História da Ciência: Uma proposta metodológica para a formação inicial de professores de Química.
ISBN 978-85-85905-23-1
Área
Ensino de Química
Autores
Santos, E.M. (UEPA) ; Soares, L.C.R. (UEPA) ; Silva, M.D.B. (UEPA) ; Reis, A.S. (UEPA)
Resumo
A anexação da História da Ciência na educação, principalmente no ensino aprendizagem de Química, vem sendo discutida nas últimas décadas por inúmeros pesquisadores. Procurou-se mostrar para os alunos de graduação, por meio de minicurso, como a história da ciência pode auxiliar o ensino em vários níveis de escolaridade. Tal estudo torna-se importante, pois é necessário que os alunos tenham conhecimento desde quando a ciência esteve presente em nossa sociedade, auxiliando o desenvolvimento da mesma e para uma diminuição no índice do analfabetismo científico. Para obtenção dos dados, utilizou-se um questionário com perguntas abertas e fechadas. A partir dos resultados, verificou-se como a abordagem da História da Ciência no minicurso auxiliou o aprendizado do assunto abordado.
Palavras chaves
História da Ciência; Ensino-Aprendizagem; Ensino de Química
Introdução
De acordo com Santos et al. (2013), a principal dificuldade dos alunos com relação ao Ensino da química é em decorrência dos conhecimentos, memorização de informações e fórmulas, abstração de conceitos, compreensão e interpretação de modelos teóricos que é uma construção gradativa intrínseca a cada ser humano. Para isso, considerando que a construção pelos sujeitos é baseada nas práticas, os professores precisam influenciar, não apenas em sua didática de ensino, mas também formação de seus estudantes e o desempenho da mesma tende a melhorar (Mazzitelli e Aparicio, 2009). Matthews (1995) argumenta sua posição através da epistemologia genética de Piaget, destacando o seguinte trecho do citado livro: “A hipótese fundamental da epistemologia genética é de que existe um paralelismo entre o progresso alcançado na organização lógica e racional (história da ciência) e os processos psicológicos formativos correspondentes” (p. 13). Enquanto Martins (1990) defende que “o processo pelo qual o aluno precisa passar é semelhante ao processo de desenvolvimento histórico da própria ciência”. E destaca que estudando apropriadamente alguns exemplos históricos, o estudante “pode perceber que, na história, sempre houve discussões e alternativas, que algumas pessoas já tiveram ideias semelhantes às que ele próprio tem, mas que essas ideias foram substituídas por outras mais adequadas e mais coerentes com um conjunto de outros conhecimentos”. Humphry Davy publicou seu livro “Elementos da Filosofia Química”, que representa a primeira seção que compreende um notável resumo da história da ciência. Partindo deste cenário, o presente trabalho teve como objetivo mostrar como a história da ciência pode auxiliar o ensino de química por meio de uma proposta metodológica de ensino.
Material e métodos
A pesquisa foi desenvolvida com 15 alunos, do terceiro semestre, do curso de Licenciatura em Ciências Naturais, com habilitação em química, da Universidade do Estado do Pará (UEPA), que participaram de um minicurso, ministrado no Centro de Ciências e Planetário do Pará, com um primeiro momento, no auditório, uma exposição oral sobre a vida do químico abordado, Humphry Davy e sua contribuição para a química. Após esse momento, houve a segunda parte do minicurso com uma abordagem experimental no laboratório, onde foi exemplificado como Humphry Davy construiu a sua famosa lâmpada, com a produção de uma similar, e aplicado o conhecimento que foi abordado anteriormente no auditório. Para coleta de dados foi aplicado um questionário constituído de questões abertas e fechadas, com o objetivo de verificar o conhecimento de História da Ciência, a priori e posteriori ao minicurso e, como esse conhecimento auxiliou no aprendizado do assunto abordado.
Resultado e discussão
Verificou-se que nenhum dos 15 alunos que participaram do minicurso tinha
conhecimento sobre quem era e quais as contribuições de Humphry Davy para a
Química. 60% dos alunos não sabiam as reais características do gás metano.
Já os outros 40% tinham conhecimento de o metano ser um gás inflamável e um
composto formado por Carbono (C) e Hidrogênio (H). No início do minicurso,
os alunos se chocaram com a metodologia adotada, pois no ensino médio,
haviam estudado química, baseando-se exclusivamente em fórmulas e teorias
acabadas e inquestionáveis. Por isso, inicialmente essa diferença bloqueou
parte deles, pois sempre estiveram acostumados a ver a química como “algo”
produzido por seres privilegiados, que num momento de inspiração ou por
alguma necessidade técnica, criaram as mais diversas teorias, como afirma
aluno A: “Eu pensava que só gente rica virava cientista”. Porém, quando o
curso passou para a etapa da realização da parte histórico-experimental, a
situação mudou e uma quase totalidade dos estudantes se mostrou interessada
nas atividades. É importante destacar que os alunos que, inicialmente,
rejeitaram a metodologia do curso, mudaram de atitude no decorrer do tempo.
Isso ocorreu, principalmente, quando verificaram que a parte histórica
servia de arcabouço para dar um maior significado a determinadas teorias. E
que, dessa forma, eles poderiam assimilar e interpretar de forma mais
significativa os conteúdos e aplicá-los posteriormente. Tal resultado
corrobora com Lopes et al. (2011), ao afirmar que os processos de ensino-
aprendizagem que ainda predominam na Educação Básica apresentam
características da chamada metodologia tradicional de ensino e que também
estão muito presentes no ensino superior.
Conclusões
Observou-se que os experimentos históricos garantiram uma melhor aprendizagem. Com as experiências, os alunos problematizaram suas concepções prévias a respeito do tema. Portanto, defende-se que a união da HC com experimentos pode ser usada pelos professores que desejam um ensino de química que não se restrinja à resolução de problemas teórico-matemáticos. É importante considerar a abordagem histórica uma possibilidade real de tornar o ensino mais significativo, criando condições para que um maior número de professores possa exercer melhores práticas educacionais dentro dessa perspectiva.
Agradecimentos
Referências
LOPES, R. M.; SILVA FILHO, M. V.; MARSDEN, M.; ALVES, N. G. Aprendizagem baseada em problemas: uma experiência no ensino de química toxicológica. Quim. Nova, v.34, n. 7, p. 1275-1280, 2011.
MARTINS, R.A, in: Estudos de História e Filosofia das Ciências: Subsídios para Aplicação no Ensino, organizado por C.C. Silva (Livraria da Física, São Paulo, 2006).
MATTHEY, Johnson. Sir Humphry Davy on Platinum.A Footnote to the Bicentenary Celebration.Disponível em: <https://www.technology.matthey.com/article/23/1/29-31/>. Acesso em: 09 abr. 2018.
MAZZITELLI, C.; APARICIO, M. Lasactitudes de losalumnoshacialasCienciasNaturales, enel marco de lasrepresentacionessociales, y su influencia enelaprendizaje. Revista Electrónica de Enseñanza de lasCiencias, 8 (1), Artículo 11. En: http://www.saum.uvigo.es/reec, 2009.
PIAGET, J, Genetic Epistemology(Columbia University Press, London, 1970).
Siegel, H, Science Education 63, 111 (1979).
SANTOS, A. O. et al. Dificuldades e motivações de aprendizagem em Química de alunos do ensino médio investigadas em ações do (PIBID/UFS/Química). Scientia Plena, v. 9, n. 7 (b), 2013.