Estudo cinético da degradação de solução aquosa contendo a mistura de corantes têxteis vermelho direto 23, vermelho direto 227 e laranja direto 26 empregando processo foto-Fenton/[i]sunlight[/i]
ISBN 978-85-85905-23-1
Área
Ambiental
Autores
Silva, J.C. (UFPE) ; Santana, R.M.R. (UFPE) ; Nascimento, G.E. (UFPE) ; Cavalcanti, V.O.M. (UFPE) ; Silva, P.K.A. (UFPE) ; Oliveira, M.A.S. (UFPE) ; Napoleão, D.C. (UFPE) ; Duarte, M.M.M.B. (UFPE)
Resumo
A indústria têxtil é um dos setores que contribuem para a poluição ambiental devido à geração de grandes quantidades de efluentes contendo corantes que causam impactos à saúde humana e ao meio ambiente. O emprego de processos oxidativos avançados (POA) no tratamento de corantes têxteis em soluções aquosas tem se mostrado eficiente. Dessa forma, realizou-se um estudo da evolução cinética da degradação de uma mistura de corantes têxteis empregando o POA foto-Fenton/sunlight avaliando o ajuste aos modelos de primeira e de segunda ordem. A partir de 50 minutos foi obtida uma faixa de 83 a 100 % de degradação para os comprimentos de onda estudados. Evidenciou-se que o modelo de segunda ordem apresentou um melhor ajuste aos dados experimentais.
Palavras chaves
Corantes; foto-Fenton; Cinética
Introdução
A poluição ambiental causada pela ação da indústria têxtil tem crescido notadamente tendo em vista o elevado consumo de água no seu processo produtivo, gerando efluentes poluídos e com forte coloração (CASTRO et al., 2014; HOLKAR et al., 2016; SOARES et al., 2014). Entre os constituintes presentes nos efluentes têxteis, os corantes podem ser considerados como a fonte principal de contaminação por estarem presentes em grandes quantidades, além de serem compostos recalcitrantes e possuírem estrutura química complexa (DASGUPTA et al., 2015; SOARES et al., 2014; TISA et al., 2014). Ananthashankar e Ghaly (2013) e Rauf e Ashraf (2012) relataram que quando os efluentes contendo os corantes são descartados indevidamente no corpo receptor podem interferir na penetração da luz solar o que afeta a fotossíntese, e ainda aumentar o consumo do oxigênio dissolvido, prejudicando a vida aquática. Diante disso, existe uma preocupação em tratar os efluentes têxteis a fim de reduzir o impacto sobre o meio ambiente. Apesar de tal necessidade, o tratamento convencional de efluentes oriundos da indústria têxtil é comprometido pela presença de corantes resistentes aos processos biológicos (DIAS et al., 2013; GRCIC et al., 2014; HAMOUD et al., 2017). Conforme Holanda et al., (2015) e Pimentel et al., (2015), alguns métodos físico-químicos têm sido utilizados para tentar resolver ou minimizar a poluição de corpos de água com corantes, tais como: eletrocoagulação, eletrofloculação, degradação fotoelétrica, eletroquímica, permuta iônica, irradiação e processos oxidativos avançados (POA). Os POA são técnicas utilizadas como opção para o tratamento de efluentes industriais, por se tratarem de tecnologia limpa que tem se mostrado eficiente para promover uma degradação não seletiva de compostos considerados persistentes (DIAS et al., 2013; NAVARRO; GABALDÓN e GÓMEZ-LÓPEZ, 2017). Entre os POA merece destaque o processo foto-Fenton, pois o mesmo tem demonstrado bons resultados na descoloração de efluentes têxteis. Segundo Nogueira et al. (2007) e Grcic et al. (2014), este tipo de POA consiste na geração adicional de radicais hidroxila devido a fotorredução dos íons férrico a íons ferroso pela ação da radiação na faixa do UV ou luz visível. Sarkar, Bhattacharjee e Curcio (2015) afirmam que, como qualquer outra técnica que envolve reações químicas, os POA apresentam algum tipo de cinética reacional, podendo esta ser modelada. Assim, faz-se necessário avaliar a evolução cinética da degradação dos compostos estudados através da aplicação de uma lei de velocidade, sendo esta a expressão da velocidade instantânea da reação em termos da concentração da espécie em qualquer instante (ATKINS e JONES, 2007; FIORENTIN et al., 2010; BARRETO et al., 2011). Segundo Atkins e Jones (2007), as reações de decomposição podem ser de primeira ordem quando a velocidade é proporcional à primeira potência da concentração, de segunda ordem quando a velocidade é proporcional à segunda potência, ou de ordem zero em que a velocidade não depende da concentração. Adicionalmente, quando uma reação de segunda ordem é transformada para primeira, temos ainda a reação de pseudo-primeira ordem. No estudo cinético da degradação oxidativa de corantes, Santana et al. (2017) citaram a utilização de um modelo linear de pseudo primeira ordem, sendo verificado um bom ajuste aos dados experimentais da degradação da mistura dos corantes têxteis azul reativo BF-5G e remazol vermelho RB 133% pelos processos Fenton e foto- Fenton. Chavaco, Arcos e Prato-Garcia (2017) testaram modelos de ordem zero, primeira e segunda ordem na degradação do corante laranja reativo 16 pelo processo foto-Fenton com radiação solar, sendo avaliado melhor ajuste quando se utilizou a cinética de segunda ordem. Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi estudar a cinética de degradação da mistura dos corantes têxteis vermelho direto 23, vermelho direto 227 e laranja direto 26 empregando processo foto-Fenton com radiação sunlight, avaliando a adequação aos modelos de primeira ordem e de segunda ordem.
Material e métodos
Método analítico A matriz empregada neste estudo consistiu em uma solução aquosa contendo uma mistura dos corantes têxteis do tipo direto com grupos diazos: vermelho direto 227, vermelho direto 23 e laranja direto 26 na concentração de 10 mg∙L-1 de cada corante. Esta solução foi analisada via espectrofotometria de ultravioleta visível (UV/Vis) (marca Thermoscientific, modelo Genesys 10S) para determinação dos comprimentos de onda de máxima absorbância (λ). Concluída esta etapa, preparou-se uma solução estoque de 100 mg∙L-1, a partir da qual foram realizadas diluições para construção de curvas analíticas para cada um dos λ selecionados. As curvas analíticas foram construídas utilizando duas faixas de concentração: de 0,1 a 2,0 mg∙L-1 e de 2,0 a 100,0 mg∙L-1. Acompanhamento cinético da degradação da mistura de corantes empregando processo foto-Fenton/sunlight Nesta etapa, 1 litro de uma solução aquosa contendo a mistura dos corantes a uma concentração de 10 mg.L-1 de cada corante foi submetida a ensaios de degradação por um período de 180 minutos, utilizando o POA foto- Fenton/sunlight em um reator revestido com folha de alumínio composto por uma lâmpada de 300 W e dois exaustores. A concentração do peróxido de hidrogênio ([H2O2]) empregada foi de 40 mg.L-1 (Fmaia, 30 v/v) e a de ferro ([Fe]) foi de 1 mg.L-1 tendo como fonte o FeSO4·7H2O (Química Moderna, pureza 99-101%). A solução foi ajustada para um pH inicial entre 3-4, uma vez que este é o pH ideal das reações de oxidação que envolvem ferro como catalisador conforme Feng et al. (2013). Alíquotas de 10 mL foram retiradas em intervalos regulares de tempo: 0, 10, 20, 30, 40, 50, 60, 80, 90, 120, 150 e 180 minutos. As amostras foram então quantificadas por espectrofotometria de UV/Vis, monitorando-se os λ característicos previamente selecionados. Em seguida, os modelos cinéticos de primeira ordem e segunda ordem foram ajustados aos dados experimentais com auxílio do software Origin Pro 8.
Resultado e discussão
Método analítico Foram verificados quatro λ característicos após a
realização do scan no espectrofotômetro de UV/Vis: 240 nm, 306 nm,
373 nm e 511 nm. O valor de 240 nm é atribuído aos anéis de benzeno das
moléculas dos corantes, estando próximos de valores citados na literatura
característicos de compostos aromáticos conforme descrito por Paulino;
Araújo; Salgado (2015) e Prado e Godoy (2003). Já o λ em torno de 306, 373 e
511 nm indicam a presença dos grupos cromóforos correspondentes às
colorações laranja e vermelha. Com relação a construção das curvas
analíticas, constatou-se que todas apresentaram boa linearidade e precisão,
uma vez que todos os valores do coeficiente de correlação foram superiores a
0,90 conforme especificado pelo INMETRO (2010) e os valores do coeficiente
de variância foram inferiores a 5% conforme Brasil (2003). Acompanhamento
cinético da degradação da mistura de corantes empregando processo foto-
Fenton/sunlight O POA utilizado no presente estudo mostrou-se
eficiente na degradação da mistura dos corantes, conseguindo remover cor no
intervalo de 50 minutos, com percentuais de degradação de 92,5%, 98,5% e
100% nos grupos identificados nos λ iguais a 306, 373 e 511nm,
respectivamente. Com relação aos compostos aromáticos (λ = 240nm), obteve-se
uma degradação de 83,0% para o intervalo de 90 minutos, sendo estes
compostos mais difíceis de degradar. Foram gerados os gráficos de
acompanhamento cinético, verificando os ajustes aos modelos propostos de
primeira e segunda ordem (Figura 1). A análise da Figura 1 permite verificar
que o modelo de segunda ordem apresentou melhor ajuste aos dados
experimentais descrevendo satisfatoriamente os resultados da degradação da
mistura de corantes. Os valores dos coeficientes de regressão linear
(R2) para os ajustes dos modelos aos dados experimentais
correspondentes a cada λ estudado estão apresentados na Tabela 1. Os maiores
valores de R2 foram obtidos para o modelo de segunda ordem
indicando melhor ajuste aos dados experimentais conforme já constatado pela
Figura 1. No estudo realizado por Chavaco; Arcos e Prato-Garcia (2017),
obtiveram um percentual de descoloração (λ = 496nm) acima de 98% para 30
minutos de exposição à radiação solar natural, quando estudaram a cinética
de degradação do corante laranja reativo 16 (100 mg.L-1)
utilizando o processo foto-Fenton. Os autores empregaram uma
[H2O2] = 60 mg.L-1, [Fe] = 5,0
mg.L-1 e pH de 2,8 e avaliaram cinéticas de ordem zero, primeira
e segunda ordem. Os autores constataram que dentre os três modelos
avaliados, o de segunda ordem apresentou uma melhor adequação aos dados
experimentais (R2 = 0,81), com valores similares aos obtidos no
presente trabalho.
Conclusões
No presente estudo, a degradação da mistura dos três corantes apresentou resultados satisfatórios, com percentuais de degradação de 83% para os grupamentos aromáticos e acima de 92% para os cromóforos após 90 e 50 minutos, respectivamente. Ao avaliar a adequação dos modelos utilizados aos dados experimentais do acompanhamento cinético, constatou-se que o modelo de segunda ordem apresentou o melhor ajuste.
Agradecimentos
À coordenação de pós-graduação de Engenharia Química da UFPE e à Lavanderia Nossa Senhora do Carmo.
Referências
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