Educação ambiental como tema gerador de propostas didáticas para o Ensino Fundamental 1º ciclo
ISBN 978-85-85905-23-1
Área
Ambiental
Autores
Souza, D.S. (UFRJ) ; Dionízio, T.P. (UFRJ) ; Silva, F.P. (UFRJ) ; Moura, F.S. (UFRJ)
Resumo
Os seres vivos não se relacionam apenas entre si, mas possuem influência direta sobre o meio em que vivem, contudo, somente o ser humano atua de maneira racional. O homem, então, torna-se responsável pelas transformações ocorridas no meio, seja por boas ações, como avanços tecnológicos, ou más, como poluição ambiental. Portanto, conscientizar as pessoas de que simples ações como uma coleta seletiva de lixo, uma economia de água e energia ou a reciclagem de uma garrafa pet, por exemplo, podem diminuir os danos causados ao meio ambiente. Com base nesta preocupação, alunos de EM da modalidade normal propuseram ações metodológicas educacionais possíveis de serem reproduzidos com seus futuros alunos de Ensino Fundamental 1º ciclo para que desde pequenos tenham uma conscientização ambiental.
Palavras chaves
tema gerador; educação ambiental; ensino de química
Introdução
Para obter satisfação e saciedade em seus anseios, o ser humano tem aumentado seu potencial em intervir na natureza e no meio ambiente, ocasionando diversas instâncias e situações no que diz respeito ao uso racional e sustentável do espaço e dos recursos a sua volta (MENDONÇA, 2010). O artigo 1º da Lei de Educação Ambiental nº 9.795/99 reconhece a Educação Ambiental como “o processo por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade” (CARDOSO, 1999). Diante disso, a Educação Ambiental torna-se uma significativa aliada na conscientização humana no que se refere à responsabilidade, assim como atuação e igualdade na maneira de ver o mundo. Desta forma, a escola tem um papel importante em poder atuar e contribuir para formação da consciência ambiental nas crianças. É fundamental que os indivíduos, desde novos, tomem conhecimento de seu papel para um ambiente saudável, de modo que se tornem engajados em ações em prol da preservação ambiental, buscando um desenvolvimento sustentável, considerando, além dos fatores econômicos, os aspectos sociais e ecológicos. Torna-se necessário adotar ações racionais com os recursos que tem as mãos, promover a sustentabilidade e prever consequências de seus atos a curto, médio e longo prazos (MENDONÇA, 2010). Poder levar esta educação até as crianças é garantir um meio ambiente mais saudável no futuro. As crianças são ótimos alvos na educação, pois são curiosas e ávidas pelo conhecimento, não sentem vergonham de fazerem perguntas e facilmente se entusiasmam com uma novidade, como um experimento ou uma atividade prática (BELIAN et al., 2017). Para ensinar tais conhecimentos ambientais é necessário que os professores conheçam os conceitos a serem trabalhados a partir de uma leitura crítica dos conteúdos trazidos pelos livros didáticos, ou seja, contribuir também para uma boa formação destes profissionais é relevante para o processo de ensino-aprendizagem (LOTTERMANN e ZANON, 2012). Entende-se por tema gerador uma proposta fundamentada na teoria dialética do conhecimento, descrita primeiramente por Paulo Freire (1987). O meio ambiente pode ser utilizado como tema gerador, pelo fato de abranger questões de ordem social, ambiental, política e econômica, as quais podem, no caso da Química, ser aliadas à abordagem de diversos conteúdos que são desenvolvidos na disciplina (SILVA, 2012). Desta maneira, os conteúdos ministrados permitem ao estudante uma visão mais crítica de sua própria realidade e, de acordo com Lettres e Lindner (2007), possibilitam a interpretação das transformações ocorridas ao seu redor. Com base no que foi exposto, este trabalho teve por objetivo levar o aluno do curso normal de um colégio público do município de Queimados (RJ) a ampliar sua visão e consciência ambiental de modo a assimilar a importância de um mundo sustentável e ecologicamente saudável, pesquisar metodologias didáticas possíveis de serem aplicadas nas séries iniciais em prol de ajudar seus futuros alunos a terem um contato inicial com a educação ambiental e desde então compreenderem a importância de preservar o planeta para uma vida de qualidade.
Material e métodos
Esta atividade foi proposta a 2 turmas de 2º ano de formação de professores do CIEP 341 em Queimados, RJ, envolvendo um total de 35 alunos. Inicialmente foram feitos momentos de reflexão e discussão com a turma acerca da importância da educação ambiental para a sociedade e como a química tem uma influência direta no desenvolvimento da sociedade e como pode contribuir para um mundo mais sustentável. Este tipo de diálogo foi trazido durante o decorrer do ano, sempre apresentando o conteúdo disciplinar de maneira contextualizada. No terceiro bimestre foi proposto a eles a elaboração de atividades práticas possíveis de serem compreendidas por seus futuros alunos e que pudessem conscientizá-los de cuidar do planeta em que vivem para terem um futuro ambientalmente saudável. As turmas foram divididas em grupos e alguns temas foram distribuídos para elaboração das propostas. Foram estipuladas datas para a apresentação das propostas durante o 4º bimestre de aula e uma atividade de orientação foi iniciada durante o 3º e 4º bimestre para ajudar os alunos no desenvolvimento da proposta didática. Ao final das aulas semanais de química, eram dadas orientações aos alunos sobre o tema e o que haviam pesquisado, eram sanadas dúvidas sobre experimentos e a viabilidade das propostas. Durante este tempo muitas atividades pesquisados por eles foram trocadas, propostas foram elaboradas, modificadas e aprimoradas até que as possibilidades se adequassem ao contexto escolar do publico-alvo. Conforme acordado durante as aulas, no dia marcado para apresentação os grupos tiveram que entregar um plano de aula com a descrição do tema, conteúdos, público-alvo, duração da aula, etc., e tiveram 15 minutos de apresentação para exporem suas propostas de aula e as práticas elaboradas, seguidos ainda de 5 minutos de arguição e comentários pelo professor da disciplina e pelos colegas de turma. Os temas pesquisados por eles foram reciclagem, reutilização e descarte de pilhas e baterias.
Resultado e discussão
O projeto foi um sucesso e ver como os alunos se empenharam e desenvolveram
suas tarefas foi gratificante. O interesse e o cuidado que eles tiveram em
abordar algo para o ensino fundamental 1º ciclo com uma linguagem acessível
as crianças e com experimentos de fácil compreensão mostra que eles
entenderam o sentido do projeto e abraçaram a causa. No início, tiveram
muitas dúvidas sobre o que elaborar pois há um leque muito grande de
atividades práticas mas nem todas adequadas a crianças. Semanalmente
tiravam-se dúvidas e crescíamos juntos em conhecimento. Como neste mesmo ano
eles começaram a fazer o estágio supervisionado, começaram a adquirir
experiências no ensino fundamental e lidar com as crianças como educadores.
Muitos já traziam para a sala de aula algum relato do que havia vivenciado
no estágio e havia um troca de conhecimentos e experiências aluno-aluno e
aluno-professor. Ao acompanhar as turmas durante o desenvolvimento das
tarefas foi notável o crescimento em criatividade e conhecimento, o
amadurecimento, o comprometimento e a preocupação de desenvolver um recurso
metodológico de conscientização acreditando na contribuição para um amanhã
mais saudável, com menos poluição, menos lixos jogados a rua, mais
reutilização e reciclagem de produtos, etc. Estas atividades foram incluídas
no portfólio destes futuros professores para uma futura utilização quando
forem lecionar. Ao todo foram 35 alunos participantes divididos em 5 grupos,
os quais abordaram as seguintes atividades: GRUPO 1 – Tema: Reciclagem –
Atividade: fazer papel reciclado a partir de papeis que não serão mais
utilizados, como rascunhos, jornais, revistas e etc., cola e água; GRUPO 2 –
Tema: Reutilização – Atividade: confeccionar uma vassoura com garrafas pet,
cabo de madeira, tesoura, arame e fita adesiva; GRUPO 3 – Tema: Reutilização
– Atividade: confeccionar um brinquedo tipo bilboquê utilizando garrafa pet,
tesoura, tampinha de garrafa e fio de náilon; GRUPO 4 – Tema: Pilhas e
baterias – Atividade: realizar o experimento “curto circuito” utilizando
pilhas e palha de aço, além de abordar curiosidades sobre o tema e alertar
sobre o descarte correto deste material; e GRUPO 5 – Tema: Pilhas e baterias
– Atividade: realizar uma abordagem sobre as utilidades da pilha em uso
doméstico e realizar um experimento de contato direto entre a pilha e a
palha de aço. Antes da apresentação do experimento, todos os grupos fizeram
uma explicação inicial sobre o tema, conteúdos abordados, conscientização
ambiental e reflexões sobre uma vida melhor, mais sustentável e um planeta
saudável. Alguns utilizaram Datashow com explicações, curiosidades, vídeos,
outros utilizaram somente o quadro branco e um bate-papo. Eles poderiam
ficar à vontade para expor o conteúdo utilizando os recursos que desejassem
e que estivessem disponíveis na escola. A arguição ao final da apresentação
de cada grupo também incorporou minutos de aprendizagem coletiva, pois todos
os participantes puderam aprender novas experiências e tirar dúvidas sobre a
temática abordada. Os próprios alunos relataram que atividades como estas
iriam encantar as crianças, pois prendem a atenção e aguçam a curiosidade. E
quem sabe até mesmo elas poderiam participar daqueles que não apresentassem
risco algum.
Confecção de vassoura com garrafa pet.
Conscientização sobre o uso da coleta seletiva.
Conclusões
Esta atividade acrescentou em experiência para a carreira acadêmica dos normalistas e levaram-los a refletir a importância da educação ambiental e criar estratégias para abordá-la com as crianças. Aprenderam as contribuições da química para sociedade e também sobre a preservação do meio ambiente através da reutilização/reciclagem de materiais e sobre descarte de pilhas e baterias. Ao longo do percurso semestral, percebeu-se um crescimento conceitual em relação ao tema, contribuindo para a conscientização ambiental e ações escolares, promovendo vínculos entre professores e alunos. Embora se tenha alcançado um grau considerável de sensibilização ambiental, o caminho a percorrer no sentido de acabar com as ações que agridem o meio ambiente ainda é muito extenso, mas devemos continuar firmes neste objetivo. Em suma, este projeto trouxe à tona momentos de aprendizagem significativa e contextualizada, que nos levam a crer que é possível levar educação ambiental às crianças.
Agradecimentos
Ao CIEP 341.
Referências
BELIAN, M. F.; LIMA, A. A.; FILHO, J. R. F. ENSINANDO QUÍMICA PARA SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: O uso da experimentação e atividade lúdica como estratégias metodológicas. Experiências em Ensino de Ciências v.12, n.4, 2017.
CARDOSO, F. H. Lei No 9.795, DE 27 de abril de 1999. Presidência da República, Casa Civil, 1999. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVil_03/LEIS/L9795.htm>. Acesso em: 22 ago. 2018.
FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido.17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
LETTRES, R., LINDNER, E. L. Concepções e princípios para uma proposta curricular para o ensino de Química no EJA/PROEJA. In: SANTOS, S. V. Reflexões sobre a prática e a teoria PROEJA: produções da especialização PROEJA/RS. Porto Alegre: Evangraf Ltda., 2007.
LOTTERMANN, C. L.; ZANON, L. B. A Inserção da Química no Ensino de Ciências Naturais: um olhar sobre Livros Didáticos no Ensino Fundamental. XVI ENEQ e X EDUQUI, 2012.
MENDONÇA, S. M. Educação ambiental nas séries iniciais do ensino fundamental: estratégias para o envolvimento dos alunos. ESAB, SP, 2010. Disponível em: <http://br.monografias.com/trabalhos3/educacao-ambiental-series-ensino-fundamental/educacao-ambiental-series-ensino-fundamental.shtml>. Acesso em: 22 ago. 2018.
SILVA. M. C. Análise de metodologias de ensino de Química para debater a temática Biodiesel à luz do enfoque CTSA: alfabetização científica no ensino médio. Dissertação de Mestrado em Química, UFES, 2012.