Degradação do corante alimentício Tartrazina utilizando processos oxidativos avançados
ISBN 978-85-85905-23-1
Área
Ambiental
Autores
Nascimento, G.E. (UFPE) ; Cavalcanti, V.O.M. (FACULDADE DOS GUARARAPES) ; Santana, R.M.R. (UFPE) ; Oliveira, M.A.S. (IFPE) ; Silva, P.K.A. (UFPE) ; Silva, J.C. (UFPE) ; Motta Sobrinho, M.A. (UFPE) ; Napoleão, D.C. (UFPE) ; Duarte, M.M.M.B. (UFPE)
Resumo
O uso dos corantes por indústrias alimentícias tem gerado problemas ambientais, pois possuem características perigosas, como alta carga orgânica e pigmentação, promovendo impacto negativo na biota local. Para que a degradação e a descoloração de corantes do efluente industrial ocorram, métodos eficazes como os processos oxidativos avançados (POA) vêm sendo utilizados. Diante disto, identificou-se o melhor tipo de POA na degradação do corante alimentício Amarelo Tartrazina. Foram testados os processos UV/H2O2 e foto-Fenton, utilizando as radiações UV-A, UV-B, UV-C e Sunlight, além do processo Fenton. Verificou-se que a ação UV/H2O2 com radiação UV-C alcançou degradação acima de 93% para os λ de 258 e 428 nm.
Palavras chaves
Corante alimentício; Degradação; POA
Introdução
Vários alimentos industrializados não apresentam coloração, outros sofrem alterações durante o processo produtivo para que possam se tornar mais atrativos ao consumidor (KLEIN et al., 2010). Em face dessa realidade, vem sendo feito uso de aditivos químicos, como os corantes. Contudo essas substâncias não apresentam característica nutritiva, possuindo efeitos alergênicos, o que torna necessária a avaliação sobre sua toxicidade (ANASTÁCIO et al., 2016). Os efluentes gerados por indústrias alimentícias possuem características como alta carga orgânica e forte pigmentação, o que promove um impacto negativo na biota local. Dentre as alterações causadas, a principal é a inibição da passagem de luz solar, que afeta no teor do oxigênio dissolvido (PAVAN et al., 2007). Neste contexto, se faz necessário o estudo de tratamentos alternativos, pois os processos convencionais geralmente não são suficientes para degradar compostos recalcitrantes (ALMAGUER et al., 2018). A utilização de tecnologias como os processos oxidativos avançados (POA) vêm se destacando como alternativas viáveis e capazes de degradar esses poluentes (RASHIDI et al., 2014). Os POA possuem uma alta capacidade oxidativa, conseguindo mineralizar os poluentes, a partir da geração de radicais hidroxilas. Esses processos podem ocorrer na presença/ausência de luz sendo alguns deles: UV/H2O2, Fenton e foto-Fenton (SOUZA et al., 2010). Desse modo, o presente estudo foi desenvolvido a fim de avaliar a eficiência dos POA para promover a degradação do corante Tartrazina em solução aquosa.
Material e métodos
Corante e metodologia analítica: O corante alimentício Tartrazina (F. Trajano) foi analisado em espectrofotômetro de ultravioleta/visível (Thermoscientific, modelo Genesys 10UV) operando em faixa de comprimento de onda entre 190 e 1100 nm para determinação dos comprimentos de onda (λ) característicos. Foram construídas curvas analíticas para cada λ com faixa de concentração de 1 a 10 mg·L-1 para quantificação dos compostos antes e após a degradação. Em seguida, os limites de detecção (LD) e quantificação (LQ) e o coeficiente de variação (CV) foram determinados conforme INMETRO (2016). Avaliação da degradação do corante por diferentes sistemas: Para identificação do tipo de processo oxidativo avançado (POA) que apresenta maior eficiência de degradação do corante tartrazina, foram testados os POA UV/H2O2 e foto-Fenton, utilizando as radiações UV-A, UV-B, UV-C e sunlight; e processo Fenton. Os ensaios de degradação foram realizados em reatores fotoquímicos de bancada, o UV-A e o UV-B com 3 lâmpadas de 15W cada, o UV-C equipado com 3 lâmpadas UV-C (Philips), dispostas em paralelo, com potência de 30W cada e o sunlight com lâmpada de 300W (Osram). Baseado em estudos anteriores, os ensaios foram realizados nas seguintes condições: concentração de ferro de 1 mg·L-1, concentração de peróxido de hidrogênio de 50 mg·L-1, pH entre 5 e 6 (solução natural) e um tempo de 1h. Para a realização dos experimentos, foram utilizados béqueres com capacidade de 100 mL, aos quais foram adicionados 50 mL da solução de corante (10 mg·L-1).
Resultado e discussão
Metodologia analítica: Os comprimentos de onda característicos (λ)
observados a partir da varredura espectral estão apresentados na Figura 1.
Os λ encontrados foram de 258 e 428 nm, o primeiro referente aos grupos
aromáticos e o segundo aos grupos cromóforos. A partir da construção das
curvas analíticas para os dois λ obtidos, os valores encontrados de LD, LQ,
CV e r foram de 0,07 e 0,06 mg∙L-1; 0,25 e 0,23
mg∙L-1; 2,04 e 1,72, e 0,99 e 0,99, para os λ de 258 e 428 nm,
respectivamente. Estes valores indicam boa linearidade e precisão do método
empregado, conforme INMETRO (2003) e Harris (2001).
Avaliação da degradação do corante por diferentes sistemas: Os processos
UV/H2O2 e foto-Fenton utilizando as radiações UV-A e
UV-B não foram capazes de degradar o corante estudado, obtendo valores
menores que 5%. Os resultados obtidos para o processo Fenton e para os
processos UV/H2O2 e foto-Fenton com as radiações UV-C
e sunlight estão apresentados na Tabela 1. De acordo com a Tabela 1,
verificou-se que o processo Fenton foi pouco eficiente na degradação do λ de
258 nm. Comparando o processo foto-Fenton utilizando as radiações UV-C e
sunlight, não foram observadas diferenças significativas dos
percentuais de degradação para os dois λ estudados. O processo
UV/H2O2 utilizando radiação sunlight não foi
eficiente na degradação do corante para os dois λ estudados. Os melhores
resultados de degradação foram obtidos para o processo
UV/H2O2 utilizando radiação UV-C. O fato da radiação
UV-C conseguir degradar 93,0% do grupo aromático o que está relacionado com
a faixa de atuação deste tipo de radiação que se encontra entre 100 e 280
nm.
Espectro do corante tartrazina.
Percentuais de degradação do corante.
Conclusões
O presente estudo permitiu verificar que o processo foto-Fenton empregando as radiações UV-C e sunlight foi eficiente apenas para degradação do grupamento cromóforo (428 nm), assim como o processo Fenton. Já o sistema UV/H2O2 utilizando a radiação UV-C foi mais eficiente na degradação do corante alimentício tartrazina obtendo percentual de degradação acima de 93% para os comprimentos de 258 e 428 nm estudados.
Agradecimentos
Os autores agradecem a empresa F. Trajano pelo fornecimento do corante, a CAPES, FADE/UFPE e NUQAAPE/FACEPE.
Referências
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4. INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, QUALIDADE E TECNOLOGIA – INMETRO. Orientação sobre validação de métodos de ensaios químicos, 2003 http://www.inmetro.gov.br/Sidoq/Arquivos/CGCRE/DOQ/DOQ-CGCRE-8_01.pdfAcessado em 07 de Junho de 2018.
5. INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, QUALIDADE E TECNOLOGIA – INMETRO. Orientação sobre validação de métodos analíticos, 2016. http://www.inmetro.gov.br/Sidoq/Arquivos/CGCRE/DOQ/DOQ-CGCRE-8_05.pdf. Acessado em 07 de Junho de 2018.
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