Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório da fração obtida de Fridericia platyphylla e seus mecanismos de ação

ISBN 978-85-85905-23-1

Área

Produtos Naturais

Autores

Rodrigues, C.D.P. (UFMA) ; Vieira, F.C. (UFMA) ; Rodrigues, V.P. (UNESP - BOTUCATU) ; Hiruma, C.A. (UNESP - BOTUCATU) ; Vasconcelos, L.N. (UFMA) ; Santos, A.L.P.A. (UFMA) ; Pinheiro, A.A. (UFMA) ; Martins, L.J.A. (UFMA) ; Serejo, R.S. (UFMA) ; Rocha, C.Q. (UFMA)

Resumo

A espécie de Fridericia platyphylla (Sin.Arrabidaea brachypoda) é comumente conhecida como “cervejinha do campo” possuindo diversos fins terapêuticos. A fração diclorometano (DEAB)foi obtida através da partição líquido-líquido com água-metanol (7:3) e diclorometano. A análise foi realizada em HPLC-UV vis. Os resultados mostraram que nos testes in vitro a DEAB foi capaz de inibir o fator nuclear kappa b no teste de luciferase e reduzir a produção de óxido nítrico. Nos testes in vivo mostrou-se efetiva na redução da dor nas duas fases do teste da formalina e atuou nos canais iônicos TRPM8, ASIC e no sistema opioide.

Palavras chaves

Fridericia platyphylla; Dor; Inflamação

Introdução

A nocicepção e a inflamação são processos mediados pelo sistema nervoso e pelo sistema imune, respectivamente. A nocicepção ocorre pela condução de impulsos elétricos até regiões superiores do cérebro após ativação dos nociceptores por algum estímulo nocivo (temperatura, substância química e atrito mecânico) (KIDD e URBAN, 2001; GANONG, 2016). A inflamação é desencadeada por uma cascata de respostas realizada pelas células de defesa do organismo frente a uma injúria ao tecido ou invasão de algum patógeno. A inflamação é caracterizada pelo calor, dor, vermelhidão e inchaço (GANONG, 2016). Para o combate da dor e inflamação são administrados fármacos esteroidais, não esteroidais e opioides, entretanto esses fármacos apresentam muitas reações adversas que se acumulam com o tempo. Para contornar esse problema muitos pesquisadores procuram nos compostos isolados de plantas uma resposta para esse problema. Considerando os efeitos apresentados pela etnofarmacologia para a espécie Fridericia platyphylla, avaliamos a atividade antinociceptiva e anti- inflamatória da fração diclorometânica das raízes dessa espécie.

Material e métodos

Amostras das raízes de Fridericia platyphylla foram coletadas nas regiões de cerrado do estado de Minas Gerais, o material vegetal teve suas partes separadas adequadamente e trituradas em moinhos de faca. As cascas das raízes de Fridericia platyphylla foram separadas e extraídas, sucessivamente, por percolação, à temperatura ambiente, com etanol a 70%. Este extrato foi submetido à partição líquido-líquido com água-metanol (7:3) e diclorometano. A fração diclorometano das cascas das raízes foi fracionada utilizando cromatografia liquida de fase normal, que consistiu em uma coluna de vidro, preenchida com adsorvente Sílica gel 60 (0,063 - 0,200 mm). O empacotamento da coluna foi realizado com hexano e em seguida ocorreu à injeção da amostra no topo da coluna. Um gradiente de polaridade crescente de solventes foi usado durante o processo de purificação. As amostras foram analisadas por cromatoplacas, reveladas em câmara escura com lâmpada ultravioleta (UV) a 254nm e agrupadas segundo comparações do fator de retenção (Rf). Nos testes in vitro foi avaliada a inibição do fator nuclear kappa b no teste de luciferase e a redução da produção de óxido nítrico por indução ao lipopolissacarídeo. Antes da realização dos testes in vivo foi avaliada a toxicidade da fração diclorometano e seu possível efeito relaxante muscular. Nos testes in vivo foram realizados os testes da formalina e placa quente para avaliação da resposta nociceptiva e mediação de caminhos supraespinhais, respectivamente. E após resultados positivos no teste de formalina foi investigada a participação de receptores TRPM8, TRPMA1, TRPV1, ASIC além da participação dos sistemas opiodergico e glutamatérgico. Para avaliação antiinflamatória foram realizados os testes de edema por xilol e ácido araquidônico.

Resultado e discussão

O processo de cromatografia de fase normal levou ao isolamento de três substâncias puras: brachydina A, brachydina B e brachydina C. Na tabela 1 é possível constatar que a DEAB inibiu a produção de óxido nítrico e o NFkB em 74% e 97%, respectivamente (LOWENSTEIN PADALKO, 2004; KOPP GOSH, 1995). O NFkB atua na expressão gênica de mediadores químicos do processo inflamatório, como o óxido nítrico, liberado por macrófagos no combate de agentes invasores. Na avaliação da atividade antinociceptiva da DEAB sobre o TRPM8, pela injeção de mentol, o grupo controle foi tratado com veículo (10 mL/Kg) e outro grupo tratado com DEAB (30 mg/Kg). O primeiro mostrou-se inativo na redução da resposta nociceptiva, enquanto o segundo grupo apresentou uma redução de 38,72 %, indicando que a DEAB (30 mg/Kg) pode ter ação sobre esse receptor. Para avaliação da redução da resposta nociceptiva mediada pelos canais iônicos ASIC, o grupo controle foi tratado com veículo (10 mL/Kg) e outro grupo com a DEAB (30 mg/Kg). O primeiro grupo não apresentou redução na resposta nociceptiva, porém o segundo conseguiu reduzir em 57,79% a atividade nociceptiva provocada pela injeção de salina acidificada mostrando que a DEAB pode ter ação sobre esse canal iônico. A naloxona é um antagonista dos receptores opioides, tendo ação somente na presença de fármacos opioides (JUNIOR, 2015). A figura 1 mostra que a naloxona impediu a ação antinociceptiva da DEAB e do diazepam, o que indica a participação do sistema opioide.


Tabela 1.Resultados da avaliação anti-inflamatória nos modelos in vitro.


Figura 1 – Efeito do DEAB no envolvimento do sistema opioide.

Conclusões

Os resultados nos testes in vitro mostraram que a DEAB inibiu o fator nuclear kappa b e a produção de óxido nítrico. Nos testes in vivo a DEAB apresentou resultados positivos na participação dos receptores TRPM8 e ASIC, bem como no sistema opioide no alívio da dor aguda. A DEAB mostrou-se efetiva na redução do edema induzido por xilol. Os resultados comprovam que a atividade antinociceptiva e anti-inflamatória da F. platyphylla pode estar relacionada com a presença das brachydinas A, B e C, contribuindo assim de forma significativa para posteriores estudos com foco na dor e inflamação.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao CNPq pelas bolsas concedidas à FAPEMA (Proc.: 0083/16) e à professora Muriel Coudent (Université de Genève).

Referências

CLORIDRATO DE NALOXONA: solução injetável. Farmacêutico responsável: Walter F. da Silva Junior. Anápolis: Novafarma Industria Farmacêutica Ltda, 2015. Bula de remédio.
GANONG, William F et al. Ganong's Review of Medical Physiology. 25th ed. New York, N.Y.: McGraw Hill Medical, 2016.
KIDD, B. L., URBAN, L. A. Mechanisms of inflammatory pain. British Journal of Anaesthesia, 87 (1), 2001. Págs: 1 – 9.
KOPP, E. B., GHOSH, S. NFκB and Rel proteins in innate immunity. Advances in immunology, 58, 1995, págs: 1 – 7.
LOWENSTEIN, C. J., PADALKO, E. iNOS (NOS2) at a glance. Journal of Cell Science 117, 2004, pág: 2865 – 2866.


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