OTIMIZAÇÃO DA REMOÇÃO DE ATRAZINA POR CARVÃO ATIVADO PROVENIENTE DE CASCA DE MURUMURU (Astrocaryum murumuru) EM SOLUÇÕES AQUOSAS

ISBN 978-85-85905-23-1

Área

Iniciação Científica

Autores

Bastos, R.R.C. (UFPA) ; Costa, N.L.O. (UFPA) ; Corrêa, A.P.L. (UFPA) ; Campos, W.E.O. (UFPA) ; Conceição, L.R.V. (UFPA)

Resumo

Este trabalho propõe um estudo de otimização do processo de remoção de Atrazina presente em soluções aquosas utilizando-se um carvão ativado produzido a partir do resíduo agroindustrial casca de murumuru. Um delineamento composto central de face centrada com as variáveis: Concentração de CACM de 0,4 e 4,0% m/v, e tempo de contato de 15 e 60 min, foi realizado para estudo da otimização desse processo a temperatura ambiente. Tal processo mostrou taxas de remoção próximas de 100% nos intervalos de 0 – 2% m/v de CACM e 0 – 20 min. Assim, o uso de carvão ativado de casca de murumuru mostrou-se uma alternativa promissora quando aplicado na remoção de atrazina para tratamento de efluentes.

Palavras chaves

Atrazina; Carvão Ativado; Otimização

Introdução

O Brasil é o país que lidera a comercialização mundial de agrotóxicos. Em 2012, as áreas de plantio demandaram aproximadamente 7,3 bilhões de dólares em agrotóxicos, o que equivale ao consumo de aproximadamente 20% do mercado global (CAMPOS et al., p. 36, 2017). Resíduos de agrotóxicos na alimentação e na saúde humana estão aliados ao aparecimento de intoxicações com sintomas agudos e crônicos como: Cânceres, cloroacnes, teratogeneses, lesões hepáticas, etc (CARNEIRO et al., p. 59, 2015). Constatou-se que aproximadamente um quinto dos alimentos consumidos diariamente no Brasil apresentam alguma quantidade de agrotóxico (3% apresentando teores acima do permitido pela ANVISA) e cerca de 18% desses alimentos apresentaram agrotóxicos não autorizados pelo órgão regulamentador (ANVISA, p. 126, 2016). Um herbicida bastante utilizado nas culturas de milho é a atrazina (2-cloro-4-etilamino-6-isopropilamino-1,3,5-triazina). Um dos problemas associados ao uso desse herbicida é sua alta estabilidade e sua alta capacidade de lixiviação, podendo assim contaminar com facilidade diversos corpos d’água (CAMPOS et al., p. 36, 2017). O limite máximo estabelecido no Brasil pela ANVISA para detecção deste herbicida é de 0,25 mg/kg (ANVISA, 2015). Carvão ativado é certamente um dos mais estudados adsorventes para remoção de contaminantes em efluentes (MANDAL e SINGH, p. 637, 2017). Resíduos agroindústrias são bons precursores para esse tipo de material devido seu baixo custo e altos teores de carbono (CANSADO et al., p. 328, 2018). O presente trabalho tem por objetivo otimizar o processo de remoção de Atrazina em soluções aquosas por carvão ativado produzido a partir do resíduo agroindustrial casca de murumuru.

Material e métodos

A casca de murumuru (Astrocaryum murumuru) foi obtida da empresa de beneficiamento de óleos vegetais Beraca Ingredientes Naturais S/A que se situa no município de Ananindeua no Pará e que gera em média 330 toneladas/ano desse resíduo agroindustrial. O rejeito obtido foi submetido a um processo de classificação (para separação da casca de murumuru de pedaços de amêndoa e sujidades). O carvão ativado a partir da casca de murumuru (CACM) foi obtido através da casca de murumuru por pirólise a 600 °C por 1 h seguida de uma etapa de ativação com KOH. O material ativado foi lavado com HCl 1,0 mol L-1 e seco em estufa a 60-70 °C por 24 h (QUEIROZ, p. 19, 2016). Curvas de UV-Vis em espectrofotômetro Thermo Nicolet com célula de caminho óptico de 1 cm foram preparadas para a Atrazina na absorbância máxima de 222 nm. Preparou-se uma solução de trabalho (ST) para a Atrazina (7,0 mg kg-1). A execução dos ensaios de adsorção seguiu um planejamento experimental do tipo Delineamento Composto Central de Face Centrada (DCC) de dois níveis e duas variáveis (DCC 2²) – 0,4 e 4,0% m/v de CACM e tempo de 15 e 60 min, com quatro repetições do ponto central. A otimização dos parâmetros de remoção da Atrazina em soluções aquosas foi realizada por Metodologia de Superfície de Resposta (MSR) utilizando o software Statistica 8. A partir do qual gerou-se o gráfico de Pareto e superfície de resposta. A concentração da ST e das concentrações remanescentes (CR) após os testes de adsorção foram determinadas por espectrofotometria de UV-Vis. Assim, determinou-se a taxa de remoção (TR) do CACM para a Atrazina nas condições estudadas.

Resultado e discussão

A concentração real da ST determinada por UV-Vis foi 7,49 mg kg-1, muito próximo da concentração teórica de preparo (7,0 mg kg-1). A Tabela 1 mostra os resultados obtidos para CR e TR do estudo de otimização do processo de remoção de Atrazina por CACM dentro dos níveis e variáveis analisadas no planejamento experimental DCC 2². Os ensaios 3 e 5 apresentaram resultados – 0,71 e 0,26 mg kg-1, respectivamente – fora do valor residual limite para este herbicida, acima de 0,25 mg kg-1 (ANVISA, 2015). A Figura 1 expõe o gráfico de Pareto e a superfície de resposta para o DCC 2² realizado: mostrando a significância e a interação das variáveis no processo, assim como, as melhores regiões (menores valores de CR e, maiores de TR) em relação aos níveis das variáveis estudadas. A partir da análise do gráfico de Pareto, verifica-se que as variáveis significativas no processo trata-se da interação % m/v CACM x Tempo e Tempo (min), indicando a elevada significância da variável Tempo no processo de adsorção. O processo de remoção de Atrazina de soluções aquosas mostrou-se com elevada eficiência nos intervalos de 0 – 2% m/v de CACM e 0 – 20 min (menores níveis), apresentando assim uma excelente robustez para esse processo de purificação. O CACM comportou-se como um ótimo adsorvente para o agrotóxico estudado, corroborando com a característica de apresentar uma alta capacidade adsortiva para diversos tipos de contaminantes em efluentes, devido sua alta área superficial, alta porosidade, estrutura porosa e presença de vários grupamentos funcionais (AHMED, p. 90, 2016).

Tabela 1

Planejamento DCC 2² para a remoção de Atrazina por CACM.

Figura 1

Gráfico de Pareto e Superfície de Resposta do DCC 2² − Resposta: CR (mg kg-1).

Conclusões

Os dados mostrados neste estudo evidenciam que o CACM possui elevada capacidade adsortiva na remoção do agrotóxico Atrazina de soluções aquosas. Vale ressaltar que o DCC 2² apresentou-se como uma ótima ferramenta estatística para elucidação das melhores regiões de trabalho: os intervalos de 0 – 2% m/v CACM e 0 – 20 min, apresentaram taxas de remoção próximas de 100%. Logo, a utilização de carvão ativado proveniente de casca de murumuru mostrou- se uma alternativa eficiente para remoção de Atrazina, assim como apresentou- se uma proposta de reaproveitamento para esse resíduo agroindustrial.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao Laboratório de Catálise e Oleoquímica-LCO, Laboratório de Pesquisa e Análises de Combustíveis-LAPAC, e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior-CAPES.

Referências

AHMED, Muthanna J. Application of agricultural based activated carbons by microwave and conventional activations for basic dye adsorption: Review. Journal of Environmental Chemical Engineering, v. 4, p. 89-99, 2016.

ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Lista de Referência de Limites Máximos de Resíduos - LMRs para as Culturas do PARA, 2015. Disponível em: < http://portal.anvisa.gov.br/programa-de-analise-de-registro-de-agrotoxicos-para >. Acesso em: 22 ago. 2018.

ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). O Relatório Final do Programa de Analise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), 2016. Disponível em: < http://portal.anvisa.gov.br/documents/111215/0/Relat%C3%B3rio+PARA+2013-2015_VERS%C3%83O-FINAL.pdf/494cd7c5-5408-4e6a-b0e5-5098cbf759f8 >. Acesso em: 22 ago. 2018.

CAMPOS, F. A.; AGUIAR, A. C. R.; MEDEIROS, V. S.; BRANQUINHO, A. C.; SILVA, F. C. B.; ANDRADE, R. D. A.; CHAVES, A. R. Degradação fotocatalítica de atrazina na presença de catalisadores nanoparticulados. Química Nova, v. 40, n. 1, p. 36-41, 2017.

CANSADO, I. P. P.; BELO, C. R.; MOURÃO, P. A. M. Valorisation of Tectona Grandis tree sawdust through the production of high activated carbon for environment applications. Bioresource Technology, v. 249, p. 328-333, 2018.

CARNEIRO, Fernando Ferreira et al. Dossiê ABRASCO: um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde. EPSJV/Expressão Popular, 2015.

MANDAL, A.; SINGH, N. Optimization of atrazine and imidacloprid removal from water using biochars: Designing single or multi-staged batch adsorption systems. International Journal of Hygiene and Environmental Health, v. 220, p. 637-645, 2017.

QUEIROZ, Leandro Santos. Utilização de carvão ativado produzido a partir do resíduo do processamento do Açaí para remoção de Ferro (III) em água. 2016.

Patrocinadores

CapesUFMA PSIU Lui Água Mineral FAPEMA CFQ CRQ 11 ASTRO 34 CAMISETA FEITA DE PET

Apoio

IFMA

Realização

ABQ