CONTEXTUALIZAÇÃO DE FUNÇÕES ORGÂNICAS USANDO O ETNOCONHECIMENTO DE PLANTAS MEDICINAIS ATRAVÉS DE SOFTWARE FREE
ISBN 978-85-85905-23-1
Área
Ensino de Química
Autores
Gama, C.S. (UEA - UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS) ; Matos, D.C. (UEA - UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS) ; Pereira, D.S. (UEA - UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS) ; Anselmo, M.L. (UEA - UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS)
Resumo
O presente trabalho utilizou o etnoconhecimento de plantas medicinais para contextualizar o ensino de funções orgânicas. Para tanto fez uso do software educacional free ChemSketc a fim de desenhar as moléculas presentes nas plantas citadas e assim identificar as funções orgânica nelas contidas. A utilização do software para desenhar as moléculas mostrou-se altamente eficiente no processo de ensino aprendizagem de funções orgânicas, além de contribuir com o resgate, valorização e fortalecimento do etnoconhecimento. O trabalho possibilitou uma forte reflexão com os alunos que chegaram à conclusão que o conhecimento de plantas medicinais é de domínio somente de seus pais e avós e que o mesmo corre sério risco de desaparecer.
Palavras chaves
Software educacional; funções orgânicas; etnoconhecimento
Introdução
A ideia de contextualização surgiu com a reforma do ensino médio, a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB, 9.394/97 (BRASIL, 1997) que orienta a compreensão dos conhecimentos para uso cotidiano. Originou-se nas diretrizes que estão definidas nos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN+ (BRASIL, 1996), os quais visam um ensino de química centrado na interface entre informação científica e contexto social. De acordo com os PCN +, contextualizar a química não é promover uma ligação artificial entre o conhecimento e o cotidiano do aluno. Não é citar exemplos como ilustração ao final de algum conteúdo, mas que contextualizar é propor “situações problemáticas reais e buscar o conhecimento necessário para entendê-las e procurar solucioná-las.” BRASIL (2002). Podemos contextualizar um tema fazendo uso das plantas que curam. O uso dessas plantas sendo passado de geração a geração se constitui o etnoconhecimento em plantas medicinais. Este tema faz parte do cotidiano dos alunos, pois já presenciaram seus pais e avós recorrerem ao uso dessas plantas para curar alguma enfermidade. Todavia, os alunos não conhecem as substancias bioativas das plantas com ação terapêutica ou tóxica sobre o organismo. Uma pesquisa bem orientada na internet permitirá ao aluno ter o conhecimento das substâncias presentes nas plantas medicinais comumente usadas por seus familiares, e a utilização de um software educacional para desenhar as moléculas possibilitara ao aluno visualizar muitas das propriedades desses compostos. Infelizmente, muitas escolas a pesar de dispor de um laboratório de informática não fazem uso dessas ferramentas de ensino. Sendo assim, o presente trabalho buscou envolver os alunos na pesquisa de moléculas existentes nas plantas medicinais e possibilitou desenhá-las
Material e métodos
O projeto foi executado em uma sequência didática dividida em três etapas: Aplicação de um questionário, aula dialogada e uma atividade prática utilizando o software educacional ChemSketch. O processo envolveu uma turma de 25 alunos do 3º ano do Ensino Médio do turno noturno do Colégio Nossa Senhora do Carmo no município de Parintins-AM. A Organização Mundial da Saúde reconhece que grande parte da população dos países em desenvolvimento depende da medicina tradicional para sua atenção primária, e que 68% dela utilizam plantas ou preparações destas para seus cuidados básicos de saúde (BRASIL, 2016). Sendo assim, na primeira etapa foi entregue aos alunos um questionário com questões norteadoras de cunho investigativo onde procurou-se verificar forma de preparo, uso e procedência do conhecimento das plantas medicinais mais usadas por eles ou seus familiares. Na segunda etapa, e utilizando as análises do questionário, foi realizada uma aula expositiva dialogada onde foi apresentado um conceito histórico do uso das plantas medicinas nas grandes civilizações. Após a aula os alunos realizaram uma pesquisa na internet para identificar as moléculas presentes nas plantas que eles ou seus familiares usam. Na terceira e última etapa, os alunos se reuniram em grupo e desenharam as estruturas das moléculas existentes nas plantas medicinais, usando o projetor multimídia e o computador onde estava instalado o software educacional ChemSketch.
Resultado e discussão
Para tabular os dados da pesquisa
obtidos a partir do questionário foi
utilizado o modelo de tabela proposto
por Scudeller, Veiga e Jorge
(2009),conforme a tabela 1.
Muitas dessas plantas estão presentes
nos quintais das casas dos alunos e
são preparadas por meio de decocção ou
infusão das folhas, indicando que as
moléculas bioativas estão presentes
nelas ou nas sementes, no caso da
andiroba.
A pesquisa mostrou que a maioria dos
alunos, a pesar de jovens, não retém
os conhecimentos sobre plantas
medicinais e que esses conhecimentos
estão concentrados nas pessoas mais
idosas; isto é observado no gráfico 1
quando foi perguntado ao aluno de onde
veio o conhecimento sobre o uso de
plantas medicinais em sua família.
Para Hoeffel et al (2011), os jovens
não possuem interesse em aprender as
práticas medicinais e alguns dos
motivos apontados que justificam esse
desinteresse é o acesso facilitado a
hospitais e medicamentos
industrializados.
Foi verificado que 64% dos alunos
confiam no poder medicinal das
plantas. Entretanto, 72% desconhecem a
toxidade delas. Isso mostra a
necessidade de uma intervenção por
parte das instituições públicas e
particulares no sentido de contribuir
com o conhecimento não formal. Essa
contribuição ocorreu no momento da
aula dialogada, quando se conversou
sobre a concentração do decocto.
A aula dialogada ocorreu em sala de
aula com o tema “A Química no dia a
dia: Uso de plantas medicinais”, onde
foram abordados assuntos como a
utilização de plantas medicinas no
decorrer da história da humanidade, em
sociedades existentes no Egito, na
Índia e até mesmos pelos povos
indígenas no Brasil. No decorrer da
aula a aluna “A”, falou que, “ Minha
mãe falou uma vez, que o chá de boldo
é ruim pra quem tá gravida, porque a
mulher pode abortar o filho".
TABELA 1 - Plantas mais citadas na pesquisa. Onde,(T. C.)é Referente ao percentual Total de Citações.Gráfico 1 – onde se concentra o conhecimento.
Mostra as plantas e as moléculas com suas respectivas funções orgânicas pesquisadas e desenhadas pelos alunos.
Conclusões
A contextualização de funções orgânicas usando o etnoconhecimento de plantas medicinais e mediado pelas ferramentas tecnológicas se mostrou uma alternativa fortemente motivadora no processo de aprendizagem; tirando assim aquele pensamento que a química é uma disciplina chata e mostrando que ela está presente no cotidiano dos alunos. Além disso, a utilização do software permitiu visualizar as estruturas e funções orgânicas em 3D, tipos de ligações, a estereoquímica e nomenclatura. A abordagem permitiu contribuir com o resgate, valorização e fortalecimento do etnoconhecimento.
Agradecimentos
A Universidade do Estado do Amazonas. Ao Colégio Nossa Senhora do Carmo.
Referências
BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Políticas nacional de plantas medicinais e fitoterápicos. Brasília, 2016. 190 p.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Introdução. Ensino Médio. BRASILIA: MEC/SEF, 1997.
BRASIL. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Média e Tecnológica (SEMTEC). PCN+ Ensino Médio: orientações educacionais complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais – Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias. Brasília: MEC/SEMTEC, 2002.
HOEFFEL, J. L. M.; GONÇALVES, N. M.; FADINI, A. A. B.; SEIXAS, S. R. C.. Conhecimento tradicional e uso de plantas medicinais nas apas’s Cantareira/SP e Fernão Dias/MG. Revista VITAS, Nº 1, setembro de 2011.
SCUDELLER, V. V.; VEIGA, J. B. da; JORGE, L. H. de A. Etnoconhecimento de plantas de uso medicinal nas comunidades São João do Tupé e Central (Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Tupé). Biotupé: Meio Físico, Diversidade Biológica e Sociocultural do Baixo Rio Negro, Amazônia Central. volume 2. Edinaldo Nelson SANTOS -SILVA, Veridiana Vizoni SCUDELLER (Orgs.), UEA Edições, Manaus, 2009.