VARIABILIDADE QUÍMICA DO ÓLEO ESSENCIAL DA Piper obliquum Ruiz & Pav. DA ESTAÇÃO ECOLÓGICA CUNIÃ, PORTO VELHO-RO

ISBN 978-85-85905-23-1

Área

Produtos Naturais

Autores

Sneguete, I.F.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA) ; Aizzo, J.R.S. (SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE-RO) ; Manzatto, A.G. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA) ; Sampaio, A.F. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA) ; Azevedo, M.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA)

Resumo

A Piper obliquum Ruiz & Pav. coletada na ESEC Cuniã, Porto Velho, Rondônia, foi estudada quanto a variabilidade química do óleo essencial, em cinco períodos durante um ano (chuva versus seca). A extração do óleo essencial foi realizada por hidrodestilação, sendo analisado por CG-EM. Foram identificadas 43 substâncias, entre terpenos e fenilpropanóides, sendo alfa-pineno, canfeno e beta-pineno os componentes majoritário, onde o período chuvoso, entre fevereiro e maio apresentou maior concentração destes três componentes. A análise de agrupamento hierárquico, apresentaram a formação de grupos distintos para os períodos estudados. A sazonalidade é um dos fatores que influenciam no metabolismo secundário das plantas, afetando a composição dos compostos químicos.

Palavras chaves

Piperaceae; variação sazonal; óleo essencial

Introdução

A região amazônica possui cerca de 60 mil espécies de plantas e destas são estimadas 10 mil com princípios ativos. A biodiversidade desta flora oferece um potencial econômico para as comunidades locais (BRASIL, 2008). Maia e Andrade (2009) ao analisar 12 famílias de plantas da região Amazônica, revelou a Piperaceae como a mais promissora, por ser rica em substâncias de valor comercial. A espécie Piper obliquum está inclusa neste táxon, dentro do gênero Piper L. Os óleos essenciais, são ricos em substâncias ativas e apresentam valor na medicina tradicional, o que pode contribuir, para renda de comunidades da Amazônia. Este tipo de estudos podem representar o uso seguro e sustentável das riquezas naturais (YUNCKER, 1972). O conhecimento da influência de fatores ambientais para a variação das substâncias químicas dos óleos essenciais é um dos aspectos biológicos necessários para a exploração comercial sustentável (GOBBO-NETO & LOPES, 2006). O estudo sazonal da P. obliquum, na ESEC Cuniã, abrangendo cinco período em um ano, foi importante para se conhecer a dinâmica natural da espécie naquele ambiente. Além disso, o estudo pode esclarecer que exploração responsável é possível, pela valorização dos recursos disponíveis, já que o óleo essencial das folhas pode ser uma das opções de renda para as populações rurais, quando executada de forma coerente. A análise química dos compostos presentes no óleo essencial da planta, apresentou substâncias de interesse comercial e o melhor período de coleta para espécimes que estejam localizados em ambientes com características semelhantes ao do presente estudo, além de corroborar com a necessidade da conservação de espécimes florestais.

Material e métodos

A área de amostragem na ESEC Cuniã faz parte de um ponto amostral de uma grade completa de um sítio de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD)-(25 km²), sendo distribuída de forma que permite inventários rápidos, que compõem um sítio de pesquisa (MAGNUSSON, et. al., 2005). A coleta foi realizada na grade cuja coordenada é S08º05'49.435" W063º27'44.696". As folhas foram coletadas nos meses de outubro e novembro de 2011, fevereiro, maio e agosto de 2012. O material botânico foi identificado no Instituto de Pesquisa Jardim Botânico do Rio de Janeiro pela Dr. Elsie Franklin Guimarães. O óleo essencial foi extraído das folhas e talos (1,0 kg) por hidrodestilação, em extrator de Clevenger. A análise foi realizada por (CG-MS), no aparelho da marca SHIMADZU CG-14B, equipado com coluna LM-5 (30mx0,25mmx0,3µm). O programa de temperatura utilizada para a coluna foi: 40°C (8 min) de 150°C até 2°C/min, seguida por um aumento de 10°C/min até 280°C (15 min). A temperatura do injetor foi de 250°C e do detector FID 310°C, o gás de arraste foi o He (1 mL/min). O volume de injeção foi de 0,2 mL dos óleos dividido na proporção de 1:40. A interpretação dos dados foi realizada através de técnicas de análises multivariadas, para verificar a divergência das porcentagens de cada substância nos diferentes períodos. Foi utilizada a técnica hierárquica de agrupamento aglomerativa com a intenção de classificar as amostras em diversas etapas de forma hierárquica, verificando o grau de dissimilaridade entre as substâncias do óleo essencial de cada coleta (VALENTIM, 2000).

Resultado e discussão

Os constituintes do óleo essencial da P. obliquum foram identificados por comparação dos espectros de massa e calculados índice de retenção linear (RI) com os dados descritos na literatura (ADAMS, 1995), evidenciado a presença de monoterpenos e sesquiterpenos (oxigenados e hidrocarbonetos), e um fenilpropanóide (metil-eugenol) em baixa concentração (2,3%), que identificado apenas no mês de agosto. Ressaltando, que os monoterpenos hidrocarbonetos apresentaram maiores concentrações (Tab. 1). O óleo essencial de P. obliquum apresentou quantidades crescentes da concentração dos compostos identificados (92,61%; 93,2%; 95,93%; 99,11%) até o período de maio, já no mês de agosto ocorreu um decréscimo (92%). Segundo Bergo et al (2005) o período chuvoso favorece o rendimento dos óleos essenciais. A análise de agrupamento demonstra que houve variabilidade química das concentrações dos compostos nos diferentes períodos, que parecem estar relacionadas aos fatores abióticos (chuva versus seca) dos períodos de outubro e novembro de 2011, fevereiro, maio e agosto de 2012, o que evidencia a influência sazonal nos compostos predominantes de P. obliquum (Figura 1). O grupo formado pelas amostras dos períodos de fevereiro e maio é o que possui mais características em comum. Nestes períodos há a presença dos mesmos compostos, onde oito destas apresentaram um padrão de variação semelhante, com menor teor no mês de fevereiro e um aumento na concentração no mês de maio. A maior diferença está entre os períodos de fevereiro e agosto (0,269%), meses cujos fatores abióticos (chuva X seca) são opostos. Os meses de outubro (0,185%), novembro (0, 181%), e agosto, se divide em 2 classes, pois existe uma distância significativa entre eles em relação a agosto.

Figura 1: Dendograma da classificação por CAH



TABELA 1: Composição Química do Monoterpenos

Monoterpenos hidrocarbonetos da Piper obliquum nos cinco meses estudados.

Conclusões

Os compostos presentes no óleo essencial da P. obliquum que compreende os meses de Out e Nov (2011), Fev e Mai (2012) pertencem à classe dos terpenos. A análise de agrupamento demonstra que houve variabilidade química das concentrações dos compostos nos diferentes períodos, chuva versus seca. O maior rendimento dos compostos majoritários foi no período chuvoso, onde o sistema hídrico pode ter influenciado o aumento da produtividade dos metabólitos secundários. A variabilidade química de P. obliquum enfatiza a sazonalidade como fator chave na variação dos compostos químicos encontrados.

Agradecimentos

FAPERO - Fundação Rondônia de Amparo ao Desenvolvimento das Ações Científicas e Tecnológicas e à Pesquisa do Estado de Rondônia.

Referências

ADAMS, R.P. Identification of essencial oil components by gas chromatography/quadrupole mass spectroscopy. Illinois, Allured Pub. Corporation, 1995.
BRASIL, PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Plano da Amazônia Sustentável: diretrizes para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia. Brasília: MMA, 2008.
BERGO, L.C.; MENDONÇA, H.A.; SILVA, M.R. Efeito da época e frequência de corte de pimenta longa (Piper hispidinervum C.DC.) no rendimento de óleo essencial. Acta Amazônica, 35(2): 111-117, 2005.
GOBBO-NETO, L.; LOPES, N.P. Plantas Medicinais: Fatores de Influência no Conteúdo de Metabólitos Secundários. Química Nova, 30 (2): 374, 2007.
MAIA, J.G.S.; ANDRADE, E.H.A. Database of the Amazon Aromatic Plants and Their Essential Oils. Quimíca Nova, 32, (3): 595, 2009.
YUNCKER, T.G.; A Contribution to the Flora of Honduras. Botanical Series, Vol. XVII, nº4, Fiels Museum of Natural History, 1938.
MAGNUSSON, W.E.; LIMA, A.P.; LUIZÃO, R.; COSTA, F.R.C.; CASTILHO, C.V.; KINUPP, V.F. RAPELD: uma modificação do método de Gentry para inventários de biodiversidade em sítios para pesquisa ecológica de longa duração. Biota Neotropica, 5(2): 1-6, 2005.
VALENTIM, J.L. Ecologia Númerica: Uma Introdução à Análise multivariada de dados ecológicos. Editora Interciência, Rio de Janeiro, 2000.

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