O conhecimento científico e tradicional de plantas medicinais: alternativa didática para o estudo de funções orgânicas

ISBN 978-85-85905-23-1

Área

Ensino de Química

Autores

Matos, D.C. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS - UEA) ; Gama, C.S. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS - UEA) ; Souza, L.T. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS - UEA) ; Conceição, E.F. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS - UEA) ; Pereira, D.S. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS - UEA)

Resumo

O presente trabalho utiliza o conhecimento de plantas medicinais como alternativa didática para contextualizar o ensino de funções orgânicas. Para tanto, utilizou-se de entrevista com uma detentora desse conhecimento e como resultado foi eleito pelos alunos a preparação de um xarope. A partir de uma pesquisa bibliográfica sobre as plantas medicinais utilizadas na preparação do xarope, os alunos constataram que elas apresentam substâncias como o flavonóide astibilina, ácido oleanólico. (H. courbaril), ácido orgânico e um éster (sementes da C.ferrea) , mangiferina (M. indica) e iridóides (H. sucuuba), as quais contém várias funções orgânicas e que conferem ao xarope propriedade farmacológicas diversas, como anti- inflamatórias, miorrelaxante, antiespasmódicas, anticoagulante e antioxidante.

Palavras chaves

Plantas medicinais; contextualização; funções orgânicas

Introdução

Atualmente o ensino de química está mais relacionado com fórmulas, às quais logo são esquecidas, do que com sua importância sociocultural. Estas fórmulas quando estimulada de forma correta e mediada pela contextualização de temas ligados à vida do aluno, se constitui em uma aprendizagem dos conteúdos de química de forma significativa. Um importante eixo a ser contextualizado no ensino de química é o conhecimento tradicional. No documento desenvolvido por Diegues e colaboradores (2000, p.30), o conhecimento tradicional é definido como o conjunto de saberes e saber-fazer a respeito do mundo natural, sobrenatural, transmitido oralmente de geração em geração. Neste eixo, um tema que merece destaque é o uso de plantas medicinais, isso porque são as biomoléculas existentes nas plantas as responsáveis pelas atividades farmacológicas, sendo muitas delas utilizadas na formulação de medicamentos ou servindo de base para a síntese de novos fármacos (VIEGAS Jr., BOLZANI, BARREIRO, 2006). Sendo assim, o ensino de química se revela como uma alternativa promissora capaz de contribuir com o fortalecimento dos conhecimentos tradicionais de plantas medicinais, acrescentando a eles o conhecimento científico. Isso é possível porque o preparo dos remédios envolve vários conteúdos de química estudados em sala de aula pelos alunos, entre eles podemos destacar a filtração, solubilidade, concentração e equilíbrio iônico. O presente trabalho apresenta uma alternativa didática para trabalhar funções orgânicas a partir de biomoléculas. Para tanto, utilizou o conhecimento tradicional da preparação de um xarope indicado para tosse que usa as partes de quatro plantas medicinais em sua preparação: semente de jucá, cascas de jutaí, mangueira e sucuuba.

Material e métodos

O presente projeto foi aplicado na Escola Estadual Tomaszinho Meireles (GM- 3), situado na cidade de Parintins-AM, envolvendo 36 alunos do ensino médio. Na primeira fase do projeto foi realizada uma entrevista com a Dona Celita de 87 anos, uma conhecedora de plantas medicinais. A entrevista serviu para identificar um remédio que seja interessante para os alunos conhecerem. Uma vez identificado o remédio e as partes das plantas utilizadas na sua elaboração, deu-se início a segunda fase. Esta fase consistiu em uma pesquisa bibliográfica em artigos científicos a fim de identificar os metabólitos secundários presentes, bem como suas atividades farmacológicas. Na terceira fase foi aplicado um questionário aos alunos para sondar o conhecimento sobre o assunto. Na quarta fase foi ministrada uma aula mostrando aos alunos, a relação entre o saber tradicional e o saber científico, a partir das moléculas presentes nas plantas pesquisadas, e dando ênfase às funções orgânicas nelas presente.

Resultado e discussão

Na entrevista com a Dona Celita, foi identificado como sendo de interesse dos alunos um xarope para tosse elaborado com cascas de mangueira, de jutaízeiro e de sucuuba e de semente de jucá. A pesquisa bibliográfica, mostrou que as plantas citadas, apresentam biomoléculas com propriedades farmacológicas compatíveis com a indicação do xarope. Segundo Bezerra (2013), o flavonóide astibilina (1) e o ácido oleanólico (2), foram isolados do súber de Hymenaea courbaril (jutaizeiro) e apresentaram propriedades miorrelaxante, antioxidante e antiflamatória. Segundo Magalhães e colaboradores (2014), a semente da Caelsapinea ferrea (Jucá) um ácido orgânico (3) e um éster (4). Sani e colaboradores (2015), investigando a casca da Mangifera indica (Manga), encontraram o 1,2-benzenodiol (5), a vitamina E (6), a 2,4- dimetilbenzoquinolina (7) e um éster metílico (8). Os pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) relataram que a mangiferina (9), apresenta ação preventiva contra a asma (MARINHO, 2014). Garrido et. al (2004), sugere que a planta apresenta efeitos antiinflamatórios e antinociceptivos. Pires et. al. (2016), diz que as folhas da Himatanthus sucuuba (Sucuuba), são utilizadas contra constipação, dores e irritação do estômago. Barreto e colaboradores (2007) isolaram os iridóides (10) e (11), tanto da casca como do látex da planta sucuuba. As substâncias pesquisadas e utilizadas para o estudo das funções orgânicas estão na figura 1. Através do questionário verificou-se que o conhecimento sobre plantas medicinais está concentrado nos familiares mais idosos dos alunos. Os resultados são mostrados no gráfico 1.

Figura 1 – Substâncias presentes nas plantas que constituem o xarope



Gráfico 1 – Distribuição percentual do conhecimento de plantas medicin



Conclusões

A contextualização dos conteúdos de química tem se mostrado uma metodologia de ensino capaz de envolver o aluno, levando- o à uma nova perspectiva do conhecimento, onde ele se torna um agente ativo no processo de ensino- aprendizagem. O estudo de funções orgânicas realizado no presente trabalho, utilizando o conhecimento de plantas medicinais como meio de contextualizar o conteúdo estudado se mostrou uma alternativa didática capaz de levar o conhecimento do estudante a transpor os muros da escola e criar conexões com o meio sócio-cultural.

Agradecimentos

Universidade do Estado do Amazona (UEA), Escola Estadual Tomaszinho Meireles (GM-3) e um especial agradecimento à Dona Celita.

Referências

BEZERRA, G. P.. Estudo Farmacoquímico Bioguiado pela Atividade Miorrelaxante do Extrato Etanólico das Cascas do Caule de Hymeneae courbaril L. (JATOBÁ). Universidade Federal do Ceará – Faculdade de farmácia, 2013.
DIEGUES, A. C.; ARRUDA, R. S.; SILVA, V. C. F.; FIGOLS, F. A. B..; ANDRADE, D.. Os Saberes Tradicionais e a Biodiversidade no Brasil. Universidade de São Paulo, 2000. p. 189.
GARRIDO, G.; GONZÁLEZ, D.; LEMUS, Y.; GARCIA, D.; LODEIRO, L.; QUINTERO, G.; DELPORTE, C.; NÚÑEZ-SÉLLES, A.J.; DELGADO, R. In vivo and in vitro anti-inflammatory activity of Mangifera indica L. extract (VIMANG®). Pharmacological Research, London, v. 50, p. 143-149, 2004.
HOEFFEL, J. L. M.; GONÇALVES, N. M.; FADINI, A. A. B.; SEIXAS, S. R. C.. Conhecimento tradicional e uso de plantas medicinais nas apas’s Cantareira/SP e Fernão Dias/MG. Revista VITAS, Nº 1, setembro de 2011.
MAGALHÃES, I.L., PINTO, F.C.L., FILHO, R.B., FERREIRA, D.A., DE LEMOS, T.L.G.; MONTE, F.J.Q.. Chemical Constituents from Caesalpinia ferrea: Identification and 1H and 13C Resonance Assignment. American Journal of Analytical Chemistry, 5, 688-694, 2014.
MARINHO, I. Culinária para asma. Observatório Juventude, Ciência e Tecnologia. Public. <www.juventudect.fiocruz.br/de-olho-na-ciencia/culinaria-para-asma> acessado em 11/06/2018.
SANI, H. L.; MALAMI, I.; HASSAN, S. W.; ALHASSAN, A. M.; HALILU, M. E.; MUHAMMAD, A. Effects of standardized stem bark extract of Mangifera indica L. in wistar rats with 2,4-dinitrophenylhydrazine-induced haemolytic anaemia. Pharmacognosy Journal. 2015, 7(2): 89-96.
VIEGAS. JR. C., BOLZANI, V. S.; BARREIRO, E. J.. Os produtos naturais e a química medicinal moderna. Química Nova, v. 29, n. 2, p. 326-337, 2006.
PIRES, L. C.; PEREIRA, M. F. S.; MARTINS, S. T.; TÓMAZ, L. A. D.; FERREIRA, F. A. G.. Etnologia e atividade biológica da planta medicinal Himatanthus sucuuba: Planta da Amazônia Himatanthus sucuuba tem o potencial de uso fitoterápico. Scientia Prima, VOL. 04, N° 04 - JULHO, 2016.
BARRETO, et al. Ácido 15-desmetilisoplumierídeo, um novo iridóide isolado das cascas de Plumeria rubra e do látex de himatanthus sucuuba. Quimica Nova, vol. 30, no. 5, 1133-1135, 2007.

Patrocinadores

CapesUFMA PSIU Lui Água Mineral FAPEMA CFQ CRQ 11 ASTRO 34 CAMISETA FEITA DE PET

Apoio

IFMA

Realização

ABQ