AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIOXIDANTE DE CAROTENOIDES DO BURITI (Mauritia flexuosa L. f.) PELO MECANISMO DE TRANSFERÊNCIA DE ELÉTRONS: UM ESTUDO TEÓRICO
ISBN 978-85-85905-23-1
Área
Físico-Química
Autores
Lima, N.H.Q. (UEMA) ; Oliveira, L.V. (UEMA) ; Coelho, A.L. (UEMA) ; Dantas, C. (UEMA)
Resumo
O presente trabalho buscou avaliar a atividade antiradical de carotenoides presentes no buriti através da Teoria do Funcional de Densidade (DFT), abordando o mecanismo de transferência de elétrons. As estruturas dos carotenoides e radicais foram construídas e submetidas a cálculos quânticos de otimização aplicando o método DFT-B3LYP/6-31G(d,p) no pacote de programas Gaussian 09. A partir dos cálculos foi possível construir o mapa de aceitação-doação total de elétrons (FEDAM) que permitiu classificar estes compostos de acordo com suas atividades. Os resultados indicaram que o γ- caroteno e o δ-caroteno seguidos do trans-β-caroteno, 9-cis-β-caroteno e zeaxantina apresentaram as melhore atividades antioxidantes, já o β-10-apo- caroteno apresentou atividade antiredutora.
Palavras chaves
Atividade Antioradical; Carotenoides; DFT
Introdução
O buriti é uma fruta natural exótica encontrada abundantemente no estado do Maranhão que possui valor nutricional adequado e rico em carotenoides, que são pigmentos naturais derivados de tetraterpenos com esqueleto hidrocarbônico que podem ser modificados por diversas reações, resultando numa imensa variedade de estruturas (TIVERON, 2010; BOVI, 2015). A avaliação da atividade antioxidante desempenhada por essas substâncias tem sido investigada minuciosamente nos últimos trinta anos usando experimentos in vitro e in vivo (HUANG et al., 2005; NENADIS; TSIMIDOU, 2012). Mais recentemente, estudos teóricos de compostos antioxidantes tem ganhado uma atenção especial na química computacional, um campo multidisciplinar de pesquisa com aplicações importantes em problemas da química que estuda as propriedades fundamentais de átomos e moléculas usando a mecânica quântica e a termodinâmica (MONEGO et al., 2017; RAJAN & MURALEEDHARAN, 2017; VARGAS- SÁNCHEZ et al., 2015). Esse tipo de estudo abre novas fronteiras para que químicos explorem fenômenos através de cálculos em computadores, ao invés de análises experimentais, tendo a vantagem de se explorar diferentes sítios moleculares na habilidade de sequestrar radicais, mapeando detalhes da energética envolvida em cada mecanismo, produção de menor impacto ambiental, haja vista que nenhum reagente, solvente ou produto químico é utilizado, consumir menos tempo e ser mais fácil de processar (RAJAN & MURALEEDHARAN, 2017). Neste contexto, o presente trabalho, tem como objetivo explorar através da química computacional as propriedades moleculares e mecanísticas individuais dos carotenoides existentes no buriti, afim de avaliar a atividade antiradical desempenhada pelos mesmos.
Material e métodos
Inicialmente foi realizada uma pesquisa na literatura para identificação dos carotenoides presentes no buriti, selecionando aqueles que apresentaram maior concentração e que foram pouco explorados(BOVI, 2015; LIMA, 2009; RODRIGUES-AMAYA et al., 2008; YUYAMA et al., 1998; GODOY, 1995). As estruturas desses compostos e de alguns radicais foram construídas e otimizadas no pacote computacional GAUSSIAN empregando o método da Teoria do Funcional de Densidade (DFT), com o funcional hibrido B3LYP e o conjunto de base 6-31G(d,p). As reações dos carotenoides com os radicais foram analisadas em termos do mecanismo de transferência de elétrons, e se processou de duas formas: pela a doação de elétrons para o radical (i) (o que caracteriza a atividade antioxidante); e pela captura do elétron pelo carotenoide (ii) (o que caracteriza a atividade antirredutora). CAR + R• ⇁ CAR•+ + R- (i) CAR + R• ⇁ CAR•- + R+ (ii) Em seguida, as energias de ionização e as afinidades eletrônicas foram calculadas conforme proposto por Galano (2007) para a construção do mapa de doação e aceitação total do elétron (FEDAM). Os índices relativos de doação e aceitação (RIE e REA) foram dispostos de acordo com Martínez et al. (2009), para a elaboração do diagrama de escala relativa do potencial antioxidante. Na sequencia, a atividade de inibição de radicais livres foi avaliada através da análise da energia livre de Gibbs (ΔG). O efeito do solvente foi avaliado empregando o Modelo Contínuo Polarizável (PCM). Realizou-se a avaliação da atividade antioxidante a partir do mapeamento das posições dos carotenoides relativas as posições dos radicais livres selecionados no FEDAM e das energias desprendidas no processo.
Resultado e discussão
Os carotenoides trans-β-caroteno, 13-cis-β-caroteno, 9-cis-β-caroteno, β-10-
apo-caroteno, zeaxantina, fitoflueno, ζ-caroteno, β-zeacaroteno, mutacromo,
α-caroteno, γ-caroteno e δ-caroteno presentes no buriti foram selecionados a
partir do trabalho de Albuquerque et al. (2005).
Estes apresentaram baixas afinidades eletrônicas e energias de ionização,
variando entre 1,94 a 2,79 eV em água, 1,18 a 2,20 eV em benzeno e 4,36 a
4,74 eV em água e 4,74 a 5,30 em benzeno, respectivamente. Estes valores
indicam que a energia de ionização dos carotenoides é menor em média no
ambiente polar do que no apolar, corroborando com os resultados apresentado
no artigo de Galano (2007), inclusive os valores de IE do trans-β-caroteno e
Zeaxantina foram próximos ao obtidos por ele nesse trabalho.
Adicionalmente, observou-se por meio da análise do FEDAM (Figura 1), que os
carotenoides têm maior tendência de reagirem por transferência de elétrons
com os radicais do grupo de espécies reativas de oxigênio por uma reação de
oxidação, demonstrando que os carotenoides são bons doadores de elétrons,
como vem sendo discutido na literatura. Felizmente os carotenoides também
apresentaram tendência para inibir alguns radicais livres por uma reação de
redução, o que amplia seu espectro de atividade de desativação de radicais
livres.
Com base na energética de reação (Tabela 1), foi possível a avaliação do
potencial antioxidante, na qual se constatou que dentro do grupo de
carotenoides do buriti existem aqueles com maior potencial para atividade
antioxidante do que o β-caroteno, como o γ e δ-caroteno, que apresentaram os
melhores resultados, confirmando o potencial desses compostos em agir como
espécies reativas ou estimulantes do sistema de defesa endógeno contra
doenças crônicas.
Figura 1: Diagrama de escala relativa do potencial antioxidante dos Carotenoides frente aos Radicais Livres em meio polar (água) e apolar (benzeno).
Tabela 1: Energia Livre de Gibbs (ΔG) da reação de oxidação dos carotenoides com os radicais livres em água e benzeno.
Conclusões
Através dos resultados obtidos com a análise do FEDAM e da energia livre de Gibbs se observa que as reações de inibição de radicais livres pelos carotenoides presente no óleo de buriti são mais favoráveis via mecanismo de transferência de elétrons em ambiente polar, como afirmado por Sliwka et al. (2007), devido a facilidade no transporte de carga pela ionização do meio. Isso confere aos carotenoides um alto potencial antioxidante in vivo, uma vez que os mesmos se encontram no organismo em ambientes polares e apresentaram um amplo espectro de atividade de inibição de radicais livres.
Agradecimentos
À UEMA pela bolsa PIBIC-UEMA. Ao Profº Dr. Eduardo Borges de Melo (UNIOESTE) por ter cedido a licença dos softwares. À FAPEMA pelo apoio financeiro.
Referências
ALBUQUERQUE, M.L.S. et al. Characterization Of Buriti (Mauritia Flexuosa L. f.) Oil By Absorption And Emission Spectroscopies. Jornal Of Brazilian Chemical Society, São Paulo, v. 16, nº 6A, p. 1113-1117, 2005.
BOVI, G. G.. Óleo de buriti (Mauritia flexuosa L. f.) nanomulsionado: produção por método de baixa energia, caracterização físico-química das dispersões e incorporação em bebida isotônica. Faculdade de zootecnia e engenharia de alimentos. Universidade de São Paulo, Pirassununga, 2015.
GODOY, H. T.; RODRIGUEZ-AMAYA, D. B. Buriti (Mauritia vinifera Mart), uma fonte riquíssima de pro-vitamina A. Arquivos de Biologia e Tecnologia, v. 38, p. 109-120, 1995.
GALANO, A.. Relative antioxidant efficiency of a large series of carotenoids in terms of one electron transfer reactions. Journal of Physical Chemistry B. 111(44): 12898–12908, 2007.
HUANG, D., OU, B., ; PRIOR, R. L.. The chemistry behind antioxidant capacity assays. Journal of Agricultural and Food Chemistry. 53: 1841–1856, 2005.
LIMA, A. L. et al. Avaliação dos efeitos da radiação gama nos teores de carotenoides, ácido ascórbico e açucares do fruto buriti do brejo (Mauritia flexuosa L.). Acta Amazonica, Manaus, v. 39, p. 649-665, 2009.
MARTÍNEZ, A., VARGAS, R., ; GALANO, A.. What is important to prevent oxidative stress? A theoretical study on electron-transfer reactions between carotenoids and free radicals. The Journal of Physical Chemistry B. 113: 12113–12120, 2009.
MONEGO, D. L. et al. Applications of computational chemistry to the study of the antiradical activity of carotenoids: A review. Food Chemistry. 217: 37-44, 2017.
NENADIS, N. ; TSIMIDOU M. Z.. Contribution of DFT computed molecular descriptors in the study of radical scavenging activity trend of natural hydroxybenzaldehydes and corresponding acids. Food Research International. 48: 538–543, 2012.
RAJAN, V. K. & MURALEELHRAN, K.. A computational investigation on the structure, global parameters and antioxidant capacity of a polyphenol, Gallic acid. Food Chemistry. 220: 93-99, 2017.
RODRIGUES-AMAYA, D. B. et al.. Fontes brasileiras de carotenoides: Tabela brasileira de composição de carotenoides em alimentos. Brasília: MMA/SBF, 2008.
SLIWKA, H. et al. Hydrophilic carotenoids: surface properties and aggregation of an astaxanthin-lysine conjugate, a rigid, long-chain, highly unsaturated and highly water-soluble tetracationic bolaamphiphile. Chemistry and Physics of Lipids, v. 148, p. 63-69, 2007.
TIVERON, A. P.. Atividade antioxidante e composição de legumes e verduras consumidos no Brasil. Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”. Piracicaba, 2010.
VARGAS-SÁNCHEZ, R. D. et al.. Antirarical pontecial of phenolic compounds fingerprints of propolis extracts: DFT approach. Computational and Theoretical Chemitry. 1066: 7-13, 2015.
YUYAMA, L. K. O. et al.. Biodisponibilidade dos Carotenoides do Buriti (Mauritia flexuosa L.) em Ratos. ACTA AMAZONIVA. 28 (4): 409-415, 1998.