A CONCEPÇÃO DE ALUNOS MUNDURUKU ACERCA DO MODELO ATÔMICO DE RUTHERFORD
ISBN 978-85-85905-23-1
Área
Ensino de Química
Autores
Diniz, V.W.B. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ)
Resumo
A educação indígena tem enfrentados vários desafios, entre eles o ensino de química, que é uma ciência abstrata. Para investigar a concepção dos alunos Munduruku de uma aldeia no Pará, sobre o modelo atômico de Rutherford, foi realizado a confecção de representações usando sementes encontradas na própria aldeia onde as aulas acontecem. Os alunos construíram modelos que reproduzem a proposta de Rutherford para a estrutura da matéria e também se mostraram bastante estimulados com a utilização de materiais naturais e que são facilmente encontrados na natureza. Os materiais do cotidiano dos indígenas se mostraram como um fator de grande importância para a proposta em questão
Palavras chaves
Indígena; Modelo Atômico; Rutherford
Introdução
A educação indígena tem encarnado um papel crucial na formação dos indígenas das mais diversas etnias. A (re)afirmação cultural e tradicional encontra um grande aliado na escola indígena, pois esta, juntamente com vivência da comunidade, torna-se importante espaço onde o conhecimento tradicional pode se manter vivo e atualizado. E, este conhecimento, pode ser atrelado ao conhecimento científico para que juntos possam contribuir para a melhor visão e compreensão do mundo que nos cerca. A escola indígena deve se adequar e considerar a realidade do seu povo para melhor contribuir para a divulgação dos conhecimentos (SILVA; RAMOS, 2018). Nas aulas de Química, é de fundamental importância se conhecer a evolução dos modelos atômicos para melhor entender a estrutura da matéria, sendo assim, entre os modelos estudados encontramos o modelo atômico de Rutherford, o qual é comumente relacionado com o “sistema solar”, uma analogia utilizada para tentar facilitar a compreensão dos alunos acerca deste modelo. Neste trabalho, investigou-se a concepção que alunos indígenas da etnia Munduruku apresentavam sobre o modelo atômico de Rutherford, e também foi proposto a construção de representações a partir de sementes para que posteriormente esses modelos possam ser utilizados em aulas nas aldeias Munduruku.
Material e métodos
O trabalho foi desenvolvido em uma aldeia Munduruku, localizada no município de Jacareacanga-PA, durante as aulas do curso de graduação em Licenciatura Intercultural Indígena através da Universidade do Estado do Pará – UEPA. A turma é composta por alunos de diversas aldeias da etnia Munduruku que se encontram em uma aldeia que sedia as aulas para a formação de professores indígenas. Esta atividade foi desenvolvida durante a disciplina “Saberes Indígenas e Fundamentos de Química”, onde em um primeiro momento foi apresentado a evolução dos modelos atômicos e foi comentado as analogias de cada modelo. Em um segundo momento foi proposto à turma que representassem um modelo atômico para um átomo especificamente. A turma foi dividida em grupos de três alunos e cada agrupo sorteou um átomo específico, que foi representado em sua estrutura contendo prótons, nêutrons e elétrons com sementes coletas na própria aldeia. Em um terceiro momento as atividades foram socializadas para a toda a turma, onde pode-se apresentar diversos representações de átomos, segundo o modelo de Rutherford.
Resultado e discussão
Para apresentar os modelos atômicos os alunos utilizaram papel, cola e
sementes diversas. As sementes foram coladas no papel nas regiões
especificas (núcleo e eletrosfera). Foram utilizados três tipos de sementes
diferentes, uma para cada partícula (próton, nêutron e elétron), em cada
modelo havia uma legenda onde se relacionava a partícula com o tipo de
semente escolhida.
Foi observado que os alunos apresentaram uma concepção muito correta
do modelo atômico de Rutherford para a estrutura da matéria. A disposição
das partículas se apresentaram de forma adequada e a escolha de sementes de
cores e formatos bem distintos, chamava a atenção para o que se tratava de
partículas diferentes. A utilização de materiais do dia-a-dia dos alunos,
encontrados na própria aldeia e sem custos despertou a motivação de produção
material didático com recursos naturais. Quando se envolve os materiais, os
recursos, as técnicas, os saberes, os fazeres e a cultura indígena no
processo de ensino-aprendizagem, traz-se o conhecimento científico para mais
perto da vivência do indígena, isso o desperta para a curiosidade e o
estimula para a produção de mais materiais e modelos.
Ao serem indagados sobre a experiência de produção do material com recursos
da sua cultura (sementes), eles demonstraram estar muito satisfeitos e
estimulados pois é “com as coisas da terra que dá pra dar aula”, relatou um
dos entrevistados. É importante se buscar um entendimento sobre os saberes e
fazeres indígenas é reconhecer que eles possuem um conhecimento cientifico
que é válido para a formação (FILHO; SILVA, 2018)
Conclusões
A atividade proposta mostrou o bom entendimento dos alunos Munduruku sobre o modelo atômico de Rutherford. As regiões e as partículas foram todas bem representadas e a socialização mostrou a motivação em desenvolver um modelo atômico de representação de um átomo que poderá ser utilizado futuramente (ou confeccionado outros) para as aulas. O uso dos materiais comuns encontrados na própria aldeia foi um fator que mostrou ser de grande importância pois corrobora com a ideia de que os recursos do cotidiano podem e devem ser utilizados nas aulas.
Agradecimentos
Referências
SILVA, S. F.; RAMOS, L. S. O. “Toré” e o ensino de geografia as músicas indígenas na etnoeducação Potiguara da Paraíba. Revista Eletrônica da Graduação/Pós-Graduação em Educação UFG/REJ. N.2. Volume 14. 2018.
FILHO, J. S.; SILVA, A. A. Educação Indígena e a Produção de Conhecimento Escolar Apyãwa. Coinspiração – Revista de Professores que ensinam Matemática. N.1. Volume 1. 2018.