Investigação Sobre a Relevância da Experimentação com Materiais Alternativos no Ensino de Química: Uma Abordagem do Conteúdo Funções Inorgânicas na Primeira Série do Ensino Médio.
ISBN 978-85-85905-23-1
Área
Ensino de Química
Autores
Gomes, D.N.S. (IFMA) ; Lima, E.C. (IFMA)
Resumo
Diversas estratégias de ensino têm sido discutidas entre acadêmicos e profissionais na tentativa de promover uma aprendizagem significativa nas aulas de Química. Em destaque está a atividade experimental, que proporciona uma maior interatividade entre o objeto de estudo e o aluno. Porém, a ausência do laboratório de ciências dificulta a realização de tal atividade. Diante dessa dificuldade, o presente trabalho propõe a realização de experimentos nas aulas de Química utilizando materiais alternativos, mais especificamente, experimentos dentro do conteúdo Funções Inorgânicas. Após a análise das atividades e questionários constatou-se que esse tipo de experimento se configura uma importante ferramenta para o ensino de Química, possibilitando uma aprendizagem significativa.
Palavras chaves
Atividade Experimental; Materiais Alternativos; Aprendizagem Significativ
Introdução
O Brasil enfrenta diversos problemas educacionais de ordem social, política e econômica. O estado do Maranhão, por exemplo, possui o terceiro pior índice do país, no que se refere ao desempenho dos alunos na avaliação de ciências (INEP, 2016). Para que haja uma aprendizagem significativa nas aulas de Química, faz-se necessário a realização da atividade prática, que se constitui uma estratégia capaz de motivar o aluno a querer aprender. (MERAZZI; OAIGEN, 2008). Peruzzi e Fofonka (2013) evidenciam que aulas práticas “estimulam a curiosidade e o interesse de alunos, permitindo que se envolvam em investigações científicas, ampliem a capacidade de resolver problemas, compreender conceitos básicos e desenvolver habilidades". Porém, a ausência do laboratório é um dos principais fatores apontados pelos professores para a não realização de experimentos nas aulas de Química (QUEIROZ, 2004). Diante de tal dificuldade, cabe ao professor buscar alternativas que possam reverter ou modificar essa realidade, salienta Wanderley (2005). Ataide e Silva (2011) apontam para a realização de uma atividade prática sem a necessidade da utilização de um laboratório completo, para os autores, “a atividade prática se tornará mais significativa se o aluno a realizar utilizando materiais que estão ao seu alcance no dia-a-dia”. Viviani e Costa (2010) mostram que os materiais utilizados em experimentos podem ser de baixo custo e de fácil aquisição, podendo ser conseguidos em farmácias, sucatas, ou no ambiente domiciliar. Nesta perspectiva, o presente trabalho buscou analisar a relevância destes experimentos para o ensino e aprendizagem de Química , trazendo sugestões de experimentos realizados com materiais alternativos referentes ao conteúdo “Funções Inorgânicas” da 1ª série.
Material e métodos
A escola-campo da pesquisa foi o Centro de Ensino Neuza de Carvalho Bastos, localizado na cidade de Santa Inês, no estado do Maranhão. A pesquisa foi desenvolvida com 21 alunos, na faixa etária de 14 a 16 anos, matriculados na 1ª série do Ensino Médio na referida escola-campo. Foram aplicados em sala de aula com os alunos, experimentos químicos com materiais alternativos contemplando o conteúdo Funções Inorgânicas. Os experimentos foram desenvolvidos em conjunto com as aulas teóricas, direcionando os alunos a fazerem uma conexão entre teoria e prática, a fim de obter-se uma aprendizagem significativa. Após cada experimento foi aplicada uma atividade com o objetivo de fixar os conceitos estabelecidos na aula expositiva, bem como discutir as observações e sintetizar as hipóteses levantadas durante a realização da atividade experimental. Todos os materiais utilizados na realização dos experimentos foram selecionados através de consulta bibliográfica, escolhendo preferencialmente aqueles cujos materiais pudessem ser adquiridos no comércio local, em farmácias ou sucatas. A escolha de materiais alternativos evidenciou a possibilidade de se trabalhar a Química de forma prática sem fazer-se necessário o uso do laboratório. Os experimentos são referentes ao conteúdo Funções Inorgânicas, são eles: experimento 01: “Ácido ou Básico?”; experimento 02: “Acidez Estomacal: Reação entre um Sal e um Ácido”; experimento 03: “Óxidos Ácidos e Óxidos Básicos”; experimento 04: “Os Óxidos e a Chuva Ácida. Foram analisadas as atividades realizadas após cada experimento e a partir das respostas dos alunos foram criados gráficos de caráter comparativo entre os erros e os acertos dos alunos, que juntamente à análise do questionário aplicado, serviram de base para a discussão.
Resultado e discussão
No experimento 01 mais de 75% dos alunos identificaram o caráter
ácido/básico de substâncias do seu dia-a-dia, observando a cor assumida pelo
indicador natural de beterraba quando em contato com as soluções de ácido
clorídrico e hidróxido de sódio. Já no experimento 02, os alunos levantaram
hipóteses para explicar o porquê da bexiga ter inflado quando colocado
bicarbonato de sódio em contato com ácido clorídrico. Mais de 90% dos alunos
apontaram para a liberação de gás carbônico, produto da reação. O mesmo
objetivo foi trabalhado de forma contextualizada no contexto da sensação de
azia. Mais de 65% dos alunos apontaram que a eructação provocada pela
ingestão de bicarbonato de sódio se deve à liberação de gás carbônico. No
experimento 03 foi proposto soprar na solução de hidróxido de cálcio até a
mudança de coloração de rósea para incolor e questionado o porquê do
fenômeno. Mais de 70% dos alunos apontaram para a reação de neutralização
que ocorre entre a solução básica e o gás expirado, de caráter ácido. No
experimento 04 os alunos observaram como ocorre a acidificação da água da
chuva, através da reação entre o gás resultante da queima do enxofre e a
solução de hidróxido de sódio. Mais de 85% dos alunos alcançaram o objetivo
proposto (fig 01). Guimarães (2009) afirma que a experimentação gera
questionamentos que estimulam o aluno à investigação, desenvolvendo a
capacidade de pesquisar respostas para o problema gerado, influenciando na
aprendizagem. Questionados se os experimentos despertaram seu interesse pela
disciplina e auxiliaram na aprendizagem, os alunos responderam positivamente
(fig 02) acentuando a relevância dessa ferramenta. Quanto a isso Merazzi e
Oiagen (2008) afirmam que os experimentos favorecem a aprendizagem porque
tornam o ensino mais interessante.
Analisar porque a solução de hidróxido de cálcio mudou sua coloração quando em contato com o gás resultante da queima do enxofre
Os experimentos realizados em sala de aula despertaram o seu interesse pelo conteúdo e pela disciplina?
Conclusões
A experimentação tem um significado amplo para a construção do conhecimento, indo além da simples comprovação de teorias ou desejo de motivar os alunos a querer aprender. É importante ressaltar que o presente trabalho não sugere um método milagroso, mas um possível recurso utilizado para conduzir o aluno a pensar e a refletir sobre um problema proposto, fazendo-o ser capaz de levantar hipóteses e discutir sobre assuntos do seu cotidiano. Conclui-se que a experimentação é de fundamental importância no ensino de Química, pois possibilita meios para uma aprendizagem significativa.
Agradecimentos
Referências
ATAIDE, M. C. E. S.; SILVA, B. V. C. As Metodologias de Ensino de Ciências: Contribuições da Experimentação e da História e Filosofia da Ciência. HOLOS, Ano 27, Vol 4.
GUIMARÃES, C. C. Experimentação no Ensino de Química: Caminhos e Descaminhos Rumo à Aprendizagem Significativa. Química Nova na Escola, vol. 31, nº 3, Agosto, 2009.
MERAZZI, D. W.; OIAGEN, E. R. Atividades Práticas em Ciências no Cotidiano: Valorizando os Conhecimentos Prévios na Educação de Jovens e Adultos. Experiências em Ensino de Ciências. Vol. 03, 2008.
PERUZZI, S. L.; FOFONKA, L. A Importância da Aula Prática para a Construção Significativa do Conhecimento: A Visão dos Professores das Ciências Da Natureza. Porto Alegre, 2013.
QUEIROZ, S. L. Do fazer ao compreender ciências: reflexões sobre o aprendizado de alunos de iniciação científica em química. Ciência & Educação, Bauru, v. 10, n. 1, 2004.
VIVIANI, D.; COSTA, A. Práticas de Ensino de Ciências Biológicas. Centro Universitário Leonardo da Vinci – Indaial, Grupo UNIASSELVI, 2010.
WANDERLEY, K. A.; SOUZA, D. J P.; BARROS, L. A. O.; SANTOS, A; SILVA, P. B.; SOUZA, A. M. A. Pra Gostar de Química: Um Estudo das Motivações e Interesses dos Alunos da 8ª Série do Ensino Fundamental sobre Química. 2005.