Estudo in silico de potenciais compostos antitumorais derivados da barbatusina
ISBN 978-85-85905-23-1
Área
Produtos Naturais
Autores
Lima, V.L.F. (UFC) ; Ferreira, E.B. (UFC-IFCE) ; Guedes, R. (IMED-ULISBOA) ; Moreira, R. (IMED-ULISBOA) ; Silva, M.G.V. (UFC)
Resumo
Ensaios in silico vem sido utilizados para a descoberta de novos fármacos, gerando alternativas para identificar e selecionar novos candidatos a fármacos. No presente estudo, apresenta-se o potencial drug like da barbatusina, diterpeno isolado de Plectranthus barbatus e de dois derivados: 3β-hydroxi-3-desoxibarbatusina e ciclobutatusina que apresentam atividade antitumoral comprovada. Empregou-se neste estudo, os pacotes computacionais Marvin 5.2.1_1, Mol Inspiration, VCCLab e MOE para a obtenção das propriedades ADME e GOLD 5.1.0 para o docking. As atividades farmacocinéticas obtidas comprovaram que os diterpenos estudados apresentaram boas características de candidatos a fármaco, porém o potencial antitumoral foi modesto, não compatível com a atividade registrada para estes compostos.
Palavras chaves
barbatusina; in silico; Plectranthus barbatus
Introdução
O gênero Plectranthus é fonte de diterpenos, inclusive alguns com propriedades biológicas comprovadas (MARQUES et al, 2006). A Química Medicinal tem evoluído rapidamente nos últimos tempos, obtendo ótimos avanços tecnológicos na descoberta e desenvolvimento de novos fármacos, e graças a esses avanços, os modelos tradicionais de desenvolvimento de fármacos baseados principalmente em química e biologia básica, estão sendo progressivamente substituídos pela integração de especialidades que atuam em caráter multidisciplinar (MODA, 2007). A necessidade de novas substâncias terapêuticas mais eficazes, tem levado a indústria farmacêutica e pesquisadores a intensificarem esses estudos para a descoberta de novos fármacos (BARREIRO, 2009). Estudos anteriores demonstraram propriedade gastroprotetora de vários diterpenos isolados de Plectranthus barbatus (RODRIGUES et al, 2010, GASPAR-MARQUES et al, 2006), entre os quais a barbatusina se destacou reduzindo lesões gástricas quando administrados por via oral em ratos, nas doses de 5 e 10mg/kg em 32 e 76%, respectivamente. N-acetilcisteína (150 mg/kg) utilizado como controle positivo no mesmo ensaio causou 85% de supressão de lesão (RODRIGUES et al, 2010), validando desta forma o uso popular desta planta, no combate às doenças relacionadas ao aparelho digestivo. Lima (2013) relatou a atividade antitumoral promissora que barbatusina e 3β-hydroxi-3-desoxibarbatusina apresentaram, com valores de IC50 de 7,46 µg/mL e 12,58 µg/mL respectivamente, frente a linhagem de células HCT-116 (carcinoma de colon humano), comprovando o potencial farmacológico destes compostos. No presente estudo, apresenta-se o estudo in silico da barbatusina e de dois derivados: 3β-hydroxi-3-desoxibarbatusina e ciclobutatusina como candidatos a agentes antitumorais.
Material e métodos
Obtenção das estruturas 3D: Foram obtidas usando o pacote Marvin 5.2.1_1 (MARVIN, 2015), minimizadas energeticamente usando um campo de força MMFF94x e exportada em formato mol2 e pdb. Geração in silico dos descritores moleculares: O potencial da barbatusina e derivados foi analisado com aplicação da Regra dos cinco de Lipinski (Lipinski, 2004), através do emprego dos programas computacionais Molinspiration (www.molinspiration.com) e MOE versão 2014, determinando-se valores de vários descritores como a tensão em área de superfície polar (TPSA), peso molecular, Log P (partição de uma substância entre as fases aquosa e orgânica no sistema água/octanol), número de grupos aceptores e doadores de ligação de hidrogênio (nON e nOHNH, respectivamente) e solubilidade. A solubilidade (log S) foi calculada pelo emprego do programa Virtual Computational Chemistry Laboratory (www.vcclab.org) e MOE (MOE, 2014). Preparação de proteínas: As estruturas cristalográficas foram obtidas a partir do Protein Data Bank RCSB, e moléculas de água e outras moléculas coordenadas foram removidas. Os resíduos e os ligantes foram protonados com MOE. Docking: A triagem virtual baseada no docking molecular foi realizada com o software GOLD 5.1.0 (COLE et al., 2005). Para a avaliação do potencial antitumoral da barbatusina e seus derivados empregando-se três estruturas cristalográficas de proteínas: 3GEQ, 4PYP e 4C1M (códigos PDB), selecionando-se os resíduos de aminoácidos Glu339 e Met341 para 3GEQ, Asn34 para 4PYP e Glu91 para 4C1M. As melhores conformações foram sujeitas à inspeção visual com MOE.
Resultado e discussão
Os descritores log P, log S, TPSA, o número de doadores de ligação de hidrogênio, de receptores de ligação de hidrogênio, pKa, energia, violações da regra de Lipinski (tabela 1) foram utilizados na avaliação da barbatusina, ciclobutatusina e 3β-hydroxi-3-desoxibarbatusina (fig 1). Os resultados foram obtidos de diferentes softwares e comparados entre si.
Na análise dos resultados observou-se que todos os softwares apresentaram Log P menor que 5. Normalmente, as drogas que interagem com enzimas no interior do corpo humano possuem valores de Log P na faixa de 2 e 5 (TAMBUNAN, 2011), de modo que barbatusina e a 3β-Hydroxi-3-desoxibarbatusina apresentaram resultados mais próximos ao valor ideal. Barbatusina e da 3β-Hydroxi-3-desoxibarbatusina apresentaram TPSA abaixo de 140, o que promove uma boa permeabilidade celular. Os três diterpenos estudados não apresentaram violações às regras de Lipinski (Regra dos cinco) e exibiram valores de solubilidade aquosa dentro da faixa de -1 a -5, que é ideal para que se tenha a polaridade e hidrofobicidade adequada para a passagem aceitável através das membranas biológicas (JORGENSEN et al., 2002). As moléculas estudadas apresentaram pKa altos, indicando que estas não se ionizarão nos meios biológicos, podendo limitar a absorção e por consequência, a ação terapêutica (SOUZA, 2007). Os valores de docking (score e SLP) estão apresentados na tabela 2. Os resultados de escores obtidos foram menores que 70, que não é considerado um valor significativo para este tipo de estudo.
Representação estrutural da barbatusina (1) isolada de Plectranthus barbatus e seus derivados ciclobutatusina (2) e 3β-hydroxi-3-desoxibarbatusina (3)
Tabelas de descritores moleculares de ensaios in silico (1) e escores obtidos nos estudos de docking pelo software GOLD (2) da barbatusina e derivados
Conclusões
Para as atividades farmacocinéticas, a barbatusina e seus derivados apresentaram propriedades drug like adequadas, com todos os descritores moleculares de acordo com a regra de Lipinski. A dockagem molecular realizada apresentou resultados modestos não compatíveis com a atividade antitumoral registrada para estes compostos. Outros resíduos de aminoácidos e outros alvos macromoleculares poderão ser testados, em busca de resultados que corroborem com os ensaios in vitro realizados para as moléculas estudadas.
Agradecimentos
Os autores agradecem a UFC, CAPES e CNPQ.
Referências
BARREIRO, E. J. Biodiversidade: ponte potencial para a descoberta de fármacos. Química Nova, v. 32, n. 3, 679-688, 2009.
BERNDT, E. R.; GOTTSCHALK, A. H. B.; PHILIPSON, T. J.; STROBECK, M. W. Industry Funding of the FDA: Effects of PDUFA on Approval Times and Withdrawal rates. Nature Reviews Drug Discovery, v. 4, 545-554, 2005.
COLE, J. C.; NISSINK, J. W. M.; TAYLOR, R. Protein–Ligand Docking and Virtual Screening with GOLD in Virtual Screening in Drug Discovery, Taylor & Francis Group, LLC (Ed), Boca Raton -USA, 2005, 379.
GASPAR-MARQUES, C.; SIMÕES, F. M.; DUARTE, M. A.; RODRIGUÉZ, B. Abietanes from Plectranthus grandidentatus and P. hereroensis against methicillin and vancomycin-resistant bacteria. Phytomedicine, v. 13, 267–271, 2006.
JORGENSEN, W. L.; DUFFY, E. M. Prediction of drug solubility from Structure, Advanced Drug Delivery Reviews, v. 54, 355-366, 2002.
LIMA, L. B. Contribuição para a Padronização Química de Espécies do Gênero Plectranthus: Derivatização e Validação de Métodos Analíticos para a Quantificação de Marcadores Químicos. Tese de Doutorado. Universidade Federal do Ceará. Centro de Ciências. Departamento de Química Orgânica e Inorgânica. Fortaleza, Ceará, 2013.
LIPINSKI, C. A. Lead- and drug-like compounds: the rule-offive revolution. Drug Discovery Today: Technologies, v. 1, p. 337-341, 2004.
LUKHOBA, C.W.; SIMMONDS, M.S.J.; PATON, A.J. Plectranthus: A review of ethnobotanical uses. Journal of Ethnopharmacology, v.103, 1-24, 2006.
MARQUES, C. G.; RIJO, P.; SIMÕES, M. F.; DUARTE, A.; RODRIGUEZ, B. Effect of abietane diterpenes from Plectranthus grandidentatus on the growth of human cancer cell lines. Phytomedicine, v. 13, 267, 2006.
MARVIN, ChemAxon Ltd, 2015.
MODA, T. L. Desenvolvimento de Modelos In silico de propriedades de ADME para triagem de novos candidatos a fármacos. Dissertação de Mestrado, Instituto de Física, Universidade de São Carlos, São Paulo, 2007.
MOE, Chemical Computing Group Inc, Montreal. 2014.
PINHEIRO, E. B. F. Estudo químico, biológico e in silico de Plectranthus Grandis (Cramer) Willense. Tese de Doutorado. Universidade Federal do Ceará. Centro de Ciências. Departamento de Química Orgânica e Inorgânica. Fortaleza, Ceará, 2016.
RODRIGUES, P. A.; MORAIS, S. M.; SOUZA, C. M; SILVA, A.R.; ANDRADE, G. M.; SILVA, M. G.; ALBUQUERQUE, R. L.; RAO, V. S.; SANTOS, F. A. Gastroprotective effect of barbatusin and 3-beta-hydroxy-3-deoxibarbatusin, quinonoid diterpenes isolated from Plectranthus grandis, in ethanol-induced gastric lesions in mice, Journal of Ethnopharmacology, v. 127, n. 3, 725-730, 2010.
SOUZA, J.; FREITAS, Z. M. F.; STORPIRTIS, S.; Modelos in vitro para determinação da absorção de fármacos e previsão da relação dissolução/absorção. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, v. 43, n. 4, 515-527, 2007.
TAMBUNAN, U. S. F.; BRAMANTYA, N.; PARIKESIT, A. A. In silico modification of suberoylanilide hydroxamic acid (SAHA) as potential inhibitor for class II histone deacetylase (HDAC). BMC Bioinformatics 12, v. 13, n. 13, 2011.
VIETH, M.; SIEGEL, M. G.; HIGGS, R. E.; WATSON, I. A.; ROBERTSON, D. H.; SAVIN, K. A.; DURST, G. L.; HIPSKING, P. A. Characteristic physical properties and structural fragments of marketed oral drugs. Journal of Medicinal Chemistry, v. 47, n. 1, 224-232, 2004.