A utilização do debate como ferramenta na construção das abordagens sobre Aquecimento Global e Efeito Estufa

ISBN 978-85-85905-23-1

Área

Ensino de Química

Autores

Guimarães Batista Gomes, W. (IFBAIANO)

Resumo

As controvérsias acerca das causas do Aquecimento Global/Efeito Estufa, podem ser explorados de forma rica dentro do ambiente escolar, gerando debates que auxiliem na construção do conhecimento. Assim, foi proposto em uma turma de Técnico em Meio Ambiente, a realização de um debate acerca das causas do aquecimento global. Para analisar os resultados, foram aplicados questionários antes e depois do debate, a fim de avaliar a percepção quanto aos temas discutidos, bem como a utilização do debate no processo de ensino. Os resultados obtidos foram organizados em gráficos, quadros e categorias, quando pertinente. Chegou-se a conclusão de que o debate proporcionou uma mudança de percepção dos alunos a respeito do tema, devendo ser tratado como ponto de partida para as discussões mais profundas.

Palavras chaves

DEBATE; AQUECIMENTO GLOBAL; ENSINO

Introdução

Um dos temas de grande importância dentro do mundo científico hoje e que deve ser largamente debatido se dá quando o assunto abordado se refere ao aquecimento global e efeito estufa. De acordo com Baird e Cann (2011) os termos efeito estufa e aquecimento global, de uso comum, significam simplesmente que espera-se que a média global das temperaturas do ar aumente em vários graus, como resultado do aumento do dióxido de carbono e de outros gases estufa na atmosfera. Entretanto, ao aprofundar no assunto é que surgem as controvérsias, pois se para alguns o homem é o principal responsável pelo aquecimento global, para outros a Terra passa por nada mais que ciclos de aquecimento e resfriamento, sendo a influência do homem mínima, quando se comparada aos efeitos naturais. Vieira e Bazzo (2007) resumem as percepções acerca das causas do aquecimento global em duas hipóteses que devem ser debatidas: Hipótese 1: O aquecimento global é real e causado pela atividade humana (queima de combustíveis fósseis – carvão, petróleo e gás, queima das florestas tropicais, etc.) Por isso, os governos devem tomar medidas urgentes para salvar o mundo da catástrofe. Hipótese 2 – O aquecimento global é real, mas não se tem certeza sobre as causas. Pode se tratar de atividade solar e parte de um ciclo de aquecimento e esfriamento das temperaturas na Terra. Nesse caso, não há nada que governos possam fazer a respeito. Dessa perspectiva, o professor, que ao lecionar sobre tal assunto, se vê na necessidade de abordar o mesmo tema sob óticas controversas, de modo a propiciar aos seus alunos um olhar diversificado, dando-os a capacidade de entender os diferentes pontos de vista e que devem ser inerentes ao fazer/pensar/ensinar ciência. Valorizar as controvérsias científicas, é abordado por diversos pesquisadores como Reis e Galvão (2005) e Freitas et al. (2006) como sendo de suma importância, uma vez que a não inclusão destes temas divergentes pode gerar nos alunos a transmissão de ideias distorcidas, além de apresentarem uma visão da ciência diferente do que realmente acontece, sendo vista como algo neutro, não controversa e desapegada de interesses. Além disso, com o crescimento cada vez maior das tecnologias e acesso a internet, as possibilidades de difusão de conhecimento se expandem gradualmente, sendo necessário que os indivíduos tenham a capacidade de reconhecer maior ou menor credibilidade das informações absorvidas. Uma das plataformas muito acessadas pelos jovens hoje é o Youtube, e nela, diversos debates já aconteceram acerca do tema a respeito do principal causador do aquecimento global/efeito estufa. Um dos debates com maior número de visualizações, aconteceu entre dois divulgadores científicos de bastante alcance na internet e, até o momento, a soma dos vídeos que compõem todo o debate conta com mais de 3,4 milhões de visualizações, o que apresenta dois aspectos: 1 – como as novas plataformas podem ser excelentes ferramentas para divulgação científica, bem como a necessidade de uma capacidade de discernimento acerca dessas informações e 2 – o grande interesse demonstrado pelo público, uma vez que houve mais de 3 milhões de visualizações sobre um debate de um tema científico. De acordo com Altarugio, Diniz e Locatelli (2011), a realização de debates em sala de aula oferece aos alunos a oportunidade de exporem suas ideias prévias a respeito de fenômenos e conceitos científicos num ambiente estimulante. Com isso, quando se define qual o entendimento a ser adotado como debate, é possível descrever que é “uma atividade social discursiva que se realiza pela justificação de pontos de vista e consideração de perspectivas contrárias (contra-argumento) com o objetivo último de promover mudanças nas representações dos participantes sobre o tema discutido”. (De Chiaro e Leitão, p. 350, 2005) Deste modo, com base nessas informações, este trabalho se justifica especialmente pela necessidade de propiciar aos jovens estudantes um contato direto com um confrontamento de ideias, mesmo que simulado, mostrando a importância de não tomar determinadas informações como verdades absolutas, mas sim leva-las para discussão, buscando mostrar que o debate pode ser uma excelente ferramenta de crescimento na construção do conhecimento. Para tanto, o objetivo do trabalho se fundamenta em analisar a percepção inicial de uma turma do Curso Técnico em Meio Ambiente do Instituto Federal Baiano a respeito dos temas Aquecimento Global e Efeito Estufa e notar, posteriormente, a percepção desta turma com a realização do debate, buscando identificar de que modo este confronto de ideias influenciou tanto na compreensão dos temas, quanto na forma de pensar a respeito de assuntos científicos. Realizou-se assim, uma divisão em dois grupos com visões antagônicas, um defendendo as causas antrópicas como principais causadoras do aquecimento global/efeito estufa e outro apresentando informações e argumentos que mostrem que na verdade as causas são de origem natural.

Material e métodos

O referido trabalho foi desenvolvido no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano, Campus Itaberaba durante o segundo semestre do Curso Técnico em Meio Ambiente, na disciplina de Química Ambiental. Ao todo, participaram do debate os 11 alunos presentes na turma, que foram divididos em dois grupos, chamados de Grupo A e Grupo B. Os grupos defendiam argumentos de diferentes perspectivas, conforme mostrado no quadro abaixo: Grupo A: Formado pelos representantes dos defensores da ação antrópica no aumento do aquecimento global (6 membros). Grupo B: Formado pelos representantes dos defensores da minimização da ação antrópica no aumento do aquecimento global (5 membros). Todo o processo do debate começou com a indicação de leituras e vídeos para os alunos se ambientarem ao tema de acordo com a sua perspectiva, entretanto, os grupos tinham livre acesso as informações do grupo contrário. Aliado as recomendações de leitura e vídeos, os alunos tiveram total autonomia para buscar informações que achassem pertinentes, complementando os seus argumentos para o debate. Para esse momento de levantamento bibliográfico e pesquisa, foram destinadas 4 semanas, em que os alunos se dedicaram exclusivamente a buscar informações, sendo todo o processo de pesquisa realizado fora do horário regular de aula. De posse de toda argumentação, o debate foi dividido em quatro momentos: • Momento 1: Argumentação – Aqui, cada um dos grupos fez uma apresentação dos seus argumentos defendendo sua perspectiva, com duração de até 25 minutos. O objetivo era embasar seu ponto de vista e expor o porquê da sua perspectiva ser a mais “adequada”. • Momento 2: Perguntas – Durante a apresentação dos grupos, aquele que estivesse assistindo deveria formular no mínimo três perguntas para realizar ao grupo contrário após as apresentações. • Momento 3: Réplica – Após as perguntas serem realizadas e respondidas, houve um momento de réplica, onde o grupo que perguntou tinha espaço para contra argumentar, estando neste momento o debate livre a todos. • Momento 4: Conclusões – Por fim, houve um momento de conclusão, onde foi discutido as principais lições tiradas do debate. Para observar a percepção dos alunos sobre os temas de Aquecimento Global e Efeito Estufa, os alunos responderam a questionários investigativos antes e depois do debate, cada um dos questionários contava com questões que poderiam ser abertas ou fechadas. Além disso, os questionários visavam investigar também a percepção dos alunos sobre a realização de debates, bem como a influência das discussões para o crescimento dos mesmos. Os resultados obtidos com os questionários, e que serão aqui discutidos, foram analisados e tiveram suas respostas organizadas em gráficos, quadros ou categorias, quando pertinente.

Resultado e discussão

Os resultados obtidos, correspondem as respostas dadas pelos discentes aos questionários pré e pós debate. Conforme o tipo de pergunta, eles foram agrupados e organizados de acordo com o que se considera pertinente. 1 - Qual o seu entendimento sobre o tema em debate? Gráfico 1 – Entendimento sobre tema em debate. Ao observar o Gráfico 1, nota-se que a realização do debate, despertou nos alunos um aumento na confiança acerca de seu entendimento sobre o assunto. O que antes se dividia entre regular e bom, passou a ser visto majoritariamente como um bom conhecimento acerca do assunto, indo até o excelente. Entretanto, analisando as respostas posteriores, percebeu-se que o aumento no entendimento acerca dos assuntos se consolidou mais no aspecto de amplitude das informações do que em profundidade. 2 - Quais são as fontes em que você busca informações? Neste quesito, nota-se uma boa distribuição na busca por fontes de informação. Foram 11 opções assinaladas para Internet em geral, 6 para Documentários, 4 para Televisão e Artigos Científicos, 2 para Livros e 1 para Revistas. O destaque maior se dá para as pesquisas realizadas na internet. Assim como apontado na introdução, a internet é uma grande ferramenta de difusão de informações, seja na forma escrita, com blogs, sites, etc. ou mesmo em plataformas mais utilizadas atualmente como o Youtube. Entender esse processo evolutivo de mudanças na busca por informação, deve ser papel importante para os docentes. Seja para buscar extrair deste novo universo maiores possibilidades, seja para atentar os seus alunos aos riscos do consumo exagerado de informações que nem sempre podem ser tão confiáveis. Vale ressaltar, que nesta questão os alunos poderiam responder a mais de uma alternativa simultaneamente. 3 - Você já participou de um debate sobre as causas do aquecimento global /efeito estufa? SIM: 1 NÃO:10 Aqui, se por um lado autores como com Altarugio, Diniz e Locatelli (2011) sinalizam para a importância da realização dos debates, percebe-se que na prática essa oportunidade vem sendo perdida. O grande número de repostas negativas aponta para a necessidade do repensar o ensino de forma discutida, especialmente ao envolver temas controversos como o Aquecimento Global. Seria num primeiro momento, possível alegar desinteresse dos jovens para tais assuntos, mas quando novamente se recorre a introdução, é possível notar que mais de 3 milhões de visualizações foram alcançadas num debate na internet, rede composta em sua maioria por jovens e que possuem a livre escolha de consumirem qualquer conteúdo naquele ambiente. 4 - Você já havia ouvido falar na hipótese de que o Homem pode não ser o principal causador do Aquecimento Global? SIM: 8 NÃO: 3 Dentre as respostas fornecidas, as que justificavam o sim puderam ser organizadas em duas categorias: Categorização: Para o grupo de respostas SIM • Alunos que conheceram a hipótese dentro do ambiente escolar. • Alunos que conheceram a hipótese fora do ambiente escolar. 5 - Você considera que o homem é o grande responsável pelo Aquecimento Global? SIM: 5 NÃO: 5 NEUTRO: 1 A questão também exigia que os alunos apresentassem uma justificativa, deste modo, foi possível categorizar as respostas em: Categorização: Para o grupo de respostas SIM • Associa o homem a destruição direta do meio natural, seja por meio de queimadas, poluição, etc. • Associa a responsabilidade do homem a necessidade humana de expansão e produtividade, sendo a destruição uma consequência necessária ao progresso. Categorização: Para o grupo de respostas NÃO • Aponta que o homem não possui a capacidade de fazer uma interferência significativa, quando comparado aos efeitos naturais. • Considera que o homem contribui sim para o aquecimento global, porém, sua interferência não é a principal causa para o Aquecimento Global. 6 - Se durante o debate os seus colegas lhe convencerem do oposta àquilo que você defende, você estaria disposto a mudar de opinião sobre o assunto? SIM: 8 NÃO: 3 Categorização: Para o grupo de respostas SIM • Apenas a apresentação de fatos e argumentos concretos, seriam suficientes para a mudança de opinião. • Não mudaria completamente de opinião, mas passaria a ter consciência da diversidade de possibilidades. Categorização: Para o grupo de respostas NÃO • Confia nos conhecimentos adquiridos ao longo da vida e possui opiniões formadas 7 - Você acredita que apenas um debate seria suficiente para mudar a sua opinião sobre o assunto? SIM: 1 NÃO: 10 Categorização: Para o grupo de resposta NÃO • O assunto é muito complexo para que se mude de opinião em apenas um debate. • Apenas no debate é difícil distinguir o que são fatos daquilo que é opinião. É possível notar que ao relacionar as três últimas questões, há uma semelhança nas quantidades entre aqueles que aceitariam a coexistência das hipóteses com a possibilidade de mudança de opinião. Entretanto, quando confrontados a assumir que apenas o debate seria suficiente para faze-los mudar de opinião, os discentes se contradizem e apontam na direção oposta, ressaltando o fato de que apenas um debate seria muito pouco. Assim, essas questões representam a visão dos discentes anterior ao debate. Posteriormente, outro questionário foi aplicado visando observar se houve mudanças, tanto na percepção dos alunos sobre o assunto, quanto na sua própria percepção acerca de temas controversos. Os resultados obtidos são apresentados logo abaixo: 1 - De 0 a 10, em que nível você classificaria a sua mudança de percepção acerca do tema debatido? Gráfico 2 – Nível de mudança na percepção dos alunos acerca do tema debatido Quando se observa qual a mudança de percepção, é possível notar uma mudança no intuito da busca por mais informações, de entender que a controvérsia faz parte do crescimento educacional, conforme corrobora a questão posterior, apresentada a seguir: 2 - Você pretende buscar mais informações sobre o assunto futuramente? SIM: 11 NÃO: 0 3 - Sabendo que existem pelo menos duas versões sobre o tema, você acredita que um lado é mais divulgado que o outro? Porque? Categorização: Para grupo de respostas SIM • Possibilidade de influência e interesse da mídia; • Por questões políticas e financeiras; • Não se trata de posição política, cenários catastróficos geram mais visibilidade. Para além do tema central do debate, buscou-se abordar a questão das mídias, novas e antigas, como ferramenta de obtenção de informações. Neste sentido, o debate contribui com o despertar para o estar atento a todo momento sobre os tipos de informações que são veiculadas e absorvidas. 4 - Para você os colegas do grupo oposto ao seu apresentaram bons argumentos? SIM: 7 NÃO: 4 5 - Por fim, você considera ter mudado de opinião sobre o tema do debate? SIM: 3 NÃO: 8 Finalmente, mesmo 7 discentes reconhecendo que os colegas apresentaram bons argumentos ao defender seu ponto de vista, apenas 3 alegaram ter mudado de opinião sobre o tema. É válido ressaltar, que no questionário pré-debate, na questão 8, apenas 1 discente se mostrou disposto a mudar de opinião após a realização do debate. Isso mostra o grande poder de transformação que o debate de temas controversos pode ter e a urgente necessidade de práticas docentes que levem os discentes a refletirem sobre os temas estudados em sala de aula, podendo a todo momento repensar a construção de seu conhecimento.

Gráfico 1 – Entendimento sobre tema em debate.



Gráfico 2 – Nível de mudança na percepção dos alunos acerca do tema de



Conclusões

Com isso, a utilização do debate como ferramenta para construção do conhecimento acerca de temas controversos, se mostra uma opção viável principalmente para introduzir os alunos ao conflito de ideias. A necessidade de argumentação para discussão com os colegas, faz com que os discentes busquem mais informações para estarem preparados para o debate. Além disso, a refutação de suas ideias gera um momento posterior de mais busca por conhecimento a fim de verificar as informações que o refutaram. Fica claro também, que a utilização do debate em sala de aula, num primeiro momento expande a amplitude de informações e conhecimento dos alunos, mas que, para adentrar em níveis mais profundos de discussão, é necessário que este seja um processo contínuo de construções, busca por informações e reconstruções do conhecimento. Destaca-se ainda, que como sugestão final, os discentes apontaram que o debate poderia ocorrer juntamente com outras disciplinas do curso.

Agradecimentos

Agradeço a turma do 2º semestre em Meio Ambiente pela colaboração e participação ativa em todo processo.

Referências

ALTARUGIO, M. H.; DINIZ, M. L.; LOCATELLI, S. W. O debate como estratégia em aulas de Química. Química Nova na Escola, vol. 32, nº 1, fevereiro 2010. Disponível em http://www.qnesc.sbq.org.br/edicao.php?idEdicao=15. Acesso em 14/08/2018.
BAIRD, C; CANN, M. Química Ambiental. 4 ed. Porto Alegre: Bookman, 2011.
DE CHIARO, S.; LEITÃO, S. O papel do professor na construção discursiva da argumentação em sala de aula. Psicologia: Reflexão e Crítica, v. 18, nº 3, set./dez., 2005.
FREITAS, D de; VILLANI, A.; ZUIN, V. G.; REIS, P.; OLIVEIRA, H. T. de. A natureza dos argumentos na análise de temas controversos: estudo de caso na formação de pós-graduandos numa abordagem CTS. In: III Colóquio Luso-Brasileiro sobre questões curriculares, 2006. Disponível em http://www.ufscar.br/ciecultura/textos.php. Acesso em 10/07/2018.
REIS, P.; GALVÃO, C. Controvérsias socio-científicas e prática pedagógica de jovens professores. Investigação em Ensino de Ciências, Instituto de Física, UFRGS, vol. 10, nº 2, junho 2005. Disponível em http://www.if.ufrgs.br/public/ensino/vol10/n2/v10_n2_a1.htm. Acesso em 09/07/2018.
VIEIRA, K. R. C. F.; BAZZO, W. A. Discussões acerca do Aquecimento Global: uma proposta CTS para abordar esse tema controverso em sala de aula. Ciência & Ensino, vol. 1, nº especial, 2007.

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