Cinema para ensinar: uma experiência didática com futuros professores de Química

ISBN 978-85-85905-23-1

Área

Ensino de Química

Autores

Barros, M.E.S.B. (UFAL) ; Lages, E.A.B.S. (UFS)

Resumo

Neste trabalho é descrita uma experiência didática com alunos do curso de Licenciatura em Química da UFAL, em que o cinema foi utilizado como ferramenta pedagógica para o ensino de Química. Foram selecionados quatro filmes que, após discussão e avaliação dos conteúdos didáticos relacionados a eles, resultaram em duas atividades avaliativas: uma aula de química utilizando o filme como tema gerador, e a elaboração de uma cartilha educativa, que foi desenvolvida para uma segunda aula. Os futuros professores cumpriram com os objetivos propostos e, assim, puderam experienciar uma formação diferenciada, com novos exemplos didáticos que podem ser aplicados em sala e um panorama mais amplo do processo de ensino e aprendizagem.

Palavras chaves

contextualização; cinema; ensino de química

Introdução

A contextualização de um determinado conteúdo teórico em sala de aula é um tema bastante discutido. Contudo, contextualizar é mais amplo do que as ações de exemplificar e/ou historicizar, também significa agregar texto. Aqui não se compreende a palavra texto apenas como um produto escrito, e sim como a tessitura de ideias que produz sentido e se manifesta em diferentes linguagens, não apenas a verbal. Este trabalho utiliza o cinema como um texto capaz de potencializar a aprendizagem. Estudos em neuropsicopedagogia e da pedagogia vigotskiana apontam que a construção do conhecimento se dá de forma integrada entre razão e emoção (WALLON, 1978; VYGOTSKY, 1978). É nesse sentido que o cinema se revela como instrumento didático, aliando um elemento afetivo ao conhecimento teórico. Na literatura há relatos da utilização de filmes como estratégia metodológica para o ensino de química, dos quais é possível citar: “Utilização do cinema na sala de aula: Aplicação da química dos perfumes no ensino de funções oxigenadas e bioquímica” (SANTOS; AQUINO, 2011); “O vídeo educativo: Aspectos da organização do ensino” (ARROIO; GIORDAN, 2006); “O cinema e os quadrinhos: ferramentas alternativas para o ensino de química” (SILVA et al, 2015). Enquanto o primeiro trabalho citado se refere à uma experiência didática do uso de filmes em turmas do ensino médio, os outros dois fazem uma abordagem mais geral da linguagem audiovisual como ferramenta metodológica no ensino de química. O presente trabalho, por sua vez, apresenta uma experiência didática com alunos do curso de Licenciatura em Química da Universidade Federal de Alagoas, que teve como objetivo fomentar o pensamento de uma metodologia contextualizada para o ensino de química, sendo o cinema o veículo contextualizador desta abordagem.

Material e métodos

Este trabalho foi desenvolvido durante a disciplina de Projetos Integradores 5, no primeiro semestre letivo de 2017, com alunos de períodos variados do curso de Licenciatura em Química noturno da UFAL, visto que esta disciplina não possui pré-requisito. Os Projetos Integradores tem por objetivo principal promover experiência didática aos alunos. Durante o semestre os alunos puderam experienciar as etapas de uma ação metodológica. Primeiro foi realizada uma avaliação inicial, que consistiu na análise do avanço dos alunos na graduação, para assim estabelecer os conteúdos a serem trabalhados, e que resultou na escolha dos filmes utilizados. A partir disso, a turma foi dividida em quatro grupos, e foram propostos dois produtos avaliativos: uma aula de química em que o filme designado ao grupo foi utilizado como tema gerador, e a elaboração de uma cartilha educativa, que foi desenvolvida para uma segunda aula. No fim do semestre, a avaliação final considerou as aulas ministradas e o material desenvolvido. Os filmes utilizados como temas geradores foram: “Césio 137 - O Brilho da Morte” (Luiz Eduardo Jorge, 2003), “Um Rio de Histórias” (Luiz R. Cabral, 2016), “Uma Verdade Inconveniente” (Davis Guggenheim, 2006), e “CSI – Episódio: Swap Meet” (Danny Cannon, 2004). Durante a disciplina foram separados momentos para a discussão dos filmes, dos conteúdos teóricos de química que poderiam ser relacionados a estes, dos possíveis temas para o desenvolvimento da cartilha educativa e como a elaborar, e momentos de orientação para a realização das aulas. O tempo que cada grupo teve para ministrar cada uma de suas duas aulas foi de 50 minutos. Os alunos tiveram notebook, Datashow, quadro branco e marcador à disposição, e puderam usar qualquer outro material que julgassem necessário.

Resultado e discussão

A Tabela 1 apresenta o primeiro produto avaliativo resultante do processo didático: os tópicos de aulas realizadas pelos quatro grupos a partir dos filmes designados. Tabela 1: Relação Filmes X Aulas. Todos os grupos cumpriram com o objetivo proposto, ou seja, as aulas dadas foram adequadas ao ensino médio, sejam como conteúdo programático ou atividades interdisciplinares. As aulas estavam contextualizadas. Além disso, outros textos fílmicos foram agregados pelos grupos ao já designado, enriquecendo a experiência didática. As observações compartilhadas pela avaliadora fizeram menção à linguagem, postura, organização didática e manejo do tempo pedagógico. O segundo produto avaliativo foi a confecção de cartilhas educativas (Figura 1). Figura 1: Capas das cartilhas. Esta segunda atividade teve como objetivo incitar os grupos a produzirem um material que seguisse o mesmo tema do filme designado na primeira atividade, e que pudesse ser utilizado como material didático em aula. Além disso, a cartilha deveria ter linguagem acessível aos alunos e à comunidade, ser atrativa e de leitura dinâmica. Assim, em uma segunda aula, os grupos retomaram os tópicos e conteúdos abordados na primeira com esta nova produção, atentando e fortalecendo os apontamentos iniciais da avaliadora e, nesse sentido, os objetivos foram alcançados. Santos e Aquino (p. 160, 2011) afirmam que muitos professores não utilizam o recurso audiovisual em aula por “(...) não conseguir fazer relações entre os filmes disponíveis e o conteúdo científico requerido pelo currículo”. A abordagem didática descrita colabora no sentido de criar experiências diferenciadas para futuros professores, o que possibilita a recriação, a reinvenção ou fundamentação para outra abordagem futura.

Tabela 1: Relação Filmes X Aulas.



Figura 1: Capas das cartilhas.



Conclusões

A experiência didática descrita pode ser considerada um sucesso. Pois cumpriu com os objetivos propostos, promovendo uma experiência pedagógica contextualizada a partir do uso do cinema como ferramenta para o ensino de Química, proporcionando uma formação diferenciada, exemplos didáticos e um panorama mais amplo do processo de ensino e aprendizagem à futuros professores. A proposta foi bem recebida, considerando a não desistência de nenhum dos alunos ao longo do semestre, além do envolvimento e das discussões durante os encontros que também são fatores que indicam o sucesso da proposta.

Agradecimentos

Aos alunos de Projetos Integradores 5 da turma de 2017.1 Universidade Federal de Alagoas Instituto de Química e Biotecnologia

Referências

ARROIO, A.; GIORDAN, M. O vídeo educativo: Aspectos da organização do ensino. Química Nova na Escola, n.24, p.8-11, 2006.
SANTOS, P.N.; AQUINO, K.A.S. Utilização do cinema na sala de aula: Aplicação da química dos perfumes no ensino de funções oxigenadas e bioquímica. Química Nova na Escola, n.33, p.160-167, 2011.
SILVA, S.D.; SILVA, V.M.; SOARES, A.C.; KORTMANN, G.M.L. O cinema e os quadrinhos: ferramentas alternativas para o ensino de química. Revista de Educação, Ciência e Cultura. n.1, v.20, p.155-164, 2015.
VYGOTSKY, L.S. Mind and Society. Cambridge: Harvard University Press, 1978.
WALLON, H. Do acto ao pensamento. Lisboa: Moraes Editores, 1978.

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