A UTILIZAÇÃO DE ATIVIDADE PRÁTICA NA PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA.
ISBN 978-85-85905-23-1
Área
Ensino de Química
Autores
Druzian, Q.B.A. (CRQ 14°) ; Preato, D.O. (EFA) ; Soares, R.M.J. (FAP) ; Alves, A.L.V. (SAAE) ; Mattos, R.R.R. (SEDUC)
Resumo
O presente artigo trata de um projeto realizado com alunos da 1ª série do Ensino Médio do curso Técnico em Agropecuária, desenvolvido em uma escola de semi-internato que utiliza a pedagogia da alternância, denominado Projeto Foguete. A metodologia do PF (Projeto Foguete) foi trabalhada somente com duas turmas de uma quinzena, e, a abordagem envolveu os educandos nas disciplinas de química e física. Por se tratar de alunos de semi-internato e moradores da área rural em sua grande maioria, o projeto deveria ser desenvolvido por meio do conteúdo conceitual e procedimental correspondentes, que foram explicados e discutidos antes do experimento. Os resultados obtidos ao final do PF contemplaram os aspectos positivos salientados durante seu desenvolvimento, atendendo assim seus objetivos.
Palavras chaves
Pedagogia da Alternância,; Aprendizagem,; Experimentação.
Introdução
Em 1935 a PA (Pedagogia da Alternância), surge na França em função do movimento de Sillon, onde a preocupação central era a formação do Jovem agricultor francês. No Brasil temos o seu surgimento no final da década de 1960 a partir do Movimento de Educação Promocional do Espírito Santo (MEPES). O estado de Rondônia foi contemplado no ano de 1980 com a PA através da criação da Escola Família Agrícola (EFA) Padre “Ezequiel Ramin”, na linha 10, km 04, município de Cacoal, e, esta possui estrutura administrativa organizada com uma Associação das Famílias, funcionários e equipe de monitores (CRUZ, 2010) Para compreendermos a PA utilizada pela EFA de Cacoal é necessário saber que sua origem trazia contigo o envolvimento direto da família, bem como o interesse para a formação dos jovens e sua profissionalização, sendo esse seu princípio fundamental. A referida pedagogia é utilizada na instituição atendendo estudantes, jovens agricultores, fornecendo o curso Técnico em Agropecuária. A PA é aplicada na modalidade de semi-internato onde o aluno estuda 15 dias na escola (modalidade internato), com 11 aulas diárias, denominada Sessão Escolar, e, 15 dias em casa, com atividades e aulas elaboradas para que o mesmo possa desenvolver no âmbito familiar, denominada Sessão Familiar. Por se tratar de um curso técnico, a escola atende alunos de todo o estado, e, em quase toda sua totalidade são filhos de agricultores, que veem em busca de aperfeiçoamento e conhecimento para continuarem a desenvolver suas atividades no campo juntamente com suas famílias. Considerando que a escola possui somente uma turma do 9º ano do ensino fundamental e 04 turmas de Ensino Médio Técnico em Agropecuária, percebemos que a maior parte dos alunos vem de outras instituições da zona rural de suas origens. Quando esses alunos egressos iniciam na instituição suas defasagens decorridas do processo de ensino-aprendizagem oriundas do ensino fundamental ficam evidentes logo no início, principalmente nas disciplinas de exatas, sendo este um grande desafio para os professores que utilizam a PA, e, foi justamente esse déficit que fez com que os professores das disciplinas de química e física aplicassem em suas aulas algo que pudesse fazer a diferença e comprovar que pode ser utilizada de outra ferramenta pedagógica para complementar o processo de ensino da PA. Nurrenbern e Robinson (1997) complementam ainda que a aprendizagem colaborativa tem obtido espaço na literatura e orientando-nos a criar oportunidades para a realização de experimentos em equipe. Para Freire (2006), quanto mais crítico é o ato de aprendizado, mais a curiosidade torna-se epistemológica, deflagrando no aprendiz uma curiosidade cada vez maior. O eixo central utilizado como ferramenta pedagógica nessa prática educativa associada a PA foi a experimentação, que complementa o processo de melhoria e complementa o conhecimento. Segundo Giordan (1999, p. 43) nos afirma que a atividade experimental funciona como meio de envolver os alunos nos conteúdos trabalhados, por isso, é comum ouvir de professores a aprovação de práticas associadas à teoria. O reconhecimento do caráter particular da experiência vem desde a antiguidade, Aristóteles já defendia seu uso há mais 2300 anos quando dizia: "quem possua a noção sem a experiência, e conheça o universal ignorando o particular nele contido, enganar-se-á muitas vezes no tratamento" (Aristóteles, p.212, 1979)
Material e métodos
O PF (Projeto Foguete) foi realizado pelos professores das disciplinas de química e física com os alunos do 1º ano de Ensino Médio e Técnico em Agropecuária como ferramenta pedagógica complementar da PA no 3º Bimestre, após identificarem o déficit nos 02 anteriores, nessas disciplinas de exatas. A metodologia utilizada foi a de realização de experimentos e comparação de resultados, e, para isso, foram analisados os resultados por turma e sessão, e escolhida a que apresenta turma com maior dificuldade de aprendizado. Feito isso foi identificado que se trabalharia o projeto na sessão escolar A, com as turmas de 1ºA com 19 alunos, e, 1ºC com 27 alunos. Logo após os professores conversaram com as turmas e apresentaram a proposta do PF, onde atenderia as duas disciplinas, para complementar os conteúdos de Química (reações químicas) e Física (Queda Livre e 3º Lei de Newton). Os alunos das turmas selecionadas ficaram muito empolgados e eufóricos, considerando que a experimentação não faz parte do dia a dia da PA. A proposta do PF é de que os mesmos deveriam produzir seus próprios foguetes a partir de elementos simples e utilizados no cotidiano, em seguida foram divididos em grupos. O projeto seria desenvolvido no primeiro instante em sala tirando dúvidas ainda existentes sobre o conteúdo para aplicarem na prática, após o termino da sessão escolar cada um levaria para casa a tarefa de trazer a sua parte do material ao qual tenha ficado responsável para a construção do foguete que seu grupo construiria. Ao retornarem para próxima sessão escolar os mesmos construíram em grupo separados os seus foguetes, no horário das aulas de química e física, bem como, puderam tirar algumas dúvidas ainda existentes e marcamos a data da apresentação e lançamento dos foguetes para toda a escola no campo de futebol. Também como parte do PF, após a apresentação os grupos tiveram que entregar um relatório descrevendo quais materiais foram utilizados, qual reação química aconteceu bem como o balanceamento das mesmas, com cálculo de queda livre e explicando como ocorreu à 3º de Newton, sendo o mesmo avaliativo para as duas disciplinas. Os materiais utilizados pelos grupos para confecção dos foguetes foram garrafas Pet, cano de PVC, bicarbonato de sódio, vinagre, água, rolhas, bomba de ar manual, papelão e fita. Todos os foguetes tiveram a estrutura física construída a partir da matéria prima de garrafas pet, rolhas, papelões e fitas, porém, alguns grupos utilizaram o vinagre juntamente com o bicarbonato para ocorrer à reação através da liberação de gases, enquanto que outros grupos optaram pela reação de pressão utilizando de água e bomba de ar manual. A opção pela utilização da estrutura feita com cano de PVC também não foi aderida por todos os grupos.
Resultado e discussão
A abordagem com atividade experimental permitiu valorizar as trocas entre os
parceiros em sala de aula, com interações onde o objetivo final sempre será
o crescimento e melhoria do aluno, onde o conceito científico pode ser mais
detalhado pelo professor, pois passou ser mais discutido em um processo
inicial, quanto os conceitos mais populares dos alunos passaram a ser
enriquecidos e tomaram um caminho mais ascendente, já que foram ampliados
pelo conhecimento científico. Podendo ser contatado ao final do bimestre no
processo avaliativo, quando comparamos com as duas turmas da sessão que não
realizou o projeto, considerando que mesmo que nos bimestres anteriores
estas mesmo que com pouquíssima diferença apresentavam melhores aprendizados
e notas.
Também a utilização no PF de materiais de baixo custo foi um fator decisivo
para estimular os alunos a adotarem uma atitude mais empreendedora e a
romperem com os métodos tradicionais que muitas vezes lhes são impostos.
Novas habilidades, dentre elas criatividade e cooperativismo puderam ser
percebidas, bem como a capacidade de criar e buscar soluções alternativas e
baratas.
O que houve foi uma evolução e crescimento não só em aprendizado, mas
perceptível como pessoa nos alunos, pois estes, após a realização do projeto
não
eram mais os mesmos. Passaram a apresentar busca pelo saber, a serem mais
observadores e questionadores, o que os tornaram diferentes dos que antes
eram iguais, despertando também o querer fazer mais não somente nos
realizadores do projeto, mais em toda a equipe que até então estava imersa
na metodologia tradicional da PA.
Grupo se preparando para o lançamento do foguete.
Grupo fazendo o lançamento do foguete.
Conclusões
Partindo da premissa de que a ferramenta de experimentos funciona como excelente recurso didático, podemos considerar que o objetivo foi muito além, se analisarmos a evolução dos alunos em aprendizado e notas percebermos ainda que o PF veio pra somar e agregar ao método da PA, trazendo efeitos significativos e relevantes. Sendo que este envolveu não somente a turma dos primeiros anos da sessão, mas sim todas as turmas daquela sessão ao assistirem o lançamento dos foguetes, possibilitando um momento dinâmico e evolutivo agregado ao método de ensino utilizado desde o início da história da escola.
Agradecimentos
Agradecemos primeiramente a Deus, e, aos colegas de equipe por abraçar e apoiar o Projeto Foguete.
Referências
ARISTÓTELES. Metafísica, “Livro A, cap. I”. Coleção Os Pensadores. Editora Abril, São Paulo, 1979, p. 212 (orig. século IV a.c.).
CRUZ, Nelbi Alves da. Pedagogia da Alternância: uma metodologia própria e apropriada das Escolas Famílias Agrícolas protagonizada pelos camponeses. In: I SEMINÁRIO INTERNACIONAL E III SEMINÁRIO NACIONAL: MOVIMENTOS SOCIAIS, PARTICIPAÇÃO E DEMOCRACIA. Florianópolis/ SC : 2010.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 33ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006.
GIORDAN, M.(1999): “O Papel da Experimentação no Ensino de Ciências”, in: Química Nova na Escola, n.º 10, pp. 43-49.
NURRENBERN, S.C. e ROBINSON, W.R. Cooperative learning: a bibliography. Journal of Chemical Education, v. 74, p. 623-624, 1997.