A realidade dos docentes em uma escola do estado do Rio de Janeiro demonstrando alguns dos desafios da educação ambiental.
ISBN 978-85-85905-23-1
Área
Ambiental
Autores
Souza, A.P.N. (UERJ)
Resumo
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), o ensino das questões ambientais é proposto como um dos temas transversais, isto é, deve ser discutido em todas as disciplinas. Porém observa-se que, na maioria das vezes, os conteúdos relacionados a essa questão são apresentados de forma com que não haja a efetiva formação consciente do aluno como cidadão. Verificando-se que, apesar de difundida, a educação ambiental ainda enfrenta desafios. Para entender parte desses desafios, buscou-se analisar a realidade dos docentes numa escola pública do estado do Rio de Janeiro. Foi feita uma pesquisa com 40 professores e pode-se perceber que grande parte não teve disciplinas durante a sua formação relacionadas ao meio ambiente e que raros cursos de reciclagem e capacitação os são oferecidos
Palavras chaves
Educação Ambiental; Docentes; Realidade nas escolas
Introdução
A análise crítica das questões ambientais e a necessidade da compreensão do lugar ocupado pelo indivíduo são os pontos de partida para exercer uma consciência de cidadania. Nesse ponto a escola tem um papel fundamental. No Brasil, a Politica Nacional de Educação Ambiental, data de 1999, com essa lei, o meio ambiente passou a ser um tema obrigatório dos currículos escolares, pensado para ser abordado de forma interdisciplinar e contínua (BRASIL,1999), para isso a educação ambiental está presente nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e é tratada como um tema transversal, isto é, a Educação Ambiental deve estar presente em todas as disciplinas, perpassando seus conteúdos (BRASÍLIA,2006). Observa-se, porém que, na maioria das vezes, os conteúdos relacionados a essa questão ambiental são apresentados de forma com que não haja a efetiva formação consciente do aluno como cidadão, como observado no trabalho de SOUZA, 2015. Constatando-se, portanto que, apesar de difundida, a educação ambiental ainda enfrenta desafios. Esse trabalho possui a finalidade de entender e responder algumas das seguintes perguntas: Nas escolas de ensino médio do estado do Rio de Janeiro os professores possuem qualificação para abordagem desse tema? Os professores estão conseguindo abordar entre os conteúdos de suas disciplinas a questão ambiental, como proposto pelos PCNs? Esse trabalho visa abrir um debate sobre os desafios encontrados pelos docentes e mostrar o panorama do que, de fato, se passa numa escola pública do Rio de Janeiro, para que através dessa análise se possa propor ferramentas para a melhoria na abordagem da educação ambiental fazendo com que os professores consigam que seus alunos se percebam como agentes transformadores de suas realidades.
Material e métodos
A pesquisa foi realizada no Colégio Estadual André Maurois (CEAM), situado no Estado do Rio de Janeiro. Os participantes foram docentes atuantes no ensino médio. Para a coleta de dados foi aplicado um questionário impresso, dirigido a 40 professores, com quatro perguntas, abordando temas como: 1- “Professor, você teve, durante o seu curso de licenciatura, alguma disciplina que abordasse a educação ambiental? Caso a resposta seja sim, você lembra em qual ou quais disciplinas?”; 2- “Você foi solicitado ou teve a oportunidade de participar de um curso de capacitação, reciclagem ou curso de formação continuada na área de educação ambiental?”; 3- “Você aborda a questão ambiental em suas aulas? Se sim, quais os recursos utilizados? E como você avalia a aprendizagem de seu aluno?” e na pergunta de número quatro, foi feita uma pequena explanação antes da pergunta, como mostrado a seguir: 4- Há autores que afirmam que diante da multidimensionalidade e da complexidade da temática ambiental, “ninguém mais se atreve a propor a educação ambiental como mais uma disciplina do currículo escolar e muito menos a imaginá-la sendo desenvolvida por um único professor”. Ao mesmo tempo, como a Educação Ambiental não possui um “status” de ser uma disciplina única, esta vem sendo muitas vezes deixada em segundo plano em relação aos conteúdos disciplinares (FRACALANZA, p. 72, 2004), (VOLTANI et. al., p.1322, 2012).O que você acha sobre essa questão? Você acha que a Educação ambiental deveria se tornar uma disciplina ou deve continuar como um tema transversal como propõe os PCNs, devendo estar presente em todas as disciplinas, perpassando seus conteúdos? “Se possível, justifique a sua resposta:” Os professores foram solicitados a não se identificarem. Com esse questionário procurou-se verificar se os professores atuantes estão qualificados para abordar temas relacionados à questão ambiental, se essa questão vem sendo abordada como tema transversal em sala de aula, como proposto nos PCNs, e se há um consenso de que a educação ambiental aplicada como tema transversal e não como uma disciplina é a melhor proposta educativa sobre o tema.
Resultado e discussão
Os resultados apresentados foram analisados e pode-se perceber que 85% dos
professores entrevistados respondeu que não teve contato com disciplinas que
abordassem a educação ambiental durante as suas licenciaturas e apenas 15%
respondeu que houve esse contato. Em relação à oportunidade de um curso de
capacitação, reciclagem ou curso de formação continuada nessa área, apenas 23%
respondeu que sim, 67% não e 10% achou necessário e fez pós graduação
relacionada
ao tema. Em relação à abordagem das questões ambientais em sala de aula, 40%
não
aborda o assunto, 38% o faz, porém sem uma avaliação na aprendizagem do aluno,
apenas dissertam sobre as questões e 22% além de fazer a abordagem sobre
assuntos
relacionados ao meio ambiente, avaliam os alunos visando perceber se esse
estudante consegue se perceber como um agente de transformação de sua
realidade. E o
resultado mais intrigante foi o da resposta de número quatro, observou-se que
50%
dos docentes entrevistados é a favor da criação da educação ambiental como uma
disciplina e 50% é a favor de mantê-la como um tema transversal. Em muitos
questionários foi feita a observação de que faltam projetos pedagógicos
relacionados a isso. Foi levantada, pelos professores, a questão de que a
escola
funciona de um jeito muito fragmentado e que é difícil a articulação entre as
disciplinas.
Conclusões
De acordo com as respostas apresentadas pode-se tirar algumas conclusões principais: A maioria dos professores atuantes no ensino médio, dessa escola analisada, não possui qualificação para abordar o tema ambiental, pois não tiveram acesso ao assunto na universidade e/ou por não serem oferecidos cursos de reciclagem ou capacitação. Apesar do Ministério da Educação promover cursos à distância sobre o tema, o direcionamento fica a critério dos interesses dos professores. Acredita-se que uma análise em dois assuntos deve ser feita, a primeira é relacionada à formação docente, é necessário observar as disciplinas das licenciaturas e observar como a educação ambiental está presente. E a segunda análise é relacionada aos cursos de reciclagem e/ou capacitação, que como observado nas respostas, são raros. Observou-se também que a maioria dos professores aborda a questão ambiental em suas aulas, porém geralmente de maneira esporádica e sem a ocorrência na avaliação da aprendizagem do aluno em relação a essa parte ambiental. Observa-se uma abordagem abstrata que faz com que não haja uma consolidação do conhecimento sobre o assunto por parte dos alunos. Seria interessante sequencias didáticas lúdicas como rodas de leituras e debates, ciclos de filmes e discussões, diagnósticos locais, projetos de intervenção dos espaços escolares, visando fazer com que os alunos façam uma real reflexão sobre o tema. É interessante notar que muitos professores apontaram que um grande problema está na própria estrutura da escola, sendo propostos projetos, ao menos bimestrais. A escola do jeito que está funcionando favorece a desarticulação entre os professores e conteúdos. Observou-se, de acordo com as respostas da questão numero quatro que a educação ambiental como disciplina única divide literalmente opiniões. Sendo esse um debate que deve ser feito mais amplamente.
Agradecimentos
Agradeço a direção e aos professores participantes do Colégio Estadual André Maurois(CEAM).
Referências
BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto, Lei nº. 9.795 de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, n. 79, 1999.
BRASÍLIA, Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, Ciências da natureza, matemática e suas tecnologias / Secretaria de Educação Básica. Brasília, 135 p. Orientações curriculares para o ensino médio; volume 2, 2006.
FRACALANZA, H. As pesquisas sobre educação ambiental no Brasil e as escolas: alguns comentários preliminares. In: TAGUEBER, J. E;GUERRA, A. E. S. (Orgs). Pesquisa em educação ambiental: pensamentos e reflexões. Colóquio de Pesquisadores em Educação Ambiental. Pelotas: Ed. Universitária, UFPel, 2004.
SOUZA, A.P.N. A realidade da educação ambiental em uma escola do estado do Rio de Janeiro. 55° Congresso Brasileiro de Química. Goiânia. Goiás, 2015.
VOLTANI, J.C.; NAVARRO, R.M.S. Monografias Ambientais. Universidade Federal de Santa Maria. V.6, nº 6, p.1322–1340, 2012.