CARACTERIZAÇÃO HIDROQUÍMICA DE UM ESTUÁRIO DE MACROMÁRE LOCALIZADO NA INTERFACE AMAZÔNIA- SEMIÁRIDO: BAÍA DE SÃO JOSÉ- MARANHÃO

ISBN 978-85-85905-23-1

Área

Ambiental

Autores

Azevedo, I.H.R. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO) ; Santos, V.H.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO) ; Serejo, J.H.F. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO) ; Santos, T.T.L. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ) ; Lima, H.P. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO) ; Aguiar, J.E. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO) ; Dias, F.J.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO)

Resumo

O presente estudo tem como objetivo determinar as características hidroquímicas na Baía de São José (BSJ), considerando a variabilidade sazonal da região. A BSJ localiza-se em uma região de transição climática quente e úmido da região Amazônica e quente e seco do semiárido nordestino. Os dados físicos e químicos apontam que há variação sazonal dos parâmetros analisados (Temperatura, salinidade, pH, OD e TSS), sendo a BSJ influenciada pelo aporte dos sistemas hídricos, durante o período chuvoso, e pela ação da maré na estiagem.

Palavras chaves

Baía de São José; Hidroquímica; Estuário

Introdução

Os ecossistemas estuarinos são definidos como ambientes parcialmente fechados que está permanentemente ou periodicamente aberta ao mar e que recebe pelo menos uma descarga periódica de um rio (s) (POTTER et al., 2010). Esses ambientes são dinâmicos, funcionam como berçários de inúmeras espécies animais e apresentam grande importância sócio- ambiental. Os estuários são corpos de água vulneráveis, constantemente sujeitos a variações ambientais, tanto de origem naturais, quanto as provocadas pela a ação do homem, tais como o lançamento de esgoto doméstico, desmatamento e extensa captura de recursos pesqueiros (ESCHRIQUE, 2011). Dessa forma, através das análises dos parâmetros físicos e químicos em ambientes estuarinos, é de suma relevância para o entendimento dos processos que ocorrem nesses corpos d’água, e para identificar alterações causadas por fatores naturais ou antropogênicos. A Baía de São José é um grande complexo estuarino cujo principal curso hídrico, o rio Itapecuru, abastece boa parte da capital do estado, São Luís- MA, e outros municípios, beneficiando mais de 1.000.000 de habitantes através do sistema ITALUIS (IBGE, 1998; MMA, 2006). De acordo com o IBGE (1998), o rio Itapecuru vem sofrendo com a intrusão de água salina, principalmente durante os períodos de estiagem, podendo desencadear a salinização de suas águas e prejudicar o abastecimento dessas cidades. Portanto, o objetivo do presente trabalho é observar a variabilidade espacial e temporal dos parâmetros físicos e químicos da água superficial na Baía de São José- MA.

Material e métodos

A Baía de São José (BSJ) está localizada a leste da ilha de São Luís- MA, em uma região de transição climática quente e úmido da região Amazônica e quente e seco do semiárido nordestino. Contêm área de 580 km², 63 km de extensão e largura máxima de 15 km. A BSJ recebe aporte hídrico dos rios Munim, Itapecuru e Tibiri, além disso, há a influência das marés semidiurnas, que variam de 6 a 8m na região (GONZÁLEZ-GORBEÑA; ROSMAN; QASSIM, 2015; MMA, 2006; NUGEO, 2016; SANTOS, 2018). Para a realização do presente estudo foram realizadas duas campanhas de amostragem, contemplando as características sazonais da região, sendo a primeira campanha realizada em abril de 2017, enquanto a segunda campanha em outubro do mesmo ano, correspondendo ao período chuvoso e estiagem, respectivamente. Para a coleta, sete pontos foram distribuídos perpendicularmente ao longo da BSJ. As amostras de água em superfície foram realizadas com o auxílio da garrafa de van Dorn 5 L. A mensuração da temperatura (°C) e salinidade ([g][/kg]) foram obtidas com a sonda CTD EXO2 (Conductive- Temperature- Deph). O oxigênio dissolvido (OD) foi mensurado através do método analítico de titulação de Winkler (1888), conforme descrito por Strickland & Parsons (1972). Para a determinação do pH utilizou-se o pHmetro digital KASVI. Os sólidos totais em suspensão [mg][/L] foi determinado através de análise gravimétrica, segundo a metodologia descrita por Strickland & Parsons (1972).

Resultado e discussão

Os valores médios de salinidade na coluna de água foram da ordem de 15,42 ± 6,42 [g][/kg] no período chuvoso e 31,63 ± 1,77 [g][/kg] durante a estiagem. Os valores de pH foram levemente básicos para os dois períodos analisados, com média de 7,46 ± 0,13 durante a estação chuvosa e 8,08 ± 0,10 na estiagem. Os menores valores observados durante o período chuvoso são devido a descarga fluvial dos sistemas hídricos na BSJ. Enquanto no período de estiagem houve homogeneidade ao longo dos pontos devido a intensificação da entrada da água marinha e ao aumento da ação dos ventos alísios que aumentam a propagação da onda de maré no estuário acima. A temperatura da água mostrou homogeneidade entre os dois períodos sazonais. Durante a estação chuvosa a média foi de 29,99 ± 0,39°C e de 28,45 ± 0,20°C no período de estiagem. Segundo Eschrique (2007), as temperaturas em regiões tropicais possuem grande estabilidade sazonal, assim como observado no presente trabalho. Os valores médios do OD para o período chuvoso e estiagem foram de 6,24 ± 0,47 e 6,65 ± 0,25 [mg][/L], respectivamente. Os teores de OD apresentando gradiente ao longo do estuário, mas sem variabilidade entre os períodos sazonais. O gradiente espacial do OD está ligado à proximidade com o oceano adjacente, pois as águas marinhas são mais oxigenadas em comparação à águas fluviais. Os valores médios de TSS variaram de 102,10 ± 86,56 e 212,26 ± 182,28 [mg] [/L] no período chuvoso e estiagem, respectivamente. Os valores de TSS apresentaram variação sazonal e espacial decrescente do continente ao oceano. As maiores concentrações de TSS também estão associados com a maior influência da entrada de água marinha que suspende o sedimento de fundo e que causa a erosão das margens do ambiente.

Conclusões

Os resultados hidroquímicos obtidos demonstraram que a BSJ possui variações sazonais e gradiente continente- oceano. Logo, a descarga fluvial a ação das marés são fatores que condicionam a mudança das características de suas águas ao longo do ano. É importante destacar que estudos como esse são de grande relevância para a área, podendo servir como uma ferramenta para os gestores e a sociedade, auxiliando na tomada de decisões, visto que o principal sistema hídrico que abastece o estado pode ter suas águas com elevados teores de sais dissolvidos durante o período de estiagem.

Agradecimentos

Agradecemos à FAPEMA (Edital Infra. 03894/15; Edital Universal-00112/16) e institucionais (PRONEM– Processo: 00079/16) e ao CNPq pelo auxílio individual (Edital Universal Processo: 471924/2013-0) concedidos ao Dr. Francisco Dias.

Referências

ESCHRIQUE, S. A. Estudo do balanço biogeoquímico dos nutrientes dissolvidos principais como indicador da influência antrópica em sistemas estuarinos do nordeste e sudeste do Brasil. São Paulo, Brasil: Universidade de São Paulo, 2011.

GONZÁLEZ-GORBEÑA, E.; ROSMAN, P. C. C.; QASSIM, R. Y. Assessment of the tidal current energy resource in São Marcos Bay, Brazil. Journal of Ocean Engineering and Marine Energy, v. 1, n. 4, p. 421–433, 2015.

IBGE, I. B. DE G. E E. itapecuru_IBGE_1998.pdf. Rio de Janeiro: [s.n.].

MMA. Caderno da Região Hidrográfica Atlântico Nordeste Ocidental. [s.l: s.n.]. v. 1
NUGEO, N. G. Bacias Hidrográficas e Climatologia no Maranhão Bacias Hidrográficas e Climatologia no Maranhão. São Luís: [s.n.].

POTTER, I. C. et al. The concept of an estuary: A definition that incorporates systems which can become closed to the ocean and hypersaline. Estuarine, Coastal and Shelf Science, v. 87, n. 3, p. 497–500, 2010.

SANTOS, Vinicius Henrique Maciel dos. Caracterização das condições oceanográficas em estuários de macromaré: complexo estuarino Arraial-São José (MA). 2018. 140 f. Dissertação (Mestrado em Oceanografia) -
Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2018.

STRICKLAND, J. D. H.; PARSONS, T. R. A practical handbook of seawater analysis. 2 ed. Bulletin Fisheries Research Board of Canada. 1972.

WINKLER, L. W. Die Bestimmung des in Wasser gelösten Sauerstoffen. Berichte der Deutschen Chemischen Gesellschaft, v. 21, p. 2843–2855. 1888.

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