TRABALHANDO INCLUSÃO NAS AULAS DE QUÍMICA

ISBN 978-85-85905-23-1

Área

Ensino de Química

Autores

Santos, M.C.M.S. (CONEXÃO AQUARELA) ; Cruz, J.L.S. (IFAP) ; Andrade, E.M.B. (IFAP)

Resumo

O artigo relata uma experiência inclusiva, realizada com alunas do nono ano do ensino fundamental na Escola Conexão Aquarela no estado do Amapá, a experiência consistiu em um direcionamento com objetivo de trabalhar a educação cidadã e a inclusão através da construção de ferramentas inclusivas na disciplina de química voltadas para o deficiente visual, além de atuar como um exercício fixador sobre o conteúdo com as alunas, pois as mesmas precisavam ter domínio do conteúdo para a construção das ferramentas, a atividade trouxe um debate significativo para a sala de aula sobre a importância de fomentar a consciência inclusiva das alunas, após a construção das ferramentas foi aplicado um questionário com perguntas abertas sobre o processo de inclusão. As alunas concordaram sobre a importância

Palavras chaves

inclusão; ferramentas ; educação cidadã

Introdução

Segundo o Estatuto da pessoa com deficiência, Lei n° 13.146 (BRASIL, 2015, Art.27) é direito fundamental o acesso à educação, a fim de garantir e manter um nível adequado de aprendizagem, de acordo com suas capacidades, interesses e necessidades, assim com é dever do estado, familiar e social assegurar educação de qualidade ao deficiente. Além disso é responsabilidade do Estado asseguras em todos os níveis e modalidades de ensino: a convivência escolar num sistema educacional inclusivo. No entanto as leis que versam sobre a inclusão do deficiente para o ensino são recentes, deixando evidente um histórico excludente na educação para esse público. Rogalski (2010) afirma que até a década de 50, não se dialogava sobre Educação especial, apenas a partir de 1970, que a educação Especial passou a ser discutida, mas não fazendo referencias a educação inclusiva. Os centros especializados de ensino foram um grande avanço para as pessoas com deficiência em uma época que pouco se considerava a capacidade cognitiva deste público, porém o isolamento desses centros do convívio em sociedade fomentou o desenvolvimento do preconceito e como consequência a exclusão do deficiente. Atualmente a educação do deficiente se dá prioritariamente no ensino regular, visto que além da formação curricular, é necessário que os alunos vivenciem o papel social da escola. Partindo dessas informações um importante questionamento que surge é: como garantir um sistema educativo inclusivo em um país que historicamente estabeleceu a educação especial como algo distante do ensino regular? Um país que cria centros onde o público alvo é somente a pessoa com deficiência constrói um maior entrave para que o deficiente seja de fato incluso na sociedade. Algumas iniciativas do Estado estão presentes por meio de leis que garantem o direito a matricula de alunos deficientes no ensino regular. Mas apenas matricular o aluno não garante a inclusão deste, é preciso trabalhar a conscientização inclusiva com os demais alunos, solidificando a importância da construção de um ambiente inclusivo dentro e fora do espaço escolar. Pensando nisso foi realizada uma atividade inclusiva com alunos do nono ano do ensino fundamental na escola Conexão Aquarela, que promoveu um debate sobre as necessidades que o deficiente visual encontra ao iniciar o estudo da disciplina de química.

Material e métodos

O trabalho foi realizado com alunas do nono ano de ensino na escola Conexão Aquarela, a proposta foi feita as alunas, após o término do assunto (tipos de misturas.). O conteúdo foi ministrado de forma tradicional e durante o término das atividades fixadoras foi feito um questionamento aos alunos, sobre como a pessoa com deficiência visual aprenderia aquela disciplina, mais especificamente aquele tema trabalhado, após algumas sugestões das alunas com base em seus conhecimentos prévios que se resumiram, ao braile, trabalhamos alguns pontos sobre as necessidades de aprendizagem da pessoa com deficiência visual e posteriormente foi direcionada a atividade. As alunas precisariam construir os gráficos de cada tipo de misturas levando em consideração a sugestão dada por elas, o tato, para que um deficiente visual pudesse igualmente compreender as informações presentes em cada gráfico. Foram construídos quatro gráficos com materiais alternativos buscando acrescentar um relevo diferenciado a cada informação nova no gráfico. Após a construção dos gráficos as alunas responderam a um questionário com quatro perguntas abertas que possuíam como objetivo indagar sobre a importância da inclusão no ambiente escolar, assim como, inquerir sobre seu ponto de vista no que tange a participação discente no processo de inclusão na escola. Os gráficos construídos pelas alunas foram levados a uma servidora do Instituto Federal do Amapá que é deficiente visual e atua no NAPNE da instituição para avaliação do trabalho das alunas. Para realizar a coleta de dados realizamos uma entrevista com a servidora do instituto, gravando a conversação de sua avaliação de cada gráfico apresentado. Com o intuito de proteger a identidade dos alunos participantes das atividades chamaremos aqui de A1 e A2 para os participantes.

Resultado e discussão

Após a construção das ferramentas as alunas responderam um questionário sobre o posicionamento das discentes quanto ao processo de inclusão, as perguntas do questionário possuíam caráter aberto. A primeira pergunta direcionada às alunas foi: Q 1 Que atitudes se fazem necessárias para que se possa ser construída uma escola inclusiva? As duas alunas afirmaram concordar que a inclusão é importante na escola e declararam que palestras, atividades em grupos sobre o tema e também com os funcionários é uma forma de se construir uma escola inclusiva. A1 Palestras e atividades em grupos A2 Trabalhos em grupos voltados para inclusão na sala de aula e também com palestras para os funcionários da escola.. Quando questionado aos alunos quanto a importância do discente no processo de inclusão do aluno com deficiência. O aluno A1 respondeu que a participação do educando no processo de inclusão é importantíssima e que a construção das ferramentas na qual elas tiveram efetiva participação foi uma maneira de perceber isso, enquanto o aluno A2 que o processo de inclusão só acontece quando os alunos e a coordenação da escola está envolvida com esse processo. Contudo parte-se da ideia de que para ter uma educação que atenda a todos sem distinção, é muito importante o esforço institucional de formação e preparo dos docentes e seus servidores, porém sabemos que a realidade brasileira apresenta algumas falhas quanto a isso, apresentando certas dificuldades na inclusão deste aluno, seja por problemas na estrutura da escola ou mesmo das metodologias adotadas pelos docentes. As dificuldades e os desafios postos pela inclusão escolar são das mais variadas ordens e estão ligados à organização da nossa sociedade, aos valores que nela prevalecem, às prioridades definidas pelas políticas públicas, aos meios efetivamente disponibilizados para a implantação dessas políticas, aos fatores relacionados à formação de docentes, às questões de infra-estrutura e aos problemas vinculados à especificidade das diferentes condições que afetam o desempenho acadêmico e a formação pessoal de sujeitos que apresentam deficiências ou outras características que os introduzem na categoria de alunos especiais (GÓES e LAPLANE, 2007, p. 02 apud LOPES, E. T; SANTOS, A.N., 2017, p. 184-185). Pensando nessas dificuldades enfrentadas, e levando em consideração que o ensino da química traz poucos relatos de propostas de atividades voltadas a deficientes visuais, MOL, et al (2011) apud REGIANE; FABIO, et al (2013), “ajuda em seus trabalhos descrevendo ações e estratégias metodológicas químicas, que podem ser inseridas na educação como adjunto da inclusão do aluno com deficiência visual”, possibilitando ao docente novas formas e estratégias metodológicas para incluir aquele aluno. A educação inclusiva é uma forma de aumentar a participação de todos os alunos no ambiente escolar no que se refere ao princípio básico da educação. Este princípio consiste no reconhecimento pelas escolas nas diversas necessidades dos alunos e a elas respondam, assegurando-lhes uma educação de qualidade, que lhes proporcione aprendizagem por meio de currículo apropriado e promova modificações organizacionais, estratégias de ensino e uso de recursos didáticos. A última pergunta do questionário aplicado aos discentes, indagava se as escolas onde as mesmas estudavam era em sua opinião uma escola inclusiva, 100% dos alunos afirmou que sim, pois era frequente observar trabalhos voltados para esse tema na escola. Porém 33% dos alunos afirmaram que o excesso de proteção dada a pessoa com deficiência é um fator que o exclui, apontando alguns aspectos contraditórios entre o falar e o se comportar de maneira inclusiva. Finalizado os gráficos, foram levados a servidora do Ifap, em que esta finalizou opinando com algumas sugestões para o melhoramento do mesmo. O primeiro gráfico apresentado à servidora foi o gráfico de substancias puras. Foi explicado à servidora que a ferramenta tratava-se de um gráfico e nesse momento ela fez relação com o plano cartesiano após a apresentação da ferramenta, em seguida foi feito o primeiro questionamento a servidora P1 Você conseguiu compreender as informações presente na ferramenta? R1 Sim, mas só após a sua orientação, consegui fazer relação com o plano cartesiano e senti falta de uma legenda. P2 Você acredita que a ferramenta pode ser usada no ensino de química na sala de aula com um aluno com deficiência visual? R2 Sim, mas teria que passar por umas correções acredito que poderia ser um pouco maior para que as legendas (quando inseridas) não confundam os alunos.. Quando o segundo gráfico foi apresentado (gráfico sobre as misturas azeotrópicas) e as mesmas perguntas foram direcionadas à servidora, e fez uma observação quanto ao material utilizado. Obs 1 Alguns pedaços estão soltando da ferramenta é preciso colar ou escolher algo que fique firme. Após a apresentação de todos os quatro gráficos foi direcionada uma ultima pergunta a servidora. P3 O que você achou das ferramentas? R3 Muito boas conseguem cumprir sua função em conjunto com orientação, mas se as legendas estivessem presentes seriam ainda melhores. Partindo-se das observações da servidora em relação aos gráficos, obteve-se um rendimento eficiente ao material adaptado para inclusão em sala de aula, porém por ser tratar de um material simples precisa-se de uma adaptação bem mais eficiente

construindo gráficos inclusivos



gráficos de tipos de misturas



Conclusões

As leis norteadoras da educação Brasileira atualmente, fomentam a importância da educação básica para a formação da cidadania, assim como o aprimoramento do discente destacando a formação ética além do desenvolvimento da autonomia intelectual e o pensamento crítico. Para que isso ocorra é necessário mais que o “despejar” de conteúdos esperando tão somente que os alunos realizem a assimilação dos mesmos. Educar para cidadania exige a retirada da área de conforto e a proposta de debates com os discentes. Mas como fazer isso na disciplina de química? As recentes leis de inclusão evidenciam o quanto estamos atrasados nesse aspecto e trabalhar com os alunos propondo que estes construam ferramentas inclusivas pensando nas dificuldade dos deficientes visuais, faz com que estes alunos possam se colocar no lugar do outro, concebendo a compreensão de que a pessoa com deficiência, assim como eles, pode aprender, interagir e realizar as demais atividades que é exigida dos discentes nessa etapa, evidenciando que todos temos dificuldades em algum aspecto em maior ou menor grau, Trabalhar com os alunos essa prática é uma maneira de educar para a cidadania, com o enfoque na educação inclusiva na disciplina de química, visto que, na prática os alunos devem construir as ferramentas e para isso precisam internalizar o tema abordado de maneira sólida, quando o discente passa por todas as etapas da construção de conhecimento sua aprendizagem é muito mais significativa.

Agradecimentos

Referências

BRASIL. Decreto n° 13.146, de Julho de 2015. Institui a Lei Brasileira da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Diário oficial ,
LOPES, E. T.; SANTOS, A. N. Ensino de ciências para surdos numa perspectiva de inclusão escolar: um olhar sobre as publicações brasileiras no período entre 200 e 2015. Debates em educação.Vol. 9, n. 18, Mai./Ago. 2017.
GONÇALVES, F. P.; REGIANE, A. M.; et al. A educação inclusiva na formação de professores e no ensino de química: deficiência visual em debate. Química nova na escola. Vol. 35, n. 4, novembro, São Pulo. 2013, p. 264.
ROGALSKI, S. M. Histórico do surgimento da educação especial. Instituto de Desenvolvimento Educacional do Alto Uruguai – IDEAU. REI- Revista de Educação do IDEAU. Vol. 5 – Nº 12 - Julho - Dezembro 2010.

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