O jogo Quimicando e Educação Inclusiva: montando moléculas com alunos portadores de necessidades especiais.

ISBN 978-85-85905-23-1

Área

Ensino de Química

Autores

Costa, I.M. (UFPA-CAMPUS ANANINDEUA-FACULDADE DE QUÍMICA) ; Santos, J.K. (UFPA-CAMPUS ANANINDEUA-FACULDADE DE QUÍMICA)

Resumo

Este trabalho apresenta a aplicação de um recurso didático denominado “Quimicando”. Ele foi elaborado para o ensino da ciência química, com perspectiva da inclusão escolar de alunos com necessidades especiais. Para tal, adaptou-se o jogo de blocos de montar associando-o à composição das substâncias. A aplicação da atividade ocorreu com alunos do ensino médio que frequentavam a sala de atendimento educacional especializado de uma escola pública. Como resultado, observou-se que os estudantes realizaram analogia do jogo com assuntos como: composição da matéria, substâncias, ligações químicas, além de auxiliá-los com Libras e Braille presentes no jogo. Conclui-se que o jogo contribuiu para o aprendizado do aluno de várias maneiras: conhecimento científico, letramento, desenvolvimento cognitivo e motor.

Palavras chaves

Ensino de ciências; Educação inclusiva; Ludicidade

Introdução

Em nível educacional, a disciplina de Química assume um dos primeiros lugares quando se trata de assuntos complexos e abstratos de serem ensinados e aprendidos. Considerando tal realidade, a pretensão do trabalho é apresentar a aplicação de um jogo didático para abordar a composição química das substâncias, enfatizando a constituição das moléculas. Para tal, adaptou-se um jogo de blocos de montar para alunos portadores de necessidades especiais. Neste sentido, a projeção de recursos didáticos no ensino está fundamentada na perspectiva interacionista de Piaget (1950), o qual a educação deve ser de maneira progressiva de acordo com o desenvolvimento físico e psicológico do indivíduo. Levando em consideração que nem todas as crianças têm o mesmo tempo cronológico de aprendizagem. Para Campos, Bortolo e Felício (2003), aliar as atividades lúdicas aos aspectos cognitivos, é uma excelente estratégia para o ensino/aprendizado dos temas abstratos e de difícil compreensão, favorecendo assim a motivação interna, raciocínio, argumentação e a interação entre alunos e professores. Para Vigotsky (1989), quando a criança brinca, ela reproduz nas atividades adultas sua cultura, ensaiando os futuros papéis e valores, podendo desenvolver o seu intelecto. A partir do jogo a criança tenderá a adquirir estímulos, habilidades e algumas atitudes necessárias à sua vida social.

Material e métodos

O recurso didático elaborado foi inspirado no brinquedo educativo denominado de “Caminhão de encaixe feliz”. Ele tem várias peças multiformes de figuras geométricas e números. A partir dele iniciou a construção do primeiro protótipo (Figura 1), o segundo protótipo em fase de testes foi apresentado. A aplicação do jogo foi feita na sala de Atendimento Educacional Especializado (AEE), (Figura 2). Na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Regina Coeli Souza Silva, localizada em Ananindeua-PA. “[...] o conhecimento da Tecnologia Assistiva e os serviços de apoio tornaram-se fundamentais para o processo de inclusão escolar.” (PELOSI; NUNES, 2009 apud SOUZA, 2015). Para a obtenção das informações, utilizou-se a gravação das atividades desenvolvidas com os estudantes no ano de 2018 para o acompanhamento dos testes. Os responsáveis dos alunos autorizaram a participação na pesquisa e assinaram o termo de consentimento. O Quimania (Figura 1) é um jogo de encaixe de bolas (associação com átomos), cada conjunto deles poderia formar determinadas moléculas. Neste caso, iniciamos com a composição das moléculas: da água, do sal de cozinha e do açúcar. No momento do encaixe nos respectivos espaços acendem uma led acionando o som possibilitado pelo circuito interno aberto em série. Indicando que formou as moléculas supracitadas. Em todas constam o Braille com a datilologia associativa átomos, os nomes dos elementos e símbolos químicos. Dentro destas perspectivas houve aplicação do jogo, uma caixa de compensado com abertura frontal, na parte superior o espaço destinado para as esferas que representaram os elementos químicos de substâncias compostas. Estas eram formadas por dois elementos diferentes na linha superior e na inferior três, no qual eram encaixadas as formas geométricas

Resultado e discussão

Inicialmente, de maneira expositiva, foram realizadas exposições teóricas e dialogadas pautadas no questionamento sobre as principais substâncias que os alunos conheciam. Havia 32 alunos com necessidades especiais matriculados no regular, apenas 18 têm a segunda matrícula para atendimento especial. Destes, apenas 10 frequentam regularmente a sala de AEE, conseguimos o termo assinado de 5 responsáveis, então, este é o quantitativo de alunos que tecemos as considerações sobre o recurso em questão. As atividades de aplicação foram realizadas individualmente, pois, as crianças necessitam de atenção e tempo em função de suas limitações e contextos. Os sujeitos tinham deficiências como: microcefalia, síndrome de down, visual, auditiva entre outros Muitos deles tiveram dificuldade para expressar-se, pois ainda estão aprendendo a ter contato com outras pessoas além dos familiares. No mais são carinhosos e dedicados. A atividade mostrou-se útil no letramento dos alunos ajudando-os a interagir e conhecer sobre a composição das substâncias de seu cotidiano: água, sal e açúcar. Desse modo, utilizar recursos adequados ao indivíduo ajudando-os no desempenho, construção do conhecimento e autonomia como cidadãos como: acessibilidade, tecnologia assistiva e materiais didáticos e paradidáticos adaptados. Os quais foram comparados aos estudos dos seguintes autores: Galvão Filho (2009), Manzini (2014), Pacheco (2014), Batista (2015).

Figura 1: 1º protótipo “Quimania” e “Caminhão”

Fonte: autora 2017

Figura 2 quimicando na sala AEE

fonte: autora 2018

Conclusões

Aplicado em escola pública com alunos de necessidades especiais, o "Quimicando” foi bem aceito pelos alunos e professores como recurso didático tanto no processo de ensino e de aprendizagem como na interação social. A sala do AEE é um espaço acolhedor e dispõe de vários recursos, mas percebeu- se que alguns pais por preconceito privam seus filhos de tal acolhimento. Conclui-se que as políticas públicas são importantes, mas ação/acompanhamento dos pais/responsáveis é essencial para o desenvolvimento do educando. Isso refletiu na baixa frequência dos alunos nas atividades realizadas no espaço.

Agradecimentos

Agradecemos aos organizadores do CBQ por proporcionar apresentação do trabalho, à orientadora prof.ª Dr.ª Janes Kened, à E.E.E.F.M. Regina Coeli Souza Silva e ao AEE.

Referências

BATISTA, C. P. Política pública de inclusão: Atendimento Educacional Especializado de educandos com deficiência visual no município de Manaus/AM. Dissertação (Mestrado em Educação). Faculdade de Educação da Universidade Federal do Amazonas, UFAM, Manaus, 2015.
BRASIL. Ministério da Educação. Inovação nas aulas de química atrai estudantes em Rondônia Química disponível em: < http://portal.mec.gov.br/ultimas-noticias/389-ensino-medio-2092297298/18348-inovacao-nas-aulas-de-quimica-atrai-estudantes-em-rondonia>. Acessado em: 01 de junho de 2017.
CAMPOS, L. M. L.; BORTOLO, T. M.; FELÍCIO, A. K. C. A produção de jogos didáticos para o Ensino de Ciências e Biologia: uma proposta para favorecer a aprendizagem. Núcleo de Ensino. São Paulo: Pró Reitoria de Graduação – Instituto de Biociências da Universidade Estadual de São Paulo, 2003. p. 47-60.
GALVÃO FILHO, Teófilo Alves. Tecnologia Assistiva para uma escola inclusiva [recurso eletrônico]: apropriação, demanda e perspectiva/ Teófilo Alves Galvão Filho. Tese de Doutorado, Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Educação, 2009.
MANZINI, E. J., Priscila, M. C. Avaliação de Acessibilidade na Educação Infantil e e no Ensino Superior. São Carlos: Marquezine e Manzini: ABPEE, 2014.
PACHECO, D. de S. Políticas públicas e a visibilidade das pessoas com deficiência: estudo de caso do projeto Curupira. Tese (Doutorado em Educação). Faculdade de Educação, Universidade Federal do Amazonas, UFAM, Manaus, 2014.
PIAGET, J. Introduction a l'épistémologie génétique. Tome I - La pensée mathématique. Paris: Presses Universitaires de France, 1950. 361p.
PIAGET, J. Psicologia e pedagogia. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1976.
VIGOTSKY, L. S. A formação social da mente. O desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes (orig. 1935), 1989.

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