APLICAÇÃO DO PLANO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DE SERVIÇO DE SAÚDE NAS REDES HOSPITALARES DE SÃO LUÍS/MA
ISBN 978-85-85905-23-1
Área
Ambiental
Autores
Pereira, R.V.M. (INSTITUTO FEDERAL DO MARANHÃO) ; Fonseca, A.S.F. (INSTITUTO FEDERAL DO MARANHÃO) ; Rodrigues, L.M. (INSTITUTO FEDERAL DO MARANHÃO) ; Mota, A.S.M. (INSTITUTO FEDERAL DO MARANHÃO) ; Gomes, K.B.R. (INSTITUTO FEDERAL DO MARANHÃO)
Resumo
Este estudo teve como objetivo verificar como ocorre o gerenciamento dos resíduos de serviço de saúde, em especial os químicos e os infectantes, em dois Hospitais da cidade de São Luís/MA, o Aldenora Belo e o São Domingos, no sentido de destacar os principais procedimentos por eles realizados. Para isso, foram feitas leituras de artigos que traziam a problemática dos Resíduos de Serviço de Saúde (RSS), que proporcionaram a elaboração de um questionário para orientar as atividades posteriores. Sendo assim, realizaram-se visitas técnicas aos Hospitais, onde se verificou que o descarte dos resíduos é uma preocupação fundamental e que o plano de gerenciamento realizado em ambos segue um processo de aprimoramento, de forma a minimizar os impactos ao meio ambiente e à saúde pública.
Palavras chaves
saúde pública; resíduos hospitalares; gerenciamento
Introdução
É notório que um dos grandes problemas da sociedade contemporânea é a geração de resíduos pelas diversas atividades desenvolvidas pelos seres humanos, sobretudo nas grandes cidades, e que a produção desses resíduos vem intensificando-se continuamente, em decorrência dos novos padrões de consumo advindos do desenvolvimento tecnológico. Nesse contexto, tem-se observado que o descarte desses resíduos ocorre de forma inadequada pela grande maioria dos setores industriais, o que pode ocasionar a contaminação dos recursos naturais e comprometer a qualidade de vida da própria sociedade. É nessa perspectiva que os resíduos hospitalares também se inserem nessa problemática e por isso vem recebendo relevante destaque nos estudos dos últimos anos. Tudo isso em decorrência de uma preocupação com o meio ambiente, para que os resíduos químicos e infectantes produzidos com as atividades realizadas nos hospitais, como os medicamentos, saneantes, roupas descartáveis, materiais perfuro-cortantes, materiais resultantes de quimioterapia e radioterapia, resíduos contendo metais pesados, dentre outros, tenham um descarte adequado seguindo uma política de gerenciamento, a qual se orienta a partir da sustentabilidade e da preservação da saúde humana. Assim, ter uma preocupação com os diferentes tipos de resíduos gerados nos hospitais remete uma preocupação ambiental e social, uma vez que cuidados inadequados com a segregação, acondicionamento, armazenamento e com a destinação final desses resíduos, podem provocar graves acidentes ambientais, tais como: a contaminação do solo e dos recursos hídricos, bem como a própria contaminação humana (COSTA e FONSECA, 2009). Sendo assim, este estudo teve como objetivo verificar como se dá o descarte dos resíduos químicos infectantes nas redes hospitalares de São Luís/MA, a fim de averiguar como são os procedimentos tomados e como é o tratamento dos resíduos hospitalares. Portanto, este trabalho se justifica pela necessidade de a população ter o conhecimento de como os resíduos produzidos em dois Hospitais importantes para São Luís, O Aldenora Belo e São Domingos, estão sendo gerenciados e qual impacto estão causando no meio ambiente, já que esse assunto é um tema de saúde pública.
Material e métodos
O estudo foi realizado por alunos do Ensino Médio Técnico Integrado em Química do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão, Campus São Luís/Monte Castelo, por meio de análise de bibliografia pertinente à temática abordada, com a leitura de textos científicos que discorrem sobre os resíduos hospitalares, tais como: o gerenciamento e as questões que envolvem uma preocupação com o meio ambiente, quanto ao descarte inadequado dos resíduos químicos infectantes. Além disso, deu-se destaque à legislação vigente sobre o assunto, em especial a RDC 306/2004, que dispõem sobre o Regulamento Técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde e a Lei 12.305/2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Desse modo, essas leituras serviram para orientar a elaboração de um questionário, o qual foi aplicado em dois Hospitais relevantes para a cidade de São Luís, o Aldenora Belo e o São Domingos, os quais concederam visita para que o projeto fosse desenvolvido. Assim, pode- se conhecer a estrutura interna dos Hospitais, os procedimentos médicos realizados por cada hospital e; como os profissionais lidam com uma rotina diária de produção de resíduos, bem como as atitudes tomadas por eles em frente a esta problemática.
Resultado e discussão
O gerenciamento dos RSS (Resíduos de Serviço de Saúde) constitui-se de um
conjunto de procedimentos de gestão, planejados e implementados a partir de
uma base legal, técnica e científica, com a finalidade de minimizar a
geração de resíduos e proporcionar aos resíduos gerados um encaminhamento
seguro e de forma eficiente, visando à proteção humana, à preservação do
meio ambiente, dos recursos naturais e da saúde pública ( ANVISA, 2004).
Sendo assim, o estudo proporcionou a visita a esses dois importantes
Hospitais de São Luís, para que se pudesse observar como se dá o
gerenciamento dos resíduos, ou seja, as condições sanitárias e o descarte
dos resíduos químicos infectantes produzidos por estes. Isso tudo em razão
do conhecimento de que a limpeza de um ambiente como o de um hospital requer
muitos cuidados, devido ao fato das possíveis infecções que podem surgir e
afetar a saúde humana, a qual é essencial para o ser humano realizar as suas
atividades e ter qualidade de vida.
A visita ao Aldenora Belo mostrou que diversas atitudes contribuem para o
tratamento inadequado dos resíduos hospitalares, bem como a falta de cuidado
que os profissionais da saúde têm com a separação dos resíduos gerados com
as suas atividades, isto é, uma separação não adequada com a legislação,
pois não contempla as características dos grupos de resíduos, o que pode
acarretar consequências não tão positivas ao meio ambiente e à própria
sociedade. Em vista disso, ocorre por parte do setor administrativo, a
realização de campanhas de conscientização de todas as pessoas para que
tenham mais cuidado com a disposição dos materiais contagiantes, de modo a
alertar sobre os perigos de uma segregação de resíduos inadequada.
Além disso, de acordo com o supervisor de higienização do Hospital, por dia
são gerados 240 quilos de resíduos sólidos, os quais são recolhidos por uma
empresa especializada, chamada BITAL, a qual se encontra localizada em São
Luís/MA e que realiza todo o processo de acondicionamento, separação e
incineração dos resíduos infeto-contagiantes. Os resíduos coletados pela
empresa contratada são guardados em bambonas, as quais são geradas oito por
dia. A empresa recolhe-as no período do fim da manhã, horário que se
encontra pouca gente no Hospital.
Constatou-se que a Instituição apresenta alguns problemas estruturais, o que
dificulta o manuseio com os resíduos contagiantes, que deveriam ser
transportados longe dos pacientes, a fim de se evitar a contaminação, ou
seja, o transporte deveria ocorrer externamente ao ambiente onde os
pacientes se alocam. Apesar disso, a instituição apresenta expurgo, local
onde se separa os resíduos e os armazenam de forma segura. No entanto, nem
todos os setores do Hospital apresentam esse local de separação, o que seria
mais adequado. O manuseio dos resíduos é realizado por meio de carrinhos, os
quais podem ser condicionais, que armazenam os resíduos e os funcionais, que
transportam os resíduos pelas dependências do Hospital.
Foi verificado também algo imprescindível para a manutenção de um ambiente
seguro dentro de um hospital, que é a limpeza. Nesse sentido, observou-se
que os funcionários da limpeza utilizavam todos os equipamentos de proteção
individual (EPIs): máscaras, luvas, botas, óculos, e as roupas adequadas
para o tipo de serviço. Além do mais, usavam diversos produtos de limpeza
para deixarem o ambiente o mais higienizado possível, como exemplo o
saneante Vulcan, dentre outros produtos neutros (da marca wipe germe).
Seguindo esse prisma, existem dois tipos de limpeza no Hospital: a terminal,
na qual ocorre a limpeza de parede, teto e chão; e a concorrente, que
acontece todos os dias.
Seguindo essa esteira, no Hospital São Domingos constatou-se que são gerados
em média, 400 quilos de resíduos, acondicionados em bombonas que suportam 25
quilos cada. Desse modo, de acordo com o exposto na visita, os resíduos
comuns (grupo D) e infectantes (grupo A) eram confundidos pelos
colaboradores e acabavam, muitas vezes, por serem postos nos mesmos sacos
para acondicionamento. O Hospital em relação aos resíduos perfuro-cortante
possui caixas resistentes (caixa Ritner) em diversos setores para seu
armazenamento. Além disso, observaram-se cartazes de conscientização e um
fluxo para acidentes com materiais perfuro-cortantes. No aspecto de
segregação dos resíduos, esta é feita por meio de sacos; nos sacos vermelhos
são acondicionados os materiais plásticos; nos verdes, roupa suja; e nos
pretos, o lixo comum. A coleta é realizada todos os dias e tanto resíduo
comum quanto o infectante vão todos para a mesma empresa, a ESTERICYCLE, que
é responsável pelo destino final dos resíduos.
Dentro do Hospital, há uma área reservada para as roupas sujas geradas no
decorrer das atividades (abrigo intermediário). Para tanto, há uma empresa
terceirizada para lavar essas roupas utilizadas diariamente na instituição.
A roupa suja é transportada no hamper, estrutura onde são postos os sacos
com as roupas. Este oferece ergonomia, pois não arrasta o saco pelo chão e,
dessa forma, não leva contaminação e é altamente silencioso a fim de não
incomodar os pacientes. Segundo o exposto, já ocorreram equívocos quanto à
cor dos sacos: o saco que deve ficar no hamper é o verde, porém alguns
colaboradores colocavam as roupas sujas nos sacos brancos, que é especifico
para resíduos infectantes, e então, outros funcionários vinham e deslocavam
esse material junto com os que seriam levados para incineração. Por isso,
determinou-se que não se coloca mais roupa suja no saco branco, ainda que
este esteja no hamper. Segundo a RDC Nº306, o que não pode haver é o
cruzamento do limpo com o sujo, chamado, de infecção cruzada. O que a
Resolução recomenda é que se faça um fluxo, o que acontece, pois o Hospital
tem horários específicos, onde o resíduo é coletado pela manhã, após a
entrega do café aos pacientes. Em vista disso, os containers que transportam
as roupas sujas não devem ficar entreabertos, estes têm de ficar totalmente
vedados, para não ocorrer o risco de contaminação, principalmente para quem
os manipula. Os colaboradores que transportam esse material utilizam um
único elevador, que fica distante tanto do elevador que transporta os
alimentos, quanto dos pacientes. Esses containers são limpos todos os dias
ao final do expediente.
No aspecto da higienização foi no DML (Depósito de Materiais de Limpeza) que
se verificou o produto Oxivir Five, um saneante a base de peroxido de
hidrogênio (H2O2). Este faz toda a limpeza do ambiente hospitalar, de acordo
com as diluições previstas. Os funcionários encarregados da limpeza utilizam
três concentrações diferentes: a primeira é relativamente baixa, a qual é
utilizada para lavagem do chão, do teto e das paredes; a segunda
concentração é média, e é utilizada para limpeza da mobília e equipamentos;
e por último temos a maior concentração, nota-se o seu poder ativo e, por
isso, é utilizada em áreas mais críticas, como nos banheiros, a fim de
conter infecções, eliminando bactérias muito resistentes, como a da
tuberculose, por exemplo. Este produto, além de econômico, ainda é inodoro.
O São Domingos conta também com uma Estação de Tratamento de Efluentes
(ETE), de modo a minimizar a poluição e dar um tratamento prévio adequado
aos resíduos químicos antes do descarte.
Nesse contexto, a visita contribuiu para mostrar que a segurança, quanto à
manutenção de um ambiente saudável dentro de um hospital, depende de todos
os envolvidos nos processos que envolvem o cuidado com a saúde, inclusive
dos pacientes. Assim, constatou-se que os possíveis impactos causados pelos
resíduos das redes hospitalares estudadas ao meio ambiente e a saúde
pública são minimizados ao máximo, devido ao Plano de Gerenciamento de
Resíduos de Serviço de Saúde (PGRSS) existente nos Hospitais, que passam por
refinamentos em um fluxo de aprimoramento constante de práticas que visem a
preservação da saúde.
Conclusões
O Trabalho mostrou que é de responsabilidade de todos os envolvidos dentro de um hospital o cuidado com a promoção da saúde humana, bem como a importância de um Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviço de Saúde (PGRSS), como o exposto nas duas visitas realizadas, sendo esse um conjunto de procedimentos a partir de fundamentos científicos e de acordo com a legislação recorrente, tendo como objetivo controlar a produção de resíduos e promover um descarte seguro e eficaz, a fim de assegurar a proteção aos trabalhadores, à saúde pública e ao meio ambiente.
Agradecimentos
Ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão, Campus Monte Castelo; ao CNPQ; aos colaboradores e; aos Hospitais Aldenora Belo e São Domingos.
Referências
BRAGA, L. O. et al. Resíduos Químicos Gerados em Serviços de Saúde: Um Despertar Necessário. Revista Diálogo nº 6 – Revista de Estudos Culturais e da Contemporaneidade – UPE/ Faceteg. Garanhuns/PE, 2012.
COSTA, W. M; FONSECA, M.C.G. A Importância do Gerenciamento dos Resíduos Hospitalares e seus Aspectos Positivos para o Meio Ambiente. HYGEA, Revista Brasileira de Geografia Médica e da Saúde, 2009.
BERNADETTE, E. K. Gerenciamento dos resíduos de serviço de saúde: biossegurança e o controle das infecções hospitalares. Texto & Contexto Enfermagem. Universidade Federal de Santa Catarina. Santa Catarina, Brasil, 2004.
MS. ANVISA. Resolução da Diretoria Colegiada – RDC Nº306, de 7 de dezembro de 2004. Dispõe sobre o regulamento técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. Ministério da Saúde: Brasília, 2004.
MS. ANVISA. BRASIL. Manual de gerenciamento de resíduos de serviços de saúde / Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília: Ministério da Saúde, 2006.