AVALIAÇÃO COM RECURSOS ADAPTADOS: UM ESTUDO DE CASO
ISBN 978-85-85905-23-1
Área
Ensino de Química
Autores
França Alves, R. (IFPB) ; Soares de Queiroz, J. (IFPB) ; Regina Santana Santos, V. (IFPB) ; Bezerra de Mello Junior, R. (IFPB) ; Sávio de Medeiros Simões, A. (IFPB) ; de Lucena Lira, A. (IFPB)
Resumo
Segundo o Ministério da saúde (MS), é considerado portador de deficiência visual (DV) o individuo que apresenta baixa visão e cegueira. O presente trabalho versa sobre um aluno DV e tem como objetivo avaliá-lo com recursos adaptados. A metodologia desenvolvida no presente trabalho segue o paradigma interpretativo com enfoque qualitativo, a partir da observação da aplicação de materiais alternativos.Atendendo legislação,um grupo de pesquisa que trabalha com o desenvolvimento de materiais didáticos produziu a montagem de gráficos em alto relevo no intuito de explorar os recursos táteis de estudantes DVs. O estudo apresentado permite que o próprio professor confeccione o material de apoio a leitura gráfica. O material produzido auxiliou o aluno dv a ter uma melhor compreensão do assunto.
Palavras chaves
deficiência visual; ensino inclusivo; recursos didáticos
Introdução
Segundo o (Ministério da saúde (MS), 2008), é considerado portador de deficiência visual (DV) oindividuo que apresenta baixa visão desde que o valor da acuidade visual corrigida no melhor olho é menor do que 0,3 e maior ou igual a 0,05 ou seu campo visual é menor do que 20º no melhor olho com a melhor correção óptica, e cegueira desde que os valores mencionados sejam menores que 0,05 ou o campo visual menor do que 10º (categorias 3, 4 e 5 do CID 10). Segundo (CARVALHO e GIL-PERES, 1994), a prática docente fundamenta-se na relação entre saberes conceituais e metodológicos, em que o primeiro se refere ao conhecimento conceitual dos conteúdos a serem ensinados, e o segundo, às formas de transposição dos conteúdos conceituais em conteúdos de ensino, ou ainda, nos procedimentos com que um determinado conteúdo é trabalhado em sala de aula. Os profissionais que exercem atividade docentenecessitam de conhecimento para incluir no processo de aprendizagem pessoas com deficiências (PCD), seja essadeficiência visual, cognitiva, auditiva etc, pois é notório o despreparo dos docentes ao ministrarem aula para alunos deficientes. Esse problema é recorrente, uma vez que o ensino brasileiro ainda não se adequou ao processo de inclusão social, pois a inclusão é um processo que a sociedade se reorganiza para se adequar as limitações das pessoas com deficiência (SAMPAIO e SAMPAIO, 2009). Sendo assim, os futuros professores têm um grande desafio profissional que é se adequar as limitações de alunos deficientes, visto que a formação deles, ainda, dá pouca atenção à educação inclusiva. (GONÇALVES et al., 2013). Logo o processo de aprendizagem implica diretamente no desenvolvimento social, pois a escola é uma ferramenta do desenvolvimento social, uma vez que a escola é a instituição que é responsável pela transmissão do conhecimento técnico. Esse conhecimento é transplantado em um grupo social à medida que a escola passa a fazer seu papel.(ROMANELLI, 1989). Em 1994 foi realizado, em Salamanca, a Conferência Mundial sobre necessidades Educativa Especiais pelo Governo da Espanha e a Organização das Nações Unidas para a Educação aCiência e a Cultura (UNESCO) que versou sobre a elaboração da Declaração de Salamanca Princípios, Políticas e Práticas na Área das Necessidades Educativas Especiais, essa declaração foi notoriamente o documento de maior importância no campo da educação especial, pois teve repercussão internacional adotando o princípio de educação inclusiva em forma de lei ou de política em que todas as crianças devem ser matriculadas em escolas regulares. Logo, a escola passa a receber alunos que antes eram considerados excluídos da sociedade, pois o Estado separava as pessoas com deficiência (PCD) das pessoas sem deficiência, criando instituições para receber PCD, segregando totalmente a população.Portanto, a conferência de Salamanca foi um ponto fundamental para a inclusão dos alunos deficientes, contribuindo para adaptação curricular, bem como a confecção de material de apoio, visto que a escola tem um papel fundamental na inclusão social. Os materiais didáticos são de grande importância para proporcionar a aprendizagem significativa, porém o ensino com materiais didáticos não é eficaz para alunos com deficiência visual, pois tem matérias que eles não conseguemcompreender, porque são tratados por figuras e gráficos, no ensino de Química.É impossível um aluno com deficiência visual, cegueira, entender de forma eficaz diagramas e gráficos, uma vez que a deficiência limita a assimilação do conteúdo através da visão. Logo o material didático precisa sofre adaptações para que venha ser assimilado pelo aluno.GONÇALVES e colaboradores (2013) afirmam que a carência de recursos didáticos para alunos com deficiência visual recebe pouca atenção durante o processo de formação de professores. O professor precisa está atento a tudo que cerca o aluno, pois é através da observação que irá trabalhar, como afirma (MASINI, 1993): “Para a orientação de um aluno, para deixá-lo nascer e se revelar em sua própria forma de ser, o professor precisa estar atento à maneira que a criança percebe e explora o que a cerca, organiza o que apreende, e comunica-se com os outros e com o meio que a cerca; é a maneira que ele, professor, lida com tudo que o aluno manifesta. Isto é essencial para a reflexão do educador, quando se fala de orientação do DV.” Assim o professor cria avaliações que possibilite a aprendizagem significativa, colaborando para a comunicação interpessoal seja no sentido vertical que é a transmissão das conquistas de uma geração para outra, seja no sentido horizontal relacionado aos membros de uma mesma geração (ROMANELLI, 1989).
Material e métodos
O presente trabalhoversa sobreum aluno deficiente visual incluso em sala de aula regular e tem como objetivo avaliá-lo com recursos adaptados, explorando o desenvolvimento da percepção tátil. A partir do desenvolvimento tátil é possível cultivar a inteligência e promover a inclusão. (OLIVEIRA et al 2003). A metodologia desenvolvida no presente trabalho segue o paradigma interpretativo com enfoque qualitativo, a partir da observação da aplicação de materiais alternativos com um discente deficiente visual, incluso em sala de aula regular de ensino técnico integrado ao médio, em uma escola profissionalizante situada na cidade de João Pessoa – PB. Tendo num primeiro momento uma reunião dos participantes da pesquisa na idealização de materiais adaptados, neste momento avaliou-se que a maior dificuldade seria a análise e entendimento de gráficos e figuras por parte do aluno deficiente visual, uma vez que, esta prática é uma atividade extremamente visual nos materiais didáticos utilizados nas escolas regulares. Desta forma, a equipe composta por discentes e docentes de química se reuniram em horários alternativos na própria escola para a montagem do material que foi pensado de forma que tivesse um baixo custo e fácil aplicação. Utilizando o papel A4 como base, reproduziram o conteúdo dos gráficos, recortando a Espuma Vinílica Acetinada(EVA) e colando-os com a cola bastão, também utilizando das colas 3D para a confecção de indicações em relevo. As legendas das imagens foram passadas para o braile. Junto com os demais estudantes, o discente deficiente visual recebe sua atividade avaliativa, porém utilizando o material adaptado. Conduzido pela ledora, o discente deficiente visual pôde sentir o gráfico por meio do tato, entendendo melhor como ocorria o processo explicado nas questões de ensino médio, compreendendo melhor os fenômenos abordados. Na pesquisa, utilizou-se a técnica da observação, na qual, segundo Oliveira (2010, p. 23) “é o instrumento que mais fornece detalhes ao pesquisador” devido “Possibilitar-nos ver o comportamento dos participantes em uma nova luz e descobrir novos aspectos do contexto”. Para a técnica de observação há vários instrumentos que podem ser utilizados para coletar os dados, nesta pesquisa empregou-se: anotações, no qual foi realizada a análise das informações e dos comentários durante a execução do trabalho.
Resultado e discussão
A legislação exige a formação e disponibilização de professores para o
atendimento educacional especializado, tradutores, transcritores e
interpretes. Porém, quando se tem um profissional transcritor para atender
cerca de trezentos professores e suas mais diversas demandas de materiais,
se torna impossível a adaptação a tempo da necessidade.
Sendo assim o presente trabalho foi desenvolvido por professores,
licenciandos de química e demais membros do grupo de pesquisa, eles
observaram a atividade avaliativa com a finalidade de melhorar o
entendimento e colaborar no aprimoramento do material didático empregado no
estudo.
A atividade avaliativa é fundamental para mensurar o grau de conhecimento
que os discentes têm do conteúdo abordado durante as aulas pelo professor,
pois é uma ferramenta usada para analisar se os discentes estão
compreendendo bem o conteúdo. Logo o docente deve levar em consideração a
qualidade de aplicação da atividade quando está aplicando para aluno
deficiente visual, uma vez que fica difícil para o discente DV entender um
gráfico ou figuras numa prova de química, matemática, física ou biologia. As
atividades ocorreram concomitantemente às aulas regulares.
A etapa inicialfoi a conscientização dos professores, por meio de
informações repassadas pelosetor pedagógico da escola, de que haveria em
sala um aluno com necessidadesespeciais, e que deveríamos dar ênfase aos
conceitos em detrimento da prática,além de facilitar a aprendizagem do aluno
reduzindo o conteúdo abordado na sala regular, diminuindo o número de
questões abordadas nas avaliações e reduzindo o número de alternativas das
questões objetivas. Nesse momento, um grande desconforto tomou conta de nós,
professores e licenciandos: isso não era aceitável, não era inclusão. Por
que deveríamosfacilitar o processo avaliativo dentro da escola se ao
concluir o ensino médio o aluno será avaliado pelo Exame Nacional de Ensino
Médio (ENEM)? Que não promoverá estas adaptações para o estudante deficiente
visual.
A partir deste momento, começamos a pensarem formas alternativas de ensinar
química de modo que este alunopassasse de ano por mérito e não por termos
facilitado o processo avaliativo. Nessaprimeira etapa, a proposta de ensino
foi debatida com ogrupo e com oaluno. O aluno, muito interessado e esforçado
aprovou a proposta. Logo, os gráficos e figuras adaptadas já eram utilizados
em aulas explicativas e, não somente nas avaliações.
Quando surgiam dúvidas adicionais com relação à resolução de exercíciosou a
algum assunto visto em sala de aula, os professores tinham um horáriocom o
aluno para a construção dos conceitos e realização dos exercícios.
Apósalguns encontros, foi sugerido que a ledora passasse a atuar na leitura
dos gráficos,ajudando no processo de ensino-aprendizagem do aluno deficiente
no âmbitodas diversas disciplinas.
Quando iniciamos o projeto, foi explicado ao aluno sobre aimportância de se
compreender a química, pelo fato de esta disciplina conseguir dar respostas
à maioria dos fenômenos naturais. O conhecimento desses fenômenos e
compreensão nos possibilita viver em sociedade e harmonia com anatureza.
A linguagem Braille foi dispensada nestas atividades avaliativas, pois,
embora sejageralmente aceita como a melhor forma de alfabetização, muito se
discute sobrea praticidade dessa linguagem e sua viabilidade enquanto
ferramenta inclusivaeducacional, uma vez que, nem todo deficiente visual
domina a leitura e escrita Braille esua utilização torna a execução da
atividade mais lenta. A maioria dos estudantes deficientes visuais são
acompanhados por ledores, têm computadores e smartphones que auxiliam na
leitura de textos e execução de contas matemáticas.Os chamados audiolivros
ou livros falados são ferramentas importantes para a educação dessas
pessoas, ou mesmo como leitura de fruição.
O ledor muito conhecido entre os cegos e deficientes visuais, ganha cada vez
mais importância no cenário educacional. Isto porque, em função do movimento
inclusivo na educação, esse profissional é muito necessário para garantir a
acessibilidade de alunos cegos e deficientes visuais aos conteúdos
escolares, tanto na escolarização básica como no ensino superior.O
Ministério da Educação e Cultura na organização do Enem e de algumas poucas
instituições de ensino contratam e remuneram este trabalho.
Procuramos estimular o aluno a fazer as atividades tal como os demais
discentes da sala. Esta tarefa foi facilitada pelo fato do aluno com DV ser
muito dedicado e terum interesse enorme em aprender.A diferença de ministrar
aulas com a presença de um aluno com DV é queo professor deve apresentar
mais informações com relação ao que expõe aosalunos, em especial quando se
constroem gráficos ou corrigem-se exercícios no quadro.O estudo dos gráficos
foi inicialmente trabalhado com o aluno em horários decontra turno – no
turno inverso às suas atividades escolares.A professora também trabalhou com
a adaptação de outros materiais didáticos e para isso foram utilizados
muitos materiais de fácil acesso.
Assim a idealização de materiais adaptados com recursos de baixo custo e
fácil aplicação torna-se primordial para a compreensão do discente
observado. A atividade avaliativa, com material adaptado, foi entregue a
ele. Com a ajuda da ledora ele começou a interpretar as questões e teve
melhor compreensão, pois logo depois da ajuda da ledora ele analisou a
representaçãográfica da primeira questão e depois a representação da figura
da segunda questão,assimilando melhor o que a questão precisava para ser
respondida corretamente. Sem haver a necessidade da áudio-descrição das
figuras por parte da ledora. E ainda promovendo a autonomia do estudante ao
analisar o gráfico através dos seus próprios sentidos. Isso lhe permitiu uma
facilidade de visualizarmentalmente quaisquer figuras ou situações
necessárias para a resolução de problemas.
Conclusões
O estudo apresentado permite que o próprio professor confeccione o material de apoio a leitura gráfica, não dependendo mais do transcritor de Braille ou impressora Braille.O material produzido auxiliou o discente DV a ter uma melhor compreensão do assunto trabalhado em sala, agora, com uma representação gráfica que atendesse suas necessidades A avaliação com recursos adaptados foi de grande importância para a inclusão do discente DV, pois possibilita o ensino igualitário. O material usado na avaliação adaptada fez com que o discente entendesse de forma mais clara os gráficos e figuras que sem a devida adaptação seria impossível ele compreender a questão, visto que o processo de assimilação da questão exige a visualização dos gráficos e figuras. Levando em consideração o atual cenário escolar é preciso que haja ações para revertê-lo. Uma forma de modificar essa conjuntura é capacitando os futuros e atuais docentes as necessidades dos discentes DV.Logo o professor precisa capacita-se para enfrentar desafios como esse, que é e será recorrente na atual sociedade escolar, para facilitar o processo de aprendizagem.
Agradecimentos
Agradecemos ao IFPB e ao CNPq por todo apoio prestado.
Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria N° 3.128, de 24 de dezembro de 2008. Define que as Redes Estaduais de Atenção à Pessoa com Deficiência Visual sejam compostas por ações na atenção básica e Serviços de Reabilitação Visual.
CARVALHO, A. M. P.; GIL-PEREZ, D.Formação de professores de ciências. São Paulo: Cortez, 1994.
ESPANHA, Declaração de Salamanca sobre princípios, políticas e práticas na área dasnecessidades educativas especiais. Conferência Mundial de Educação Especial.Salamanca: s/ed., junho de 1994, 19p. Disponível:<http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf>.Acesso: 04 ago. 2018.
GONÇALVES, FÁBIO PERES, et al. "A educação inclusiva na formação de professores e no ensino de química: a deficiência visual em debate." Química Nova na Escola 35.4 (2013): 264-271.
MASINI, ELCIE F. SALZANO. A educação do portador de deficiência visual–as perspectivas do vidente e do não vidente. Em Aberto, v. 13, n. 60, 1993.
OLIVEIRA, FÁTIMAINÊSWOLF de; BIZ, VANESSA APARECIDA; FREIRE, MAISA. Processo de inclusão de alunos deficientes visuais na rede regular de ensino: confecção e utilização de recursos didáticos adaptados. Recuperado em: http://www. unesp. br/prograd/PDFNE2003/Processo% 20de% 20inclusao% 20de% 20alunos% 20deficien-tes% 20visuais. pdf, 2011.
ROMANELLI, O. O. A ABORDAGEM TEÓRICA. In: HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL (1930/1973). 11. ed. Minas Gerais: Vozes, 1989. Cap.1, p. 19-31.
SAMPAIO, CRISTIANE T, SAMPAIO, SÒNIA R. Educação Inclusiva: o professor mediando para vida. 1. ed. Bahia: Ed. da UFBA, 2009.