Experimentação no Ensino de Química para deficientes visuais
ISBN 978-85-85905-23-1
Área
Ensino de Química
Autores
Silva, C.M. (UFAM) ; Silva, A.T.O. (UFAM) ; Andrade, R.M. (UFAM) ; Santos, I.T. (UFAM) ; Brandão, E.G. (UFAM) ; Lemos, R.G. (UFAM) ; Mauricio, A.C. (UFAM)
Resumo
A inclusão social ainda é vista como um desafio para as escolas brasileiras, quando se trata da inclusão de pessoas com deficiência. Muitas escolas e professores não possuem capacitação/habilitação para atender a alunos com necessidades educacionais especiais, assim deixando de atender aos seus direitos legais. No ensino de Química, o desafio é maior, mas não difícil de ser vencido. Este trabalho foi realizado no Laboratório de Química Geral, no Instituto de Natureza e Cultura/UFAM, tendo com finalidade a proposta de experimentos de química para deficientes visuais (DVs) no Ensino Médio. Os experimentos foram realizados com alunos do curso, os quais tiveram a visão vedada para fins instrumentais. Os resultados se mostraram satisfatórios.
Palavras chaves
Inclusão socia; experimentos; química
Introdução
A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência dita que, “é dever do Estado, da família, da comunidade escolar e da sociedade assegurar educação de qualidade à pessoa com deficiência, colocando-a a salvo de toda forma de violência, negligência e discriminação” (Capítulo IV, Art. 27. Parágrafo único). Porém, mesmo com tantas leis empregadas ao país e as escolas, ainda a inclusão social é um desafio e as pessoas deficientes são excluídas da sociedade. A sociedade sempre inabilitou esses portadores, os privou de liberdade, pois os mesmos são julgados sem capacidade profissional. Essas pessoas muitas vezes são alvos de atitudes preconceituosas e ações impiedosas, pois é mais fácil para a sociedade prestar atenção nas aparências e impedimentos do que na capacidade das pessoas (MACIEL, 2000). Segundo Aranha (2004), “a escola inclusiva é, aquela que garante a qualidade de ensino educacional a cada um dos seus alunos reconhecendo e respeitando a diversidade e respondendo a cada um de acordo com suas potencialidades e necessidades”. Nesse contexto, o ensino de química, assim como outras ciências, se caracteriza como um desafio para os professores e para a escola, pois muitos não estão preparados para essa situação. O ensino da química, em algumas áreas, se mostra complexa, mas segundo Fernandes, Hussein e Domingues (2016), o papel do educador é de mediar o conhecimento, reconhecendo a individualidade de cada aluno e agir em prol de superar os obstáculos que se apresentam, modificando a sua realidade e melhorando as suas condições. Neste trabalho, foi realizado dois experimentos adaptados para deficientes visuais como uma proposta de como a experimentação pode ser aplicada as pessoas com algum tipo de deficiência, em relação ao ensino de química.
Material e métodos
Para o experimento do 2° ano intitulado “Reações Endotérmicas e Exotérmicas”, dois alunos foram vendados para fazer o papel de deficientes visuais (DVs), e em seguida foi explicado à eles os conceitos dos dois tipos de reações que seriam feitos no experimento, logo após, preparou-se a reação Endotérmica usando vinagre branco e fermento químico, e em um tubo de ensaio colocou-se uma pequena quantidade de vinagre e adicionou-se com o auxílio de uma espátula um pouco de fermento químico. Em seguida preparou-se a reação Exotérmica usando soda cáustica e água, em um tubo de ensaio colocou-se uma quantidade de água e adicionou-se um pouco de soda caustica. No segundo experimento, “Produção de Geleca”, duas alunas também foram vendadas e foi explicado os conceitos das reações, ácidos, polímeros e monômeros, em relação ao experimento. Em seguida, utilizou-se dois béqueres de 100 ml, sendo colocados nas mãos das alunas para que elas pudessem sentir o objeto. Logo após, gotejou-se uma pequena quantidade de água boricada nas mãos das alunas, para sentirem o líquido, depois foi adicionado 20 ml de água boricada em um dos béqueres. Após isso, com uma colher colocou-se nas mãos das alunas um pouco de bicarbonato de sódio para que elas pudessem tocar no produto, e logo após, adicionou-se uma pequena quantidade de bicarbonato de sódio diretamente na água boricada e misturou-se com um bastão de vidro, formando bolhas, então aproximou-se o béquer nos ouvidos das alunas, para ouvirem o barulho da reação. Em seguida, colocou-se uma pequena quantidade de cola de isopor no outro béquer, seguido da adição de 6 pingos de corante alimentício da cor vermelha e foi misturado. Após alguns minutos, foi adicionado a mistura de água boricada com o bicarbonato na cola com o corante.
Resultado e discussão
No experimento do 2° ano, na reação endotérmica e exotérmica pode-se
observar que através do tato os alunos puderam identificar os dois tipos de
reação, através de perguntas orais feitas no momentos do experimento, como
por exemplo, “O que você sente?”, “Que tipo de reação você acha que é?”.
Perguntas feitas para as duas etapas das reações. Observou-se que ao tocar
no tubo de ensaio com a reação acontecendo, os alunos puderam identificar
rapidamente os tipos de reação, relacionando os conceitos que foram
explicados com o tipo de temperatura que tocaram no recipiente, respondendo
às perguntas de forma clara e simples, por exemplo, o A1: “Está frio! É uma
reação endotérmica.”, e o A2: “Tá quente! É exotérmica.
No segundo experimento “Produção da geleca”, observou-se que as alunas
estavam compreendendo todo o procedimento do experimento, ao usar seus
outros sentidos como o tato, a audição e olfato, então DVs podem compreender
qualquer coisa de um jeito diferente. As alunas fizeram perguntas
relacionadas as coisas que sentiam e ouviam durante o experimento, onde cada
processo era explicado. No final do experimento a “geleca” foi colocada nas
mãos das alunas.
Nota-se que a prática quando alicerçada com a explicação teórica mostra-se
como uma alternativa eficiente para o ensino de química por meio da
experimentação para ensinar química para alunos com deficiência visual, pois
eles podem utilizar os sensores corpóreos para auxiliá-los na compreensão.
Isso está de acordo com Fernandes, Hussein e Domingues (2016) ao dizer que
para vencermos os desafios do ensino e aprendizagem na disciplina da química
com alunos com necessidades especiais pode-se usar a experimentação como
forma didática de ensinar e aprender com enfoque multissensorial.
Conclusões
Compreende-se que através de experimentos adaptados, alunos com deficiência visuais podem aprender e compreender conteúdos ensinados na química, entretanto o professor e escola devem estar preparados para que as necessidades desses alunos sejam atendidas. Assim como nós, os deficientes visuais, também tem seus outros sentidos, e são essas habilidades que o professor de ciências deve explorar, pois as habilidades motoras e intelectuais de todo aluno devem ser trabalhadas. Desta forma, a inclusão desses alunos se torna menos complicada, respeitando e atendendo o direito deles.
Agradecimentos
Referências
ARANHA, M. S. F. Educação inclusiva: volume 3 - a escola. Brasília - Brasil: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2004.
BRASIL. Lei n° 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a lei brasileira de inclusão da pessoa com deficiência (estatuto da pessoa com deficiência). Câmara dos deputados- Brasília: câmara dos deputados. Edições câmara, 2015.
FERNANDES, T. C., HUSSEIN, F. R., & DOMINGUES, R. C. Ensino de química para deficientes visuais: a importância da experimentação num enfoque multissensorial. Quím. nova esc. Vol. 39, N° 2. São Paulo-SP, BR. maio, 2017. p. 195-203.
MACIEL, M. R. C. Portadores de deficiência a questão da inclusão social. São Paulo em perspectiva, 14(2), 2000. p. 51-56.