ESTUDO FITOQUÍMICO DAS CASCAS DA ESPÉCIE VIROLA SEBIFERA (MUCUÍBA)

ISBN 978-85-85905-23-1

Área

Produtos Naturais

Autores

Silva, M.H.T. (UFT) ; Scapin, E. (UFT) ; Fernandes, R.M.N. (UFT) ; Lacerda, G.E. (UFT) ; Dias, T.S.S. (UFT) ; Moraes, B.R. (UFT) ; Kulman, D. (INCRA)

Resumo

Virola sebifera, conhecida popularmente como mucuíba, é uma espécie pertencente à família botânica Miristicaceae, sendo uma das espécies da família mais quimicamente investigada, entretanto, existem poucos relatos na literatura sobre sua composição em flavonoides e ácidos fenólicos. O presente estudo visou à realização de um estudo fitoquímico das cascas da espécie Virola Sebifera, por meio de uma prospecção fitoquímica preliminar, e por meio da Cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE). A espécie demonstrou presença de uma série de metabólitos secundários e a partir da caracterização realizada por CLAE foi possível a identificação de compostos fenólicos na espécie, apresentando uma matriz diversa de ácidos fenólicos e flavonoides.

Palavras chaves

Virola sebifera; estudo fitoquímico; compostos fenólicos

Introdução

A bioprospecção consiste na busca por compostos orgânicos em microrganismos, plantas e animais que sejam úteis para a humanidade, permitindo descobrir com eficiência novas substâncias e dessas desenvolver novos bioprodutos, agregando dessa forma valor à biodiversidade (ASTOLFI FILHO; SILVA; BIGI, 2015). O Brasil apresenta condições favoráveis às pesquisas de bioprospecção, tendo em vista sua variedade de biomas e, consequentemente uma variedade florística, no entanto, pouco conhecida quimicamente. Virola sebifera, conhecida popularmente como mucuíba ou também ucuúba, é uma espécie arbórea, pertencente à família botânica Miristicaceae. No Brasil, a espécie se encontra amplamente distribuída no território, ocorrendo do Estado do Pará até São Paulo (LORENZI, 2000). É uma das espécies da família Myristicaceae mais quimicamente investigada. Estudos sobre o perfil fitoquímico, realizados com diferentes partes da planta, relataram a presença de uma vasta diversidade de metabólitos secundários, como os policetídeos (DENNY et al, 2008), alcaloides (KAWANISHI; UHARA; HASHIMOTO, 1985) e uma ampla variedade de lignanas (ENDERS et al, 2005; DANELUTTE; CAVALHEIRO; KATO, 2000). No entanto, existem poucos relatos na literatura sobre sua composição em flavonoides e ácidos fenólicos. Diante desse contexto, o presente estudo visou à realização de um estudo fitoquímico das cascas da espécie Virola sebifera, por meio de uma prospecção fitoquímica preliminar, a fim de identificar os principais metabóliotos secundários presentes, e da realização de um estudo de bioprospecção por meio da Cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE), a fim de identificar compostos fenólicos, e assim contribuir para o conhecimento químico da espécie.

Material e métodos

As cascas da Virola Sebifera foi coleta na região da sub-bacia do Ribeirão São João, Porto Nacional – TO, região nativa do bioma cerrado. A espécie foi identificada e registrada no herbário da Universidade Federal do Tocantins, sob o número 12.002. As cascas foram submetidas à secagem em estufa a 50°C por dois dias. Logo após o material vegetal seco foi pulverizado usando um moinho de facas tipo Willey. O pó obtido foi armazenado em garrafas de vidro e mantido à temperatura ambiente, protegido da luz e umidade. O processo de extração foi realizado por dois métodos, a frio e a quente. A extração a frio foi realizada por meio do Ultrassom, utilizando o solvente hidroalcoólico 70%, na proporção de 5 g da amostra para 80 mL, sendo filtrado e submetido a uma nova extração até esgotamento. A extração a quente foi realizada por meio do Soxhlet, a partir de 5 g do pó da amostra em 200 ml do solvente hidroalcoólico 70%. Os extratos hidroalcoólicos foram submetidos a testes fitoquímicos qualitativos de identificação comforme Simões et al. (2017), SBFgnosia (2009), Mouco et al. (2003), Amorim et al. (2008) e Adzu et al. (2015). A cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) foi desenvolvida no Laboratório de Instrumentação Científica da Universidade Federal do Tocantins em um cromatógrafo AVP Shimadzu® LC-10 Series. A separação foi realizada pelo método de eluição com gradiente usando coluna Phenomenex Luna C18 fase reversa e pré-coluna Phenomenex C18 preenchida com material semelhante a coluna principal. A fase móvel A foi 0,1% de ácido fosfórico em água Milli-Q e a fase móvel B foi 0,1% de ácido fosfórico em água Milli-Q/acetonitrila / metanol (54:35:11). Quociente de vazão: 1 ml/ min; Detecção UV foi feita a 280 nm.

Resultado e discussão

Na prospecção fitoquímica preliminar, os extratos hidroalcoólicos da Virola sebifera indicaram presença de diferentes grupos de metabólitos secundários (Tabela 1). Estudos tem demonstrado a influência do processo extrativo no teor de metabólitos secundários (OLIVEIRA et al, 2016). Qualitativamente, os resultados da prospecção fitoquímica preliminar obtidas pelos dois métodos extrativos foram similares. Nos cromatogramas obtidos por meio da CLAE, foi demonstrado que os extratos hidroalcoólicos da espécie possuem uma matriz de compostos fenólicos bastante diversos, conforme a Tabela 2 e Figura 1. Na literatura são escassos relatos da composição fitoquímica da Virola Sebifera em relação a flavonoides e ácidos fenólicos. A presença do ácido gálico e ácido elágico, ácidos fenólicos detectados nos extratos da espécie no presente trabalho, não foram previamente relatados na literatura na composição da Virola sebifera. Em relação aos flavonoides, apenas a quercetina, que neste trabalho foi identificado em ambos os extratos da Virola Sebifera, foi constatado na literatura. Bicalho et al (2012) em seu estudo identificou quercetinas no extrato bruto das folhas da Virola Sebifera, os flavonoides isolados em seu estudo foram quercetina-3-O-α-L- ramnosídeo, quercetina-3-O-β-D-glicosídeo e quercetina-3-metoxi-7-O-D- glicosídeo. Nenhum trabalho foi encontrado na literatura constatando a presença dos outros grupos de flavonoides identificados nas cascas da Virola Sebifera no presente estudo. Várias propriedades terapêuticas dos flavonóides, principalmente da quercetina, têm sido estudadas, destacando-se o potencial antioxidante, anticarcinogênico e seus efeitos protetores aos sistemas renal, cardiovascular e hepático (BEHLING et al., 2008).

Tabela 1

Resultados das reações indicativas da presença ou ausência de grupos de metabólitos secundários nos extratos hidroalcoólicos de Virola sebifera

Tabela 2

Compostos fenólicos identificados por CLAE nos extratos da Virola sebifera. Quantificação em micrograma de composto por miligrama de extrato seco

Figura 1

Cromatogramas dos extratos, obtido por Ultrassom (cromatograma de cima) e obtido por Soxhlet (cromatograma de baixo), da espécie Virola sebifera

Conclusões

Através do estudo fitoquímico realizado com as cascas da Virola sebifera, foi possível constatar qualitativamente a presença de uma série de metabólitos secundários, e através da caracterização dos extratos realizada por CLAE foi possível à identificação de compostos fenólicos, como flavonoides e ácidos fenólicos. Considerando as ações biológicas desses componentes fitoquímicos, com destaque para a atividade antioxidante, a espécie se torna atraente para contínuas pesquisas com fins farmacológicos e para o desenvolvimento de produtos naturais.

Agradecimentos

O presente trabalho foi realizado com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq – Brasil e a Universidade Federal do Tocantins.

Referências

ADZU, B. et al. Evaluation of the safety, gastroprotective activity and mechanism of action of standardised leaves infusion extract of Copaifera malmei Harms. Journal of Ethnopharmacology 175, 378-389, 2015.

AMORIM, E. L. C.; et al. A simple and accurate procedure for the determination of tannin and flavonoid levels and some applications in ethnobotany and ethnopharmacology. Func Ecosyst Commun, p: 88-94, 2008.

ASTOLFI FILHO, S.; SILVA, C. G. N. D.; BIGI, M. D. F. M. A. Bioprospecção e biotecnologia. Parcerias Estratégicas, v. 19, n. 38, p. 45-80, 2015.

BEHLING, E. V. et al. Flavonóide quercetina: aspectos gerais e ações biológicas. Alimentos e Nutrição Araraquara, v. 15, n. 3, p. 285-292, 2008.

BICALHO, K. U. et al. Evaluation of the toxicity of Virola sebifera crude extracts, fractions and isolated compounds on the nest of leaf-cutting ants. Psyche: A Journal of Entomology, v. 2012, 2012.

DANELUTTE, A. P.; CAVALHEIRO, A. J.; KATO, M. J. Lignoids in seedlings of Virola sebifera. Phytochemical Analysis, v. 11, n. 6, p. 383-386, 2000.

DENNY, C et al. Antiproliferative properties of polyketides isolated from Virola sebifera leaves. Phytotherapy research, v. 22, n. 1, p. 127-130, 2008.

ENDERS, D. et al. First asymmetric synthesis and determination of the absolute configuration of a lignan isolated from Virola sebifera. European journal of organic chemistry, v. 2005, n. 10, p. 1984-1990, 2005.

KAWANISHI, K.; UHARA, Y.; HASHIMOTO, Y. Alkaloids from the hallucinogenic plant Virola sebifera. Phytochemistry, v. 24, n. 6, p. 1373-1375, 1985.

LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Instituto Plantarum, Nova Odessa, v.1, 3ª ed, 2000.

MOUCO, G.; BERNARDINO, M. J.; CORNÉLIO, M. L. Controle de qualidade de ervas medicinais. Revista Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento, n. 31, p. 68-73, jul./dez., 2003.

OLIVEIRA, V. B. et al. Efeito de diferentes técnicas extrativas no rendimento, atividade antioxidante, doseamentos totais e no perfil por clae-dad de dicksonia sellowiana (presl.). Hook, dicksoniaceae. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v. 18, n. A00101s1, p. 230-239, 2016.

SBFgnosia. Pesquisa de alcaloides. Curitiba: Sociedade Brasileira de Farmacognosia (SBFgnosia), 2009. Disponível em <http://www.sbfgnosia.org.br/Ensino/alcaloides.html>. Acesso em: abr. 2018.

SIMÕES, C.M.O., SCHENKEL, E.P., MELLO, J.C.P., MENTZ, L.A.; PETROVICK, P.R. Farmacognosia: Do Produto Natural ao Medicamento. Porto Alegre, Artmed, 2017.

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