Síntese e caracterização de zeólitas tipo A a partir de Caulim e Escória de Alto Forno
ISBN 978-85-85905-23-1
Área
Química Inorgânica
Autores
Silva, E.C. (UNIFESSPA) ; dos Santos, T.T. (UNIFESSPA) ; dos Santos, C.L.S. (UNIFESSPA) ; Lopes, M.J.A. (UNIFESSPA) ; Monteiro, M.S. (UNIFESSPA) ; Santanna, J.S. (UNIFESSPA) ; da Mota, S.A.P. (UNIFESSPA)
Resumo
Obtiveram-se zeólitas a partir da síntese de materiais zeolíticos, utilizando como fonte principal de Alumínio o Caulim, proveniente de rejeitos industriais e como fonte alternativa de Silício a Escória de Alto forno. A síntese ocorreu em condições hidrotermais mediante a um processo tradicional de autoclavagem e efeitos tempo-temperatura. O material obtido foi caracterizado por meio de difração de raios X (DRX)e Espectroscopia de Energia Dispersiva (EED).
Palavras chaves
Síntese; Zeólitas; Caulim
Introdução
Para enfrentar os problemas globais de sustentabilidade decorrentes do rápido desenvolvimento da indústria e do aumento populacional, muitos esforços foram feitos para desenvolver novos materiais e tecnologias voltadas para a energia renovável e a melhoria ambiental. (VERONEZZI, 2016; ROCHA, 2011). As zeólitas são uma família de materiais cristalinos com micro poros ordenados distribuídos em dimensões moleculares. Elas podem ser tanto de origem natural como sintética, sendo esta segunda o foco de pesquisas há anos, devido ao interesse por entender os fatores que afetam os produtos obtidos (MINTOVA; BARRIER, 2016). Como os catalisadores sólidos mais importantes usados nas indústrias petroquímicas tradicionais, as zeólitas também estão encontrando aplicações promissoras em muitos processos sustentáveis, devido à sua seletividade de forma única, adsorção e capacidade de troca iônica, alta estabilidade hidrotérmica, acidez sintonizável, polaridade e baixos custos de produção (BANDURA et al., 2016). Algumas empresas vêm investindo no reaproveitamento de resíduos industriais, que transforma o que era rejeito em coprodutos. (RICHTER, 2009; MORAES, 2013).Nos processos de síntese de zeólitas, a procura de matérias-primas mais econômicas resultou nos processos provenientes da utilização de argilominerais, dos quais o caulim é o mais empregado. Existe ainda a Escória, que após ser submetida a um reprocessamento pode ser reaplicada comercialmente nas indústrias (OLIVEIRA, 2013).Em função da vasta literatura sobre o assunto, sabe-se que é possível sintetizar zeólitas a partir de matéria-prima natural de fonte argilosa. No presente trabalho, pretende-se avaliar o pré-tratamento térmico do caulim e da escória, bem como a utilização destes materiais em síntese de zeólitas.
Material e métodos
Foi utilizado como fonte predominante de Alumínio o Caulim e como fonte alternativa de Silício, a Escória de Alto Forno (EAF); ambos rejeitos provenientes de indústrias localizadas em Marabá-Pa. A fonte de metal alcalino adicionado ao processo foi o hidróxido de sódio 3,5 M.Para o processo de zeolitização, foi feita uma mistura de 6g de EAF e 3g de Caulim, previamente calcinados em forno mufla a 400°C e 700°C, respectivamente. Adiante, foram adicionados 45mL de NaOH 3,5M à mistura que foi homogeneizada em agitador magnético por 10 minutos.A uma das duas amostras preparadas, foi adicionado uma semente de zeólita do tipo A, a fim de observar a influência deste parâmetro no processo de nucleação e crescimento dos cristais.O material zeolítico foi obtido por meio de síntese hidrotérmica, estática, realizada através de autoclaves de aço inoxidável revestidas internamente por um vaso de teflon com volume total de 47,4 mL, deixadas em repouso por 6h em temperatura ambiente de aproximadamente 25 °C e posteriormente levadas ao forno a 110°C por 12h. Após o processo de síntese os produtos formados foram lavados em filtração com água destilada até atingirem o pH 7-8, e em seguida submetidos a secagem a 110 °C por 12h.O material de partida e as fases formadas nos produtos de síntese foram caracterizados por meio de difração de raios X (DRX) e Espectroscopia de Energia Dispersiva (EED).
Resultado e discussão
Na tabela 1, observa-se os resultados da análise química por Espectroscopia
de Energia Dispersiva das amostras 1 e 2 sintetizadas pelo método estático.
Sabe-se que a composição química da zeólita A tem como óxidos principais
SiO2 e Al2O3, como são observados nos Trabalhos de Melo (2010), Santana
(2010) entre outros.Uma importante característica a ser observada é a
presença de algumas impurezas, como por exemplo o Magnésio e o Ferro, que em
altas concentrações atuam de forma negativa durante a formação da zeólita. A
figura 1 apresenta os resultados da difração de raios X do material
zeolítico sintetizado em modo estático no tempo de 18 horas.Nota-se que as
fases predominantes são de zeólitas do tipo A, com a presença de picos
característicos entre 14 e 35 Å. Verifica-se também um pico elevado de
quartzo na amostra contendo a semente, e um pico igualmente elevado na
amostra que não contém semente referente a Aluminum Iron, ambos impurezas
remanescentes do material de partida, os quais são esperados para este tipo
de zeólita A. O material zeolítico sintetizado apresenta um grau baixo de
ordem estrutural, com um padrão difratométrico representado por picos
pequenos e pouco definidos. Esse resultado justifica-se pelo curto tempo da
síntese. Maia (2007) realizou a síntese de zeólita A e verificou que para a
temperatura de 110ºC, o tempo ideal para que somente essa zeólita fosse
formada seria de 24 h. Dessa forma, a estabilidade de uma zeólita pode ser
alcançada a partir da escolha da composição da mistura reacional e das
condições de síntese que sejam assim favoráveis a ela. (RABO, 1974).Uma
observação que deve ser levada em consideração, é que a síntese da zeólita A
não parece ser muito afetada pelas impurezas contidas no material.
Análise DRX para as amostras 1 (CS) e 2 (SS).
Resultado da Análise Química da Zeólita A (Estático)
Conclusões
Constata-se que a Zeólita A pode ser sintetizada através do processo estático a partir do resíduo de Caulim e Escória. Embora tenha-se observado um material amorfo que não reagiu completamente ao processo de síntese, sabe-se que em tempos mais prolongados é possível sintetizar uma zeólita com alto grau de pureza e de ordem estrutural com adição de sementes ou não. Este trabalho revela a possibilidade de utilização destes resíduos, além da produção de um material de elevado valor econômico, que pode ser utilizado em várias aplicações.
Agradecimentos
Ao Laboratório de Processos e Transformações dos Materiais (LPTM) e à Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, pela oportunidade e disponibilização do espaço.
Referências
BANDURA, L. et al. Synthetic zeolites from fly ash for an effective trapping of BTX in gas stream. Microporous and Mesoporous Materials, v. 223, p. 1–9, 2016.
BIROSCA, S.; DINGLEY, D.; HIGGINSON, R. L. Microstructural and microtextural characterization of oxide scale on steel using electron backscatter diffraction. Journal of Microscopy, v. 213, p. 235–240, March, 2004.
DELLA, V. P.; JUNKES, J. A.; KUHN, I.; HIELLA, H. G.; HOTZA, D. By-product Utilization of metallic recovering of stainless steel slags in the ceramic pigments synthesis: Raw material characterization. Ceramic, v. 51, 2005.
Lapides, I. and Heller-Kallai, L; Reactions of Metakaolinite with NaOH and Colloidal Silica—Comparison of Different Samples (Part 2). Applied Clay Science, 35, 94-98, 2007.
MARTIS, F.M; Caracterização Química e Mineralógica de Resíduos Sólidos Industriais Minerais do Estado do Paraná. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Química, Universidade Federal do Paraná. Setor de Exatas, 2006.
MELO, C. R, RIELLA, H. G. Síntese de zeólita tipo NaA a partir de Caulim para obtenção de zeólita 5A através de troca iônica. Revista Cerâmica 56, pg. 340- 346, 2010.
Ministério do meio ambiente. Cidades Sustentáveis. Disponível em: http://www.mma.gov.br/cidades-sustentaveis/residuos-solidos. Acesso em: 7 ago. 2018.
MINTOVA, S.; BARRIER, N. Verified synthesis of zeolitic materials. 2. ed. Synthesis Commission of the International Zeolite Association, 2016.
MORAES, J. M. Caracterização tecnológica e mineralógica de caulins brasileiros. XIV Jornada de Iniciação Científica – CETEM. UERJ, 2013.
OLIVEIRA, R. W. H. Caracterização da escória de ferro silício-manganês para a aplicação como agregado em pavimentação ferroviária. Dissertação de mestrado, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2013.
RABO, J.A.; Zeolite Chemistry and Catalysis, Washington, American Chemical Society, 1974.
RICHTER, D. Uma rota de recuperação de metal a partir de escória secundária da produção de ferroníquel. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.
ROCHA, B. P. Estudo da viabilidade da reutilização da escória de refino secundário no forno elétrico a arco. Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2011
SANTANA, D. L; Utilização da Zeólita A sintetizada a partir de rejeito de beneficiamento de Caulim do estado do Pará como material adsorvedor do metal Cu2+ em solução. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química, Universidade Federal do Pará. Instituto de Tecnologia, 2010.
SANTOS, S. C. A. dos et al. Caulins amazônicos: possíveis materiais de referência. Cerâmica. Vol.59, n.351, pp.431-441,2013.
VERONEZZI, Felipe. O Impacto da Construção Civil no Meio Ambiente. Disponível em: http://www.forumdaconstrucao.com.br/conteudo.php?a=23&Cod=187. Acesso em: 7 de ago. 2018.