Uso de Tecnologias do Cotidiano como Recurso Pedagógico para o Ensino de Ciências Naturais para Crianças de 6 a 11 Anos
ISBN 978-85-85905-23-1
Área
Ensino de Química
Autores
Fischer, E.K. (UEMS) ; Cruz, N.A. (UEMS) ; Barbosa, G.V. (UEMS) ; Hisano, C. (UEMS) ; Cavalheiro, A.A. (UEMS)
Resumo
O desenvolvimento cognitivo do ser humano começa na terceira infância, que vai dos seis anos aos onze anos, em média. É onde se inicia a construção da autoestima, que está ligada ao sentimento de pertencimento. Assim, ensinar ciências na terceira infância garante o direito da criança a evoluir mais rapidamente em seu processo educacional, mas nesta fase inicial do “ensinar ciências” é necessária a transformação e transposição didática do conhecimento científico antes de transmiti-lo às crianças. Ao final da apresentação de conceitos, vídeos motivacionais e experimentação por parte das crianças, o processo termina com a entrega de uma cartilha ilustrada e uma camiseta com os dizeres “Cientista Mirim”, buscando contribuir para a construção do sentimento de pertencimento nas crianças.
Palavras chaves
Luz Infravermelha; Ciências; Pertencimento
Introdução
A importância do ensino de ciências na formação escolar é inquestionável e é reconhecida em toda a história da educação e pelos mais renomados pesquisadores da área (RUFFMAN et al., 1993; FUMAGALLI, 1998; GALVÃO et al, 2006). É através da ciência que compreendemos o mundo em que vivemos e nos sentimos com algum controle sobre nosso próprio destino como indivíduo em uma sociedade complexa e em constante evolução tecnológica (CARVALHO, 2002; VIECHENESKI & CARLETTO, 2013). A ciência e a tecnologia estão presentes na vida em sociedade e surgem com frequência cada vez maior, tomando espaço na vida das pessoas muito mais do que em um passado recente. O gosto pelas ciências é iniciado ainda na infância, como parte de um sentimento de pertencimento que precisa ser construído. Estes aspectos impõem que o ensino de ciências comece a ocorrer já no primeiro ciclo do ensino fundamental e siga aprofundando progressivamente na formação escolar até o fim do ensino médio (FRIZZO & MARIN, 1989; DUCATTI-SILVA, 2005; SILVA, 2006). A experimentação e a observação de fenômenos são as formas pedagógicas mais adequadas para o ensino de ciências, apesar de pouco praticadas nas aulas regulares do ensino fundamental. A ausência destas abordagens corretas já no primeiro ciclo do ensino fundamental retira do aluno a oportunidade de uma aprendizagem dinâmica e diversificada necessária ao seu crescimento cognitivo e emocional (CHASSOT, 2003, ZANON, 2005). Deste modo, o objetivo deste trabalho foi elaborar e executar uma aula experimental usando tecnologias do nosso cotidiano para transmitir conhecimento prático sobre luzes invisíveis ao olho humano, em especial a luz infravermelha, facilmente detectável através de câmeras especiais de segurança.
Material e métodos
Para a condução da aula experimental em salas de aulas do primeiro ciclo do ensino fundamental, foram selecionados alguns equipamentos que envolvem a luz infravermelha em seu princípio de funcionamento. Foram selecionados um termômetro infravermelho, controles remotos de aparelhos eletrônicos comuns e uma câmera de infravermelho usada para monitoramento e segurança de estabelecimentos comerciais. A execução deste projeto contou com o apoio do Laboratório Interdisciplinar de Materiais Avançados de Naviraí (LIMAN) e JUNINHO INFORMÁTICA, Naviraí-MS. Este trabalho é parte de um grande projeto, que incluiu diversas abordagens didáticas para a compreensão do tema proposto: Luzes Invisíveis no Nosso Cotidiano e estão relatadas em outros dois trabalhos do nosso grupo, intitulados: “O Despertar Científico Induzido pela Experimentação Participativa no Primeiro Ciclo do Ensino Fundamental” e “O Sentimento de Pertencimento como Ação Motivadora para o Aprendizado de Ciências na Terceira Infância”. Por isso, esta aula experimental se segue com explanações sobre animais capazes de ver ou sentir as luzes invisíveis para o ser humano. No caso da luz infravermelha, as cobras de hábito noturno são capazes de detectar o calor através das fossetas loreais. Este contexto foi inserido de modo lúdico em uma cartilha ilustrada distribuída ao final das apresentações, que traz um diálogo entre uma cobra, de nome Coralina, e um passarinho, de nome Cirilo, capaz de ver a luz ultravioleta. Centenas de cópias desta cartilha foram produzidas com auxílio financeiro do Instituto TIM em parceria com o CNPq e foram distribuídas juntamente com camisetas do projeto para os alunos participantes do projeto, executado em escolas de ensino fundamental de municípios da microrregião de Naviraí-MS.
Resultado e discussão
Toda a atividade foi registrada através de fotos e vídeos e um mosaico de
imagens mostrando como os alunos participam dos experimentos utilizando os
aparelhos envolvendo a luz infravermelha é mostrado na Figura 1. Ao se
observarem através das câmeras de infravermelho, percebendo o contraste que suas
imagens adquirem em comparação com a observada na luz branca habitual, eles
demonstram diferentes tipos de comportamento e pedem a explicação do fenômeno.
Eles retornam inúmeras vezes à frente da câmera e se sentem parte do processo
investigativo, observando diferentes partes de seu próprio corpo e comparando
com o colega. Comportamentos similares são observados quando eles se submetem a
leitura da temperatura da pele através de um termômetro infravermelho. A
transmissão do conhecimento através de experimentação e associado a uma forma
lúdica, como a narrativa exibida na cartilha ilustrada, apresentou uma eficácia
notável, observada pelo interesse na leitura logo depois da distribuição da
cartilha. Houve também grande retenção cognitiva, com as crianças comentando
como cada personagem era de fato na vida real, segundo suas próprias percepções
do cotidiano, em especial, a cobra Coralina. Na Figura 2 é mostrada a foto de
grupo de crianças da Escola Estadual Antônio Fernandes, no município de Naviraí-
MS, após a aula experimental, com as crianças já vestindo as camisetas do
projeto e de posse de suas cópias das cartilhas. A entrega da camiseta com os
dizeres “Cientista Mirim” teve o propósito de contribuir para a construção do
sentimento de pertencimento, que é reforçado pela posse da cartilha para sua
guarda e leitura posterior, permitindo que o assunto abordado nesta atividade
continue presente nas suas memórias e reforce a cognição sobre o assunto.
Mosaico de imagens mostrando como os alunos participaram dos experimentos envolvendo dispositivos com detecção de luz infravermelha.
Foto de um dos grupos de crianças ao final da apresentação realizada na Escola Estadual Antônio Fernandes, no município de Naviraí-MS.
Conclusões
Esta aula experimental é apenas uma das vertentes de um grande projeto elaborado para contribuir com a popularização da prática científica para crianças, abordando o uso de tecnologias do cotidiano e oportunizando a experimentação participativa. Nesta parte do projeto, foi executado um planejamento de como transmitir conhecimentos envolvendo a luz infravermelha e como contextualizar com experimentos e outros conhecimentos do cotidiano da criança. Toda a abordagem é finalizada com a entrega de cartilhas e camisetas, para contribuir com a construção do sentimento de pertencimento nas crianças.
Agradecimentos
Os autores agradecem ao INSTITUTO TIM, CNPq, FUNDECT e CAPES pelo apoio financeiro e bolsas concedidas.
Referências
CARVALHO, J. M. Cidadania no Brasil: Um longo caminho. 3ª ed. Rio de Janeiro-RJ, Editora Civilização Brasileira, 2002.
CHASSOT, A. Alfabetização científica: uma possibilidade para a inclusão social. Revista Brasileira de Educação, V. 22, p. 89-100, 2003.
DUCATTI-SILVA, K.C. A formação no curso de Pedagogia para o ensino de ciências nas séries iniciais. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Educação, Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Marília, SP, 2005.
FRIZZO, M. N.; MARIN, E. B. O ensino de ciências nas séries iniciais. Editora Unijuí, 1989.
FUMAGALLI, L. O Ensino das Ciências Naturais ao nível fundamental da educação formal: argumentos a seu favor. Em H. Weissman (Org.) Didáctica das Ciências Naturais. Contribuições e reflexões, pp. 13-29, Porto Alegre: ARTMED, 1998.
GALVÃO, C., REIS, P., FREIRE, A., OLIVEIRA, T. Avaliação de Competências em Ciências: Sugestões para professores dos ensinos básico e secundário. ASA Editores, Lisboa, Portugal, 2006.
RUFFMAN, T., PERNER, J., OLSON, D. R., Doherty, M. Reflecting on scientific thinking: children's understanding of the hypothesis-evidence relation. Child Development. V. 64; p. 1617-1636, 1993.
SILVA, A.F.A. Ensino e aprendizagem de Ciências nas séries iniciais: concepções de um grupo de professoras em formação. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação Interunidades em Ensino de Ciências, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, 2006.
VIECHENESKI, J. P.; CARLETTO, M. Por que e para quê ensinar ciências para crianças. Revista Brasileira de Ensino de Ciência e Tecnologia. Vol 6, n. 2, 2013.
ZANON, D.A.V. Ensinar e aprender Ciências no ensino fundamental com atividades investigativas: enfoque no projeto ABC na Educação Científica Mão na Massa. Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, SP, 2005.