IMPLEMENTAÇÃO REFLEXIVA DE UMA SEQUÊNCIA DIDÁTICA SOBRE O CONCEITO DE MISTURA NO 9º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL
ISBN 978-85-85905-23-1
Área
Ensino de Química
Autores
Silva, T.S. (UFMA) ; Marques, C.V.V.C.O. (UFMA) ; Costa, H.R. (UFMA)
Resumo
Este trabalho apresenta o processo de validação de uma sequência didática de acordo com a metodologia de Guimarães e Giordan (2013). Compreendendo que o processo de construção de uma SD é um ciclo, tivemos como objetivo elaborar e aplicar uma sequência didática com os alunos do 9º ano do Ensino Fundamental, utilizando como problematização a compreensão do conceito de “mistura”. Para análise da SD utilizamos um protocolo para descrever cada etapa do processo e observar os resultados após as implementações. Essa estratégia nos possibilitou uma releitura analítica dos elementos propostos em cada etapa estabelecida em uma sequência didática.
Palavras chaves
Sequência Didática; Ensino de Ciências; Mistura
Introdução
A Sequência didática (SD) pode ser caracterizada como instrumento que pode auxiliar o professor na organização de atividades de ensino sobre a perspectiva de uma temática específica e de realização de procedimentos, atividades ou exercícios sistemáticos que possam contribuir no processo da prática docente, implicando na avaliação processual daquilo que se propõe (ARAÚJO, 2013). Guimarães e Giordan (2013) ressaltam que o processo de desenvolvimento de uma sequência didática necessita constantemente de elaboração e validação, segundo uma análise sistematizada de avaliações consecutivas de cada um dos elementos que constitui a SD, pontualmente no tocante ao contexto de aplicação, seus resultados e de sua relação com o plano anual de ensino da escola. Diante disso a presente pesquisa teve como objetivo elaborar e aplicar uma sequência didática com os alunos do 9º ano do Ensino Fundamental, utilizando como problematização a compreensão do conceito de “mistura”. O interesse em trabalharmos com a temática mistura, justifica-se pela natureza que tem o tema e pelas ideias que são construídas sobre o conhecimento científico x conhecimento cotidiano, onde estas ideias apresentam sentidos contraditórios que levantam muitas discussões no universo do ensino de ciências e que precisam ser discutidas. O desenvolvimento de sequências didáticas com temáticas que os alunos possam associar o contexto diário pode contribuir com o planejamento das aulas do professor. Com a opção que muitos livros didáticos já trazem para se trabalhar atividades experimentais ou não-experimentais, pode ser uma alternativa que o professor possa utilizar para adaptar na construção de sequências didáticas. Essa adaptação é uma forma do professor planejar a sua atividade investigativa de acordo com a realidade da sua turma, buscando sempre evidenciar um problema no início da atividade e propor levantamento de hipóteses ao longo do desenvolvimento desta (CARVALHO, 2017). É nesse sentido que Guimarães e Giordan (2013) ressaltam a importância de se conhecer o plano anual das aulas no qual se direcionará a SD, tendo em vista que uma SD tem a possibilidade de trabalhar com um conteúdo específico durante um período de tempo pré-estabelecido. Diante disso, discutiremos esses pontos ao longo deste trabalho versando para essas questões, tendo em vista que a SD precisa passar por um processo validativo que consolidará numa atividade mais consistente.
Material e métodos
Estruturamos a sequência didática de acordo com a metodologia de Guimarães e Giordan (2013). Seguimos duas etapas: a etapa de elaboração, que consiste no planejamento e organização da SD e a aplicação que é a fase desenvolvida na sala de aula, e que servirá de base para reconstrução das etapas e subsidiará no processo de validação e reelaboração. 3.1 Etapas da Elaboração 3.1.1 Público alvo A sequência didática foi direcionada para os alunos do 9º ano do Ensino Fundamental da escola U. E. B. Henrique de La Roque Almeida. A escola fica localizada na Vila Embratel, bairro próximo da Universidade, situado na área Itaqui Bacanga, considerada uma das áreas mais populosas do município de São Luís e caracterizada pela carência de projetos. 3.1.2 Problematização O conteúdo de química “Mistura” é um conceito visto como simples, pelo fato de ser possível associá-lo ao contexto diário do aluno, contudo essa simplicidade deve ser propiciadora de uma construção científica do conceito. Assim, a problematização pode contribuir na aprendizagem dos conceitos científicos, e possibilitar o processo de envolvimento dos estudantes na identificação de novas questões. Processo, este, construído discursivamente com a ajuda do professor (CAPECCHI, 2017). 3.1.3 Objetivos Geral Elaborar e aplicar uma sequência didática observando as possíveis contribuições de uma atividade experimental cujo objetivo é compreender quimicamente o conceito de “mistura”. 3.1.4 Metodologia de Ensino A SD foi organizada em quatro aulas. A primeira aula teve como objetivo conhecer e caracterizar o perfil da turma, apresentando cada etapa da SD. A segunda aula teve como propósito a análise dos conhecimentos prévios dos alunos sobre a temática. Então, se propôs uma atividade interativa e que os alunos utilizassem desenhos e textos que representassem as suas concepções sobre mistura e posteriormente explicassem, para isso se disponibilizou materiais que os auxiliassem na construção da atividade. A terceira aula teve como objetivo verificar a compreensão do conceito de mistura por meio de uma atividade experimental, adaptada do livro didático da escola (Ciências Novo Pensar, Gowdak, 2015). Nesta atividade os alunos foram direcionados a realizarem os experimentos na própria sala de aula, pois a escola não dispõe de laboratório. Distribuímos os materiais para realização do experimento, e cada equipe ficou responsável por realizar dois tipos de misturas e posteriormente explica-las. A quarta e última aula objetivou avaliar se as atividades desenvolvidas conseguiram contribuir com a noção do conceito de mistura por meio de um questionário. 3.1.5 Avaliação da SD O processo de avaliação se deu de forma contínua.A partir das atividades sistematizadas, e de acordo com os objetivos das atividades propostas. 3.1.6 Materiais utilizados Cartolina, lápis de cores, copo descartáveis, colher, café, sal, açúcar, álcool, óleo, q-suco (suco industrial de groselha), água, areia.
Resultado e discussão
As fases de elaboração e aplicação basearam-se nos trabalhos de Guimarães e
Giordan (2013), servindo como norte para criação do protocolo de
investigação da SD pensada para o contexto da natureza escolar e dos
impactos que as atividades propostas refletiriam no processo de
ensino/aprendizagem dos alunos. Fazendo a releitura das etapas da SD,
pensamos num protocolo que pudesse auxiliar na organização e análise da SD,
estabelecemos itens que descrevessem a metodologia empregada em cada etapa,
assim como a construção de categorias de análise como sugere Guimarães e
Giordan (2013), e, por fim, posteriormente a cada atividade proposta,
analisar e observar o que pode ser melhorado.
Ressalta-se que a participação do professor da sala no processo de
planejamento e validação da SD foi fundamental, pois como o professor compõe
diferentes grupos e ocupa diferentes posições sociais ao longo do percurso
histórico da validação ele pode auxiliar na adequação das atividades para as
necessidades de seus alunos.
A primeira atividade realizada com os alunos teve como objetivo
instigar os conhecimentos prévios acerca do conteúdo de “mistura”. Dessa
forma, os alunos reunidos em equipes construíram desenhos e textos que
representassem seus entendimentos sobre a temática, tendo em vista que já
haviam tido contato com este assunto. Esta atividade possibilitou a
interatividade entre os alunos e o desenvolvimento do trabalho coletivo.
Essa estratégia de utilizar os desenhos propiciou a participação dos alunos
mais tímidos e oportunizou a expressão oral dos alunos mais desenvoltos.
Posterior a esse momento de problematização inicial em que tivemos a
pretensão de perceber a noção que os alunos apresentavam sobre “mistura”, se
propôs um experimento utilizando materiais alternativos e adaptado do livro
didático utilizado pela escola – Ciência Novo Pensar de Gowdak, 2015. Os
alunos em suas respectivas equipes escolheram duas misturas para realizarem,
uma homogênea e outra heterogênea. Nesta fase da SD os alunos ficaram muito
empolgados, apesar de já terem tido o contato com todos os materiais, como
água, sal, açúcar, etc., mas o contexto na qual estavam inseridos tinha
outra perspectiva.
As funções das atividades experimentais devem ter o caráter pedagógico,
diferentemente da experiência conduzida pelo cientista. Então, é importante
que as experimentações construídas no contexto escolar tenham o objetivo da
compreensão dos conceitos, analisando os momentos de pré e pós atividade,
tendo em vista que o processo avaliativo permitirá observar todo contíguo
(BRASIL, 2000).
Durante a aplicação da atividade experimental observamos o envolvimento dos
alunos, entretanto percebemos as dificuldades na compreensão dos conceitos
diante dessa fase do experimento. Nas etapas das misturas tivemos a
preocupação de instigar os alunos sobre os procedimentos que estavam
executando. Apesar da empolgação dos alunos, durante o desenvolvimento da
atividade, mas não seria esse o motivo que possibilite a aprendizagem do
fenômeno químico, mas sim as estratégias, o caráter avaliativo que se deve
dar a cada etapa desenvolvida. Esses fatores nos levaram a pensar em como
avaliar cada etapa da atividade num processo de reelaboração desta SD.
No último momento e finalização da sequência didática, apresentamos para os
alunos um questionário que teve como objetivo verificar a concepção final
dos alunos sobre mistura, após as atividades desenvolvidas. Nesta etapa nem
todos participaram, pois decidimos gravar as falas e isso acabou intimidando
os alunos.
Analisando esta última atividade, reavaliamos dois pontos: o primeiro foi a
escassa participação dos alunos, pelo fato de gravação de suas falas.
Entretanto, a justificativa para este problema seria o hábito que os alunos
não têm de participar desse tipo de atividade. Já focando na estrutura do
questionário como instrumento de análise, verificamos que este não se compôs
de questões consistentes que pudessem investigar a aprendizagem dos alunos.
O questionário foi composto de questões diretas e tradicionais o que de
certa forma não colaborou para um diagnóstico mais preciso.
Conclusões
Por meio do processo de validação desta sequência didática, buscamos compreender os encaminhamentos que se deve dar a cada etapa de atividade. Consideramos relevante o emprego de SD no ensino de Ciências, entendendo que toda proposição é mutável, logo o professor deve estar empenhado a refletir cada etapa de construção e implementação de uma SD, e a regulação do processo é indispensável para continuidade de um bom trabalho, já que a aprendizagem é um processo contextual, gradual e não instantâneo. Então, podemos considerar que a validação de uma SD deve possibilitar visualizar mudanças na forma de como planejar uma atividade, revendo desde as atividades propostas, até os critérios utilizados para escolher determinado objeto didático.
Agradecimentos
Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática (PPECEM) - UFMA Ao apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA)
Referências
ARAÚJO, D. L. O que é (e como faz) sequência didática? Revista Entrepalavras, Fortaleza - ano 3, v.3, n.1, p. 322-334, jan/jul 2013.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais. Ciências da Natureza e Matemática e suas Tecnologias. Brasília: MEC, 2000. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/ciencian.pdf. Acesso em julho de 2018.
CAPECCHI, M. V. M. Problematização no ensino de Ciências. In: Ensino de Ciências por investigação: condições para implementação em sala de aula/ Ana Maria Pessoa de Carvalho, (org.). - São Paulo: Cengage Learning, 2017. 2. reimpr. da 1. ed. de 2013. Vários autores. Bibliografia. ISBN 978-85-221-1418-4.
CARVALHO, A. M. P. O ensino de Ciências e a proposição de sequências de ensino investigativa. In: Ensino de Ciências por investigação: condições para implementação em sala de aula/ Ana Maria Pessoa de Carvalho, (org.). - São Paulo: Cengage Learning, 2017. 2. reimpr. da 1. ed. de 2013. Vários autores. Bibliografia. ISBN 978-85-221-1418-4.
GOWDAK, D. O. Ciências novo pensar, 9º ano. 2º. Ed. São Paulo: FTD, 2015.
GUIMARÃES, Y. A. F.; GIORDAN, M. Elementos para Validação de Sequências Didáticas. Atas do IX Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências – IX ENPEC Águas de Lindóia, SP – 10 a 14 de Novembro de 2013.