EDUCAÇÃO E A LUTA DE CLASSES: O ENSINO DE CIÊNCIAS NA EDUCAÇÃO DO CAMPO

ISBN 978-85-85905-23-1

Área

Ensino de Química

Autores

Stedile, A.M.A. (IFCE - CAMPUS MARACANAÚ) ; Barroso, M.C.S. (IFCE - CAMPUS MARACANAÚ) ; Sampaio, C.G. (IFCE - CAMPUS MARACANAÚ) ; Santiago, S.B. (IFCE - CAMPUS MARACANAÚ) ; Silva, C.R.F. (IFCE - CAMPUS MARACANAÚ) ; Araújo, S.L. (IFCE - CAMPUS MARACANAÚ)

Resumo

O trabalho apresenta um apanhado histórico das bases que fomentam a luta de classes inseridas na discussão da educação em ciências no contexto rural. Expomos como ponto de partida da mercadoria - o casaco de Marx - as relações pertinentes a sociedade de classes, e por último, a urgência de uma formação educacional, especialmente, a do ensino de ciências no contexto do campo. O objetivo do trabalho é refletir sobre a sociedade de classes, a relação da educação do campo e o ensino de ciências no meio rural. Os relatos da comunidade escolar do assentamento enriquecem as informações e a valorização desse modelo educacional. As escolas do campo trazem as conquistas oriundas da luta de classe, assim contribui na organização para a formação social de uma sociedade comunista.

Palavras chaves

educação; ciências; campo

Introdução

O ponto de partida é a relação de Marx com seu casaco, pois esse é o fundamento que envolve um dos grandes problemas da luta de classes. Para que pudesse escrever seu livro ele precisava encontrar-se bem vestido com roupa de boa qualidade, e assim, permitir sua entrada no museu britânico e que ainda, não fosse mandado embora para fora do ambiente por estar vestido inadequadamente. O tratamento que damos ao objeto vai mais além do que o valor sentimental acumulado, ao vender um produto, tratou com equivalência a alguns padrões orçamentários, para assim poder adquirir valor de comércio. “A forma mercadoria não tem absolutamente nenhuma conexão com a natureza física da mercadoria e com a s relações materiais que surgem a partir disso” (STALLYBRASS, 2012, p. 41). Marx estuda em O Capital, a relação entre valor de produto e o trabalho humano. O desprendimento dos empreendedores europeus aos objetos, se opunham aos seus acúmulos de obras colecionáveis. Suas pesquisas acerca do comunismo e as ideias, impactou a vida de milhares de pessoas e fomentou os estudos e métodos de organização da classe operária para que se lutasse pelas causas populares.A luta de classe favorece o fortalecimento dos movimentos sociais organizados. Mas o papel da revolução social é fazer com que o povo oprimido tenha acesso a teoria/informação/conhecimento e especialmente, educação. Por meio de uma revolução democrática a classe operária, o proletariado, consegue elevar-se a um nível de decisões que em primeiro momento não lhe concede grandes avanços em suas conquistas. A ascensão e inserção política de pessoas frutos das forças sindicais assustam as forças dominantes. Dessa forma de organização podemos perceber a busca pela educação nos assentamentos e acampamentos de movimentos sociais lutando pela reforma agraria, onde um dos meios do acesso a informação são as escolas do campo. A adaptação dos currículos para que sejam próximas a realidade das atividades rurais, são constantemente pensadas. A formação de professores com essas bases comunistas é introduzida tanto nos currículos das universidades quanto nos programas de formação de professores, especialmente na área de ciências, um terreno ainda árido. Mas há de se pensar essa educação do campo na perspectiva do ensino de ciências. A luta do MST pela terra e a luta pelas escolas ocorre quase simultaneamente, onde o cultivo pelos valores da educação possuem a mesma importância do direito pela terra. O acesso ao ensino precisa buscar maiores apoios e incentivos, a formação de professores e a manutenção das políticas educacionais. Essa luta, mais específica nos espaços das escolas, passam a servir de base para a organização da luta pela Reforma Agrária. A ocupação das escolas pelo movimento se baseia em as famílias se mobilizarem para que possam ter acesso a uma escola que fizesse sentido em sua realidade rural, objetivando um futuro para as novas gerações, mostrando que as organizações têm espaços para todos aqueles que procuram trabalhar uma sociedade comunista e que preserva os direitos de todos. “Logo foram percebendo que se tratava de algo mais complexo. Primeiro porque havia (como há até hoje) muitas outras famílias trabalhadoras do campo e da cidade que também não tinham acesso a este direito”(CALDARTI, 2003, Pág. 26). A formação de professores oriundos dos assentamentos, conhecedores da realidade da vida do campo, capaz de refletir sobre os currículos padrões estabelecidos pelo ministério da educação, e de como ele impacta na luta pela reforma agraria. As escolas tradicionais não possuem a representatividade necessária para comportar a carga histórica e de luta das comunidades assentadas. A pedagogia nela inserida, não condiz com os paramentos utilizados na formação de um sem- terra. Ao começar o projeto das escolas itinerantes de assentamos por volta de 1996, fez com que crianças e adolescentes tivessem acesso a uma escola apropriada para elas. O ensino de ciências, por essa via, estaria circunscrita a um movimento de luta, de resgate a identidade do campo, entretanto, evidenciada pelas suas ações que trazem a reforma agrária como centro do debate, e a luta camponesa. O ensino de ciências, assim, estaria mais perto da dimensão cotidiana, ambiental e que revela pouco, ou quase nenhum recurso de infraestrutura necessária para objetivação desse processo. No entanto, mesmo sem as ideais/reais condições, as escolas dos assentamentos procuram trabalhar os conteúdos de forma que sejam refletidas nas suas atividades no campo. Além de formar seres capazes de realizar as suas transformações e colaborar para com as transformações dos companheiros e companheiras de luta, a reforma agraria só acontece com a participação efetiva do povo organizado. Embora este horizonte se desloca em direção oposta ao que propagava Marx: a revolução(proletária) e não a reforma(agrária).

Material e métodos

A metodologia utilizada na pesquisa foi embasa em revisões bibliográficas e entrevistas com profissionais da educação. As bibliografias utilizadas foram os livros: O casaco de Marx de Peter Stallybrass; Nos e o Marxismo de Florestan Fernandes e MOVIMENTO SEM TERRA:lições de Pedagogia de Roseli Caldart. As entrevistas foram realizadas na Escola de Ensino Médio Florestan Fernandes,localizada no Assentamento Santana, Município de Monsenhor Tabosa - Ceará. A Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação (CREDE) de Crateús,é a representante de um conjunto de escolas na Secretaria de Educação do Ceará (SEDUC). As entrevistas ocorreram com O Núcleo Gestor composto pelo Diretor Eudes Araújo Santos; a Coordenadora Pedagógica Zilda da Conceição de Sousa da Luz; a Secretária Maria Euzimar Pereira dos Santos e a Assistente Financeira Maria Rosenir da Luz Pereira. a professora de química Rossiclê Almeida dos Santos, pelas alunas Thais e Luciana ambas cursando o 3º ano e por representantes do assentamento; Sendo eles o João Mamede morador do assentamento e José da Luz Sousa Presidente da cooperativa. Ao núcleo gestor foi investigado a organização da instituição no que se diz respeito ao modelo pedagógico adotado pela escola, como ocorre as formações e planejamentos dos docentes, os recursos financeiros, fundação, conquistas do espaço físico, metas e desafios educacionais. A professora a entrevista questionou como ocorre o planejamento da professora, deslocamento até a escola, formação inicial e continuada, dificuldades educacionais e como ocorre a extensão da química no campo experimental da escola. As alunas o conteúdo foi referente como elas conseguem relacionar a química com as atividades do assentamento e como elas utilizam as novas tecnologias no processo de ensino - aprendizagem. Aos moradores do assentamento foi perguntado o histórico da luta pela terra e como as atividades e ações da cooperativa colaboram para a coletividade dos assentados.

Resultado e discussão

As entrevistas permitiram um aprofundamento na forma de organização escolar das instituições que estão situadas em regiões de assentamentos do Movimento Sem Terra - MST. A luta pela terra e pela educação estava em sintonia, pois logo apos o período de ocupação, os pais queriam um espaço que seus filhos pudessem ser educados, pois a educação é um direito garantido, e não seria diferente para os assentados. No relato do diretor da escola, o espaço educacional foi conquistado por meio de muita luta e apoio da comunidade, espaço cedidos para que ocorressem as aulas que inicialmente era de ensino infantil e series inicial do ensino fundamental, e que ao longo dos anos foram varias conquistas tanto em ampliação de atendimento aos alunos, quanto em estrutura física da escola. A gestão da escola de ensino médio funciona em coogestão com a escola de ensino fundamental São Francisco, os recursos que vem para as escolas são administrados de forma que todas as modalidades de ensino sejam valorizadas e contempladas. A escola possui um sistema que busca trabalho com o aluno o lado cognitivo e social, trabalhando o inventário da realidade que ira se dividir em diversas porções ao longo do ano letivo, cada bimestre são escolhidos temáticas que serão trabalhadas m todas as disciplinas. As aulas de química na escola são realizadas em um único dia devido o deslocamento da professora que não mora na região, elas ocorrem normalmente em sala, mas não impede da extensão dos espaços educacionais, a professora costuma levar os alunos para o campo experimental da escola, que seria uma espécie de laboratório, que atende as disciplinas da matriz universalizada em todas as escolas do estado, mas também nas disciplinas agroecológicas da escola. A professora de química possui metodologias que desenvolvam o trabalho coletivo e a valorização do meio que os alunos vivem, buscando mostrar que os conceitos químicos podem ser observados em todos os lugares. Uma questão muito discutida, conversada e refletida na escola e mais especifico nas aulas de química, é a utilização de defensivos agrícolas, conhecendo os lados positivos e negativos do seu emprego, as formas mais limpas e sustentáveis de seu consumo e os impactos ambientais e sociais. As disciplinas de ciências exatas e da natureza, busca a sintonia entre o conteúdo e as atividades do assentamento, de forma que o aluno, apos a conclusão do ensino médio, tenham tidos experiências que colaborem e os despertem para uma profissão. A busca por melhorias são observadas através da utilização do avanço tecnológico e a ampliação do acesso ao conhecimento por meio das diversas ações promovido pela escola.

alunos

visita ao laboratório para extensão do conteúdo abordado em sala de aula

Conclusões

O ensino de ciências, por essa via, estaria marcado como movimento de luta, de resgate da vida camponesa, por meio das ações que trazem a reforma agrária como discussão. O ensino de ciências, assim, estaria mais perto da dimensão social, ambiental e cultural, e que assim, nos apresenta o pouco, ou quase nenhum recurso de infraestrutura necessária para objetivação desse processo. A imagem da escola do campo é definida pelo vinculo das questões inerentes à sua realidade, apoiado no processo histórico e no conhecimento dos discentes. Dessa forma a utilização das ciências e as tecnologias devem colaborar para um projeto social coletivo de qualidade. No entanto, mesmo sem as ideais/reais condições, as escolas dos assentamentos procuram trabalhar os conteúdos de forma que sejam refletidas nas suas atividades no campo. Além de formar seres capazes de realizar as suas transformações e colaborar para com as transformações dos companheiros e companheiras de luta, a reforma agrária só acontece com a participação efetiva do povo organizado. Embora este horizonte se encontra em direção oposta ao que propagava Marx. Agradeço ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará IFCE - Campus Maracanaú, pelo apoio e colaboração no desenvolvimento e execução da pesquisa realizada no Laboratório de Praticas Pedagógicas - LAPP como bolsista PIBIC.

Agradecimentos

Agradeço ao IFCE -Campus Maracanaú, em especial ao diretor Geral Julio César e a minha orientadora Cleide Barroso. Agradeço a toda comunidade do Assentamento Santana

Referências

Stallybrass, P. (2012). O Casaco de Marx: roupas, memória, dor. (4. Ed). Belo Horizonte. Autêntica Editora.
Fernandes, F. (2009). Nós e o Marxismo. (1. Ed). São Paulo. Expressão Popular.
Caldart, Roseli Salete.(Jan/Jun 2003). MOVIMENTO SEM TERRA:lições de Pedagogia, Currículo sem Fronteiras, v.3, n.1, pp. 50-59,

Caldart, R. S.; Pereira, I. B.; Alentejano,P.; Frigotto, G. (2012) Dicionário da Educação do Campo. Rio de Janeiro, São Paulo: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio,Expressão Popular,

PAVANELLI, J. A. P. (2012). EDUCAÇÃO DO CAMPO E ENSINO DE CIÊNCIAS:Desafios e propostas a partir de princípios agroecológicos. Monografia de Estágio Curricular (optativo). Instituto de Biociências deBotucatu – UNESP, Botucatu. São Paulo. Brasil.
Ri, N. M. D.; Vieitez, C.G. (Maio /Jun /Jul /Ago 2004).A educação do movimento dos sem-terra.No 26. Brasil.

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