Quantificação do corante Amaranto em gelatina através da análise de imagens digitais sob filmes de Quitosana
ISBN 978-85-85905-23-1
Área
Química Analítica
Autores
de Sá, I. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE) ; Felippe Pacheco, W. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE)
Resumo
O presente trabalho teve como principal objetivo quantificar o corante amaranto em duas marcas de gelatina, uma normal e outra diet, através da análise de imagens digitais de filmes de quitosana. A quantificação deste corante é de extrema importância visto que os Estados Unidos e a Europa já baniram o uso deste corante, devido a estudos que mostraram a correlação entre o uso deste e o aparecimento de tumores malignos em ratos. No entanto, no Brasil este mesmo corante é denominado Bordeaux S e não há legislação contra o uso. A metodologia aqui desenvolvida mostra-se muito mais vantajosa que a metodologia padrão de HPLC, visto que não utiliza solventes tóxicos e não necessita de preparo de amostra. As figuras de mérito foram aferidas, obtendo boa linearidade e precisão.
Palavras chaves
Amaranto; Imagens digitais ; Quitosana
Introdução
Os corantes são uma classe de substâncias enraizada na sociedade e contidas em diversos produtos. Segundo a Portaria nº 540, aditivo é qualquer ingrediente adicionado intencionalmente aos alimentos com o objetivo de modificar suas características físicas, químicas, biológicas ou sensoriais, sem o propósito de nutrir (BRASIL, 2009). O corante amaranto é banido nos EUA e parte da União Européia, devido a estudos que mostraram a relação do uso deste com a maior incidência de tumores malignos em ratos (OMAYE, p.262, 2004). Outros estudos, também correlacionam um crescimento de hiperatividade em crianças (Arnold et al, 2012). Não obstante, a legislação atual brasileira de alimentos e bebidas permite o uso de 11 corantes artificiais, o Amaranto figura entre eles, no entanto a indústria adota o nome usual de Bordeaux S. Portanto, mostra-se imprescindível o desenvolvimento de novas técnicas para quantificar este corante, uma vez que a técnica cromatográfica é cara e utiliza solventes tóxicos. Para a quantificação deste corante, foi empregado filmes de quitosana, este é um polissacarídeo não tóxico. A quitosana é uma forma desacetilada da quitina, esta é o segundo polissacarídeo mais abundante na natureza, podendo ser encontrada no exoesqueleto do camarão e outros crustáceos (YANG et al, 2016). Para a obtenção do sinal analítico, foi utilizada a técnica de análise de imagens digitais, esta se baseia no uso de informações que possam ser extraídas de imagens digitais geradas a partir de substâncias coloridas. As imagens digitais apresentam a coloração da radiação refletida, a qual é complementar à radiação absorvida pelas espécies. O estudo destas imagens é baseado no fenômeno de absorção molecular e, portanto, análogo à espectrofotometria na região do visível(LYRA et al., 2009).
Material e métodos
Preparo dos filmes Primeiramente, a Quitosana da Sigma-Aldrich de médio peso molecular foi peneirado e os filmes de quitosana foram obtidos pela dissolução, à temperatura ambiente 5g de pó de quitosana em 500 mL solução aquosa de ácido acético 2% (v/v) e agitação magnética por 24h, a solução obtida foi filtrada à vácuo. Aproximadamente 75mL desta solução foi vertida em placas de Petri de 14 cm de diâmetro. O ácido acético foi evaporado em estufa à 65 °C por 48 h. Após, os filmes foram removidos das placas e armazenados em dessecadores à 25°C por no mínimo 48 h. Experimentos de adsorção de corantes Para a adsorção dos corantes, os filmes de quitosana foram retirados das placas de Petri com o auxílio de um estilete, foram cortados em quadrados de 1cm x 1cm. Posteriormente, o filme foi adicionado a um tubo Falcon de 10 mL, juntamente com a solução do corante amaranto (Roha, India) já tamponada em pH 7,5 com tampão fosfato de sódio/citrato de sódio 0,1 mol.L-1. Este foi deixado sob agitação por 90 min em uma mesa agitadora. Após o tempo de equilíbrio ser atingido, os filmes foram retirados dos tubos e secos no dissecador por cerca de 15 minutos. Para as amostras de gelatina, foram pesados 2,5g da gelatina e solubilizados em água a 65ºC, após total solubilização, a solução foi deixada em repouso até atingir a temperatura ambiente de 25ºC e então avolumada em um balão de 100 mL. Foram transferidos 500 microL do extrato de gelatina para solução tamponada em um balão volumétrico até completar 10 mL e após a adsorção e secagem, os filmes foram fixados em uma folha de papel ofício através de uma fita dupla face e levados ao escâner de mesa (HP DeskJet GT 5822) para aferição do sinal analítico, com auxílio do software de acesso livre ImageJ (National Institutes of Health, EUA).
Resultado e discussão
A partir da otimização dos parâmetros, foi construída uma curva analítica em
triplicata nas concentrações de 0,0-4,0 mg L-1, como mostra a figura 1. Já a
figura 2, demonstra uma curva de adição padrão de 500 microL de amostra para
cada ponto da curva de calibração. Para validação do método analítico, foram
feitos estudos de linearidade, precisão, exatidão e seletividade, bem como o
cálculo dos limites de detecção e quantificação como estabelece a resolução
da ANVISA (BRASIL, 2016). É possível observar que os gráficos da figura 3,
têm um bom coeficiente de correlação linear (R²>0,99), sendo portanto linear
na faixa estudada. O gráfico de resíduos evidencia ausência de pontos
extremos bem como normalidade e homocedasticidade dos resíduos, confirmados
a partir dos testes de Kolmogorov-Smirnov e Cochran, respectivamente, ao
nível de 95% de confiança. Foi realizado um estudo estatístico de
paralelismo de retas para evidenciar a ausência do efeito de matriz, nas
curvas de calibração e de adição. Com um p-valor de 0,51, menor que o valor
crítico de 0,05, a hipótese nula é aceita e portanto as retas são paralelas.
Desta forma, pode se afirmar que o filme de quitosana é seletivo ao
amaranto. A precisão foi dada a partir da variância das medidas em dias
diferentes e no mesmo dia, estas não excederam 5%. No entanto pôde observar
uma diferença significativa de sinal em filmes de quitosana sintetizados em
diferentes bateladas. Para a exatidão, foi realizados testes de adição e
recuperação, obtendo-se um valor de 94,7%. Os limites de detecção (LD) e de
quantificação (LQ) foram calculados como sendo 3 e 10 vezes o desvio do
branco pela sensibilidade, obtendo: 97,8 e 288 microg L-1, respectivamente.
Por fim, a amostra teve uma concentração de amaranto de 21,02 +- 1,17mg/kg
de gelatina.
Imagem digital das curvas de calibração e adição da figura anterior.
A figura 3 mostra as curvas de calibração e de adição padrão, simultaneamente. Já a figura 4, o gráfico de resíduos destes pontos.
Conclusões
Este trabalho, demonstrou a possibilidade de quantificação do amaranto em gelatina por meio da análise de imagens digitais sob um filme de quitosana. Os estudos de otimização do método permitiram a construção de uma metodologia com curvas analíticas de bom coeficiente linear, com baixos limites de detecção e quantificação. Portanto, esta nova metodologia se mostra uma boa alternativa na quantificação deste tipo de matriz, visto que o filme de quitosana consegue eliminar os interferentes da amostra, é mais prático, e de menor custo que o método cromatográfico, padrão para estas amostras.
Agradecimentos
CAPES pela bolsa de mestrado, ao programa de pós graduação da UFF e a todos do laboratório LPQA.
Referências
ARNOLD, L.E., LOFTHOUSE, N., HURT, E. Artificial food colors and attention-deficit/hy- peractivity symptoms: conclusions to dye for, Neurotherapeutics 9, pp. 599–609, 2012.
BRASIL. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Guia para validação de métodos analíticos. Consulta Pública n° 129, de 12 de fevereiro de 2016. Disponível em: http://www.inmetro.gov.br/barreirastecnicas/pontofocal/..%5Cpontofocal%5Ctextos%5Cregulamentos%5CBRA_666.pdf
BRASIL FOOD INGREDIENTS; Dossiê Corantes, Corantes; Revista FI, São Paulo, 2009
LYRA, W. S., TÔRRES, A. R., ANDRADE, S. I. E., ANDRADE, R. A. N., SILVA, E. C., ARAÚJO, M. C. U., GAIÃO, E. N. A digital image-based method for 88 determining of total acidity in red wines using acid–base titration without indicator. Talanta. Vol. 84, pp. 501-505, 2011.
OMAYE, S. T., Food and Nutritional Toxicology p.262, CRC Press LLC, 2004.