Critérios determinantes para a seleção de livros didáticos das escolas de ensino médio de Salvaterra-PA: Relatos de professores de Química, Física e Biologia

ISBN 978-85-85905-23-1

Área

Ensino de Química

Autores

Barros, D.J.P. (UEPA) ; Palheta Junior, A.R. (UEPA) ; Silva, A.S. (UEPA) ; Barros, D.M.B. (UEPA) ; Fonseca, S.G.G. (UEPA) ; Silva, A.R.G. (UEPA) ; Santos, L.O. (UEPA)

Resumo

Este estudo objetivou verificar por meio de entrevistas a professores de Química, Física e Biologia, os critérios que determinam a seleção dos livros didáticos das escolas de ensino médio de Salvaterra-PA. Para coleta de dados, utilizou-se o método de entrevista semiestruturada, verificando os livros escolhidos pelos professores para as escolas em que atuam. Todos os entrevistados utilizam outros materiais além do LD, uma vez que para três dos docentes os LD apresentam limitações quanto a temas abordados resumidamente e exercícios com níveis elevados de complexidade. Os professores, devido suas poucas horas/aulas, não conseguem abordar todos os conteúdos contidos no LD. De modo geral as obras escolhidas, dentro de suas limitações, atendem os professores quanto a elaboração de suas aulas.

Palavras chaves

Entrevistas; Limitações; Conteúdos

Introdução

Evidenciou-se nos anos 90 uma série de reformas educacionais voltadas principalmente para sensibilização de educadores, quanto à responsabilidade e necessidade de modificações nos conteúdos e metodologias de ensino. Desta forma, surgem os programas de reforma do estado, visando realizar alterações no contexto escolar, preparando projetos e materiais a fim de serem distribuídos nas escolas (AGUIAR JÚNIOR, 2004). Nesta mesma década foi criado o Programa Nacional de Livro Didático (PNLD), compromissado em realizar a avaliação pedagógica dos livros antes de chegar à sala de aula (CARNEIRO; SANTOS; MOL, 2005). O PNLD é voltado à distribuição sistemática, regular e gratuita de obras didáticas aos alunos das escolas públicas do país. O processo de avaliação, escolha e aquisição dos livros didáticos ocorre periodicamente, garantindo ciclos regulares trienais alternados, intercalando o atendimento a todos os níveis de ensino, que parte do Fundamental menor ao Ensino Médio, sendo incluídos tanto a educação regular como a Educação de Jovens e Adultos (BRASIL, 2017). Além do PNLD, existe outro programa do governo federal criado em 2004, o Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio (PNLEM), que objetiva a distribuição de LD para os alunos do ensino médio das escolas público brasileiras. A seleção das obras é feita por meio do Guia do Livro Didático, com o qual os docentes das escolas públicas podem escolher os livros de sua preferência para serem trabalhados durante o período de um triênio (MAIA et al., 2011). Nas aulas de ciências, o livro didático continua sendo o recurso mais utilizado, por mais que se tenha presenciado avanços tecnológicos e uma enorme variedade de materiais didáticos. Com a centralidade conferida ao LD, entende-se que por meio dele o professor organiza, desenvolve e avalia seu trabalho pedagógico de sala de aula. Em se tratando do aluno, este material é um dos elementos determinantes da sua relação com a disciplina (CARNEIRO; SANTOS; MOL, 2005). Segundo Peruzzi et al. (2000 apud FRISON et al., 2009) o professor deve recorrer ao livro didático visando possibilidades que o permitam mediar a construção do conhecimento científico ao aluno. É imprescindível que o professor possua saberes diversos para selecionar os livros didáticos, além de estar capacitado para avaliar as possibilidades e limitações que estes apresentam (NUÑEZ et al., 2003). Assim, é preciso planejamento no que diz respeito aos conteúdos e a proposta pedagógica neles explicitadas, aonde o professor deve avaliar a melhor forma de aproximar o conhecimento disponibilizado pelos livros didáticos e os conhecimentos trazidos pelos alunos (LAJOLO, 1996). Tendo em vista a relevância dos livros didáticos para a formação do aluno, resolveu-se verificar a postura de alguns profissionais da educação diante da escolha deste material. Sendo assim, este estudo objetivou averiguar, através de entrevistas a professores de Química, Física e Biologia, os critérios que são estabelecidos para a escolha dos livros didáticos das escolas de ensino médio da cidade de Salvaterra, Pará.

Material e métodos

A pesquisa foi realizada na cidade de Salvaterra, arquipélago do Marajó, Pará, e envolveu a participação de cinco professores, da área de Ciências Naturais, vinculados as escolas de ensino médio da cidade. Dos docentes participantes 1 possui Licenciatura em Ciências Naturais – hab. em Química; 1 Lic. plena em Química; 1 Lic. em Ciências Naturais – hab. em Física; 1 Lic. plena em Biologia e 1 Lic. em Ciências Naturais – hab. em Biologia. Alguns docentes da área do conhecimento abrangida, que lecionam nas escolas inclusas na pesquisa, não foram incluídos, devido não terem participado da seleção dos livros didáticos da escola em que atuam. Para a realização das entrevistas elaborou- se um questionário com seis perguntas abertas, com as quais buscou-se ter conhecimento: do atual livro de Química, Física e/ou Biologia, adotado pela escola em que o professor exerce cargo; o que determinou a escolha deste; se há a utilização de outros recursos além do livro e o porquê de tal medida; se o livro adotado apresenta dificuldades para ser trabalhado em sala de aula e se são trabalhados todos os conteúdos presentes no material adotado. O questionário elaborado foi embasado no de Maia et al. (2011). Realizada as entrevistas, as respostas obtidas foram analisadas de forma descritiva e comparativa.

Resultado e discussão

A seleção do livro didático utilizado por uma escola representa uma tarefa de suma importância, uma vez que o material selecionado auxiliará no ensino dos conteúdos programáticos, sendo o principal e, muitas vezes, o único material utilizado na prática de professores na educação básica (MAIA et al., 2011). Levando-se em consideração a importância do LD para o ensino, a primeira pergunta feita aos professores na entrevista foi: “qual livro didático você selecionou para sua escola?”, no Quadro, tem-se as obras mencionadas. Após citarem a coleção que haviam escolhido, indagou-se quais critérios foram adotados para a seleção do material, em destaque se têm os relatos dos profs. A e C, respectivamente: “O que determinou a escolha do livro didático foi o fato deste apresentar uma linguagem mais acessível, textos de apoio, imagens ilustrativas, conteúdo adaptável a SEDUC e ENEM, e exercícios elaborados em grau de dificuldades em escala gradual de profundidade.”; “A abordagem minuciosa dos temas propostos no ensino de Física com uma abordagem contextualizada, ilustrações de boa qualidade, textos sobre a história da física, o uso da Física nas tecnologias e situações-problemas com diversos níveis de resolução, tanto quantitativo como qualitativo.” Os critérios mencionados pelos professores se assemelham aos contidos no artigo de Cassab e Martins (2003), que descrevem critérios adotado por professores de escolas do Rio de Janeiro, onde destacam a relevância que é atribuída ao conteúdo para seleção do LD. Para os professores entrevistados pelos autores, o bom livro é aquele “rico em informações”. Ao analisar os pontos que determinam a escolha do LD mencionados nas entrevistas, verifica-se que os professores definem categorias a serem seguidas assim como Bandeira et al. (2012), tais como: clareza conceitual, contextualização, organização sequencial, leituras complementares, analogias de imagens adequadas e sistematização do conhecimento através de exercícios diversificados. Quando perguntados se utilizavam outros livros ou qualquer material para elaboração de suas aulas, todos os professores afirmaram que sim, destacando os comentários dos profs. B e C, respectivamente: “Sim, utilizo vários materiais, sempre busco na internet apostilas, sites e exercícios.”; “Sim, comumente utilizo livros didáticos de outras editoras, como: Física, interação e tecnologia, da editora Leya; Física para o ensino médio, da editora Saraiva; Física, contexto e aplicação da editora Scivione, entre outros. Além disso, utilizo livros e revistas (material paradidático), como: revista Galileu, Superinteressante, vídeos e slides.” Concordando com Lajolo (1996), que descreve que mesmo os melhores livros necessitam de adaptações e complementações. Os PCN’s recomendam que o professor utilize outros recursos didáticos, além do livro. Jornais, revistas, computadores, filmes etc., também são fontes de informações que o professor pode recorrer para ampliar o tratamento dado aos conteúdos e fazer com que o aluno se sinta inserido no mundo à sua volta (Brasil, 1997). Segundo Nicola et al. (2016), para que os alunos demonstrem maior interesse pelas aulas, todo e qualquer recurso ou método diferente do habitual utilizado pelo professor é de grande valia, servindo como apoio para as aulas. Perguntados sobre o que levou-lhes a recorrerem a outros materiais, os professores relataram de modo geral a diversificação das informações, ressaltando as falas dos profs. C e E, respectivamente: “O livro didático principal é muito bom, mas tem um nível avançado na aplicação de situações-problemas, o que, em face das habilidades pouco desenvolvidas dos alunos que vem do ensino fundamental, torna algumas vezes a aplicação desses exercícios, incompreensível para a maioria dos alunos, logo consigo em outros livros atividades e problemas mais simples, para depois aplicar exercícios com maior grau de complexidade. A utilização de slides e vídeos facilita a compreensão de alguns assuntos da Física que são abstratos e de difícil compreensão, caso não haja a observação de filmes, imagens ou manipulação através da experimentação.”; “O livro é bastante cheio de informações, porém necessitamos de outras ferramentas além do livro.” Ao abordar a questão da existência de dificuldade em trabalhar com o livro didático selecionado, três dos professores afirmaram que sim, com justificativa geral de que sempre existem lacunas ao se trabalhar somente com um livro, enfatizando a resposta do prof. C: “O aluno tem dificuldade com a utilização da ‘ferramenta matemática’, da leitura, compreensão e interpretação de textos científicos. Assim, o livro didático principal, principalmente no 1º ano tem um nível avançado para esses alunos.”. Enquanto outros dois relataram que não, porém com uma ressalva colocada pelo prof. D: “Não há dificuldades, porém, temos um problema quanto a quantidade que nunca vem o suficiente para entregar para cada aluno.” Nuñez et al. (2003), descreve a respeito da competência que o docente deve adquirir para superar as limitações próprias dos livros, que por seu caráter genérico, por vezes, não podem contextualizar os saberes como não podem ter exercícios específicos para atender às problemáticas locais. Para os autores é tarefa dos professores complementar, adaptar, dar maior sentido aos livros recomendados pelo MEC. Quando questionados a respeito de trabalharem todos os conteúdos do livro adotado ou se selecionam aqueles que consideram mais importantes, os cinco professores afirmaram que tem preferência por determinados assuntos, como mencionam os profs. C e D, respectivamente: “Em função das poucas aulas de Física, raro são as turmas que tem três aulas semanais, entre outros fatores, é inviável trabalhar todos os conteúdos, por isso desconsidero aqueles menos presentes em situações de certame de exames classificatórios, como exemplo, o ENEM, vemos apenas de forma superficial, para não prejudicar a abordagem mais minuciosa daqueles que são de praxes. Nos três anos de ensino estudamos de uma forma diferenciada, mecânica, ondulatória, leis de Newton, estudos dos gases, dentro da termologia, óptica, eletrostática e eletromagnetismo, introdução de física moderna.”; “É impossível trabalhar todos os conteúdos do livro, não há tempo suficiente para a quantidade de conteúdo e atividade. Conteúdo extenso e tempo/aulas insuficiente.” Conforme menciona um dos documentos oficiais que rege a educação brasileira, os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM), na seleção dos conteúdos deve-se ter como ponto de partida as situações de interesse imediato do aluno, o que ele vive, conhece ou sofre influências (MAIA et al., 2011).

Quadro:

Livros didáticos adotados por professores das escolas de ensino médio de Salvaterra no ano de 2018.

Conclusões

Por meio das entrevistas realizadas, verificou-se que os critérios adotados pelos professores de Salvaterra para seleção dos livros didáticos se assemelham, uma vez que todos os participantes definem o conteúdo como ponto crucial para a escolha do LD. Para os docentes um bom livro para se trabalhar com os alunos, deve apresentar uma linguagem acessível e contemplar exercícios em níveis de complexidade gradativos. A utilização de outros materiais didáticos que venham a contribuir para o aprendizado do aluno também são bem vistos pelos professores, inclusive todos fazem uso de outros recursos para elaboração de suas aulas e atividades, o que torna o ensino mais dinâmico, além de diversificar a forma de abordagem dos conteúdos programáticos. A não abordagem a todos os conteúdos contidos nos livros didático pelos professores entrevistados é justificada pelas poucas horas/aulas que estes têm para trabalha-los, no entanto, os docentes buscam focar naqueles assuntos que geralmente são cobrados em vestibulares. Diante dos relatos dos professores acerca dos livros didáticos utilizados como fonte científica para os ensinamentos de suas disciplinas, conclui-se que as obras escolhidas estão, dentro de suas limitações, atendendo os professores quanto a elaboração de suas aulas. Por ser de responsabilidade do docente a escolha do LD, espera-se que estes de modo geral analisem minuciosamente a qualidade dos materiais disponíveis na rede pública e busquem àqueles realmente adequados ao seu público alvo, optando sempre pelos que apresentam textos e imagens de boa qualidade, e que sejam adequadas a realidade na qual seus alunos se encontram. Pois, colaborar com a formação de um cidadão crítico, reflexivo e inovador, que perceba as oportunidades e faça delas soluções para uma vida melhor, deve ser o objetivo a ser alcançado por todos que acreditam num mundo mais justo e igualitário.

Agradecimentos

Referências

AGUIAR JÚNIOR, O. G. Professores, Reformas Curriculares e Livros Didáticos de Ciências: parâmetros para produção e avaliação do livro didático. In: Encontro de Pesquisa em Ensino de Física, 9. Anais eletrônicos. Jaboticatubas: UFMG, 2004. v. 1, p. 1-10.

BANDEIRA, A.; STANGE, C. E. B.; SANTOS, J. M. T. Uma proposta de critérios para análise de livros didáticos de ciências naturais na educação básica. In: Simpósio Nacional de Ensino de Ciências e tecnologia, 3. Ponta Grossa, 2012.

BRASIL. Ministério da Educação. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Programa Nacional do Livro Didático: Funcionamento. 2017. Disponível em: <http://www.fnde.gov.br/programas/livro-didatico/livro-didaticofuncionamento>. Acesso em: 20 maio 2018.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: ciências naturais. Brasília-DF: MEC/SEF, 1997. 136p. Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro04.pdf>. Acesso em: 22 maio 2018.

CARNEIRO, M. H. S.; SANTOS, W. L. P.; MOL, G. S. Livro didático inovador e professores: uma tensão a ser vencida. Ensaio. Pesquisa em Educação em Ciências, Belo Horizonte - UFMG, v. 07, n. 02, p. 35-45, 2005.

CASSAB, M.; MARTINS, I. A escolha do livro didático em questão. In: IV Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências. Bauru-SP, 2003. Disponível em: < http://fep.if.usp.br/~profis/arquivos/ivenpec/Arquivos/Orais/ORAL010.pdf>. Acesso em: 22 maio 2018.

FRISON, M.D; VIANNA, J; CHAVES, J.M; BERNARDI, F.N. Livro Didático como Instrumento de Apoio para a Construção de Propostas de Ensino de Ciências Naturais. In: Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências, 7. Florianópolis-SC, 2009.

LAJOLO, M. P. Livro didático: um (quase) manual didático. Brasília-DF, v. 16, n.69, p. 40-49, 1996.

MAIA, J. O.; SÁ, L. P.; MASSENA, E. P.; WARTHA, E. J. O livro didático de química nas concepções de professores do ensino médio da região sul da Bahia. Química Nova na Escola, v. 33, n. 2, p. 115-124, 2011.

NICOLA, J. A.; PANIZ, C. M. A importância da utilização de diferentes recursos didáticos no ensino de biologia. Infor, Inov. Form., Rev. NEaD-Unesp, São Paulo, v. 2, n. 1, p.355-381, 2016.

NUÑEZ, I. B.; RAMALHO, B. L.; SILVA, I. K. P.; CAMPOS, A. P. N. A seleção dos livros didáticos: um saber necessário ao professor. O caso do ensino de ciências. Revista Iberoamericana de Educación, v. 33, n. 1, p. 1-11, 2003.

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