ENSINO DE QUÍMICA PARA CRIANÇAS: DA CURIOSIDADE INFANTIL À FORMAÇÃO PARA A CIDADANIA

ISBN 978-85-85905-23-1

Área

Ensino de Química

Autores

Barros, H.N.S. (IFRJ-NILÓPOLIS) ; Cardoso, A.C.O. (IFRJ-NILÓPOLIS) ; Oliveira, D.A.A.S. (IFRJ-NILÓPOLIS) ; Messeder, J.C. (IFRJ-NILÓPOLIS)

Resumo

Este texto apresenta e discute os dados de um projeto do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) realizado em uma escola municipal situada no terceiro distrito de Duque de Caxias, município do estado do Rio de Janeiro. O projeto visa tornar os alunos do ensino fundamental, participantes da pesquisa, sujeitos ativos no processo de ensino e aprendizagem, uma vez que utiliza atividades num contexto de educação CTS. Como recorte, são trazidas duas intervenções que compreenderam rodas de conversa e atividades experimentais investigativas para o ensino de Ciências, com foco na Química. Os resultados indicaram que as metas do projeto tem oportunizado um ensino em sala de aula que se mostra eficaz na dinamização das discussões de temas químicos sociais e ambientais.

Palavras chaves

ensino fundamental ; experimentação; abordagem CTS

Introdução

A criança é um ser curioso por natureza que busca respostas para suas observações sociais e do meio natural. Nos anos iniciais de ensino os estudantes são capazes de observar, explorar e sanar suas inquietações nas aulas de ciências, com possibilidades para uma alfabetização científica. Para ampliar as perspectivas no ambiente educacional é propício utilizar uma abordagem CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade) com a intenção de possibilitar que os alunos do ensino fundamental possam ter um melhor entendimento da sua realidade, sendo partícipes do processo de cidadania (LORENZETTI; DELIZOICOV, 2001). Algumas pesquisas mostram que o contato dos alunos com a química, ainda no ensino fundamental, pode se tornar um facilitador da aprendizagem de vários conteúdos científicos, mesmo antes de tais alunos chegarem ao ensino médio (SILVA; ZANON, 2000). Ao considerar os objetivos de promover um conhecimento articulado com a saúde e meio ambiente, foram realizadas, na presente pesquisa, duas intervenções com estudantes do ensino fundamental, no município de Duque de Caxias, Rio de Janeiro. As atividades foram elaboradas e conduzidas por dois graduandos em Licenciatura em Química do IFRJ, participantes bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), com a cooperação da professora regente da turma que também participa como pesquisadora no projeto.

Material e métodos

No segundo semestre de 2017 foram realizadas duas intervenções, onde a primeira priorizou a questão da saúde humana e sua relação com a vitamina C, enquanto que a segunda intervenção focou a poluição ambiental. Em ambos os momentos os alunos elaboraram desenhos a partir dos seus entendimentos prévios e posteriores às intervenções. Inicialmente, empregou-se nas duas intervenções a roda de conversa, por possibilitar a exploração dos conhecimentos dos estudantes (MOTTA, 2011). Na primeira intervenção houve o uso de figuras de alimentos e a incitação para que as crianças identificassem a figura que representasse o(s) alimento(s) com maior quantidade de vitamina C. No segundo momento, os alunos foram para a horta, existente na unidade escolar, reconhecer um alimento como fonte com vitamina C. Assim, foi possível realizar, no laboratório, uma atividade experimental, adaptada dos métodos de Silva et al. (1995), onde foram analisados sucos de acerola, limão, laranja, couve (colhida na horta) e comprimido efervescente de vitamina C. Na segunda intervenção foi utilizada a apresentação do vídeo “Turma da Mônica contra o Capitão Feio” (Figura 1). Nessa etapa, houve uma contação da história do caso “João e o Meio Ambiente”. elaborado pelos licenciandos pesquisadores, cujo final levanta um problema para os alunos resolverem. No próximo momento, as crianças foram levadas ao laboratório de ciências onde já estavam separados três kits para que grupos tentarem separar a água de óleo de fritura usado. Os kits continham: béqueres com a mistura água-óleo, algodão, papel toalha e lupas. Após as tentativas, utilizou-se funil de bromo para separar a água do óleo, e em seguida, todos os alunos puderam fazer uma avaliação da água separada, a partir de uma análise ao microscópio.

Resultado e discussão

A roda de conversa, com perguntas provocativas quanto à vitamina C, gerou discussões, que permitiram aos pesquisadores perceberem os diferentes entendimentos dos alunos. As dúvidas surgidas foram sanadas durante essa etapa. A atividade com a seleção de figuras/fotos, dentre as espalhadas no centro da roda, para representar o alimento com mais vitamina C, possibilitou discussões sobre os benefícios dos sucos naturais para saúde, quando comparados aos industrializados. A ideia da vitamina C estar presente somente em frutas foi desconstruída, uma vez que no segundo momento, por ocorrer na horta, eles tiveram a informação que a vitamina C também está presente em legumes e hortaliças. Ao seguir, as crianças escolheram a couve para fazer a análise no laboratório. Durante a análise do teor de vitamina C, os alunos puderam notar uma diferença considerável dentre as amostras usadas, sendo a acerola reconhecida como a “mais vitaminada”. Antes da exibição do vídeo da Turma da Mônica, as crianças ainda não se viam como participantes do processo poluidor do ambiente. A partir da leitura do caso, foi possível que as crianças confrontassem suas ações no cotidiano, e as dos seus familiares, com o processo de poluição. Além disso, o texto finaliza com uma indagação sobre como solucionar o problema do descarte do óleo usado, que, por fim, chegou aos rios. No laboratório testaram, discutiram e observaram uma possível separação, terminando com uma análise microscópica, onde perceberam a complexidade do problema. Essa experimentação possibilitou um momento problematizador (FRANCISCO JÚNIOR; FERREIRA; HARTWIG, 2008). Foi possível verificar mudanças de percepções entre as crianças, principalmente em relação à atenção que toda a sociedade deve ter ao processo de conservação ambiental.

Figura 1

O personagem "Capitão Feio". Vídeo usado na intervenção com as crianças: "Turma da Mônica contra o Capitão Feio".

Conclusões

A primeira intervenção teve foco em conscientizar dos bons hábitos alimentares, e em discutir o uso indiscriminado de produtos industrializados e fármacos. Na segunda intervenção foi possível abordar o impacto do descarte impróprio do óleo de cozinha, e discutir novas práticas de preservação ambiental. As intervenções proporcionaram resultados satisfatórios, onde as atividades com abordagem CTS geraram discussões e debates ativos e descontraídos, resultando em uma desconstrução de conhecimentos. Dessa forma, é possível a construção da criança como cidadã, além da melhora da qualidade de vida.

Agradecimentos

Ao IFRJ-Nilópolis e ao CNPq pela concessão de bolsas PIBIC.

Referências

FRANCISCO JÚNIOR, W. E.; FERREIRA, L. H.; HARTWIG, D. R. Experimentação Problematizadora: Fundamentos Teóricos e Práticos para a Aplicação em Salas de Aula de Ciências. Química Nova na Escola, n. 30, p. 34-41, 2008.

João e o Meio Ambiente. Disponível em: <https://drive.google.com/file/d/1J8pXnpmYv9FsK3NB6o5kTd4ZeH3vAx1s/view?usp=sharing>. Acesso em: 29 jul. 2018.

LORENZETTI, L.; DELIZOICOV, D. Alfabetização científica no contexto das séries inicias. Ensaio - Pesquisa em Educação em Ciências, Belo Horizonte, v. 3, n. 1, p. 45-61, jun. 2001.

MOTTA, F. M. N. Salada de Crianças: a roda de conversa como prática dialógica. In: Educação Infantil: enfoques em diálogo. 2a ed. Campinas: Papirus, 2011, v.1, p. 67-84.

SILVA, L. A.; ZANON, L. B. A experimentação no ensino de Ciências. In: SCHNETZLER, R. P.; ARAGÃO, R. M. R. (Org.). Ensino de ciências: fundamentos e abordagens. São Paulo: CAPES/UNIMEP, 2000. p. 120- 153.

SILVA, S. L. A. et al. À procura da vitamina C. Química Nova na Escola, São Paulo, v. 2, n. 2, p. 31-32, 1995.

TURMA DA MÔNICA. Turma da Mônica contra o Capitão Feio. 2016. (7 m 17 s). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Lu5VnFGiKF0>. Acesso em: 28 jun. 2018.

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