifúngica o óleo expressou atividade contra os fungos
Candida albicans (IC) e Candida glabrata (IC) com CIM e CFM de 250 µl/mL
enquanto para os microrganismos Candida albicans (ATCC 90028) e Candida
parapsilosis (IC) somente apresentou CIM de 250 µl/mL.
Aggarwal et al. (2002) mostraram a atividade dos dois isômeros ópticos do
limoneno isolados do óleo essencial de Mentha spicata e Anethum sowa frente
a fungos e bactérias, enquanto que Vuuren & Viljoen (2007) enfatizou a maior
atividade do isômero (-)-limoneno em relação ao (+). Dado ao alto percentual
da substância no óleo essencial deste estudo, pode-se considerar a
substância o responsável pelas atividades antimicrobianas.
Conclusões
Os resultados apresentados pelo estudo da espécie Hyptis dilatata Benth permitem a observação de bons rendimentos na extração do óleo essencial de suas folhas. O óleo gerado foi de alta qualidade e livre de impurezas. A análise da composição química do óleo essencial por cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de massas forneceu dados suficientes para permitir o estudo de um novo quimiotipo de Hyptis dilatata B., evidenciando o limoneno como o composto majoritário com teor de 72% em sua composição, seguido de β- pineno (11,31%) e p-cimeno (10,19%). O óleo essencial de Hyptis dilatata B. também demonstrou uma forte ação bactericida frente ao Escherichia coli e Enterococcus faecalis, sendo suas concentrações inibitórias e bactericidas mínimas bem pequenas. Quanto à sua ação antifúngica frente as cepas de Candida albicans, Candida glabrata e Candida parapsilosis, o óleo apresentou moderada eficácia, onde a eliminação dos fungos somente ocorreu em concentrações mais elevadas. Houve apenas inibição do crescimento micelial para as espécies C. albicans e C. glabrata. O presente estudo colabora para com a continuidade dos estudos químicos e biológicos da espécie Hyptis dilatata B, fornecendo resultados que visam a expansão do conhecimento acerca do óleo essencial de uma das espécies menos estudadas da família Lamiaceae.
Agradecimentos
Agradecimentos à toda equipe da pesquisa e ao auxílio financeiro cedido através bolsas de pesquisa pela CAPES.
Referências
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